11. Lar, doce lar

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Hoje o dia amanheceu mais alegre do que o normal. Após quase um mês aqui no hospital, vou finalmente ganhar alta. Acordei antes do sol nascer e fiquei navegando na internet até agora. Hoje foi o dia de Felipe ficar comigo. Ele está dormindo na poltrona do meu lado, todo desajeitado. Fico feliz porque isso também vai acabar. Ele e minha mãe vão poder ficar mais confortáveis, dormindo melhor em suas camas. A chuva lá fora me deixa preguiçoso. Decido ligar a TV para ver se o tempo passa mais rápido. Assim que ela liga, o volume alto me assusta, me fazendo olhar diretamente para Felipe. Ele se mexe um pouco e se vira pra mim. Que droga.

- bom dia meu amor.

- bom dia. – digo sem jeito, diminuindo o volume. – desculpa te acordar.

- não tem problema. Como passou a noite?

- bem. Sonhei com você.

- hum, fico feliz em ouvir isso. – ele se ajeita na poltrona, ficando sentado virado para mim. – posso saber qual era o sonho?

- não. É segredo.

Ele arqueia a sobrancelha. Não posso falar pra ele, mas tive um sonho tão intenso no pouco tempo em que dormi, que acordei sem fôlego. Estávamos em um quarto de motel, fazendo o sexo mais louco e voraz que tivemos. Eu podia sentir tudo com clareza. Foi incrível. Deixo escapar um sorriso de canto e ele me analisa com a mão no queixo.

- você e seus segredos, Eduardo.

- pode ter certeza que o que eu sonhei vamos praticar algum dia.

- hum, então o sonho foi bom.

- muito. Um dos melhores.

Ele balança a cabeça em desaprovação.

- você não presta.

- nem você.

Ele se levanta e vem ao meu encontro, me dando um beijo feroz, com sua língua profissional e sedenta por mim. Eu entrelaço meus dedos em seu cabelo e por um segundo esqueço que estou em um hospital cheio de pessoas. Meu toque o faz inalar profundo. Eu estou quase avançando minha mão em sua calça quando ouço alguém bater na porta, fazendo Felipe voar de volta para a poltrona. Eu mal consigo olhar para ele de tanta vergonha enquanto a enfermeira entra com meu café da manhã. Pela visão periférica vejo ele arrumando o cabelo que eu havia bagunçado com minhas mãos. A simpática mulher parece estar percebendo o que aconteceu e agora está encabulada. Logo ela sai do quarto e eu e ele começamos a rir.

- acho que temos que nos controlar aqui.

- calma, você já está saindo daqui hoje. Em casa a gente termina o que começou.

Eu o olho e vejo um Felipe com sede de desejo. Eu também estou, mas agora com minha condição física não sei como vai ser. Isso me preocupa. Será que vou conseguir ter e dar prazer para Felipe? Fico perdido em pensamentos enquanto bebo meu café com leite e como meu mamão.

- ei, o que foi?

Felipe agora me olha curioso enquanto termina de fechar o zíper, vindo do banheiro do quarto.

- nada, por que?

- parece calado.

- é impressão sua. – lhe dou meu melhor sorriso e acho que me saio bem.

- se você diz.

Mas não posso deixar de pensar nisso. Preciso conversar com o doutor. Não demora muito até ele chegar e começar a preparar tudo para me liberar. Quando já estou na cadeira de rodas, com uma das mochilas de roupas no meu colo eu crio coragem.

- doutor, eu posso falar com você um instante?

- claro.

- em particular. – olho para Felipe, que parece surpreso mas não fala nada, apenas sai do quarto. Eu estou tenso e não sei como perguntar.

- o que foi Edu?

- é que eu preciso tirar uma dúvida com você.

- pode falar. Se eu puder ajudar.

- em relação à minha vida sexual. A paralisia afeta alguma coisa?

Ele me dá um sorriso largo.

- pode ficar tranquilo. Essa é uma das dúvidas mais frequentes dos meus pacientes e eu digo que desde que você reorganize sua forma de pensar e definir a palavra prazer e tenha paciência de encarar algumas diferenças sutis com um pouco de positividade, quase nada muda. Você provavelmente não vai ter sensibilidade no seu órgão, mas você pode explorar outras formas de prazer. a ereção continua quase a mesma, a unica coisa que pode afetar é a duração ou a intensidade dela. Pode diminuir com o tempo, mas não é nada que vá atrapalhar. Na maioria dos casos os homens podem precisar de remédios estimulantes para ajudar, mas não é algo que deva ser encarado de forma negativa. Os remédios estão aí pra ajudar.

Suspiro aliviado e ele volta a sorrir.

- obrigado doutor.

- não tem de quê, Edu.

A única coisa que eu temo é pela minha sensibilidade. Tenho medo de não ser a mesma coisa, mas vou tentar reaprender tudo o que eu aprendi até hoje e tentar me adaptar a tudo isso. Ele se levanta e caminha na minha frente para abrir a porta. Me despeço dele e vou ao encontro de Felipe, que está perto do elevador.

- pronto. Podemos ir agora.

- o que aconteceu Edu? Primeiro você fica quieto do nada e agora pede para falar com o doutor em particular?

Eu reviro os olhos. Isso não é algo que eu queria expor.

- não é nada demais Felipe.

- se não é nada demais, por que pediu pra ficar a sós com ele?

- era só uma dúvida em relação à minha vida sexual depois do acidente.

Depois que eu falo, ele fica em silêncio. Eu fecho a cara, aborrecido pela invasão de privacidade.

- desculpa Edu, eu não quis me meter na...

- mas se meteu Felipe. Isso era algo que eu tinha medo e quis esclarecer. Tive medo de não poder mais fazer as mesmas coisas que fazíamos antes. – olho para os lados para ver se tinha alguém perto.

- me desculpa Edu. Eu só me preocupei.

- tudo bem. Esquece isso vai.

Lhe dou um soco de leve na perna, enquanto ele se vira para chamar o elevador.

Nosso caminho até em casa é agradável. A chuva não incomoda muito, só nos molhamos um pouco na hora que Felipe me colocou dentro do carro. Mas a água fria não é tão ruim. Água limpa, pura, que lava a alma. Chegamos em casa e já sinto o cheiro da comida da minha mãe espalhado por todo o lugar. Meu estômago ronca em protesto.

- o cheiro tá ótimo mãe! – digo me aproximando da porta da cozinha.

- filho! Você já chegou! – ela larga tudo e vem ao meu encontro, me dando um abraço. – como você está?

- bem. Feliz por estar em casa.

- eu também. Não gosto de clima de hospital. Parece que faz tudo parecer mais triste.

- Edu, tenho uma coisa pra te mostrar. – Felipe se junta a nós, com um sorriso iluminando o rosto. Estavam todos felizes por me verem em casa novamente.

- o que é?

- é surpresa, vem.

Eu o sigo em direção ao home office, cruzando a sala de estar e chegando ao corredor perto da janela. Quando ele abre a porta eu fico boquiaberto. Agora o escritório deu lugar a um quarto. São os mesmos móveis do quarto lá de cima, mas as paredes estão pintadas com cores mais alegres. Está tudo mais harmonioso. Olho para Felipe, que está com as mãos nos bolsos, me olhando com expectativa.

- eu e sua mãe estávamos pensando em como seria quando você voltasse pra casa. É complicado ficar lá em cima, então decidi mudar nosso quarto pra cá. O que você achou?

Agora eu o olho emotivo. Fico tão feliz que ele tenha pensado nisso. Na verdade nem eu tinha pensado.

- eu achei incrível. Obrigado meu amor.

Então, eu lhe puxo pela camiseta para lhe dar um beijo suave. Decido tomar um banho para tirar o cheiro de hospital. Essa é uma parte que eu me sinto mal. Ter que depender dos outros nunca foi meu forte. Agora Felipe e minha mãe estão me ajudando embaixo do chuveiro, sentado em uma cadeira normal. Quero me adaptar logo a esse novo estilo de vida que precisarei levar, mesmo que seja temporário, eu espero. Depois de limpo eu troco de roupa e todos nós nos juntamos a mesa para almoçarmos em família. Minha mãe fez uma moqueca de frango deliciosa. Acabo por comer duas vezes, coisa que não é muito comum para mim.

Durante a tarde nos reunimos na sala para assistir televisão e é quando lembro da proposta de emprego do Douglas. Preciso dar sinal de vida. Vou até o quarto e procuro o seu cartão com o número do telefone nas minhas coisas. Sem demora acho. Pego meu telefone e ligo para ele.

- alô?

- alô Douglas?

- isso, quem fala?

- aqui é o Eduardo, do concurso do mês passado. Tudo bem?

- oi Eduardo! Quanto tempo. Você sumiu.

- é, aconteceram muitas coisas desde então. Eu gostaria de conversar com você sobre a vaga no restaurante.

- é claro, quando podemos?

- quando você achar melhor.

- pode ser amanhã durante a tarde? No restaurante?

- pode, claro.

- ótimo, às 16h eu te espero lá.

- tudo bem. Obrigado Douglas. Até mais.

- abraços garoto. Até mais.

Desligo e sinto uma pontada de esperança. Não sei se eu conseguiria dar conta da correria que é no Chapelure agora que estou limitado a muita coisa, mas não custa nada tentar. Pode ser que o destino sorria para mim e eu a vaga ainda seja minha. Retorno para a sala e tento acalmar meus nervos acompanhando a conversa dos dois. Decido não contar para eles por hora. Vou esperar até amanhã e segurar o máximo de informações até quando eu conseguir. Suponho que eles não irão aprovar a ideia de eu trabalhar agora. Mas não gosto da ideia de perder essa chance, muito menos de ter que ficar sem fazer nada em casa. Não quero me sentir um inútil. Sei que posso fazer muitas coisas de um novo jeito que se adapte a minha deficiência.

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Passo minha mão pela cama e sinto falta de Felipe. Me viro com um pouco de dificuldade para procurá-lo pelo quarto e o vejo em frente ao guarda roupa escolhendo uma camisa. Ele está de costas, com a calça de alfaiataria preta que ele sempre usa e uma parte da cueca aparecendo. A linha que começa desde um pouco abaixo do pescoço até o final das costas atiça minha mente. Ele está com pouca roupa aqui embaixo. A maioria das suas coisas ainda estão no quarto antigo. Aqui só estão todas as minhas coisas e um pouco das dele. O quarto também é relativamente menor, o que não nos deixa colocar tudo o que queríamos. Eu pigarreio e ele se vira para mim, abrindo um sorriso lindo ao me ver acordado.

- você é lindo ate de costas.

- não sou não. – ele parece envergonhado. – desculpa não poder ficar com você hoje, mas eu estou cheio de coisas pra fazer na agência.

- não se preocupe meu amor. A minha mãe está aqui. Qualquer coisa eu peço pra ela.

- tudo bem. Assim que eu conseguir eu venho correndo pra casa, tá bom?

- tá bom.

Então, recebo um beijo úmido e com aroma de hortelã e em seguida ele sai. A chuva, apesar de estar mais fraca, ainda permanece cobrindo o céu de Porto Alegre de nuvens cinzas e carregadas. Pego o notebook no criado mudo e decido checar meus e-mails. Procuro um bom filme na internet para passar o tempo. Estou quase nos primeiros 10 minutos quando minha mae abre a porta devagar e colocando a cabeça pra dentro para me observar. Eu tiro os fones de ouvido e lhe recebo com um sorriso de bom dia.

- achei que você ainda estava dormindo.

- não, eu dormi cedo ontem. E você por que pulou da cama tão cedo?

- não consegui mais dormir.

- preciso ir até o centro hoje.

- fazer o que? – ela me olha curiosa.

Lhe explico tudo, desde o dia do concurso e a proposta de trabalho de Douglas. Ela fica muito feliz por mim, mas me questiona o por quê de eu não ter lhe dito isso antes.

- deixa só eu trocar de roupa pra te levar.

- não mãe, não precisa.

- como assim não precisa Edu? Você acha que eu vou te deixar sair por aí sozinho?

- é só até o centro mãe. Eu sei o caminho. – reviro os olhos.

- não tem discussão Eduardo. Vou te levar e ponto. Se não for assim, você não vai. – ela me olha irredutível. Pareço uma criança que não sabe se virar sozinha. Mas se ela insiste, não vou contrariar. Logo começamos a nos arrumar e em questão de uma hora já estamos indo em direção ao ponto de ônibus, rua abaixo.

O ônibus aparece na esquina e meu coração vibra. Eu estou muito ansioso. Ainda não gosto da ideia de minha mãe ir comigo, não quero ter que ser acompanhado pra lá e pra cá. Espero que eu não comece a ser tratado como uma criança agora. O ônibus para em nossa frente e logo o motorista salta pela porta para preparar a escada adaptada. Logo estou subindo para dentro dele com minha mãe logo atrás. Ela me coloca no espaço para cadeirantes e prende meu cinto. Vejo que muitos me olham. Uns mais discretamente, outros nem tanto, mas me olham. Me sinto como se fosse alguém de outro mundo. Por que todos esses olhares? Não vejo nada demais em mim. Fico ainda mais aborrecido quando muitos me olham com cara de pena. Eu não preciso de pena. Tento me concentrar em outras coisas. Fico conversando com minha mãe o resto do caminho.

Chegamos em frente ao restaurante e meu coração fica aos pulos. Olho para cima, admirando a fachada elegante com o nome Chapelure grande em uma placa de mármore preto, acompanhado por grandes janelas que ocupavam toda a altura do prédio.

- vou ficar esperando por aqui. Boa sorte.

- obrigado mãe. Tente não ir muito longe. Há um café na esquina, acho que você vai gostar. – tento anima-la.

- vou dar uma olhada. – recebo um beijo na testa e sigo em direção a rampa da entrada. O ambiente me deixa um pouco acuado. É tudo muito fino. Mesas com toalhas brancas de seda, decotadas com casos de flores mistas formando um colorido harmonioso no ambiente. Ao fundo, uma fonte de água feita de pedras até o chão cantava aos meus ouvidos o som da água caindo delicadamente. Há algumas pessoas espalhadas pelo ambiente, provavelmente em happy honra e reuniões. Todos têm perfis de empresários e pessoas elegantes. Alguns notam minha presença e me encaram dos pés à cabeça. Engulo em seco e vou até um dos garçons, que andavam em direção a cozinha.

- com licença, o Douglas se encontra?

O rapaz com traços asiáticos me olha e tenta demonstrar imparcialidade, mesmo estando visivelmente surpreso. Tenho que me acostumar com isso.

- quem gostaria?

- diga que é o Eduardo. Marcamos de conversar às 16h.

- tudo bem. Só um minuto senhor.

Vou até uma das mesas e espero por Douglas. Sem demora ele cruza a porta da cozinha, elegante e me procurando. Quando ele me vê, tem a mesma reação que todos os outros.

- Eduardo?

- olá Douglas. – estico minha mão para cumprimentá-lo. – como você está?

- bem, e você? – ele parece confuso.

- bem também, na medida do possível.

Ele tira uma das cadeiras da mesa, deixando um espaço para eu me acomodar e em seguida senta também.

- o que aconteceu, Edu?

- é uma longa história. Eu sofri um acidente de carro no mês passado e... – aponto para minhas pernas.

- eu sinto muito.

- tudo bem. Desculpe não ter falado nada por telefone, mas achei que seria melhor conversamos pessoalmente.

- você fez certo. Há muitas coisas para discutir.

- sobre a vaga, ela ainda está de pé?

Ele me olha por uns instantes, não de uma forma muito animadora e eu acho que já tenho uma resposta.

- olha Edu. Isso tudo está sendo uma grande surpresa pra mim, no pior sentido da frase. Eu não tenho dúvidas de que você seria uma ótima soma para a minha equipe, mas sua condição pode te limitar um pouco. É um cargo que exige muita movimentação e rapidez.

Ele parece estar muito constrangido e procurando palavras certas para não me ofender.

- eu entendo. Não posso dizer que eu tentaria ao máximo fazer tudo com a mesma eficiência e rapidez que uma pessoa que tem o movimento das pernas, mas isso tudo é recente e não sei se eu poderia.

- eu fico triste com isso.

- eu também, muito.

- mas quero deixar claro que assim que você estiver pronto, quando você estiver recuperado, quero que você me procure. Com certeza vai ter alguma vaga pra você. Se não for aqui, pode ser em qualquer lugar.

Eu estremeço com o pensamento. Qualquer lugar?

- tudo bem. Eu agradeço mesmo assim, Douglas. A gente mantém contato.

Aperto sua mão novamente e sigo em direção à saída. Só quando estou na calçada que minha ficha cai. Perdi a oportunidade de ouro que estava em minhas mãos. Isso seria uma das melhores experiências da minha vida. Trabalhar em um restaurante desse porte me ajudaria muito. Mas os planos mudam. Não vou negar que estou triste. Estou muito. Mas não posso desanimar. Vou em direção à esquina encontrar minha mãe. Quando ela me vê, de dentro da cafeteria, ela sinaliza para eu entrar. Eu sorrio e tento esconder minha frustração.

- foi mais rápido que eu pensei. – diz ela após tomar um gole de seu capuccino. – como foi?

- não deu. – dou de ombros.

- ah filho. Eu sinto muito. – ela me extende a mão, claramente surpresa.

- tá tudo bem. Eu meio que esperava isso.

- vai ter muitas oportunidades ainda filho. Você ainda é novo e esse imprevisto que te aconteceu não vai te prejudicar em nada. Tenha fé.

- eu tenho. Só que eu queria tanto essa vaga. – falo olhando para minhas mãos. Olho para minha mãe novamente e ela está me olhando com a expressão ilegível.

- o que foi?

- ja sei o que eu vou fazer pra te animar. Vem. – ela se levanta e vai até o caixa pagar a conta, em seguida me pergunta onde tem um supermercado perto e é pra lá que vamos. Enchemos um carrinho pequeno com coisas pra fazer um almoço que só ela sabe fazer. Já chegamos em casa separando o que vamos usar e guardando o resto. Aos poucos o cheiro da macarronada invade a cozinha, me dando água na boca.

- não adianta, posso provar mil e uma macarronadas na vida, mas a sua ainda vai ser a melhor, mãe. – digo enquanto lhe alcanço os vegetais da geladeira para ela fazer a salada.

Enquanto esperamos esfriar um pouco, minha mãe já prepara a torta de limão para mais tarde. Ajudo ela no que posso, para agilizar. E assim passamos o resto do dia. Minha mãe tem sido uma companhia e tanto para mim durante esses dias. Estou aproveitando para ter todos os abraços e mimos de mãe possíveis, pois sei que ela não vai poder ficar em Porto Alegre sempre. Logo ela vai voltar para São Valentim, o que me deixa com o coração apertado. Com tudo o que aconteceu, às vezes penso em voltar pra lá. Não sei se ainda vou conseguir fazer tudo o que eu sonho, nessa cadeira de rodas. Tento sempre ser o mais positivo possível, mas tenho que encarar a realidade. As pessoas não estão preparadas pra ter um cadeirante em suas vidas. Seja no trabalho, em casa, na faculdade. Pode-se ter estrutura física pra isso. Essa é a parte mais fácil. Faz-se rampas de acesso, banheiros com adaptações. O mais difícil, no entanto, é mudar a cabeça das pessoas. Mesmo não querendo, as pessoas olham diferente para um cadeirante. Olham com pena. Mas não é disso que precisamos. Precisamos de uma chance pra mostrar que mesmo com dificuldade, podemos fazer praticamente tudo o que pessoas que podem andar fazem. E é esse tipo de atitudes das pessoas que me desanima. Talvez eu deva voltar pra casa e continuar vivendo minha vida de antes, firmando meus pés no chão.

Minha mãe entra no quarto, usando seu roupão vinho e o cabelo amarrado.

- bom dia filho.

- bom dia. – lhe lanço um sorriso de canto, tirando o cobertor de mim.

- pronto?

- sempre.

Então, começamos a fazer meus exercícios diários. Eu me posiciono com a cabeça plana no colchonete no chão, enquanto minha mãe se ajoelha em minha frente e ajeita minhas pernas lado a lado, retas. Então, ergue uma até em cima e depois a abaixa novamente, repetindo o mesmo movimento quinze vezes. Depois, a mesma coisa com a outra. Por último, movimenta as duas. Mesmo não fazendo muito esforço, eu estou suando. Ficamos assim por quase uma hora, repetindo os exercícios e fazendo outros, movimentando minhas pernas em diagonal e flexionando os joelhos no ar. Minha mãe é sempre tão pacienciosa e positiva quanto a mim. Depois dos exercícios matinais a gente segue para a cozinha para tomar café da manhã. Já passa das 9h e eu já aproveitei tanto meu dia que me sinto muito mais disposto.

- estava conversando com o Felipe ontem sobre sua fisioterapia. Temos que marcar a primeira consulta logo. – minha mãe termina de passar a geleia no pão e me alcança o prato enquanto eu sirvo um copo de suco de laranja.

- não é muito cedo?

- quanto antes melhor, filho.

- é, você tem razão. Bem, então podemos ir quando puder.

- eu e o Felipe já havíamos procurado algumas clínicas, mas é tudo tão caro. – seu tom de voz se entristece. – queria ter condições de poder te dar o melhor tratamento pra sua recuperação filho. Mas não dá.

- ei, mãe. – estendo minha mão sobre a mesa, alcançando a sua. – eu sei disso. A gente vai fazer o melhor que pudermos. Se Deus quiser vai dar tudo certo.

Sei que minhas palavras a tranquilizam um pouco. É uma situação complicada demais. Eu só preciso me mexer pra procurar ajuda logo. Quanto mais demorar, pior vai ser pra minha recuperação.

O interfone toca, me tirando dos meus devaneios e minha mãe cruza a porta da cozinha com o pano de prato na mão, indo atende-lo.

- Edu, tem um tal de Bernardo lá embaixo querendo falar com você. Você conhece?

- o Bernardo? Conheço sim, mas que estranho ele aqui agora. Pode mandar subir.

Poucos minutos ele está atravessando a sala, vindo até a mim me dar um abraço.

- Edu! – ele está usando um perfume amadeirado.

- oi Bê! Que surpresa boa.

- eu tava pensando em te convidar pra dar uma volta. Tá ocupado hoje?

Dar uma volta? Não sei se é uma boa ideia. Felipe não vai gostar muito.

- ah Bê, é que tem o Felipe e você sabe do ciúme que ele tem de você.

- é só uma volta Edu. Somos amigos ou não?

- chantagem emocional não vale. – reviro os olhos. – tudo bem, eu estou com saudade das nossas conversas.

Ele faz uma expressão de vitória.

- mãe? – ela logo surge novamente na porta da cozinha. – esse é o Bernardo, meu amigo.

- prazer, dona?

- Helena. – ela se aproxima e lhe estende a mão.

- é um prazer dona Helena.

- o prazer é meu. – ela lhe lança um olhar carismático.

- mãe, vou dar uma volta com o Bernardo. Não vou demorar muito. Caso precisar falar comigo me liga, tá bom?

- tudo bem filho. Se cuida. – ela me olha um pouco desconfiada. Presumo que seja pelo fato de não conhecer Bernardo e eu estar saindo sozinho com ele. Quando eu chegar em casa vão ser dois contra um.

- só me dá um minuto para trocar de roupa?

- claro.

Minha mãe me acompanha até o quarto e tenho certeza que ela tem muitas perguntas para me fazer. Muitas delas sem cabimento. Agora ela está me ajudando a trocar a camiseta. Por sorte já estou de calça jeans e é com essa que vou ir.

- filho, posso te perguntar uma coisa? – sua voz é cautelosa. Eu reprimo um sorriso por já ter adivinhado que isso aconteceria.

- claro mãe. O que foi?

- esse menino. Você conhece ele faz tempo?

- faz alguns meses. Por que?

- e o Felipe sabe dele?

- claro. Mas por que todas essas perguntas mãe?

- ah filho, eu notei o jeito que ele te olhou quando eu estava lá. Você sabe que ele gosta de você, não sabe?

- sei e o Felipe também. Mas sempre deixei claro que somos apenas amigos.

- filho, eu sei que você é cabeça feita, mas não faz nada pra magoar o Felipe não.

- mãe, fica tranquila. Eu amo o Felipe. Nunca faria nada que o magoasse.

Ela me encara por alguns segundos e então sua expressão amolece.

- é, eu sei. Agora vai lá.

Me despeço dela e vou para o elevador com ele. Em pouco tempo estamos na calçada e eu avisto o carro de Marina. Eu o olho com curiosidade.

- o que foi?

- eu conheço esse carro.

- Marina está de folga hoje. Pedi a ela emprestado.

- por que ela não veio junto?

- na verdade ela nem sabe que eu vim ver você. Preciso conversar em particular sobre algo que nem ela sabe ainda.

Arqueio uma sobrancelha. O que será que aconteceu?

- você com mistérios? Essa é nova pra mim.

- você vai saber em primeira mão.

- posso saber pelo menos para onde vamos?

- vamos para a redenção.

Me animo com a ideia. Apenas fui lá uma vez, mas mesmo que eu fosse todos os dias eu não me cansaria.

- me parece ótimo.

Nosso caminho é preenchido com conversas animadas sobre um pouco de tudo. O vento bate em meu rosto com a janela do carona aberta e o sol me aquece, fazendo eu me sentir bem.

Logo ao chegar meu rosto se ilumina com a vista. O dia está tão lindo que o parque consegue ficar ainda mais encantador do que de costume. Há algumas pessoas passeando com cachorros, outros sentados tomando chimarrão, outras andando no pedalinho de cisne. Há um movimento maior do que o esperado para um dia de semana. Mais ao fundo, embaixo de uma árvore, há um homem tocando flauta e algumas pessoas em volta apreciando.

- não me canso de vir aqui. – Bernardo está olhando tudo em sua volta com os olhos brilhando.

- essa é minha segunda vez aqui. Mas é sempre uma sensação única.

Vamos até a sombra de uma das imensas árvores e Bernardo senta na ponta do banco, ficando próximo de mim.

- como o Felipe está?

- bem. Bastante ocupado com o trabalho e a faculdade e agora cuidado de mim. Minha mãe está aqui comigo desde o acidente. Tem sido muito prestativa. Às vezes penso que estou tomando muito o tempo de todo mundo.

- você não pode pensar assim, Edu. Eles fazem tudo o que fazem porque te amam. Sua família, nós, seus amigos, estamos juntos com você agora.

Eu sorrio para ele.

- bom saber que tenho vocês do meu lado.

Ele se ajeita no banco, um pouco sem jeito.

- e a competição? Quando vai ser?

- vai ser daqui a duas semanas. Eu até tinha esquecido, com todas essas coisas que aconteceram. Acho que não vou mais participar.

- como assim não vai? Claro que vai. Por que não iria? – ele me olha surpreso.

- bem, não sei se eles vão ter estrutura pra ter um competidor cadeirante, Bê. É também eu não estou com cabeça pra isso agora.

- pois eu acho justamente o contrário. Eles têm que se adaptar aos imprevistos, Edu. E além do mais, a prova vai ser uma boa forma de te distrair um pouco. Tirar essas coisas da tua cabeça e focar em coisas boas.

- é, talvez você tenha razão. – passo a mão no meu cabelo, virando para o lado para olhar à vista. Talvez eu deva mesmo, mas ainda não sei se estou preparado para todos os olhares de pena das pessoas lá.

- Edu?

- oi.

- eu queria te pedir desculpas por ter reagido mal quando você voltou para o Felipe. – seu olhar era de arrependimento.

- não precisa se desculpar, Bê.

- preciso sim. Eu misturei as coisas e acabei atrapalhando nossa amizade. – ele se aproxima de mim e pega na minha mão. – quero que você saiba que eu ainda gosto de você. Gosto muito, mas eu jamais vou torcer contra você e o Felipe. Acho vocês lindos juntos e a história de vocês me motiva a achar alguém que sinta o mesmo que vocês sentem um pelo outro.

À medida que ele termina a frase, sua voz sai mais baixa e triste.

- e eu torço muito por você, meu amigo. Eu sei que é tudo tão estranho, mas você vai ver que tem uma pessoa perfeita pra você te esperando no futuro.

- Deus te ouça.

Lhe lanço um sorriso encorajador e ele retribui.

- também preciso te falar uma coisa.

- o mistério?

- isso.

Ambos sorrimos.

- eu quis que você fosse o primeiro a saber.

- saber o que?

- que eu vou embora pra Alemanha mais cedo do que eu pensava.

Meus olhos se arregalam.

- como assim?

- consegui uma proposta de intercâmbio. Vou estudar em uma faculdade de Berlim e dar aulas no turno inverso na universidade, como estágio remunerado.

- isso é incrível Bernardo! Eu fico tão feliz por você.

- eu também pirei quando soube.

- é você vai ficar lá até quando?

Ele hesita por uns instantes.

- Edu, eu não vou mais voltar. Vou pedir transferência de curso pra lá. Caso não conseguir eu vou trancar e começar outro curso lá.

- mas e sua família? E a Marina? Como fica tudo?

- eles já sabiam que eu ia embora. Eu só apressei as coisas um pouco.

Suspiro fundo, tentando assimilar as informações.

- quando você vai?

- daqui a um mês. Tenho que resolver a papelada.

Eu lhe encaro por uns instantes, tentando saber o que dizer. É muita informação de uma vez só. Minha cabeça está confusa.

- vou sentir tua falta. – minha voz sai suave e sincera.

- eu também vou. – ele parece estar choroso.

Quando vejo, ele arrisca um abraço em meio a multidão. Mas não me importo. Ele é um amigo incrível que vou sentir saudade.

- o que você acha que Marina vai dizer?

- pelo que eu conheço ela, vamos ficar alguns dias sem nos falar. Ela vai ficar puta comigo.

- vai mesmo.

- mas ela vai me entender. Estou indo atrás dos meus sonhos.

- ela é cabeça dura, se faz de durona às vezes mas quer te proteger. Ela vai ficar sim com raiva no começo, mas depois se acostuma com a ideia.

Ele me olha fundo nos olhos por uns instantes, me desconcertando.

- e você, vai sentir minha falta?

- claro que vou. Você foi o melhor colega de quarto do mundo todo.

Então ele começa a rir e eu lhe dou um soco teatral no braço.

- eu também tenho uma coisa pra falar. Uma coisa que ninguém sabe também.

- o que foi? – ele se mexe no banco, com expectativa.

- estou pensando em voltar pra São Valentim com minha mãe.

- por que Edu?

- acho que Porto Alegre pra mim já deu. Esse acidente me desanimou muito. As pessoas me olham diferente, me tratam diferente e já estou perdendo oportunidades por conta da minha condição. Se eu andando já era difícil me destacar, imagina agora? Essa cidade é muito grande, muito competitiva. Até eu provar que posso fazer praticamente tudo o que eu fazia antes, vai demorar muito.

- mas e a faculdade? Vai largar tudo?

- eu acho que sim.

- não faz isso, Eduardo. Não larga teus sonhos assim. Não pode desanimar desse jeito. – sua voz sai indignada. – e o Felipe? Como fica nessa história? Vai largar ele também?

- não! De jeito nenhum. – falo mais alto que o normal.

- não sei se é justo você fazer ele largar tudo também pra voltar com você.

- mas eu não tinha pensado nisso. Jamais pediria isso a ele.

- então como vocês vão ficar juntos? Você lá e ele aqui?

Dessa vez não consigo responder. Eu ainda não sei o que fazer. Continuar ou desistir? Eu não sou um desistente. Nunca fui. Mas agora parece estar sendo difícil. Eu mesmo não estou sabendo lidar com toda essa situação. Isso tudo me assusta muito. Também não quero trazer peso pra Felipe. Agora ele vai ter que estar tendo cuidados comigo – mesmo eu insistindo para que não os tenha, porque eu quero me sentir independente. Mas do jeito que eu conheço ele, ele vai querer estar perto de mim o tempo todo para me cuidar. E eu não quero isso. Não quero ser um peso pra ele.

- pensa direito, Edu. Você deve estar com a cabeça quente agora. A gente não pode tomar decisões com a cabeça quente.

- é, talvez você tenha razão.

Tento espantar esses pensamentos e aproveitar o dia com Bernardo. Não quero amola-lo com minhas preocupações.

Segundos o resto da manhã conversando sobre seus planos de viagem. Ainda estou bastante assustado pela rapidez das coisas, mas sei que ele vai estar feliz, então tudo vai ficar bem. Na hora do almoço vamos até uma lanchonete do centro e eu como o maior hambúrguer da minha vida inteira Bernardo não sabia que o pedido dele era do lanche mais apimentado do lugar e descobriu da pior maneira possível. Após dar a primeira mordida ele faz uma careta e começa a desmanchar o sanduíche para achar tudo o que pudesse arder na boca. Isso nos rende boas risadas. Depois fizemos competição para ver quem tomava um copo de 500 ml de refrigerante mais rápido e é óbvio que ele ganhou. Só não sei se foi por habilidade mesmo ou se ele precisava muito aliviar a queimação por causa da pimenta. Nossa tarde se resume em dar voltas de carro pela cidade, explorando lugares não tão conhecidos. Quando está quase anoitecendo Bernardo me leva até a usina do gasômetro.

- dizem que aqui é um dos melhores lugares do mundo pra assistir o por do sol. Eu moro aqui há anos e não tenho como discordar. – diz ele extasiado olhando para o horizonte. Essa cena, esse lugar, tudo me lembra muito minha primeira vez em Porto Alegre. Eu e Felipe fizemos isso também.

- vou sentir falta desse por do sol. – de repente ele fica melancólico.

- vão ter muitas coisas maiores te esperando lá. Além do mais, tenho certeza que o por do sol de Berlim deve ser lindo também. Tão lindo quanto o daqui.

Ele me olha e sorri com o canto da boca enquanto o sol desaparece logo em nossa frente, com o céu em um misto de cores encantador.

Estamos estacionando em frente ao prédio. Só agora me dou conta de que passei o dia inteiro fora de casa. Com a chegada da noite a temperatura caiu repentinamente, fazendo eu colocar meus braços em volta do meu corpo para me aquecer.

- tá com frio?

- um pouco – digo controlando um calafrio. Nem parece que a tarde estava um sol radiante aqui.

- toma, pega meu casaco – ele está tirando-o de seu corpo, mas eu rejeito.

- não precisa Bê, já estou subindo.

- tem certeza?

- tenho sim. Você quer subir?

- só vou te levar até lá e já vou embora. Daqui a pouco eu tenho aula.

Vejo um carro chegando na rampa para a garagem do subsolo, mas em seguida para no meio da calçada. Olho para ver quem é e me deparo com Felipe saindo do carro, os olhos furiosos.

- pode me explicar o que é isso Eduardo?

Meu coração está acelerado. Em seguida olho para Bernardo, que está com a expressão ouriçada.

- Felipe, eu e o Bernardo fomos dar uma volta e...

- dar uma volta com o Bernardo? – ele passa a mão pelos cabelos e tenta se acalmar. – vamos subir pra conversar.

- por que Felipe? Qual o problema? O Eduardo não pode mais sair com os amigos? Desde quando você passou a mandar nele?

Pronto, a confusão está armada. Os dois estão como dois animais, prestes a se atacar. Meu Deus, quando eles vão parar com isso? Eu não consigo fazer nada a não ser ficar calado. Qualquer palavra mal dita pode ser interpretada de maneira errada pelos dois. Queria tanto que eles parassem com essa disputa idiota. E eu não sei mais o que fazer para que os dois levantem bandeira branca. Bernardo é meu amigo. Um grande amigo, só isso. Felipe é meu namorado. Eu o amo. Posso e sei perfeitamente separar as coisas, droga. Não quero ser objeto de disputa de ninguém.

Comentários

Há 6 comentários.

Por Felipe Fernandes em 2016-01-08 12:06:29
Mah oeee migooo aee tava esperando esse capitulo ja a um tempinho e ficou dahora. Esse climão que teve no capitulo foi tão forte que me atingiu aqui do outro lado do país kkkkkk enfim adorei demais o capilo e to esperando ansiosamente pela parte 2. Bjs da Mana Liposa <3. Até breve.
Por Dougglas em 2015-12-26 01:55:32
Adorei me deparar com essa determinação do Edu. Claro que vai oscilar algumas vezes, mas eh bom ver que ele não desanimou completamente e nem entrou em estado de depressão. O apoio da mãe dele e do Felipe realmente são importantes. Já me imaginei numa situação dessas, procurando saber como eu iria lidar com essa dependência que infelizmente ele tem. Mas eh isso, espero que ele não desista da competição. E acho que o Felipe tá sendo bem incompreensível e exagerado. Mas vamos ver no que isso vai dar. Tua escrita eh maravilhosa, já disse isso? Kkk
Por Luã em 2015-10-01 00:01:25
Oi gente! Eu fico feliz que vocês estejam gostando. Eu gosto de expor assuntos assim pra debate, para as pessoas pensarem um pouco sabe? Comecei a conversar com um amigo sobre a série esses dias, e ele me disse que não havia visto um romance onde o personagem principal é um gay cadeirante aqui no site. Eu fico feliz em trazer coisas novas e também fico feliz por estar aprendendo com isso, pois pra fazer uma história assim a gente precisa estudar pra não falar besteira né? E eu acabo sabendo de coisas que não sabia antes. Estar aqui no site ocupa grande parte do meu tempo, minha cabeça está sempre nos contos e eu amo isso! Obrigado por tudo. Abraços! (:
Por luan silva em 2015-09-29 00:52:38
que clima chato, o capitulo foi otimo e o edu e o lipe sao muito lindos e fofos, ansioso pelo proximo.
Por diegocampos em 2015-09-28 14:09:34
Capitulo muito bom, acho o lipe muito fofo e o bernado também espero que eles não briguem de novo
Por Niss em 2015-09-28 01:48:38
Aí gente!!! Que lindo o Lipe e a Helena de esforçando pelo Edu... Imagino o quanto é difícil ser cadeirante, e realmente as pessoas insistem em olhar com pena... Pois eu fico triste pela pessoa, mas acho mais importante demonstrar que a felicidade não acaba com a deficiência. . O capítulo foi maravilhoso Luã... Espero pelo próximo. Kisses, Niss.