10. Ressaca moral

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

O taxi nos deixa em frente ao prédio de Murilo, que cambaleia até o portão para tentar abri-lo. O caminho do elevador até seu apartamento é tomado por um silêncio que me deixa triste, pois eu sei que dentro da cabeça dele agora está ocorrendo uma verdadeira guerra. A situação que ele esteve até pouco tempo atrás, de ver Rômulo beijando outro cara, é algo que eu não consigo imaginar o quão decepcionante deve ser. E o pior de tudo é que eu ajudei ele a fazer isso, a ir atrás de quem ele gosta e falar o que ele sentia, mas em uma hora muito errada. Foi um tipo de encorajamento que eu estou me arrependendo amargamente agora, ao arriscar olhar para o lado e ver seu olhar triste, vago, longe. Ao passarmos pela sala, que é bem singela e sem nada de muito luxo, mas bem harmoniosa, Murilo segue até seu quarto e deita de roupa e tudo na cama. Minha boca se abre pra pedir desculpas por ter participado daquilo, mas eu me impeço e acho que talvez não seja o melhor momento.

- obrigado por me trazer, Du. – sua voz é sonolenta e pesada, assim como sua língua.

- não precisa agradecer, Murilo. Amigos são pra essas coisas, né?

- é, são sim. – ele fala de um modo engraçado quando tá bebado, seria até mais engraçado se não fosse toda a situação.

- posso te fazer uma pergunta?

- claro, fala aí.

- você me acha bonito?

Eu me sinto pego de surpresa com a pergunta, então coço a cabeça rapidamente antes de responder.

- claro que você é, Muri.

- então por que será que até hoje o Rômulo não me notou? Será que eu to fazendo algo de errado esse tempo todo? Eu tenho mal hálito?

A última pergunta dele volta a me pegar de surpresa, mas dessa vez de uma maneira que eu não consigo segurar o riso. Acho que Murilo e a pessoa mais sincera, fofa e engraçada quando fica bêbada que eu na vi na vida.

- não Muri, você não tem mal hálito. Pode ter certeza que não é nada disso.

- então o que é?

Eu puxo fundo o ar e tento ser cauteloso com as palavras.

- a gente nunca sabe, amigo. A pessoa simplesmente gosta ou não gosta, sem motivos.

O silêncio que se instala nos próximos segundos deixa tudo bem mais sentimental, fazendo ele refletir sobre o que eu disse. Talvez agora seja uma boa hora pra deixar ele pensar sozinho, ou no melhor dos casos, dormir.

- descansa, amanhã você trabalha de tarde e vai estar um caco se não dormir bem essa noite.

- Uhum.

Assim que ele se abraça em seu travesseiro e vira para o canto, percebo que é a hora de eu ir embora. De volta na sala, pesco meu celular do bolso e vejo duas mensagens de Livia nas notificações, cada uma com um intervalo de quase duas horas.

“Edu, você vai demorar? O Cesar tá aqui, vem pra cá com a gente depois da festa!”

“Edu? To preocupada, cadê vc?”

Logo digito o número dela e espero que ela atenda, tentando achar uma desculpa boa o suficiente nesse meio tempo pra que eu não precise ir pra casa e dar de cara com César e piorar ainda mais a minha noite.

- Edu?

- oi Livs, sou eu.

- já tava quase chamando a polícia, onde cê tá?

- eu tive que trazer um amigo pra casa, ele acabou passando mal e eu tenho medo de deixar ele sozinho. Vou dormir por aqui e de manhã cedo eu vou pra casa ok?

- ah, tudo bem então. – sua voz sai decepcionada. – se cuida, então. Até amanhã.

- até, você se cuida, também. – mesmo ela não sabendo, meu conselho é bem mais sério do que aparenta. Estando perto de alguém como Cesar não é nem de longe algo bom. Por isso eu preciso conversar logo com ela e livra-la dele, por mais complicado que isso possa ser.

Mas por hora, eu só preciso me deitar no sofá aconchegante de Murilo e ter uma boa noite de sono, já que amanhã logo pela manhã eu vou ir até o aeroporto ver Felipe pela primeira vez em mais de um mês. Só de pensar nisso minha cabeça já começa a me trazer pensamentos e planos que me deixam agitado, enquanto eu tento me acalmar e deixar que meu sono me vença e que eu possa dar fim à esse dia ruim, sabendo que amanhã tudo vai ser melhor, ainda mais com Felipe perto de mim.

_

Assim que eu abro os olhos, sinto minhas costas doerem. Mesmo o sofá sendo confortável, não é como se eu dormisse na minha cama, é claro. Olho para o relógio e vejo que marca quase 9h, então corro até o banheiro, jogo uma água no rosto e me apresso pra ir pra casa e me arrumar pra encontrar Felipe no aeroporto.

Pouco mais de meia hora depois eu já estou em casa, entrando na porta e tentando não fazer barulho pra não acordar Livia e provavelmente Cesar.

Cesar, como tirar ele da vida de Livia sem que ela sofra? Ela não pode merece sofrer e ser enganada por ele, mas é tudo tão complicado que me deixa com dor de cabeça só de pensar.

Pra minha surpresa, Livia já está acordada e arrumada pra sair, pois assim que eu passo pela porta da cozinha eu a vejo preparando uma xícara de café, sozinha, felizmente.

- bom dia!

- e aí aventureiro, como tá?

- com as costas doendo de dormir no sofá, mas to bem. – falo sorrindo ao ir até a geladeira pegar um copo de suco.

- o que aconteceu com o seu amigo?

- ele bebeu demais, aí eu levei ele pra casa e acabou ficando tarde pra eu voltar. E o Cesar, cadê?

- tá dormindo, lá no quarto. Ele perguntou muito de você ontem, se você não ia vir ficar com a gente.

- ah, que amor da parte dele.

Por trás da minha voz simpática e meu sorriso animado está a repulsa que eu sinto por ele nesse momento. O cretino ainda por cima é dissimulado. E estar dormindo aqui agora me faz ter que adiar minha conversa com Livia, por enquanto.

- bom, eu vou lá tomar um banho e trocar de roupa pra encontrar o lipe no aeroporto.

- é uma droga que eu vou ter que trabalhar justo agora de manhã, eu queria tanto ver ele.

- tenta fazer um esforço. Qualquer coisa manda mensagem pra mim que a gente se encontra, né?

- claro. Agora eu preciso ir, daqui a pouco começa minha sessão de fotos. Se cuida e manda um beijo pro Lipe!

Ela contorna a mesa e me dá um beijo no rosto, então vai em direção à porta da frente. Eu, que já estou atrasado, corro para o banho e me dedico a ficar o mais atraente possível pra ver o homem de negócios mais lindo e charmoso do mundo chegando de conexão aqui, voltando da convenção de publicidade lá de Salvador, vindo pra me ver. Só de pensar nisso meu coração já acelera e minhas mãos suam. Em algumas horas eu estarei com Felipe, a primeira vez que a gente se encontra desde que eu vim pra cá. A sensação de alegria e de expectativa em mim é tão grande que nem cabe no meu peito!

Porém, minha felicidade logo se transforma em raiva, quando eu passo na frente do quarto de Livia e vejo que a porta está entreaberta, e Cesar está acordado, se vestindo. Eu reviro os olhos e passo reto, mas ele me nota e logo o barulho da porta abrindo ecoa em meu ouvido, bem atrás de mim.

- bom dia, cunhado!

Irônico como sempre, ele tenta me afrontar, mas eu me viro e vejo ele encostado no batente da porta, me olhando com aquele sorriso desafiador no rosto.

- que rápido, né? Já tá dormindo aqui. – abro um sorriso do mesmo jeito do dele, deixando-nos igualamos. – Eu não pude vir ontem, como você tanto queria, mas agora eu estou aqui. Aliás, eu sempre estou, perto, cuidado. Se você fazer algo pra Livia, nem que ao menos machucar ela, você pode ter certeza que eu acabo com você.

- como? Usando as pernas e que não vai ser, né? – e então dá uma risada vitoriosa, achando que venceu a briga.

Suas palavras saem como uma faca e eu tenho vontade de acabar com ele no soco, mas eu não deixo transparecer nada.

- não, com as pernas não. Mas eu tenho força nos braços, amigo. Então fica esperto.

Sigo até meu quarto e me visto tentando não perder o controle e fazer bobagem, ao mesmo tempo em que penso que eu tenho que falar com Livia o mais rápido possível e tirar esse verme inundo da vida dela.

__

Segundo o painel de informações sobre os voos, faltam apenas alguns minutos para a aeronave de Felipe pousar na pista, mas eu já estou parado no desembarque esperando pra ver ele desde que eu cheguei. Acho que a ansiedade de não poder abraçar, beijar ou sentir sua presença durante esse tempo me fez ficar com tanta saudade que eu acho que assim que ele cruzar por esse portão eu vou estar ganhando o melhor presente dos últimos tempos ao poder encostar nele novamente. É tão estranho estar longe de uma das pessoas que você mais ama e só ver ela de tempos em tempos, sabe? É uma sensação muito estranha, algo que eu não achei que seria tão complicado de saber lidar. E há tanta gente aqui ao redor, os olhos brilhando de ansiedade esperado por outras pessoas importantes, assim como eu. Só agora eu percebo o quão especial aeroportos são nas vidas das pessoas. Elas levam e trazem pessoas de longe pra perto ou de perto pra longe, causando alegrias ou tristezas, mas acima de tudo, sentimentos fortes e avassaladores. E agora eu estou no meio delas, observando pessoas se abraçando quando atravessam a linha do portão e chegam no saguão. Adultos, crianças, jovens... Todos os tipos de pessoas se reencontrando, a sensação de felicidade aqui é palpável. Olho de novo para a tela e vejo que a minha espera diminui mais um pouco, então eu sorrio de felicidade ao ver o status de aeronave no pátio. Então é só questão de tempo até que as primeiras pessoas começam a vir em direção das conexões, mais adiante, que é onde Felipe surge segundos depois. Eu demoro a reconhecer sua silhueta ao longe, pois cada pessoa que se parecia ao menos um pouco com ele eu já achava que era ele, então meu coração sempre acelerava. Mas agora eu consigo ver que é Felipe quem está vindo em minha direção, o sorriso largo. Eu reconheceria esse sorriso em qualquer lugar do mundo. O sorriso do homem que eu amo.

Agora, com ele dando passos largos em minha direção, visivelmente em euforia por nosso encontro, assim como eu, posso sentir toda a intensidade do momento em que duas pessoas que se amam se reencontram. Eu sinto uma enorme vontade de chorar, de alívio, de felicidade, de angustia, de tudo. Mas é só quando eu sinto seu corpo encostando no meu, seu calor sendo compartilhado com o meu e seu cheiro tão familiar pra mim, é que eu desabo. Como eu havia sentido falta dele!

- até que enfim, meu Deus! – ah, sua voz pessoalmente! Ouvir ela por telefone e por Skype me fez desacostumar sobre o quão linda ela é ao vivo.

- que saudade, meu amor. – minha voz sai abafada, pois estou com meu nariz enterrado em seu ombro e sentindo cada segundo que eu tenho ele junto comigo, como se minha mente quisesse processar isso pra guardar quando ele fosse embora de novo.

Fico agarrado nele pelo que me parecem longos minutos, enquanto meu coração não consegue deixar de bater acelerado ao viver esse momento.

Me afasto um pouco e então dou uma bela olhada em Felipe, notando seu jeito ainda mais adulto, a barba maior, mas bem desenhada, o jeito de homem crescido. É loucura ele ter mudado tanto em apenas um mês?

Ando aeroporto afora com ele, indo em direção à algum restaurante mais próximo pra almoçar. Acabamos parando em um com especialidades de peixe, apenas algumas quadras abaixo. Durante o caminho todo ele me conta orgulhoso toda a convenção de publicidade, que infelizmente ele não ganhou, mas ficou em terceiro lugar. Temos tantas novidades, tantas coisas que queremos falar que até parece que falta tempo pra tudo. Agora estamos sentados na mesa, comendo e eu contando sobre as coisas no restaurante quando Cesar me surge automaticamente na cabeça. Até agora Felipe não sabe da existência dele e nem sobre o quanto ele vem me aborrecido.

- tá tudo bem? Parece distante...

- tá sim, eu só... To com alguns problemas lá no restaurante, mas não é nada demais.

- problemas? – ele ergue a sobrancelha, me pedindo mais detalhes. Como eu vou falar tudo isso pra ele agora? Se o problema maior não é nem comigo e sim com Livia?

- ah Fê, não vale a pena ficar falando de coisas chatas agora, a gente tem tão pouco tempo pra aproveitar, né?

- eu te conheço Eduardo, você tá querendo me distrair. Pode falando.

Seu tom mais sério me obriga a admitir que minha tentativa de mudar de assunto falhou. Droga, isso costumava funcionar.

- tem um funcionário lá no restaurante, o Cesar... Ele vem me aborrecendo desde que eu cheguei.

- aborrecendo? Como assim?

- falando coisas, fazendo piadas... Ele é meio que homofóbico. Mas é um idiota, eu não dou a mínima.

- você já falou com o Cassiano?

- já, ele esteve aqui em São Paulo esses dias e eu contei pra ele, ele me disse que ia conversar com ele.

- e então?

- agora parece que tá tudo bem, por enquanto. – lhe dou um sorriso pra ele ter certeza de que está mesmo tudo bem. – Mas não é só isso. Ele tá ficando com a Lívia.

- ele o que?

Seus olhos grandes e castanhos me encaram incrédulos, enquanto eu analiso se devo falar o resto.

- pois é.

- o que a Livia tá fazendo com um cara assim? Ela sabe o que ele tá fazendo com você?

- não e nem quero que saiba. Ela tem coisas mais importantes pra se preocupar agora.

- coisas mais importantes? Que coisas mais importantes? – Felipe já está visivelmente aborrecido com todas essas novidades negativas que eu estou jogando em cima de seu colo. Será que eu não deveria ir com calma? Bom, de qualquer forma eu já comecei a contar, então vou até o fim, pelo bem de Livia.

- esse cara é comprometido. Tá até noivo, mas tá ficando com a Livia às escondidas. Eu ia contar pra ela, mas ele tá sempre perto e eu tenho medo de ela nao reagir bem...

Antes que eu pudesse falar algo ou que ele pudesse reagir a tudo isso, Livia e Cesar aparecem em pé bem ao nosso lado, para a surpresa geral de nós dois.

- eu não acredito! Acho que nem se fosse combinado daria tão certo! Lipe, que saudade! – ela vai até o irmão e lhe abraça, e esse por sua vez não consegue disfarçar o choque pelo que eu acabo de falar, ficando inclusive fora de órbita.

Eu tava fazendo umas fotos aqui perto e o Cézinho veio me encontrar pra almoçarmos juntos.

A tensão no ar começa a ficar mais forte do que qualquer sentimento de euforia de livia, que por sua vez começa a notar que ha algo de errado. Cesar está calado e na espreita, observando tudo e certamente sabendo que há algo de errado.

- ah, que falta de educação a minha. Amor, esse é o Felipe. Felipe, esse é o Cesar, meu namorado.

- prazer, Felipe! – cesar estende a mão para ele, amistoso, mas Felipe apenas o encara e se levanta lentamente da mesa. Droga, isso não vai acabar bem.

- então é você o desgraçado que tá enganando a minha irmã e mexendo com o meu noivo?

O tom de voz de Felipe se faz alto o suficiente pra que as pessoas a volta comecem a nos olhar. Livia me olha sem saber o que está acontecendo e eu sinto culpa por ela estar sabendo disso tudo só agora, dessa maneira. Talvez eu precise fazer um pedido de desculpas formalmente depois.

- do que você tá faland...

Felipe mal deixa Cesar terminar de falar e lhe desfere um soco direto no olho, fazendo-o cair no chão do restaurante e Livia gritar “para!”, enquanto todos se viram e começam a se levantar, uns pra olhar, outros pra ir embora. Cesar olha pra nós três, a mão no rosto, perto do olho, onde está machucado, então logo um homem que eu julgo ser o gerente do local pede para a gente se retirar. Livia continua sem entender nada e olha para Cesar querendo uma explicação, porém ele se levanta e é o primeiro a sair dali sem falar absolutamente nada.

Saindo para a calçada, Livia agora não parece mais estar confusa, mas sim brava.

- alguém pode me dizer o que tá acontecendo aqui? Felipe, por que você falou aquelas coisas lá dentro? E pior, por que você deu um soco no Cesar? Você ficou maluco?

- porque ele é comprometido, Livia. Ele tem noiva e tava te usando como amante dele. Eu não vou deixar um babaca desses fazer isso.

Droga Felipe! Era eu quem deveria ter dito isso! Agora ela me olha e deus olhos começam a lacrimejar. Ah não Livia, não.

- você sabia disso, Edu?

- Livia, eu sabia e eu queria te contar, mas...

Ela não me deixa falar mais nada e então sai caminhando para a direção oposta da rua, então eu sinto raiva de Felipe, mas acima de tudo e de mim mesmo por não ter falado antes.

- você não deveria ter feito isso, Felipe. Era eu quem deveria ter contado pra ela.

- eu não ia deixar esse cara ficar perto dela, Edu. Por que você não falou pra ela antes? Você com certeza teve chance, não teve?

- eu tinha medo, Felipe! Medo de que ela se magoasse muito, medo de tudo. Ela é uma menina muito ingênua, eu não tive coragem.

- então eu tive, e agora tá aí. Ele não vai mais chegar perto dela.

No meio disso tudo, meu celular toca e é Murilo. Eu hesito em atender e atrapalhar nossa discussão, mas Felipe, que já estava com raiva, me olha curioso.

- não vai atender?

- não deve ser importante.

- quem é?

- o Murilo.

- ah, o famoso Murilo. Atende ele, com certeza deve ser importante.

Então, em um gesto de raiva eu atendo mesmo, para a surpresa de Felipe, que fica em silencio provavelmente querendo escutar a conversa.

- Edu?

- oi Murilo. Tudo bem?

- tudo! Só um pouco de dor de cabeça e ressaca moral. E você?

- to bem. – bem? Acho que já tive dias melhores do que esse em que eu finalmente vejo Felipe e agora estamos no meio de uma discussão. Mas claro que Murilo não precisa saber disso. – Aconteceu alguma coisa?

- então, eu te liguei pra avisar que você esqueceu seu Rg aqui em casa e te perguntar onde tá meu carro. – ele dá um pequeno riso por não saber onde está o próprio carro. Porres e seus efeitos.

- esqueci? Nossa, deve ter caído do meu bolso. Você leva pra mim hoje?

- levo, claro! Mas e o meu carro?

- tá na casa do Murilo. A gente voltou de taxi ontem, lembra?

- lembro, claro! Eu acho.

Ambos sorrimos, mas eu me sinto tenso ao olhar pra cara de Felipe o tempo todo e ver que sua raiva aparentemente só aumenta.

- Murilo, eu tenho que desligar agora. A gente se fala mais tarde, beleza?

- tá certo, ah e obrigado por ter me trazido ontem Edu. Você foi um anjo. O anjo protetor do m amigo bêbado.

- que isso, amigo é pra essas coisas. Se cuida, bebum! – é, eu tava fazendo isso pra irritar ainda mais Felipe. Por que eu estou com tanta raiva?

Assim que desligo ele me olha reprimindo o riso, mas o riso agora é sarcástico.

- então você saiu ontem com o Murilo.

- sai, com o Murilo e com meus outros três amigos que você nunca lembra porque você decidiu pegar no pé de quem? Do Murilo.

- você chegou em casa que horas, Eduardo?

- eu não dormi em casa, Felipe.

Minha resposta dura e atrevida pega tanto ele quanto eu de surpresa. Eu definitivamente não deveria ter dito isso dessa forma.

- você dormiu aonde? – agora ele está de guarda baixa. Ah ceus, isso não vai acabar bem.

- na casa do Murilo.

Ele solta um sorriso com os olhos surpresos, parecendo não acreditar no que acabou de ouvir. Agora eu meio que preciso explicar o resto, se ele deixar.

- ele tava bêbado e eu levei ele pra casa, então quando eu tava indo embora eu falei com a Livia e ela me disse que o Cesar tava na casa dela, então eu não quis ir embora. Acabei dormindo no sofá da sala dele mesmo.

Agora, silêncio. Felipe apenas me olha como quem acaba de ter uma das maiores decepções da vida e eu sinto meu coração se quebrar. Eu nunca tinha visto ele ficar assim, decepcionado comigo.

- eu não...

- não precisa falar mais nada, Edu. Tá tudo bem.

Tudo bem? Eu acho que não tá nada bem. Felipe sorri mais uma vez e agora deixa uma lágrima cair do olho. Isso soa como um soco na boca do meu estômago, até que ele se vira e começa a andar pra longe de mim, na mesma direção de Livia.

- Felipe! – minha voz é uma súplica. – pra onde você vai?

Ele se vira lentamente pra mim e me olha como um estranho, sem emoção, sem sentimento algum.

- vou voltar pro aeroporto. Daqui a pouco eu to indo pra casa.

- vem aqui, vamos conversar. Não quero que você fique pensado coisas... erradas de mim.

- não se preocupa, eu não estou pensando nada de errado. Se cuida, Edu.

Então, mesmo eu tendo vontade de ir até ele é querer tentar resolver tudo, eu simplesmente não consigo sair do lugar. Acho que talvez seja vergonha, mas vergonha do que? Se eu não fiz nada de errado? Então minha consciência me faz pensar que é vergonha não por atitudes erradas, mas sim por ter decepcionado ele desse jeito.

Comentários

Há 3 comentários.

Por Sirferrow em 2016-03-29 21:21:09
Que capítulo maravilhoso!!!! Espero q ele se acerte logo cm o Lipe.
Por Fran86 em 2016-03-08 12:08:59
Comecei a ler e nao consegui parar kkk muito bom, parabéns!! Espero que Edu consiga esclarecer tudo e voltar as boas com o Love e com a cunhada 😍 bjus não demora muito #noaguardo
Por Niss em 2016-03-06 05:37:00
Meeeeeeeu!!! Que confusão hein Edu... Tem uma cunhada e um noivo decepcionados... Sinceramente eu até entendo em parte a reação do Lipe em proteger a irmã. Bem que o Edu poderia ter falado antes, mas... Ele teve os seus motivos. Infelizmente eu não imaginava essa passagem do Lipe por SP desse jeito né?! Mas mesmo assim, eu espero que eles consigam retornar ao sentimento de antes... Principalmente a Lívia, já que com o Lipe, pode ser somente um ciumezinho.... Ja tô até vendo ele se arrependendo de ter gasto tempo dele com ciumes bestas... Anyway... O capitulo me pegou de surpresa, mesmo! Principalmente desse encontro no Aero... Espero pelo proximo. Kisses, Nissan.