10. Alcoólicos anônimos

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Oi galera! Tudo bem? Eu queria mais uma vez pedir desculpas pela demora na postagem do romance. Essa semana foi bastante corrida pra mim, e eu não tive tempo de postar. Quero avisar também que ao contrário do que eu achava, não vou poder postar um capítulo por dia. Mas vai ser no máximo entre 2 dias de diferença. Estou na fase final da história e estou fazendo alguns ajustes, tudo pra deixar melhor a história pra vocês. Qualquer feedback é válido, e mais a vez obrigado pelos comentários, são muito importantes pra mim. Boa leitura! (:

Meu pai parece nervoso. Não está falando nada, apenas olhando pra fora da janela do carro. Estamos em frente ao prédio dos alcoólicos anônimos.

- pai, tá tudo bem?

O tiro de seus devaneios, que tenta me dar um sorriso convincente.

- tá sim filho, só to esperando dar a hora.

- faltam 10 minutos, você não quer ir se adiantando?

- tudo bem.

Imagino o quanto deve ser difícil pra ele enfrentar de frente seu vício. Bato em suas costas num gesto de encorajamento, e seguimos pra dentro. Na recepção, uma simpática moça atrás do balcão nos orienta a subirmos para o segundo andar, primeira porta a direita. Ao chegarmos, vejo algumas pessoas já conversando perto umas das outras, no círculo feito de cadeiras no meio da sala. Nas paredes, vários cartazes sobre combate a vícios e seus perigos. Sentamos na ponta do círculo, e eu tento distrair meu pai, que está visivelmente mais aflito.

- como vão as coisas no taxi pai?

- ah, hum... Vão bem filho.

- pai, não precisa ficar assim. Relaxa, aqui todos passam pela mesma coisa que você. Ninguém vai te julgar.

- é, eu sei. É só nervosismo de primeiro dia.

Logo um senhor de mais ou menos 50 anos chega na sala, cumprimentando a todos. Meu pai se ajeita na cadeira, e eu lhe lanço um olhar de cumplicidade.

- boa noite pessoal. Como vão?

Todos respondem “bem” em uma sinfonia.

- que bom! Temos um novo membro hoje. Deem boas vindas para o Paulo.

Todos se viram para meu pai e começam uma salva de palmas. Meu pai se levanta, acenando para todos, bastante ruborizado.

- você gostaria de começar a nos contar seu problema, Paulo?

- é... Claro.

Ele coça a cabeça e tenta formar uma linha de pensamento.

- bem, isso é um tanto embaraçoso pra mim.

- não precisa ter vergonha de nada Paulo. Ninguém aqui vai lhe julgar.

Ele me olha e eu sorrio. Então ele começa.

- eu tenho sérios problemas com o álcool. Sempre tive, mas nos últimos tempos piorou.

- e desde quando exatamente você tem problemas?

- desde os meus 23. Eu comecei a beber para esquecer dos problemas é relaxar, e então logo conheci minha mulher e me controlei. Mas depois eu voltei a beber e não consegui mais parar.

- teve alguma situação extrema em relação ao vício?

- sim. Brigas em bares, muitas.

- entendo. E quando você decidiu buscar ajuda?

- faz pouco tempo. Eu estou tentando parar por conta própria, mas é quase impossível. Mas eu preciso me colocar de volta nos eixos e poder cuidar direito da minha família.

Nesse momento ele me olha e eu estou emocionado. Eu dou um sorriso e ele retribui.

- bem Paulo, o primeiro passo você já deu, que é reconhecer o vício. E agora você está aqui, procurando ajuda, e isso também é ótimo. Não é fácil, mas com força de vontade a gente consegue. Você tem que saber que é uma luta diária.

- obrigada... Acho que você não disse seu nome.

- ah, me desculpe. Eu me chamo Joel.

- obrigada, Joel.

Logo em seguida, há mais uma salva de palmas, e a sessão continua. Meu pai parece estar muito concentrado em tudo o que as pessoas falam, e eu estou tão feliz. Ver meu pai indo para o caminho certo, se tratando, isso é incrível. A palestra logo termina, e Joel se levanta e diz a todos.

- lembrem-se: um dia de cada vez.

Todos repetem a frase logo após, e mais uma salva de palmas. Isso é muito encorajador e acolhedor.

Estamos descendo as escadas e analiso meu pai. Ele parece estar mais leve. Logo chegamos ao carro. Esta um pouco mais frio do que antes. Coloco meus braços em volta do meu corpo para me esquentar.

Quando entro dentro do carro, meu corpo se alivia com o calor.

- Edu.

- oi pai.

- obrigado. De verdade.

Então, recebo um abraço um tanto desengonçado por estarmos já dentro do carro, mas que valeu minha noite mais ainda.

- não precisa agradecer pai, eu to contigo nessa.

- eu senti sua falta, filho. Em casa, no restaurante, em tudo. Quero que você volte a morar e trabalhar com a gente. Quero que a gente seja a família unida que sempre fomos.

Uau. Por essa eu realmente não esperava. Eu adoraria voltar, mas e a floricultura?

- eu agradeço pai, mas Humberto precisa de mim na floricultura.

- entendo.

Ele fica pensativo por alguns instantes.

- você voltaria a morar com a gente, pelo menos?

- é claro pai.

Ele sorri e me da outro abraço. Isso é muito constrangedor, pois nunca fomos de demonstrações de carinho. Ao chegarmos na frente da casa da minha tia, ele me segura antes de eu sair do carro.

- a hora que você quiser voltar tanto pra casa quanto pro restaurante, é só ir. Estamos te esperando.

Eu sorrio e agradeço, então me despeço e saio do carro. Entro em casa e paro por uns instantes, pensando sobre tudo isso. Esse foi um dia e tanto. Só preciso da minha cama.

Acordo com o barulho da chuva caindo no telhado. Olho para o relógio e ainda faltam 9 minutos para o despertador tocar. Mas não consigo mais dormir. Há tanta coisa em minha cabeça que não consigo relaxar. Meu corpo já está elétrico. Decido me levantar e começar a me arrumar mais cedo. Tomo um banho relaxante e me visto rapidamente, por causa do frio. Olho meu celular e só então vejo que faltam três dias pro meu aniversário. Caramba, como eu havia esquecido. É a primeira vez que eu não planejo tudo com antecedência. Acho que esse ano não farei nada, só descansar a cabeça já me parece ótimo. Tomo um copo de suco e vou para a escola. Chego e percebo que o clima está um pouco diferente. Mais leve talvez, não sei dizer ao certo. Provavelmente deve ser porque eu ainda não vi nem Alexandre nem Gabriel. Sigo pelo corredor, e quando estou perto da escada, lá estão eles. Meu coração gela. Espero não ter que sair no soco com ninguém, mas eu não suporto ver eles e ouvir piadas. Espero que com a advertência e a suspensão da semana passada eles tenham sossegado. Passo naturalmente por eles, e Alexandre bate seu ombro no meu propositalmente. Eu me viro e ele me olha, os olhos cínicos.

- desculpa, foi sem querer.

E então, os dois saem rindo. Isso é uma atitude tão infantil, que decido não me incomodar ou me chatear. Vejo que eles não têm coragem de fazer nada explícito por causa do diretor. Covardes.

Logo em seguida, o diretor vem ao meu encontro.

- ei Edu, você tá bem?

- to sim diretor. Aconteceu alguma coisa?

- eu vi o que Alexandre fez.

- tá tudo bem, ele disse que foi sem querer.

- você sabe que não foi.

- é, eu sei. Mas deixa pra lá diretor.

- eu também preciso falar com você sobre algo sério. Vamos na minha sala.

- tudo bem.

Ao chegarmos, me sento na poltrona em frente à mesa e espero para ouvir o que ele tem pra me dizer.

- eu sei que essas agressões verbais não são fáceis. E eu sinto muito não poder fazer muito mais pra que isso acabe. Eu estou de olho, mas se não tiver nada concreto, não se pode fazer nada, filho.

- eu sei diretor, tá tudo bem, eu falo sério.

- bem, mas eu não te chamei aqui pra isso. Edu, eu sei que é difícil, e eu entendo seu lado, mas eu queria te pedir paciência com o Alexandre. Ele já está em acompanhamento psicológico, e a situação da família dele não está nada bem.

- o que aconteceu, diretor?

- o pai dele tem obesidade mórbida, e a situação dele se agrava cada vez mais. Precisa fazer uma cirurgia, mas eles não têm condições e pelo SUS não tem nem possibilidade, pois é muito demorado. Há tempos que ele anda com o comportamento alterado, caçando briga por aí, por causa do que acontece dentro de casa. Isso não justifica, mas espero que você entenda.

- e como você ficou sabendo, diretor?

- a orientadora educacional acabou de me falar. Ele acabou de contar pra ela também. Contou só agora.

Caramba, que situação triste. Eu imagino como Alexandre deve estar sofrendo em casa. Por isso ele faz isso comigo, pra botar pra fora tudo o que ele sente.

- eu entendo diretor, e eu vou ser compreensivo. Espero que tudo se resolva logo.

- eu agradeço filho. Agora pode ir, a aula tá quase começando.

Saio da sala angustiado pensando em Alexandre. Agora eu não o culpo. Sei que não é algo diretamente contra mim, mas sim uma raiva e tristeza acumulada. E eu quero muito ajudar de alguma forma. Felipe logo aparece no corredor.

- bom dia. Tudo bem?

Ele olha sobre meus ombros, para onde eu sai.

- sim, só o diretor queria falar comigo.

- algo grave?

- não. Quer dizer, não comigo.

- com quem então?

- com o Alexandre.

- o que tem esse babaca?

- não Felipe, não fala assim. Eu sei agora o motivo que ele age assim não só comigo, mas no resto da escola.

- e o que houve?

- o pai dele tá doente. Tem obesidade mórbida e precisa de uma cirurgia rápido, se não pode acontecer algo grave.

Felipe fica surpreso, assim como eu. Muitas vezes a gente não conhece as lutas de uma pessoa, e é mais fácil julgar quando não sabe. Aconteceu comigo, e agora está acontecendo com Alexandre. E eu sinto muito por ele.

A aula passa lenta e tediosa, e eu estou com a cabeça longe. Há tanta coisa que se passa agora, que não consigo pensar direito em uma só coisa. Tudo me vem em alta velocidade, e eu quero muito que isso pare. Meu aniversário, o tratamento do meu pai, o sumiço de Paula, que não dá notícias desde que saiu da casa de Felipe, e agora o caso do pai de Alexandre. É demais pra mim.

Quando estou saindo da escola, meu telefone toca. É minha mãe. Surge um sorriso espontâneo em meu rosto.

- oi mãe!

- oi edu, como você tá?

- eu vou bem. Aconteceu alguma coisa?

- não, eu só queria te perguntar se você não quer vir aqui depois de amanhã jantar. É seu aniversário, e eu e seu pai queremos passar com você.

- é claro mãe.

- pode trazer o Felipe junto, se quiser.

Meu coração para por uns instantes, e eu engulo em seco.

- é sério? Mas e meu pai?

- ele quem falou pra trazer.

Eu não consigo acreditar. Estou tão feliz agora que quero dar pulos de alegria, mas estou na frente da escola ainda, então me limito a agradecer muitas e muitas vezes ao telefone para minha mãe, e depois desligar para contar a notícia pra Felipe, que está do meu lado, curioso.

- o que foi?

- você não vai acreditar. Meu pai te convidou pra ir lá na casa dele jantar no meu aniversário.

Ele parece tão surpreso quanto eu.

- tá brincando?

- claro que não.

Ele sorri e quase me da um abraço, mas lembra também que estamos na escola, e então começamos a rir.

Quando chego na floricultura, vejo Humberto e Carlos conversando perto do caixa. Reprimo um sorriso quando os vejo, pois não quero ser invasivo, mas quero muito saber o que há entre eles. Ao me verem, se ajeitam, visivelmente sem graça, e eu não entendo o porquê.

- boa tarde gente. – passo por eles sendo o mais natural possível. Eles me respondem ao mesmo tempo. Volto para a loja já com meu uniforme e vejo que Carlos já foi embora. Humberto está me olhando com uma cara de “preciso te contar o que aconteceu”, e eu sorrio.

- então...

Decido fazer a frente para a conversa que ambos queremos ter.

- a gente saiu, e marcamos de sair hoje a noite novamente.

Ele sorri e eu o abraço, sorrindo de alegria.

- fico tão feliz por vocês Humberto. Carlos é uma pessoa incrível, eu o conheço há anos.

- eu sei, tá tudo no começo ainda, mas a gente tá se gostando.

- e isso é ótimo, Humberto. Já é um ótimo começo.

- obrigado Edu. De verdade.

Lhe dou um sorriso e vou ao trabalho, ainda mais feliz por essa relação estar dando frutos. É tão bom ver duas pessoas que eu admiro fazendo uma a outra feliz.

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Me olho no espelho e vejo algo diferente. Não sei se é porque estou oficialmente um ano mais velho, mas me vejo diferente. Mexo em meu cabelo bagunçado e vou para o banho, pensando em como vai ser esse jantar. Em como vai ser esse primeiro encontro entre Felipe e meu pai. Será que vão se dar bem? Eu espero que sim.

Chego na escola e Felipe já está na sala de aula. Estamos sozinhos, por milagre.

- ei.

- ei, feliz aniversário.

- obrigado.

Ele arrisca a me dar um abraço breve, e eu aceito. Não há ninguém por perto.

- toma, seu presente.

Ele me entrega um pacote pequeno.

- não precisava se preocupar com isso.

- eu sei, mas abre.

Abro o embrulho e dentro tem um porta retratos com uma foto nossa, que tiramos na usina do gasômetro, com o sol se pondo ao fundo.

Fico muito feliz pelo presente, e as lembranças daquele dia me vem na cabeça, me fazendo sorrir.

- obrigado.

Guardo em minha mochila com cuidado. Esse é meu presente mais especial. Vou guardar com carinho no meu quarto, perto da minha cama.

Passo o dia ansioso para chegar à noite, e consequentemente o dia acabou demorando muito pra passar. Quando finalmente chego em casa depois do trabalho, corro para tomar um banho e me arrumar, pois logo Felipe estará aqui, e meu pai virá nos buscar.

Saio do banho e vou correndo colocar a roupa. Droga, estou quase atrasado. Estou terminando de colocar meus tênis quando a campainha toca. Vou correndo atender, e quando abro vejo Felipe, usando uma camisa fina de lã preta em gola v e com as mangas arremangadas, e calça jeans clara.

- ei.

- ei, você tá bonito.

- preciso impressionar minha sogra e meu sogro.

Puxo ele pra dentro, lhe dando um beijo.

- quer algo pra tomar ou pra comer?

- não, obrigado.

Vou até a cozinha tomar um copo de suco quando ouço a buzina lá fora e respiro fundo. Olho para Felipe, que também parece nervoso.

- pronto?

- claro.

Vejo que ele está muito nervoso. Sorrio e lhe dou um beijo.

- ele vai te adorar, tenho certeza.

Saímos e lá estava ele, que parecia estar ansioso. Esse era um encontro inevitável, e eu gosto de estar acontecendo antes do que esperava. Significa que meu pai está evoluindo em relação a mim. Entramos no carro e somos recepcionados com um caloroso “boa noite”. Olho para Felipe, que parece um pouco mais aliviado, assim como eu. O caminho até a casa dos meus pais foi curto, e ao contrário do que pensei, não seguimos totalmente em silêncio. Nós três conversamos de assuntos banais, e a medida que a conversa fluía, a tensão ia embora. Ao chegarmos, vejo minha mãe na cozinha. O cheiro de comida me abre o apetite. Chego até ela, que me recepciona com um abraço caloroso, seguido de um “feliz aniversário”. Vejo que ela está fazendo arroz e salada de maionese. Vejo algumas carnes em cima da pia, e um pote de tempero ao lado. Logo suponho que teríamos churrasco pro jantar, assim como em todas as outras comemorações em uma casa de gaúchos. Meu estômago ronca, e eu espero que tudo fique pronto logo.

Estou ajudando minha mãe com as outras saladas enquanto Felipe e meu pai temperam a carne e começam a colocar na churrasqueira. Eles parecem pai e filho, tamanho é o entrosamento deles. Olho para minha mãe com um sorriso bobo, e aponto com a cabeça para eles, que olha e sorri também. Isso é quase um sonho. Achava que meu pai nunca aceitaria minha opção sexual. Mas depois do episódio da nossa briga, ele veio a mudar em muitas coisas, e eu fico muito feliz por isso.

Começo a colocar a mesa enquanto tudo começa a ficar pronto.

Todos se sentam em seus lugares, e Felipe do meu lado, de frente pro meu pai. A comida está ótima, e eu estou feliz por estarmos todos juntos. Isso parece um sonho.

O resto da noite passou rápido, e quando vejo já está na hora de ir embora. Estou na sala ao lado de Felipe, enquanto eles se despedem. Decido passar a noite aqui.

- obrigado pela visita Felipe, e você sabe que sempre que quiser vir, é bem vindo.

- obrigado, dona Helena. E obrigado pelo jantar, tava tudo ótimo. Seu churrasco tava perfeito, Paulo.

Meu pai agradece com a cabeça, e sorri.

- vamos filho, eu vou te levar até em casa.

- não precisa Paulo, eu pego um ônibus.

- nada disso, na rua a essas horas é perigoso. Deixa que eu te levo.

Meu pai acaba vencendo, e convence Felipe. Me despeço dele de forma discreta, e eles saem pela porta. Olho para minha mãe, que está tão feliz quanto eu. Vou até ela e a abraço.

- obrigado por tudo mãe. Você e meu pai foram incríveis hoje.

- eu estou muito feliz Edu. E adorei que o Felipe veio junto. Ele e seu pai se deram muito bem.

- eu também estou muito feliz por isso. E eu senti falta de vocês.

- quando você volta pra cá, filho?

- semana que vem. Só tenho que arrumar minhas coisas. Acho que já vou indo pro meu quarto. Boa noite mãe.

- boa noite filho.

Lhe planto um beijo na testa e vou para meu quarto. Ao entrar já me bate uma certa nostalgia. Havia sentido falta desse quarto, dessa casa. Me deito na cama e solto um sorriso involuntário. Me sinto feliz por estar de volta em casa.

O dia amanhece nublado. Olho pela janela e faço uma careta azeda. Chego na escola e seco meu cabelo com as mãos, da garoa fina que tinha começado quando eu havia saído do ônibus. Estou quase na escada, quando vejo Alexandre. Nunca mais havia visto ele desde que soube de seu pai. Ele me vê também, e me lança um olhar de ódio, mas eu ignoro. Vou até ele.

- Alexandre, você tem um minuto?

- o que você quer?

- conversar. Podemos?

Ele fica um tanto surpreso, mas não diz nada.

- queria levantar bandeira branca entre a gente. Essas brigas não vão levar a nada, e eu espero que você pense o mesmo.

Ele me lança um sorriso sarcástico, mas antes que ele fale algo, eu termino.

- eu fiquei sabendo sobre seu pai. Eu sinto muito, e queria ajudar de alguma forma.

Seus olhos se arregalam, e a expressão de ódio aumenta ainda mais. Parece que sai fogo de seus olhos. Ele me encurrala na parede e segura minha gola. Eu deixo os braços livres, sem me mover e provocar outra briga.

- eu não preciso da sua ajuda, seu viadinho de merda. Não se mete nos meus problemas.

À medida que terminava de falar, seus olhos lacrimejavam.

Então, ele me solta e sai pelo corredor em direção ao pátio, e eu me ajeito. Talvez não devesse oferecer ajuda, mas eu não posso ver as coisas acontecerem e nem ao menos tentar ajudar. Logo em seguida Felipe chega, sorridente como sempre. Tento não demonstrar como estou, forçando o mais convincente dos meus sorrisos. Acho que dessa vez ele acreditou.

- ei.

- ei, como passou a noite?

- com saudade.

- eu também.

- senti tanta saudade que queria te convidar hoje pra ir dormir lá em casa.

- mas seu pai...

- vai estar fora, e Pedro também.

Eu hesito, olhando para sua cara de cachorro sem dono tentando me conquistar, e mesmo que eu tente resistir, eu não consigo.

- tá bem.

Seu sorriso de vitória ilumina seu rosto, e eu reviro os olhos. As vezes ele parece uma criança.

O dia passou rápido, e as coisas na floricultura correram bem. Já é noite, e estou terminando de me arrumar para ir até a casa de Felipe. Pego minha mochila com uma muda de roupas e vou embora. Chego em sua casa e aperto o interfone. Sua voz grossa e macia me faz arrepiar.

- oi, sou eu.

- oi, já to indo.

Quando ele abre o portão, nossos sorrisos se encontram ao mesmo tempo. Ele me convida pra entrar e já me recebe com um beijo caloroso.

- senti saudades.

- eu também.

Subo as escadas e deixo minha mochila em seu quarto. Quando me viro ele está na porta me observando, os olhos impenetráveis. Fico sem jeito.

- o que foi?

- nada, apenas admirando meu namorado.

Acho que ruborizo um pouco.

- bem, não há muito o que ver aqui.

- eu discordo.

Sabe, com tantos garotos mais bonitos do que eu nessa cidade, muitos que podem ser gays, e ele foi justo se apaixonar por mim. Ele interrompe meus pensamentos com um beijo, e eu sorrio. Não importa se eu não sou um modelo super sarado ou com cabelo cheio de fixador. Ele me ama, e isso basta.

Quando descemos, Felipe me leva até a sala de jantar, que fica ao lado da cozinha, e eu fico boquiaberto. Há um jantar romântico na mesa. Vinho, com direito a taças aparentemente caras.

- eu pensei em fazer uma comemoração do seu aniversário a dois.

Eu o olho e não sei nem o que dizer.

- você fez tudo isso sozinho?

- bem, eu pedi ajuda pro meu pai pra planejar. Mas eu passei o dia todo preparando tudo.

Eu fico emocionado e lhe beijo.

- isso é incrível Felipe. Tá tudo lindo. Obrigado.

O jantar é agradável, conversamos sobre assuntos aleatórios, e nem percebi a hora passando.

- Felipe?

- oi Edu

- você não tem notícias da sua mãe?

Estamos agora na cozinha, ele lavando a louça, e eu secando, e sua expressão se entristece.

- não. Não falo com ela desde aquele dia. A única que conseguiu contato foi Lívia.

Lhe lanço um olhar reconfortante e lhe planto um beijo em sua bochecha. Fico triste em saber que sua mãe nem o procura. E eu vejo que ele sente muito sua falta.

- vem, vamos lá pra cima.

Ele me puxa, nos tirando dessa nuvem de negatividade, e subimos até seu quarto. Já são quase 23h, e só agora sinto um pouco de cansaço por meu dia corrido.

- nossa, eu to cansado.

- posso te fazer uma massagem?

Olho para ele, que espera pela resposta parado em minha frente.

- por favor.

Ele sorri e então se aproxima de mim e da um sorriso de canto.

- tira os tênis.

Eu obedeço, sorrindo sem graça, porém excitado.

- agora a camiseta.

Vou lhe obedecendo até que eu fico apenas de cueca. Ele me olha e parece satisfeito com o que vê.

- é uma bela vista, sem dúvidas.

- toda sua.

Então, ele me beija e me coloca de bruços na cama. Logo sinto suas mãos tocarem meus ombros, e eu fecho os olhos, relaxando. O movimento me faz gemer baixinho.

- tá gostando?

- uhum.

Eu mal posso falar. A sensação é ótima.

Então, vejo que ele para e escuto o barulho de suas roupas caindo no chão. E de repente, sua pele está tocando na minha, sua barriga em minhas costas, e eu recebo beijos na nuca. Isso me atiça na hora. Sua ereção esta encostando em minha bunda, e eu estremeço de desejo.

Então, ele me vira e me beija intensamente. Ele está em cima de mim, e eu vejo sua cueca quase explodindo com seu membro bem delineado nela, e eu acho uma ofensa ele estar preso ali dentro. Puxo sua cueca e ele salta pra fora, e eu estou feliz em ver aquele membro duro e brilhante na minha frente. Eu o pego o coloco na boca, sentindo aquele gosto salgado da lubrificação saindo, e Felipe inala forte, fechando os olhos e aproveitando o momento. E agora, ele é só meu, assim como eu sou só dele, por inteiro. Vou até sua boca e lhe beijo enquanto minhas mãos passeiam em seu corpo, até que ele para e chega bem perto do meu ouvido.

- quero te dar outro presente.

Eu já nem sei o que é, mas já gosto. Ele se espicha até o criado mudo, pega um preservativo dentro da gaveta, me joga e sorri.

- sua vez de brincar.

Eu o olho, perplexo. Ele está me deixando ser ativo? Eu sempre tive vontade, mas tive medo de pedir. Eu acho que ruborizo um pouco, e tento esconder minha vontade de rir. Não apenas de rir, acho que estou quase tendo um ataque de riso de vergonha. Mas eu me controlo. Eu volto a o beijar, enquanto ele me livra de minha cueca, e ficando muito feliz pelo que vê.

Eu rasgo a embalagem e retiro o preservativo, colocando-o lentamente no meu pênis. A sensação é de estar levemente apertado, mas é bom. Ele está com o lubrificante em mãos, e passa em meu membro, que pulsa com o toque de sua mão.

- calma, amigão.

Ele fala olhando para ele, e depois pra mim, com um olhar sedutor.

Começamos a nos beijar mais, e aumentando mais o desejo um pelo outro. Então ele passa lubrificante em sua bunda e se deita de bruços, me deixando à vontade para fazer a festa. Eu abro o caminho, enquanto lhe cubro de beijos nas costas, e forço a entrada. É mais difícil que eu imaginei. É muito apertado, e pressiona muito. Ele escorrega um pouco pra dentro, e Felipe protesta, pedindo pra tirar um pouco. Lembro como eu também faço isso e como dói, então lhe cubro de beijos na nuca e nas costas.

- tá tudo bem? Se quiser a gente para.

- não, tá tudo bem. Só doeu no começo, pode ir de novo.

Lhe dou um beijo e tento de novo, e dessa vez entra sem dificuldade. A sensação é divina. Eu e ele gememos ao mesmo tempo. Lá dentro é tão quentinho, tão apertado. Eu estou no céu. Começo a fazer o vai e vem aos poucos para Felipe se acostumar, e quando vejo que ele está à vontade, aumento a velocidade. Nossa sintonia é perfeita, estamos explodindo de desejo. Nossas respirações ficam mais intensas, e eu gemo mais alto. Tiro meu membro de dentro dele e o coloco de frente pra mim, admirando parte por parte daquele corpo incrível. Seu rosto está me pedindo mais, e eu não demoro. Coloco lá dentro de novo e me deito por cima dele, fazendo como ele faz, e a sensação é melhor ainda. Tenho mais contato com ele, e posso olhar em seus olhos. O tesão é ainda maior. Estamos quase suando, e estamos embaixo da coberta pois está frio. Tiro um pouco do cobertor pra ficar mais confortável, e aumento a velocidade. O ritmo é frenético, e estou sentindo algo que nunca havia sentido antes. É outro nível de desejo. Sentir os pêlos de sua perna, o vai e vem de nossos corpos, sua voz grossa gemendo e pedindo mais. Felipe está se masturbando, com aquele pênis grande, e sua mão esta firme nele. Eu o ajudo, controlando o ritmo. Isso tudo me faz crescer uma sensação dentro de mim, até que essa sensação não cabe mais em mim e eu explodo. Minha respiração fica muito intensa, e meus batimentos cardíacos muito rápidos. Felipe goza logo depois de mim, e goza com fartura. Estou deitado em seu peito esperando minha respiração voltar ao normal.

- gostou do presente?

- foi incrível. Obrigado.

Ele me da um beijo na cabeça, e eu relaxo. O sono vem com força em mim, e eu durmo.

Abro os olhos e vejo que não estou em casa. Olho em volta e reconheço o quarto de Felipe. Logo as lembranças da noite anterior me vem na cabeça e eu sorrio, bobo. Me levanto e visto uma cueca e uma bermuda dele, e desço para ver o que ele está fazendo. Mal chego na cozinha e já sinto o cheiro de café e torrada. Ele está inspirado nos últimos dias. Chego até ele, que está de costas na pia e lhe abraço. Ele estremece.

- que susto.

- bom dia.

Afundo meu nariz em seu ombro, inalando seu perfume.

- caiu da cama?

- você também. Aconteceu alguma coisa?

- não, só quis acordar e te preparar um café.

Eu sorrio e lhe viro de frente pra mim pra lhe beijar, e seu telefone toca. Me desfaço de seus braços e lhe libero para ele atender a ligação. Ele olha para a tela e fica parado, sem reação.

- quem é?

- minha mãe.

Comentários

Há 6 comentários.

Por Dougglas em 2015-12-25 08:13:05
Uma das cenas que mais gostei foi o do Alcoólicos Anônimos. Já frequentei um tempo com meu pai, e você descreve bem a experiência de quem participa. O almoço na casa deles com o Felipe foi tão legal, eu vibrei de felicidade por isso acontecer. Você escreveu algo bem interessante: Não conhecemos as lutas internas das pessoas, então não devíamos julgar precipitadamente. E amo essa personalidade do Edu, de ser compreensivo e querer ajudar. Adorei Tbm a cena dos dois com o Felipe aceitando ser passivo. Acho que num relacionam, quando um se oferece pra dar prazer ao outro com certeza é incrível. E esperando pra ver o que o elemento Paula vai fazer.
Por Luã em 2015-08-18 02:06:31
Genteeee! To ansioso pra postar mais, e sei que vou me emocionar quando terminar esse romance. É um projeto tão especial pra mim, e ver que tem pessoas que gostaram e que acompanham, me deixa muito feliz, de verdade. Obrigado pelo apoio! <3
Por diegocampos em 2015-08-17 15:39:12
Amei começei a ler sua história hoje e já estou amando já li todos os capítulos postados e estou super ansioso para o proximo
Por luan silva em 2015-08-17 11:04:05
sao muito perfeitos juntos e os capitulos sao tao perfeito a historia ta perfeita to super ansioso pelo proximo.
Por Niss em 2015-08-17 01:37:31
Desculpe alguns erros de digitação kkk já estou com sono rsrsrs
Por Niss em 2015-08-17 01:35:44
Eita Lelê agora simmm!!! Eita ansiedade kkk. Acho eles dois juntos muito fofinhos, foram feitos um pro outro, *-*- Fico muito feliz em ver que o pai do Edu ter recebido o Lipe normalmente; Agora sabemos o porque da infelicidade do Alexandre, mas, mesmo assim não é uma desculpa pra fazer o que ele faz. Edu por seu lado teve uma atitude binita em levantar bandeira branca mas, Alexandre não é tão facil. Agora com a noite perfeita do EduLipe, achei o Lipe bem compreensivo em deixar o Edu ser ativo. Essa chegada misteriosa da Paula me traz pressentimentos bons, que possam ocorrer como o pai do Edu. Mas não é assim tão facil ja que o pai do Edu não teve trauma e a Paula teve.... Enfim, espero pelo proximo capitulo. KISSES, Niss.