09. Cativeiro

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Acordo e vejo que estou em um lugar que não conheço. Há um cheiro péssimo, de urina misturado com tabaco e mofo. Minha cabeça dói. Deve ter sido por causa do golpe que recebi na cabeça ontem, dentro do carro, numa tentativa de escapar. O olhar de Caio me provocava arrepios. Tento me mexer mas não consigo. Estou amarrado no chão. Há um rato passando bem do meu lado. Que lugar imundo. Não há muita ventilação. O pouco de luz que entra é por causa das fendas nas tábuas que estão presas às janelas. O que ele vai fazer? De repente, temo por minha vida. Será que ele vai me matar? Não posso deixar. Tento me soltar das cordas até meus pulsos ficarem machucados. O nó está muito bem amarrado. A porta da frente abre e Caio surge. Esse bastardo psicótico.

- bom dia, flor do dia!

Eu não respondo.

- Edu, você está sendo muito rude comigo. Não vai nem me responder bom dia?

- vá de ferrar!

- olha, que audácia! Eu no seu lugar não me arriscaria tanto.

- eu não tenho medo de você.

- deveria. Nesse momento você está amarrado na minha frente, e eu posso fazer o que eu quiser.

- não me importo.

- você está nas minhas mãos, Edu. – ele para por uns segundos, me analisando. – Sabe, até que você não e de se jogar fora. – ele se abaixa e acaricia meu rosto, e eu sinto repulsa. Viro minha cara para o lado, tentando evitar seu toque, mas é inútil.

- não encosta em mim. – minha voz é firme, apesar de eu estar em pânico. O que esse cara fará a seguir? Me estuprar?

- não se preocupa Edu, você não faz meu tipo. – ele se levanta, indo até a janela espiar pelas fendas. – aliás, você sabe muito bem quem faz o meu tipo.

Meu sangue ferve.

- coitado de você, Caio. Você é tão baixo. O Felipe não quer nem te ver, você ainda não percebeu? Ele tem nojo de você. Você não passa de uma puta desesperada por alguém que não sente nada além de nojo de você.

- cala a boca! Cala boca antes que eu estouro sua boca!

Ele praticamente voa em minha direção, apontando a arma para mim. E por incrível que pareça, agora eu não sinto medo. A adrenalina corre viva em minhas veias, e isso me faz sentir coragem. Sei que se eu conseguir me soltar daqui, sou eu quem vou estourar sua cabeça com essa arma. Só assim ele vai nos deixar em paz. Ele se recompõe e vai até a mesa perto da janela, pega uma sacola plástica com um saco dentro e tira um pão. Minha nossa, eu estou faminto.

- você quer?

Eu não respondo. Apenas olho para baixo, tentando evitar contato visual.

- eu sei que quer.

Ele vai até o outro cômodo, e ouço o barulho de uma torneira aberta. Em seguida ele vem com um copo de água. Ele se aproxima até a mim e finge que vai me dar, mas depois se afasta.

- não, ainda não. Você só vai ganhar quando se comportar melhor.

Filho da puta. Pude sentir o cheiro do sanduíche. Parecia estar tão bom. Eu preciso muito comer. Estou há muitas horas com o estômago vazio. Ele vai para o outro cômodo, e não retorna. O tempo passa, e o silêncio me incomoda. Estou amarrado pelas mãos e pelos pés. Esta tão quente aqui dentro, não há nenhuma corrente de ar fresco. Eu começo a me sentir sufocado. Quero muito ir no banheiro, mas não consigo nem me mexer. Pelo que me parece, horas se passaram. Estou com a boca seca, com a bexiga cheia e com fome. Me sinto fraco. Caio aparece de novo.

- está com fome?

Eu concordo com a cabeça, sem condições de bancar o durão mais.

- muito bem. Agora está bem melhor. Mansinho, mansinho.

Ele vai até a mesa perto da janela e pega o pão, que estava servindo de diversão para moscas. O copo de água estava do lado, e imagino que esteja quente. Ele se aproxima até a mim e me dá o pão e a água na boca. Isso é tão humilhante. Eu pareço um animal. Mas agora me sinto um pouco melhor. A fome amenizou, e minha garganta não está mais seca. Ouço meu telefone tocar. Está no seu bolso. Ele o pega e olha de quem é a chamada.

- caramba, é a vigésima chamada de Felipe. Ele não cansa! Queria ser uma mosca para saber como ele está agora. Procurando o amor da sua vida, desesperado, querendo alguma pista.

Ele solta uma risada alta e em seguida silencia o celular e o coloca em cima da mesa.

- seu louco. Você é doente.

- doente, eu? Não. Eu só quero ter ele pra mim. Você é a única coisa que me atrapalha, então tenho que resolver isso.

Ele solta outro sorriso, que me arrepia a espinha. Sim, ele quer me matar. Meu Deus, isso é insano.

Virando em seus calcanhares, ele volta a sumir do meu campo de visão. Eu preciso dar um jeito de sair daqui. Não posso morrer nem aqui, nem agora. Caio não vai me fazer nada, eu não vou deixar. O telefone vibra em cima da mesa novamente e eu vejo minha chance aparece como um milagre. Eu não posso me levantar, mas começo a me rastejar. Não sei bem como vou conseguir pegar o celular, mas vou dar um jeito. Droga, eu preciso ir mais rápido. Estou quase chegando no pé da cadeira quando vejo Caio de pé parado do meu lado.

- você acha que ia ser fácil assim? – lá está aquela risada medonha novamente. Mas seu temperamento muda bruscamente, sua cara se fecha e ele me acerta um chute nas costelas. Isso dói muito. Solto um grito de dor e isso parece satisfazer ele. Vejo o telefone retornando ao seu bolso, para minha infelicidade. Dessa vez, ele me arrasta até onde eu estava, mas me amarra no pilar perto da porta da cozinha.

- agora eu quero ver você sair daí.

- me solta! Desgraçado!

Eu estou sem saída. Começo a ficar sem esperanças. O dia começa a escurecer e eu estou muito angustiado. Ouço o barulho de uma televisão ligada no outro cômodo. Eu estou tão preso com as cordas que mal posso me mexer. Meus machucados nos punhos se agravaram por causa das minhas novas tentativas de fuga. Eu estou esgotado. Não sei quando essa brincadeira dele vai terminar, mas quanto mais demorar, mais chances eu tenho. Imagino que o pessoal deve estar fazendo uma verdadeira limpa nessa cidade, me procurando em cada canto. Felipe, Marina, a polícia, todo mundo. Isso pode ser um pequeno vestígio de chance que ainda resta. Como Caio pode ser tão descontrolado? Chegar a tal ponto para ficar com alguém que nem olha pra ele? Maldito dia em que ele e Felipe se cruzaram. Estou tão exausto, que mesmo estando em posição desconfortável eu adormeço ali mesmo.

Estou nessa mesma posição há quase dois dias. É de manhã novamente. Preciso muito ir no banheiro. Preciso muito tomar água e comer alguma coisa. Meu telefone não para de tocar e sempre está perto de Caio. Parece que ele deixa no volume máximo, para eu poder ouvir. Isso é tão torturante. Vejo ele cruzar a porta. Ele não sai daqui praticamente pra nada, e quando sai é pra comprar coisas pra ele comer.

- Caio, eu preciso ir ao banheiro.

- não sei se você merece.

- Caio, por favor. Eu preciso muito ir.

Não obtenho resposta. Ele está parado em minha frente, comendo uma maçã. Eu estou com meu estômago doendo de fome.

- Caio, por favor! Eu preciso ir no banheiro!

Antes mesmo que eu termine de falar, sinto minha urina escorrendo por minha calça. Isso é tão deplorável. Estou todo urinado agora. Estou fedendo, fraco e louco de fome.

- seu desgraçado! O que você está esperando? Me mata logo! Termina logo com isso!

- matar? Agora? Não, Edu. Eu primeiro quero brincar com você. Terminar tudo tão rápido não teria graça.

Tento desesperadamente me soltar das amarras, mas é em vão. Meus pulsos voltam a doer. Provavelmente devo ter os machucado de novo.

Nessa hora, eu começo a chorar. Desabo em frente à esse sociopata, que está brincando com a minha vida, me humilhando de todas as maneiras possíveis. Ele chega perto de mim, próximo ao meu ouvido. Sinto sua respiração em meu pescoço.

- seria tão mais fácil se você não tivesse voltado pra ele. O caminho estava livre, ele estava livre. Mas você tinha que voltar, né? Tudo o que eu fiz, tudo! – ele grita a última palavra, me assustando. – o que eu fiz não foi o suficiente pra você dar o fora e me deixar com ele. Mas agora eu não vou deixar chance de você escapar, Eduardo.

- mesmo que eu morra, ele nunca vai querer você. Você não enxerga? Ele tem nojo de você! Ele me ama! Ele nunca vai sentir por você o que ele sente por mim!

- cala boca! Cala a porra da sua boca!

Ele saca a arma e mira em minha cabeça. Meu Deus, acho que agora é meu fim. Mas ele se vira para a porta. Acho que ele ouviu algum barulho. Eu também ouvi. Ele vai até a janela espiar pelas frestas e depois volta apressado em minha direção. Ele desamarra meus pés e meu tronco do pilar, e depois me levanta.

- vem, vamos dar o fora daqui.

Meu Deus, acho que fomos achados.

- socorro!

Eu grito desesperadamente, e ele tampa minha boca, abafando meu pedido de ajuda.

- se você gritar de novo, eu atiro na sua cabeça.

Eu me calo, mas torço para que quem quer que seja lá fora seja mais rápido do que ele. Caio pega um pano e amarra forte em minha boca, me impossibilitando de gritar novamente. Quando vejo, estamos saindo pelos fundos da casa. Caminhamos até o fundo do quintal, onde estava seu carro. Ele me coloca no banco do carona e rapidamente entra do outro lado, liga a ignição e saímos em alta velocidade, contornando a casa e chegando ate à frente. Quando estamos quase no final da calçada, um policial nos vê e assustado tenta atirar para parar o carro. Ele tenta nos pneus, mas acerta em algum outro lugar da frente, acho que foram os faróis. É tudo muito rápido, mas a medida que nos afastamos da casa eu vejo uma viatura e o carro de Felipe. Meu Deus, ele está junto. Só agora vejo onde estamos. É a periferia da cidade, perto da Arena. Posso vê-la logo adiante. Estamos em alta velocidade e Caio parece não saber para onde ir.

- droga, droga, droga! – ele agora grita e bate as mãos no volante.

Eu estou muito desconfortável amarrado e não podendo me segurar em nada. O carro está andando rápido, indo em direção à rodovia. A polícia está logo atrás, mas não consegue nos alcançar. Olho pelo espelho retrovisor e consigo ver o carro de Felipe logo atrás da viatura. Para onde Caio vai? Será que ele tem um outro plano? Acho difícil. Vejo que ele está tenso e só segue cada vez mais rápido pela estrada, tentando fugir.

- Caio, eles já nos acharam. Se entrega, é melhor pra todos.

- não! Eu posso até ir preso, mas antes eu vou terminar o que eu comecei!

Seus olhos transtornados deixam bem claro que ele está decidido a trazer uma tragédia a tona. Que droga! Que merda! Eu tenho que tirar essa porra de corda dos meus braços e nem que eu me atire do carro em movimento, mas eu vou sair daqui. Tento mover meus braços e percebo que a corda está mais frouxa. Acho que deve ter sido na hora que viemos até o carro. Começo a mexer pra lá e pra cá e sinto que ela está soltando. Preciso ser muito discreto, caso ele veja ele pode me matar agora mesmo. Ele não tem mais nada a perder. Mais uma tentativa e sinto minhas mãos se livrarem das amarras. Meus olhos correm automaticamente para Caio, que intercala seus olhos entre a estrada e o espelho retrovisor, observando os policiais. É agora ou nunca. Avanço desesperado na porta tentando abri-la, mas está travada. Caio logo me segura e me coloca de volta no lugar. Ele não consegue se mexer muito por causa de seu cinto de segurança.

- volta aqui, seu merda! Você não vai sair!

Numa última tentativa, tento acerta-lo com um soco para ele me soltar, mas vejo que algo está errado. O carro está muito rápido e perdemos o controle. Estamos saindo da pista da esquerda, indo para a auxiliar, à direita. E então, o carro capota. Eu estou solto, sem nenhuma proteção para me segurar. Me choco violentamente no para brisa do carro, e depois não vejo mais nada.

Comentários

Há 6 comentários.

Por Dougglas em 2015-12-25 23:59:11
Eu imaginava que o Caio era louco, mas não imaginava que fosse tanto. A forma como tu escreve os pensamentos do Edu simplesmente colocam a gente junto dentro da cena, fiquei agoniado do começo ao fim. E esse final que me quebrou inteiro. Peço desculpas pelos comentários estarem tão pequenos, mas eu não consigo me aguentar de ansiedade com esses suspenses kkk
Por Luã em 2015-09-23 23:35:35
Oi gente! Obrigado pelos comentários. Eu nunca me canso de dizer, o fato de vocês me acompanharem a série e comentarem me dão mais e mais força pra escrever mais. Obrigado por tudo. Estou aqui pra avisar que vai sair mais um capítulo daqui a pouquinho! Então fiquem ligados, pois esse é um dos mais importantes da história, onde acontece uma reviravolta muito importante. Abraços!
Por luan silva em 2015-09-22 01:04:35
caio satanas gente que capitulo, muito ansioso pelo proximo.
Por BielRock em 2015-09-21 10:12:33
Meu Deus 😱😱😱 que capítulo mais chocante. Esse Caio é mesmo um louco, merece ser internado esse maluco. Espero que não tenha acontecido nada de grave para o Edu, tadinho do Lipe não merece perder o Edu. Continua, beijos 😘🌹
Por Niss em 2015-09-21 01:01:05
Gente!! :O Ai minha nossa!! Tinha que ser esse mal comido do Caio, pohan tem tanco cara bonito em POA e ele insiste no Lipe... Espero que Edu escape dessa. Espero pelo próximo. Kisses, Niss.
Por diegocampos em 2015-09-21 00:51:19
Nossa espero que o Edu fique bem, o caio e uma desgraçado espero que o Eduardo fique bem e que ele volte para o Felipe e o caio saia de vez da vida deles estou ansioso para o próximo capítulo quero muito saber se o eu vai ficar bem