08. Tatuagem

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Olho para Murilo bem em minha frente, sentado junto comigo em uma das mesas do Starbucks enquanto eu tomo um frapuccino grande e ele um café normal médio, logo depois de sairmos do nosso turno no restaurante.

- Murilo, posso te perguntar uma coisa?

- claro, manda aí.

- aquele dia, lá em casa, quando a gente tava falando sobre o fato de sermos assumidos, você ficou calado. Você ainda não...

- não. – ele responde com um sorriso. – meus pais não sabem ainda. Bem, minha mãe deve saber, eu sempre dava mais sinais pra ela, sei lá se era pra que eu me poupasse de ter que chegar nela e falar com todas as palavras, mas pro meu pai, nunca. Sempre tive que bancar o hetero, foi até um alivio quando eu saí da casa deles e vim morar sozinho aqui em São Paulo.

- bom, eu imagino como isso deve ser. Quando meus pais souberam, meu pai me bateu e me expulsou de casa.

- não brinca?!

- pois é. – eu digo rindo ao lembrar, embora não haja nenhuma graça. – mas depois ele se arrependeu.

- e vocês se falam até hoje?

- ele morreu um pouco depois disso.

- ah... me desculpa Edu, eu não quis... – ele fala nervoso, entrelaçando os dedos em cima da mesa.

- tá tranquilo. Você não sabia.

- bom, pelo menos vocês se acertaram, certo?

- a gente finalmente pode se aproximar de verdade, depois que não havia mais mentiras entre a gente. Ele aprendeu a ser mais compreensível, aprendeu a entender tudo o que ele antes nem fazia questão de entender. Eu sinto muito orgulho dele por isso.

- e saudade também. – ele afirma, certamente ao ver que meus olhos estão marejados.

- muita. Por isso eu acho que você deveria enfrentar o seu medo e tentar conversar.

- bom, um dia quem sabe. Não vou poder fugir pra sempre. Mas por enquanto... – ele dá de ombros, a expressão brincalhona. – agora é a minha vez de perguntar.

- ah sim – eu falo, surpreso. – manda aí.

- o Felipe era o seu melhor amigo antes de vocês namorarem, certo?

- certo.

- como foi que tudo se desenrolou? Como foi que vocês passaram de melhores amigos pra namorados?

- bom, ele foi o mais corajoso, o mais atrevido eu diria, e me roubou um beijo meu, quando foi me ver um dia em casa quando eu faltei na escola porque eu tinha ficado doente. Aquele dia tudo parecia ter corrido tão certo, tão bem, mas eu tive medo. Medo de que as pessoas descobrissem sobre a gente, medo de meus pais não aceitarem o fato de eu ser gay, medo de perder aquilo que eu e ele tínhamos e que era tão bom pra arriscar em algo que era tão incerto e tão perigoso. Eu não queria perder a amizade dele e também não tava preparado pra uma mudança tão drástica, sabe? Era difícil dizer pra mim mesmo que eu estava gostando do meu melhor amigo, um dos muito poucos que eu havia tido até então.

- e aí? – ele me fita com os olhos curiosos, apoiando a cabeça com a mão e encostando o cotovelo na mesa.

- aí eu fugi, tentei me afastar dele, mas não foi por muito tempo. Logo eu voltei atrás da minha decisão e encarei tudo, pra ficar junto com ele.

- você teve medo de perder ele então.

- isso.

Um silêncio se forma entre nós, a feição dele muda e se torna triste e pensativa.

- por que você perguntou isso?

Ele olha pro lado, tentando formular algo pra dizer e parece um pouco sem jeito.

- eu sinto a mesma coisa pelo Rômulo, que você sentiu pelo Felipe aquela vez.

Sua revelação me deixa bastante surpreso e por um instante eu não consigo esconder minha reação, fazendo com que ele ria da minha cara de assustado.

- pois é, a vida é uma droga às vezes. Eu tinha que cair nesse clichê de gostar do melhor amigo?

- bom, isso é algo que a gente não pode escolher, né?

- infelizmente.

- você acha que não tem nenhuma chance? De ele também sentir algo por você?

- o Rômulo? – ele me pergunta, sorrindo, mas com os olhos amargurados. – ele é o cara mais galinha que eu já conheci. Cada final de semana ele acha um novo amor da vida dele, aí depois ele se cansa e procura outro. E aí sobra pro melhor amigo aqui consolar quando ele tem crises existenciais e quando fica se perguntando por que ele não consegue achar ninguém que preste. Minha cabeça fica pedindo pra eu falar “ei, eu to aqui! Eu sou o que você tem procurado todo esse tempo!”, mas é claro que eu fico quieto e guardo isso pra mim.

- bom, nesse caso eu acho que as coisas são um pouco mais complicadas do que eu pensava. Eu não sei se você deveria falar e arriscar, pra depois ele te magoar e você se sentir pior.

- exatamente. – ele fala, brincando com o canudo de seu copo já vazio. – o amor é uma droga, Edu. Pra quem joga limpo, ele é cruel.

- o amor em si não é uma droga, amigo. O amor é um sentimento lindo, sabe? A gente vive colocando a culpa nele, quando na verdade são as pessoas que não sabem tê-lo.

Então, depois de deixar minha mente despejar algo incrivelmente profundo e sincero, como que se fosse ensaiado, os meninos chegam e completam nosso encontro, fazendo-nos trocar de assunto rapidamente e me fazendo observar o jeito que Murilo olha para Rômulo. É lindo, porém triste. Eu não sei como eu não havia percebido isso na outra vez lá em casa. Rômulo, por sua vez, parece não saber nada do que acontece, pois fala nesse exato momento sobre um garoto que passou a seguir ele no Instagram, mostrando a foto para a gente.

- ele tava lá no estúdio de tattoo na ultima vez que eu fui fazer uma. A gente deu uma encarada ou outra, mas nunca imaginava que ele me acharia depois.

- é o destino. – brinca Emanuel, rindo enquanto Murilo tenta ao máximo disfarçar o aborrecimento que, para mim, agora está estampado em sua cara.

- quantas tatuagens você tem, Rômulo? – tento mudar de assunto o mais rápido possível e tirar Murilo daquela situação.

- 17. 15 só no braço.

- doeu muito?

- a primeira eu tava tão tenso que acho que pareceu doer mais do que a realidade. Depois, começou a ser como uma terapia pra mim.

- e elas são lindas. Eu digo, são tão bem feitas, os traços finos, bem marcados com a tinta preta, parece feito à caneta.

- você tem alguma?

- não, mas quero muito fazer.

- você? Tatuagem? – Murilo me olha incrédulo e então começa a rir.

- sim, quero fazer duas. Uma relacionada à gastronomia e outra relacionada a Felipe.

Eles fazem um coro de “awn”, fazendo algumas pessoas das outras mesas olharem. Tenho que me acostumar com o fato de que eles vão fazer eu perder totalmente a vergonha em muito pouco tempo, já que eles não tão nem aí com o que as pessoas pensam. E francamente, isso é tão bom, que acho que não ao eles, mas São Paulo em si está me fazendo mudar. Eu sinto a mudança ocorrendo em mim desde que eu cheguei. Talvez eu esteja muito mais corajoso e audacioso de quando eu ainda estava em Porto, ou talvez seja só minha impressão, é difícil saber. Mas São Paulo está me influenciando tanto, que mais uma vez eu deixo minha mente ser mais rápida que a minha boca.

- eu quero fazer.

- fazer o que?

- a tatuagem.

- sério? Irado! Você vai adorar, é uma dor gostosinha. – Rômulo fala, visivelmente animado e já sabendo onde me levar.

A verdade é que hoje faz cinco anos que eu conheci Felipe, no bar da minha família. É uma data que eu não posso deixar simplesmente passar em branco. Honestamente, eu não vejo algo mais simbólico e especial do que gravar o meu amor por ele na pele, pra durar pra sempre. Não que eu escreveria “Felipe” no meu braço, pois escrever nome de namorado já não é a minha praia, não por medo de o relacionamento não durar nem nada, mas simplesmente não é algo que eu faria. Eu estou pensando em fazer algo mais único e nosso, só nosso. Porém, eu ainda não tenho certeza do que fazer, só sei que eu quero sair hoje daquele estúdio com um sorriso enorme, fazendo uma das maiores loucuras da vida, uma das várias que eu nunca me imaginaria fazendo alguns anos atrás.

- quando você quer fazer?

- agora.

- agora? Tipo agora?

- é gente, agora. Bora?

- é disso que eu to falando! – Rômulo bate as mãos de leve na mesa, fazendo um barulho mediano e atraindo a atenção das pessoas ao lado novamente.

- cara, você é louco. – Murilo fala, sorrindo e balançando a cabeça, incrédulo.

Entramos no Sportage de Rômulo e seguimos até o estúdio de tatuagem do amigo dele, na Oscar Freire. É um ambiente muito temático, com as paredes grafitadas e com o piso quadriculado em preto e branco.

Rômulo chega orgulhoso na frente de todos nós e fala com seu amigo, no qual eu já prendi meus olhos logo de cara pelo fato de não só os braços, mas toda a parte visível de seu pescoço e tórax, onde a regata não tampa, está mostrando suas várias tatuagens coloridas e muito bem feitas.

- fala Zumbi! Trouxe um amigo meu pra fazer a primeira tatuagem dele.

- opa! Qual deles?

- o Edu, nosso gaúcho! – Rômulo fala orgulhoso e bate com a mão em meu ombro, enquanto eu sorrio tímido e aceno para ele, parecendo um completo idiota que não sabe onde está se metendo, já com medo da agulha me perfurando daqui a alguns minutos. Depois de cumprimentar o amigo dele, seguimos para a sala onde fazem as tattoos, enquanto os meninos sentam nas poltronas coloridas e assistem com diversão a minha cara de arrependido e o suor escorrendo da minha testa.

- dói muito?

- nada! Quando vê, já acabou. – Zumbi fala enquanto arruma os materiais e as tintas e eu olho no catálogo algo que possa representar bem o que eu quero. Então, eu passo em uma parte onde há desenhos com números. Logo de cara o número 9 aparece e enche meus olhos, fazendo eu ter certeza que acabei de descobrir minha tatuagem única e pessoal para mim e para Felipe.

- quero essa. – falo apontando para a folha. – no lado esquerdo do peito.

Não demora muito para que eu esteja deitado na poltrona própria deles, uma das cinco que ele tem e que se alternam nas cores amarela, vermelha e verde. O barulho de zumbido da máquina começa e eu sinto meu coração acelerar, enquanto ele se aproxima. Agora os meninos estão todos mais próximos, rindo muito da minha reação, enquanto Rômulo trata de tirar fotos para recordar o momento e certamente postar mais tarde. Bem, eu espero que seja foto, pois se for vídeo, eu bato nele. Agora eu estou de olhos fechados e sem camisa, deitado e sentindo o couro antes gelado da cadeira começar a ficar em temperatura agradável e me preparando para sentir a agulha entrar em meu peito. Quando eu sinto uma leve dorzinha e suponho que ele esteja recém colocando a ponta da agulha dentro da minha pele, eu abro os olhos e vejo que ele já está desenhando o pequeno número em mim, sem dó nem piedade, então eu vejo que realmente não dói praticamente nada. O número 9 gravado em romano no lado do meu coração agora começa a se tornar real, sendo desenhado com tinta permanente preta e me deixando com uma sensação estranhamente boa, apesar de eu me sentir como um adolescente inconsequente, e um momento único onde eu me sinto mais vivo do que nunca, fazendo algo que eu não me imaginaria tendo coragem o suficiente para fazer e que com certeza vai me dar uma ótima história pra contar quando eu voltar pra Porto Alegre.

São quase 22h quando os meninos me deixam na frente do prédio e insistem para que marquemos algo para o outro dia, mas eu não sei ao certo se vou poder, pois acho que vou ter que ficar os dois turnos no restaurante. Depois que entro e fecho o portão, eles arrancar e em menos de dois segundos estão dobrando a esquina logo adiante, sumindo do meu campo de visão.

Assim que entro no apartamento, vejo que Livia não está em casa. Provavelmente ela deve estar com o crush, o que tem se tornado um hábito cada vez mais normal, então eu sigo direto para o banheiro, onde o chuveiro me espera para me limpar e me deixar pronto para ir para a cama. Depois de tomar uma ducha, passo a pomada própria para a tatuagem, vou até a cozinha para beber um pouco de suco de melão que está na geladeira e então vou para o quarto, pego o notebook e me encosto na cabeceira da cama, entrando no Skype e logo chamando Felipe, que já está on-line.

- ei estranho.

Alguns segundos depois, ele aparece digitando, fazendo eu soltar um sorriso automático.

- ei gato, vem sempre aqui?

- sempre, mas só pra te ver.

Recebo a solicitação de chamada por vídeo e então logo Felipe está preenchendo minha tela, o rosto excepcionalmente lindo com a barba grande e escura, dando-lhe um ar mais velho e maduro.

- como foi o dia?

- corrido. E o seu?

- também. A viagem pra Salvador é na próxima semana.

De repente, me pego triste por não estar perto dele nessa data. Todos os anos, saímos para comemorar, como se fosse um segundo aniversário de namoro do ano.

- tá tudo bem?

- tá sim, eu só to triste.

- eu também to. Queria estar aí contigo.

- eu também queria.

- mas eu tenho uma surpresa pra você.

- surpresa

- Uhum.

Ele sai de frente da tela e fica alguns segundos longe do meu campo de visão, até que ele volta com uma passagem de avião nas mãos. Felipe então abre o documento e aproxima-o da tela, me mostrando que na volta ele faz uma escala aqui, em São Paulo.

- vou ficar apenas algumas horas, mas a gente já pode se ver. – ele fala já reprimindo o riso, não conseguindo esconder a felicidade, assim como eu, que estou estampando um sorriso largo no meu rosto ao ver aquele papel mostrando que ele estará perto de mim daqui a poucos dias.

- bom, eu também tenho uma surpresa pra te mostrar.

- pra me mostrar?

- Uhum. Só não sei se você vai gostar.

- por que?

- não sei se eu deveria ter te avisado antes, mas se eu avisasse não seria surpresa. Eu meio que fiz uma loucura hoje.

- loucura? Que loucura, Edu? – ele já pergunta, nervoso.

Então, eu sorrio de nervoso, tirando a camiseta com cuidado e revelando minha tatuagem, que agora está coberta por plástico filme e com pomada. A reação dele ao ver o número IX bem no meio do meu peito esquerdo é no mínimo engraçada. Ele está com os olhos arregalados, tentando falar algo mas não conseguindo.

- o que... o que você... isso é uma tatuagem?

- é. O número 9. Eu quis fazer, pois esse número meio que se tornou meu número da sorte, meu talismã. É o número da mesa que você tava quando eu te vi a primeira vez, lembra?

- como eu poderia esquecer? – ele fala já emocionado. – eu to sem palavras aqui, Edu. Sinceramente eu quero te bater por você fazer uma loucura dessas, mas é tão lindo que eu queria apenas te beijar agora.

- então você gostou? – eu pergunto com expectativa, mordendo o lábio.

- muito.

De repente, sinto que o clima começa a esquentar e que eu estou com uma vontade imensa de ver o Felipe nu, de ter essa paisagem perfeita pra mim, coisa que eu não tenho há algumas semanas. Então, como se ele lesse meu pensamento e visse através dos meus olhos o desejo estampado, ele também muda de feição, os olhos transbordando desejo é saudade misturadas em um olhar profundo e hipnotizante.

- impressão minha ou tá calor? – ele fala, tirando a camiseta e revelando seu corpo branco e definido, agora com um pouco mais de pelos do que o usual, distribuídos na medida certa no peito e no abdômen.

- eu não sei ai, mas aqui tá bastante.

- aqui também. Acho que a culpa é sua. Essa tatuagem te deixou com uma cara de bad boy, não sabia que você poderia me surpreender dessa maneira. Só sei que você tá sexy pra caralho, Edu.

Quando ele fala isso, com sua voz aveludada e visivelmente sexy, eu sinto um arrepio percorrer meu corpo. Eu estou com tanto desejo agora que eu poderia sair daqui agora e pegar um avião pra Porto Alegre só pra poder beijar a boca de Felipe, pra passar minha mão em seu corpo e ter ele só pra mim noite inteira, nem que fosse só por uma noite.

- quero experimentar uma coisa nova com você. – ele diz, me deixando ainda mais excitado.

- ah é? O que?

- você vai ver.

Felipe então começa a desabotoar sua calça, então em menos de dois segundos ele está apenas de cueca na minha frente, sentado na poltrona do quarto e mostrando seu volume se sobressaindo por dentro da cueca bóxer branca. Assim que eu vejo seu membro latejar, fazendo o tecido da roupa íntima se mover, minha boca começa a salivar. Eu estou com tanta expectativa de ver ele nu, aproveitando cada peça de roupa que ele tira, que meu desejo parece estar aflorado como nunca antes. É uma experiência muito diferente de tudo o que eu já senti, me deixando realmente louco de tesao, acho que pelo fato de querer ele e ele estar tão longe. Normalmente isso me deixaria triste, mas agora isso está me deixando ainda mais excitado, aguçado, sedento para ver seu pênis. Quando ele finalmente se livra da última peca de roupa, seu membro pula pra fora, se exibindo majestosamente em sua extensão grande e que agora está apontando para cima, reluzente como ouro branco.

- oi, amigão, tava com saudades. – digo de forma safada, fazendo Felipe sorrir.

Quando vejo, estou jogando do mesmo jogo que Felipe, tirando minha roupa e fazendo questão de que ele fique ansioso para me ver pelado, demorando o máximo que eu posso e me divertindo com isso, pois sua cara de agonia e ansiedade é mais do que visível. Quando ele pega firme em seu pênis e começa a se masturbar, eu vou à loucura, passando minha não por meu corpo e fingindo que na verdade é a mão dele, passando por meu abdômen que ainda está sensível por causa da tatuagem, pegando em meus mamilos e caramba, que tesao que eu estou sentindo agora. Felipe está realmente inspirado em me dar prazer, então ele afasta a poltrona, ficando de pé e se mostrando de corpo inteiro para mim, ficando de costas e deixando sua bunda redonda e durinha a mostra, com uma pequena quantidade de pelos que o deixa ainda mais absurdamente gostoso. Porém, o ápice do momento é quando ele se apoia na poltrona e deixa sua bunda aberta e a mostra, evidenciando seu anus e tocando seu dedo polegar nele enquanto se masturba. Nessa hora eu vou à loucura e sem avisar, começo a gozar, a gemer baixinho e sentir meu corpo todo tremer de prazer, um prazer muito maior do que eu pensava que teria ao me dar prazer com as próprias mãos. Logo em seguida ele se senta na poltrona novamente e anuncia através de sua cara que está quase gozando, então não demora muito para que eu veja os jatos de esperma saírem de seu pênis e pincelarem sua barriga de forma abundante. Não sei explicar bem o que acabou de acontecer, mas foi uma das sensações mais fortes que eu já senti na vida. Depois de sentir tamanho prazer, tudo o que eu queria era dar um abraço forte em Felipe e tomar um banho junto com ele, e é aí que bate a tristeza. Estou sozinho, longe dele e é estranho pensar que tudo o que eu senti agora ocorreu à distância, como se ele não estivesse aqui. Pra mim é como se estivesse, mas não está. Só estou vendo ele através da tela, agora me olhando com a expressão calma e com um meio sorriso.

- que foi?

- queria que você estivesse aqui. – falo baixinho, as palavras saindo como uma confissão difícil, inundadas de sinceridade.

__

Entro na sala e noto um silêncio fora do normal em casa. Estou com uma sacola cheia de comida japonesa pendurada na cadeira, pois passei em um restaurante antes de vir e peguei algo para jantar com Livia, pensando que ela estaria em casa, mas pelo que eu vejo, terei que jantar sozinho. Mas assim que ligo a luz, ouço um barulho vindo do banheiro. É algo parecido com alguém forçando vomito, seguido de várias tosses.

- Livia?

Não ouço resposta, então vou o mais rápido que posso até lá e abro o restante da porta, que estava entreaberta, e encontro ela abraçada na privada, ajoelhada e curvada. Só agora, com ela vestindo uma regata de alças curtas e o cabelo preso em um coque, que eu vejo o quanto suas costas são magras. Como eu não percebi isso antes? Posso ver levemente os ossos de sua coluna se mostrarem pela pele branca dela, mas minhas observações acabam quando ela me nota ali e se vira com a mão na boca.

- Edu, sai daqui. Não quero que você me veja assim.

- o que aconteceu?

- nada, quer dizer, acho que eu comi alguma coisa na rua e passei mal.

Sua resposta não me parece muito convincente, mas eu saio de perto para lhe dar espaço e privacidade. Logo depois que eu largo a sacola na mesa da cozinha eu ouço o barulho da descarga sendo acionada ao longe, então em pouco tempo ela está em pé ao meu lado, perto da geladeira, tentando disfarçar com a maior naturalidade o que eu acabei de ver. Tento perguntar de novo se está tudo bem, mas ela continua afirmando que está, então eu prefiro não forçar a barra. Porém, vou começar a ficar mais atento a isso, pois ela está me deixando preocupado. Nos últimos dias ela anda um pouco quieta e não anda fazendo tantas piadas e sendo espevitada, o que pra mim é algo totalmente anormal, se tratando dela. Ela anda chegando tarde em casa da agência e também não me conta muito do que acontece lá, mas só agora, vendo ela tentando vomitar no banheiro, que eu estou começando a ter uma ideia do que pode estar acontecendo, e isso me preocupa.

Jantamos praticamente em silêncio o tempo todo, então eu digo que estou cansado e vou para o quarto, porém, custo a dormir, tentando processar as informações de Murilo e de Livia em minha mente. Quem diria que em tão pouco tempo eu teria tanto com que me preocupar aqui em São Paulo?

Ouço o barulho do chuveiro sendo ligado e depois de alguns minutos, o secador de cabelo.

“Com certeza ela vai sair com o crush” – penso comigo mesmo. Bom, por um lado eu fico feliz, pois assim ela se distrai um pouco. Será que ele sabe que ela está tendo esse tipo de... problemas? Antes que eu possa pensar demais nisso, ela bate na porta, interrompendo os meus pensamentos.

- pode entrar, Livs.

- oi, eu achei que já tava dormindo, mas queria te avisar que eu vou dar uma saída. Não sei se eu vou dormir em casa, mas não se preocupa, eu vou me cuidar.

- tudo bem. Se diverte e juízo. – eu enfatizo a última palavra, deixando claro que eu me refiro também ao que eu vi antes, então ela sorri um pouco sem graça e fecha a porta novamente, voltando a me deixar sozinho com minhas preocupações acerca dela e de algo novo que eu não achava que teria que me preocupar. Será que a Livia tem bulimia?

__

O relógio me diz que eu estou totalmente ferrado. Já são 8h e eu deveria estar saindo de casa, ou seja, atrasado ainda é pouco para definir o que eu estou agora. Apenas procuro uma roupa qualquer para vestir, mas lembro que meu uniforme estava pra lavar e ele está amassado, então preciso passar ele antes de ir trabalhar.

“Droga, droga, mil vezes droga.” – xingo em pensamento enquanto procuro o ferro de passar no meu quarto, onde eu jurava ter visto pela última vez ontem. Não encontrando-o, vou até o quarto de Livia, que chegou realmente tarde e agora está dormindo num sono extremamente pesado, enrolada no edredom rosa que ela comprou no dia que fomos ao shopping comprar minhas coisas. Assim que avisto o bendito ferro perto da cama dela, vou o mais rápido que posso sem fazer barulho, mas há algo que chama minha atenção no meio do caminho. Perto do guarda roupa, há um frasco branco pequeno de remédios. Me aproximo e leio a embalagem, que diz que o conteúdo é de comprimidos laxantes. Olho decepcionado para Livia e me pergunto quanto tempo faz que ela está fazendo isso, já que pra todos nós lá no sul ela estava perfeitamente bem. Os vômitos forçados, agora o laxante, isso tudo me faz ficar preocupado com o estado de saúde de Livia. Não consigo acreditar que ela tem bulimia. Só sei que preciso fazer alguma coisa, e logo.

Como esperado, passo o dia todo pensando nisso. Estou tão preocupado com ela que pensei várias vezes em avisar Felipe sobre o que está acontecendo, mas ele ficaria muito preocupado, e ela muito brava. Prefiro eu mesmo conversar antes de tomar alguma decisão mais seria.

Sem avisar, chego em casa um pouco mais cedo do que eu havia avisado, mas mesmo assim já passa das 23h. Estou totalmente cansado por um dia de trabalho dobrado, mas ainda mais exausto por estar aflito por Livia. Assim que chego em casa, faço o mínimo de barulho para que ela não me ouça chegando. Como eu esperava, mas ao mesmo tempo como eu temia, ela estava no banheiro, forçando o vomito novamente. Dessa vez, espero ela sair do banheiro, e quanto ela o faz eu estou na sala, olhando para ela e esperando que ela fale algo. Como ela não diz nada, eu faço a frente.

- passou mal de novo com alguma coisa que você comeu?

O sarcasmo indesejado na minha voz faz eu me sentir mal, pois eu não quero ser duro com ela, mas acho que ela precisa de alguém que impeça ela de continuar se autodestruindo. Livia então abaixa a cabeça e não fala nada, apenas se rendendo e deixando que eu saiba que não está nada bem, ao começar a chorar em pé, com as mãos no rosto.

- eu não sei o que fazer, Edu.

- ei, não precisa chorar. Eu não vou te julgar, Livs. Mas você precisa parar com isso.

- é horrível, eu sei que isso não faz bem, mas eu preciso emagrecer pra poder participar da seleção da agência pra um desfile grande de uma marca de fora. É tipo o maior desfile que a agência fez, então eu estou colocado muita pressão em mim, mais pressão ainda do que eles estão me colocando, se é que isso é possível. – ela fala, secando as lágrimas e sentando no sofá.

- se você faz algo que não te faz bem, você deveria pular fora. Isso não te traz benefício algum.

- mas desfilar é algo que eu amo, Edu. Se eu parar eu não sei o que vai ser de mim.

- então tenta outra agência, outra que não te pressione nem te prejudique tanto, sei lá.

- ah Edu, todas são assim. Se você se destaca, você e cobrada pra ser a melhor sempre. Depois daquele desfile que você foi, começaram a surgir mais trabalhos pra mim, mais sessões de fotos, mais desfiles, ou seja, mais pressão. Mas nada que se compare ao que eu to sentindo agora.

- se você ficar doente, você não vai poder mais fazer nada disso, já parou pra pensar?

Por alguns segundos ela olha para o nada, refletindo longe daqui.

- o que eu faço então?

- primeiro de tudo, para de colocar tanta pressão em cima de você mesma. Se for pra você ser selecionada, vai ser. Você tem potencial pra isso, não precisa ficar se destruindo pra conseguir as coisas.

- bom, não custa nada tentar, né? – ela me olha visivelmente mais calma e me lança um sorriso, deixando aparecer um vestígio da Livia de sempre, alegre e leve. – obrigado por estar aqui comigo, Edu. Você não sabe o quanto isso tá sendo bom pra mim, de verdade.

Antes que eu pudesse falar algo ou agradecer, ela me abraça, então eu sorrio e abraço-a de volta, também me sentindo feliz por estar aqui com ela e por poder ajudar ela de alguma forma.

__

Abro a porta do apartamento e vejo a luz da sala acesa e uma conversa vindo da cozinha. Acho isso um tanto estranho, pois Livia tem estado a semana toda na agência durante a noite e quase todos os dias ela vem tarde pra casa, depois de sair com o crush dela. Rio toda vez ao lembrar do apelido do cara. É a cara da Lívia me apresentar ele como “crush” quando a gente se conhecer. Falar nisso, tenho suspeitas de que a conversa animada vinda da cozinha deve ser dela com ele. Eu nem sei quem é, mas vendo como ela está feliz nos últimos tempos, ele já ganhou minha simpatia.

- Livia? Tá em casa? – grito em um volume mediano, mas fazendo com que ela me ouvisse, enquanto largo a chave na mesinha da entrada. Ando até a porta da cozinha e encontro ela em pé ao lado do balcão de mármore da pia, cortando um pimentão vermelho em cubos e com uma taça de vinho branco do lado. Mais ao lado, de costas para mim, uma figura de alguém que eu pareço conhecer. O corpo alto, forte e moreno me fazem querer que eu esteja sonhando ou que isso seja algum tipo de pegadinha. Livia nota minha presença e abre um sorriso largo.

- Edu! Que bom que você chegou. Bom, esse é o crush. – ela fala e Cesar se vira para mim, parecendo estar um pouco surpreso, mas não tanto quanto eu. Em contraste com minha reação assustada, ele me lança um sorriso de desafio e que me causa embrulhos no estômago. – Cesar, Edu. Edu, Cesar. – ela conclui, ainda sorrindo e felizmente parecendo não perceber a tensão solta no ar.

- a gente já se conhece. – Cesar fala sorrindo, o cinismo estampado em sua cara.

- sério? De onde?

- a gente trabalha juntos. – pela primeira vez eu ouço o som da minha voz, saindo um pouco irregular, mesmo que eu tente manter meu olhar firme o bastante para que eu não pareça fraco.

- que bom! Ah gente, deixa eu pegar outra garrafa de vinho lá na sala. Esse momento merece um brinde!

Enquanto ela sai animada pela porta em direção a sala, deixando-nos a sós, eu o encaro com o olhar firme. De repente, lembro de algo que eu acho que nem mesmo Cesar lembrava até esse momento.

- engraçado. – eu começo, segurando o riso e exalando sarcasmo em nível máximo. - no dia da festa, quando ele me mostrou a foto da sua noiva, ela não parecia nem um pouco com Livia. Lembro muito bem de ela ser loira, alta e pele bem bronzeada, além do fato de que se Livia tivesse ficado noiva, com toda a certeza eu saberia.

Ele parece ter desaprendido a fazer sua cara de superioridade, ficando visivelmente alterado e então, em menos de um segundo, ele está bem em minha frente, segurando meu braço com força e me olhando com uma raiva palpável e mortal nos olhos.

- cala essa tua boca, seu viado de merda. Se você falar alguma coisa pra Livia, eu mato você.

Ele faz questão de enfatizar a penúltima palavra, fazendo a ameaça parecer tão real que eu engulo em seco. Quando escutamos os passos de Livia voltando para a cozinha e sua voz falando alto que estava indecisa se pegava um vinho ou um martini que ela tinha guardado, ele se afasta de mim novamente, me soltando e refazendo sua cara ensaiada de bom moço, me causando revolta. Eu não posso deixar que ele engane Livia, mas algo me diz que ele não estava blefando quando me ameaçou. Cada dia que passa, eu passo a sentir mais raiva e mais medo de Cesar, não sabendo ao certo do que ele é capaz.

Comentários

Há 3 comentários.

Por Sirferrow em 2016-02-20 20:21:50
Eu to chocadooo!!! Espero que Lívia e Edu se livrem desse Cesar o mais rápido possível. A série tá ótima!!! Já quero reencontro do Lipe com o Edu. Poste o mais rápido possível!!!
Por Niss em 2016-02-10 18:13:04
Caralho... Acho que essa relação da Lívia com o Cesar poderia ter sido evitada se o Edu comentasse mais sobre o trabalho, mas levando-se em conta esses sumiços da Lívia, está desculpado. Não imaginei mesmo que esse tal Crush poderia ser ele, imaginei um cara mais filhinho de papai e egocêntrico... O que até que é melhor que o Cesar... To ansioso pra saber como o Edu vai agir agora. Sobre o Murilo: ele tá numa situação foda, creio que a maioria de nós já passamos por algo parecido, onde as chances era até bem piores que essa dele. Mas mesmo assim não deixa de ser ruim... -Bem fofa e diria que engraçada a parte da tattoo hahaha com esses amigos ai haha. O Edu é dos meus, não guarda coisas pra depois. Agora... Viaaado co céu kkkkkk aquela parte da webcam... Ui... Kkkkkkk. Deu calor sim kkkkk... Só fiquei calado kkkkkkk.. Anyway. O capitulo em si foi muito bom, não foi cansativo, teve detalhes na medida certa, adorei haha. Agora é esperar pra ler sobre as ações que virão a partir do Edu. Espero pelo proximo. Kisses Niss.
Por diegocampos em 2016-02-09 06:17:51
Ótimo capítulo achei bem fofo a tatuagem que o edu fez. à história do Murilo e do Rômulo e bem triste espero que um dia o Rômulo preste mais atenção no cara que ama ele. Fiquei bastante triste por ver que a Lívia tem bulimia espero que ela consiga melhorar espero também que ele abra logo os olhos com o idiota do cesar. Estou gostando muito da temporada e dos vários temas que você está abordando muito ansioso para o próximo capítulo.