06. Cartas na mesa

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Fala galera! Desculpa pelo sumiço aqui do site. Eu estou programando postar três capítulos essa semana, intercalando de dois em dois dias. Caso eu demorar mais é porque eles são um pouco mais extensos, o que leva mais tempo pra elaborar, escrever e revisar. Mas vou fazer o possível pra postar rápido ok? Boa leitura, abraços!

A adrenalina está viva nas minhas veias. O clima de tensão é palpável, e os dois estão se confrontando.

- Bernardo, deixa isso comigo. Felipe, vai embora, por favor. – eu estou agora com minhas duas mãos encostando neles, separando para caso eles partissem pra cima um do outro.

- tira a mão de mim Eduardo. Eu estou com tanto nojo de você agora.

Ele me olha com lágrimas nos olhos, e eu me sinto péssimo. Eu não estou fazendo nada de errado. Ele está me prejulgando. Bernardo está com a guarda alta, pronto pra sair no soco se for preciso. Mas Felipe se vira e vai em direção ao carro, sem falar mais nada. Ouço o barulho dos pneus cantando novamente, e ele desaparece. As pessoas ainda estão olhando. Viramos uma espécie de show. Que droga, eu quero ir embora. Olho para Bernardo, que parece não acreditar no que acabou de acontecer.

- é uma pena ele não aceitar numa boa o término.

- eu não queria que você tivesse visto isso. Desculpa.

- desculpa pelo que? Você não tem culpa.

- eu sei, mas me sinto mal por isso.

Nossa noite de descontração havia virado dor de cabeça. Pedimos para embrulhar nossos lanches e levar pra casa. Na verdade nem com fome eu estou mais, agora eu só quero ir embora mesmo.

São 07:00. Eu estou na cozinha tomando um copo de leite com achocolatado quando Marina surge na porta, me tirando dos meus pensamentos sobre a noite anterior.

- e aí caipira. – ela contorna a mesa e bate a mão de leve na minha cabeça, passando-a sobre meu cabelo.

- e aí.

- como foi ontem?

Eu a olho com cara de decepção, e ela me olha curiosa.

- Felipe apareceu lá.

Seus olhos se arregalam.

- e aí?

- ele quase fez escândalo. O Bernardo queria partir pra cima. Foi a primeira vez que eu vi ele agindo explosivo igual você.

- é meu irmão, não dá pra negar. Uma hora o sangue fala mais alto.

- o sangue de barraqueira?

Ela semicerra os cílios, me mostrando o dedo do meio. Eu lhe atiro um beijo, dissimulado. Ela vai até a geladeira pegar coisas para fazer um misto quente. Enquanto ela prepara tudo ela me conta que o aniversário de Bernardo é nesse final de semana, e queria dar um presente especial. Ele nunca viu o mar pessoalmente, e sempre foi algo que ele teve curiosidade. Ela quer ir passar o final de sábado e o domingo inteiro em Torres. Eu acho a ideia incrível, e tenho certeza que ele vai adorar. Ela me fala que vai só esperar eu sair do meu expediente e a gente já vai pegar a estrada pra não chegar tão tarde. Eu termino de combinar com ela e ela parece animada que eu vou junto. Eu também nunca fui para a praia. Vai ser uma experiência maravilhosa, mesmo que por pouco tempo. Paro pra pensar e rio sozinho. Uma ideia dessa só podia vir da Marina. Ela é bastante impulsiva, e decide as coisas de uma hora pra outra. Mas não vejo isso como um defeito. Ela sabe viver à vida de um jeito mais intenso, e vive a sua própria maneira. E isso é o que importa.

Estamos na BR 290 em direção ao litoral. O vento batendo no rosto no banco de trás, a música tocando no rádio, a sensação de liberdade. Eu estou tão leve. Bernardo parece uma criança, ansioso para chegarmos logo. Tenho certeza que ele adorou seu presente de aniversário. A viagem dura mais ou menos 4 horas e meia, com algumas paradas no caminho para irmos ao banheiro, comermos e tirarmos fotos. Já está quase de madrugada quando estamos cruzando os limites de Torres. O ar litorâneo é tão gostoso. Brisa fresca, cheiro de mar, um clima totalmente diferente. Vai ser uma experiência única pra mim. Bárbara está com o GPS e o endereço anotado para não nos perdermos. Logo chegamos em frente à casa. É pequena, mas muito charmosa. Não trouxemos quase nada, já que ficaríamos só um dia, então descarregar as coisas não custou muito tempo. Eles não estão aguentando a ansiedade, e eu também quero muito ver o mar.

- vamos agora?

Marina está nos olhando com expectativa.

- demorou.

Bernardo dá a última palavra. Estamos com as mesmas roupas, eu de bermuda e camiseta, sem nada apropriado pra banho, mas nem sei se vou entrar na água. A casa é perto da praia, então decidimos ir caminhando mesmo. A medida que nos aproximamos, eu fico mais eufórico. O barulho das ondas ao fundo já me faz imaginar quão bonito é. Mas ao chegar, eu me surpreendo. É ainda mais lindo. Por sorte o céu está limpo, nos presenteando com uma noite estrelada. O vento está forte, mas não atrapalha em nada. Há vários bares na beira da praia, com um fraco movimento, provavelmente por ser fora de temporada, mas ainda assim não estão vazios. Marina e barbara correm na frente em direção à areia, e Bernardo me olha curioso.

- vamos?

- entrar na água? Não, deve estar muito fria.

- vamos Edu! Só pra molhar os pés. Vai vir até aqui pra ficar olhando?

Eu arqueio a sobrancelha, e ele sorri.

- tudo bem, vamos lá.

Ele sai na frente, indo de encontro das meninas, que já estão dentro d'água, e eu fico por último. Estranhamente, não está tão fria quanto eu pensava. Eu tiro o chinelo e entro aos poucos, me acostumando com a temperatura. O horizonte escuro é um mistério, e eu apenas consigo escutar as ondas, mais ao longe.

- vem Edu! Deixa de ser fresco.

Marina está apenas com a o pescoço pra fora, enquanto Bárbara está abraçada nela e Bernardo está mergulhando logo ao lado.

- tá meio fria! Não sei se vou aguentar ficar com o corpo todo.

- se você mergulhar passa!

Eu decido me render e seguir sua recomendação. Tiro a camiseta e atiro na areia, e começo a entrar mais. O vento bate no meu corpo, me trazendo um arrepio. Como reflexo, me abaixo e entro totalmente na água, me dando um choque térmico, e eu estou com tanto frio em um segundo, mas depois me acostumo. A sensação é ótima. Água limpa, apenas nossas vozes, estando em boa companhia, em um lugar tão lindo. De repente já não me preocupo com mais nada. Parecemos um bando de adolescentes inconsequentes, mas isso soa tão bom pra mim. Eu estou genuinamente feliz agora.

Chegamos em casa exaustos. A água cansa muito. Já está bem tarde. As meninas vão direto tomar banho, enquanto eu vou ver algo pra comer. Há uma mochila abarrotada de porcarias; miojo, chocolate, salgadinho e bolacha, por exemplo. Faço um miojo enquanto elas terminam a ducha, e depois é minha vez. Quando saio, elas já estão no quarto delas. Eu vou para o outro, onde vai ficar eu e Bernardo. Há uma cama de solteiro é um colchão. Eu decido ficar com o colchão. Escuto o barulho do chuveiro ligando novamente, e presumo que seja Bernardo. Eu estou tão cansado, que nao consigo ficar bem um minuto a mais de olhos abertos.

Abro os olhos um pouco assustado por causa de meu sonho. Havia sonhado com Felipe. Foi tão real, eu estava no apartamento com ele.

Ele não dizia nada, apenas estava me abraçando e me beijando. Eu sinto falta de seu toque, de seu beijo. Sinto falta tudo nele. E eu odeio isso. Bernardo está de pé ao meu lado, me cutucando.

- bom dia.

- bom dia. – eu esfrego meus olhos tentando me despertar.

- vamos dar uma volta na praia?

Eu olho para o relógio. Ainda são 7:45.

- tá muito cedo.

- essa é a melhor hora. Não tem ninguém. Você não veio pra cá pra ficar dormindo né?

Seus olhos de súplica não me deixam chance. Eu me espreguiço e ele comemora. Me levanto e vou até o banheiro fazer minha higiene, enquanto ele termina de trocar de roupa. Logo estou pronto, e partimos em direção à praia.

Tudo está fechado, e há apenas algumas pessoas fazendo caminhada pelo perímetro da areia.

- é uma vista linda né? – ele contempla o horizonte, onde o sol ainda está tímido, mas lindo como sempre.

- muito. Você gostou? Do seu presente?

- tá brincando? Foi a melhor coisa que eu podia ter ganhado.

- fico feliz.

Ele me olha fundo nos olhos. Isso me faz revirar o estômago. Estamos sentados lado a lado na areia, perto da água, e o vento é um pouco frio, mas está mais agradável que ontem.

- Edu. Eu preciso falar uma coisa pra você.

- quanta seriedade. – eu tento ser brincalhão, mas posso imaginar o que virá a seguir.

- é, é um pouco sério sim. Mas não no mal sentido. Só quero que você me escute, sem falar nada até o final, tudo bem?

Eu concordo com a cabeça, e ele respira fundo.

- Edu, eu não sei qual a forma mais fácil de dizer isso, até mesmo porque eu não sou muito bom com palavras. Mas eu gosto de você. Eu estou gostando muito de você. E eu sei que você não está me dando nenhuma chance, e eu entendo isso, eu sei o quanto você ainda gosta do Felipe, mesmo ele não merecendo, mas eu quero que você saiba que eu vou esperar até você superar tudo isso, e se caso você estiver disposto a tentar, eu ficaria muito feliz.

Ah Bernardo. Você não tem ideia de como eu queria que fosse assim tão fácil. Eu imagino o quanto você poderia me fazer feliz, mas eu não posso te dar esperanças. Eu o olho tentando raciocinar, e quando ele espera ansioso por uma resposta.

- olha – eu pouso minha mão na sua discretamente. – eu sei disso. E eu queria tanto poder arrancar o Felipe da minha cabeça e do meu coração com as próprias mãos, mas não posso. E eu não quero que você fique me esperando. Vamos ser amigos. Sem compromisso, sem promessas. Vamos ver como tudo se desenrola. Se for pra ser, quem sabe um dia. Mas por enquanto, eu estou adorando te conhecer, e passar meu tempo com você. Sua companhia me anima muito, eu falo sério.

Ele sorri, mas sei que no fundo ele não queria ter essa resposta.

- tudo bem.

Eu passo minha mão em seu cabelo, bagunçando um pouco, e ele sorri.

- vamos dar uma volta? – quero recompensá-lo de alguma forma.

- claro.

Nos levantamos e limpamos a areia das bermudas, e começamos a percorrer a beira d'Água conversando sobre nossas vidas. Já sabíamos de muita coisa sobre o passado um do outro, mas dessa vez conversamos sobre o futuro. Ele me fala que está pensando em fazer relações internacionais depois que terminar química. Eu o admiro por sua força de vontade. Torço muito por sua felicidade. Em pouco tempo ele irá morar em outro país, fazendo sua segunda faculdade, buscando tudo por conta própria, tudo com tão pouca idade. Eu ainda não tenho algo concreto pro futuro. Esses últimos dias tem sido tão confusos pra mim, que eu não consigo pensar no que virá a seguir. É antes do meio dia quando estamos de volta. As meninas já estavam acordadas fazendo o almoço. Haviam ido no mercado comprar algumas coisas pra cozinhar. Estavam animadas quando passamos pela porta.

- oi meninos – a voz de Marina estava diferente, dando ênfase em cada palavra, certamente feliz por nos ver juntos.

- oi gente. O cheiro tá ótimo.

- o que tá saindo ai? – Bernardo vai até o fogão destampar a panela.

- risoto.

- hum, isso me parece ótimo.

Logo tudo fica pronto e estamos na mesa comendo. Estamos animados planejando ficar o resto da tarde na praia até anoitecer e só então pegar a estrada de volta. O tempo havia passado voando. Queria tanto ter ficado mais tempo. Eu lavo a louça rápido enquanto os outros se arrumam para irmos tomar um bom banho de mar. Está fazendo um calor agradável, fora do normal pra época, ainda mais estando na praia, mas está bom o suficiente para dar um mergulho. Ficamos assim a tarde toda; um pouco na água, um pouco na areia, tomando sol, deixando um pouco de vitamina D entrar em minha pele branca. No final, eu me dou muito mal. Não sou acostumado a pegar bronzeado, e ganhei foi uma bela de uma queimadura nas costas. Não achava que o sol estava tão quente assim. Todos dão risada de mim, e eu me sinto uma criança. Devo anotar mentalmente para não esquecer de passar protetor da próxima vez. A primeira experiência de Bernardo tomando água de côco não foi das melhores também. Ele odiou, falando tão mal que ofendeu o idoso da barraquinha, quase arrumando briga. Saímos de lá dando risada, e Bernardo muito irritado. Logo o sol está se pondo, e nossas caras murcham. Não queremos voltar para a rotina cansativa e pela primeira vez, eu não quero aquele clima urbano. Não agora. Eu quero muito ficar aqui, com esse mar enorme na minha frente, as ondas batendo logo afrente, a areia fofa e relaxante, um dos mais lindos pores do sol que eu já vi, levando embora todos os problemas, as dores, as coisas que me fazem querer distância da minha vida corrida em Porto Alegre. Logo estamos de volta na casa para tomar um banho e arrumar as coisas. Em questão de menos de uma hora já estamos saindo para a estrada novamente, deixando esse paraíso pra trás. Me vem um pensamento automático, que me faz ficar um pouco mais triste; eu lá com meus setenta e poucos anos, morando aqui, no meio dessa paz, e Felipe do meu lado. Do meu lado até o fim da vida. Do meu lado por anos e anos. Mas como posso pensar nisso, se nem conseguimos isso por um ano? Isso me faz afundar meu corpo no banco traseiro e puxar meu celular e meus fones de ouvido. Estou um pouco cansado e acabo pegando no sono. Quando acordo, já estamos de volta, quase chegando em casa. Me ajeito no lugar, e sinto que dormi de mal jeito, pois meu pescoço dói.

Estamos descarregando tudo na garagem. Eu e Bernardo ficamos por último. Ele fecha o porta malas, pegando sua mochila, que era a última.

- Edu?

- oi Bê.

- obrigado por tudo. Essa viagem foi ainda mais incrível com você lá.

E então, ele me surpreende com um beijo na bochecha. Eu fico sem reação, e meu coração bate um pouco mais acelerado. Isso foi lindo de sua parte, mas não sei se é demais. Eu não sei muito bem o que falar.

- eu que agradeço. A viagem foi incrível.

Ele me dá um sorriso de canto, contente pela minha resposta, e provavelmente por ter me beijado, mesmo que no rosto, e gira em seus calcanhares, carregando suas coisas pra dentro. Eu chacoalho a cabeça, pensando em como acalmar meus pensamentos, e apago a luz, apenas querendo minha cama.

É quinta feira. A semana passou absurdamente rápido. Essa é a noite que vão escolher alguém da nossa sala pro concurso. Estão todos um pouco tensos, e não é pra menos. Cada sala terá um representante, e irão competir pra ver quem vai competir em nome da universidade na primeira etapa. Estamos todos sentados inquietos, esperando a professora começar a fazer a votação. Minha turma não é muito grande, há 21 alunos, contando comigo. E a maioria são muito tímidos ou inseguros, assim como eu. Mas é claro que cada um sabe quem são os que têm mais chances de se dar bem. Muitos apontam na Betina, uma menina com traços asiáticos, e em Caique, um menino negro que senta perto de mim. Antes de começar a votação, a professora explica que temos que escolher muito bem, pois caso nossa turma tiver um representante que ganhe a etapa, terá uma bonificação. Além disso, o aluno escolhido não apenas terá que saber cozinhar bem, mas tem que ter boas notas. Isso faz muita gente reclamar, e acho que diminui bastante o número de competidores. Muitos deles não estão bem com as notas. Não é algo que lhes faça pegar exame, mas não são notas exemplares. Para minha surpresa, o primeiro voto é para mim. Bem, certamente meu bilhete foi o primeiro, e único. Eu, apesar de não me iludir, queria muito competir. Isso me levaria a outro patamar de culinária, fora que seria uma bela forma de ser reconhecido de alguma forma para uma futura carreira. Me faria entrar com o pé direito no ramo. O segundo voto vai para Caique. Ele tem alguns amigos, que provavelmente vão votar nele. O terceiro vai para ele novamente, e a turma fica na expectativa. O quadro está com meu nome e com o seu. O quarto voto vai para Betina, e ela está visivelmente feliz por isso. O quinto vai para mim, e eu gelo por dentro. Estou empatado. Mas o que? O sexto vai para mim de novo. Caramba. Estou na frente. Mais um pra Betina. Agora outro para um outro colega. Outro pra Caique, outro pra mim. Assim vai seguindo, e cada vez que a professora abre o papel e marca um ponto, meu coração pula dentro do meu peito. Eu estou no páreo com os favoritos. Parece mentira. No final, eu e Caique estamos empatados. Há mais dois bilhetes. O penúltimo se abre, e vai para Betina. Ainda estamos empatados. A professora faz o maior suspense do mundo, e eu tenho vontade de pular em seu pescoço. Quando ela marca o último ponto no meu nome, eu quase dou um grito. Eu olho atônito para Marina logo atrás de mim, que está sorrindo feito boba.

- caramba.

- eu sabia que você ia conseguir.

- como? Se nem eu achava que podia?

- eu não sei. Eu apenas senti. E votei em você também.

Sinto vontade de abraçá-la nessa hora, mas sei que chamaria a atenção da sala e ela me mandaria parar com drama.

A aula se passa com todos comentando sobre a votação. Alguns me dão parabéns, outros parecem não ter aprovado, mas eu estou tão feliz que nem consigo dar atenção pra isso. Chego em casa e Bernardo e Bárbara me dão os parabéns pelo acontecimento. Eu ainda nem consigo acreditar.

- a gente precisa sair pra comemorar, né?

Marina sempre arranja uma desculpa pra querer me tirar de casa. É como se ela tivesse medo que eu vire algum móvel da casa, por quase não sair. Estranhamente eu tenho saído mais que o normal pra mim, desde que conheci ela. Mas mesmo assim, no ponto de vista dela, eu não saio. Imagino o quanto sua vida social era agitada antes da faculdade, se mesmo com aula ela está sempre por aí. Eu não consigo me ver assim. Não tenho animo pra isso.

Ainda estou eufórico pela prova. Me sinto orgulhoso de mim mesmo. Imagino a cara da minha mãe quando contar pra ela. Ainda nem falei com ela. São tantas novidades, que ela vai até ficar surpresa com essa agitação na minha vida. Queria que meu pai estivesse aqui pra poder saber também. Ele ficaria tão feliz. Mas eu sei que ele está aos pulos, onde quer que esteja. Vejo Porto Alegre pela janela do carro, enquanto seguimos para a boate com o rádio em volume alto. Estamos todos muito animados. Afinal, é sexta feira, sendo motivo suficiente para estarmos assim, mas se não bastasse, há uma inauguração de uma boate bem conceituada, e é lá que vamos. Logo quando chegamos na frente do lugar já me assusto com o tamanho da fila. Parece que todos estão ansiosos pra conhecer o lugar. A divulgação foi ótima, até eu que não conheço muito do assunto estava sabendo. Logo ao entrar já vejo o nível do lugar. O espaço é amplo, música de boa qualidade, um jogo de luzes convidativo e clima bem underground. Esta tocando Me Against the Music, da Britney, e as pessoas já estão animadas, cantando e dançando ao som contagiante que combina muito com o ar urban. Vamos todos direto para o bar, antes que lote ainda mais. O único lado ruim de inaugurações de lugares grandes assim são as filas. Há fila pra tudo. Isso me deixa um pouco impaciente. Pego apenas um copo de energético pra começar com calma. Sei que sou fraco pra bebida, e não quero dar trabalho pra eles.

Marina levanta o copo de cerveja pra cima, convocando os outros para um brinde.

- boa sorte para o Edu!

- boa sorte para o Edu! – as vozes altas se sobressaem levemente da música, e brindamos. Eu fico um tanto sem jeito, mas fico feliz pela atitude. Estou com boas vibrações de pessoas que gostam de verdade de mim. Isso é incrível.

Ouço uma movimentação estranha mais à frente, perto do banheiro. Viro e olho direito e não consigo acreditar. É Felipe. Está metido em briga com um grupo de homens. Ele está bêbado, provocando os outros caras. Estão quase saindo no soco. Mal consigo reconhecê-lo. Isso é tão deprimente. Não tenho outra opção. Tenho que tirá-lo de lá. Vou até eles e entro no meio, pegando Felipe pela manga da camiseta, chamando sua atenção.

- vem, Felipe. Vamos embora.

Ele se vira e me olha, surpreso.

- você aqui? Trouxe seu namorado novo? Olha gente, esse é meu namorado. Ou era. Agora tá ficando com outro cara!

Ele berra ora todos ouvirem, e eu quero socar sua cara. Reviro os olhos e respiro fundo, tentando entender que ele está bêbado e por isso está falando merda.

- vem Felipe, vamos embora.

- me solta, me deixa!

- nada disso, você vem comigo.

Ele tenta falar alguma coisa, mas acaba perdendo o equilíbrio e pendendo pro lado, e eu o seguro. Ele não protesta mais, e eu agradeço, se não teria que pegá-lo a força mesmo. Vou até Marina e aponto com a cabeça pro lado, mostrando que tenho companhia. Ela sacode a cabeça em desaprovação.

- eu vou embora. Vou levar ele pra casa.

- mas você acabou de chegar.

- eu sei, mas não posso deixar ele sozinho.

- então deixa que eu te levo.

- não precisa. Aproveita ai com o Bernardo. Eu pego um taxi.

- não precisa Edu, deixa que eu te levo.

- não precisa, de verdade. Ficamos um tempão na fila, você não vai ter que sair por minha causa. Aproveita bastante e me conta depois como foi, tá bom?

Ela concorda, e eu olho para Bernardo, que parece decepcionado. Eu sei que ele deve ter planejado ficar junto comigo agora, aproveitando e tudo mais, mas não posso ficar. Coloco seu braço em volta do meu pescoço e caminho com dificuldade até a saída, torcendo para encontrar um taxi perto. Parece que está virando hábito a gente se esbarrar por aí. Isso só me faz sofrer ainda mais. Estar tocando-o é algo entorpecente pra mim. O toque de nossas peles só me confirma o óbvio: eu sinto cada dia mais falta dele, e de todas as sensações que ele me proporciona, e eu odeio admitir isso.

Comentários

Há 6 comentários.

Por Dougglas em 2015-12-25 22:59:50
Edu sempre com essa personalidade linda dele em ajudar os outros. Mas acho que ele precisava do contato com o Felipe, que infelizmente, tá numa decadência. Espero que tudo se resolva. E o Edu foi escolhido *-* Ele vai arrasar nessa competição.
Por Juju em 2015-09-16 00:16:01
Eu venho acompanhado seus contos so nao tinha comentado ainda muito bom!!!!!
Por Luã em 2015-09-15 18:43:12
Oi genteeeeee! Tudo bom? Olha eu sei que esse capítulo foi um pouco parado, mas foi uma transição para esse próximo que eu vou postar depois da meia noite hoje. Repetindo, vou postar depois da meia noite hoje. Fiquem ligados aqui viu! Ah e já aviso, se tiver algum cardíaco que acompanha a série toma cuidado, esse episódio tem muitas emoções em jogo! Ansioso pra saber o que vocês vão achar! Abraços <3
Por luan silva em 2015-09-15 00:47:18
que tudo se esclaressa logo e que eles voltem logo tambem../ amém... ansioso pelo proximo.
Por Niss em 2015-09-15 00:37:18
Desculpe o coment vazio abaixo kkk. -Bom acho muito boas as atitudes da Marina para com o Edu, ele e uma verdadeira amiga. Fico muito feliz pelo Edu ter sido escolhido, tenho certeza que ele vai dar conta d recado!!! Espero que de tudo certo e q o Edu seja feliz. Kisses, Niss.
Por diegocampos em 2015-09-14 12:51:47
Ansioso para o próximo capítulo quero muito saber o que vai acontecer