04. Nem tudo é o que parece

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Perder alguém é uma das piores sensações do mundo. Você sente o peito pesado, apesar de seu corpo estar mais vazio, pois uma parte de você se foi junto. Mas quando você perde alguém tão perto, como um pai, é tão doloroso e atordoante quanto qualquer outra sensação que existe. Eu e Felipe estamos seguindo rápido pela rodovia rumo a São Valentim. Não quero pensar muito no fato de que vou ver meu pai em um caixão, pois isso me deixa transtornado, além de fazer minha crise de choro voltar, o que eu não quero agora. Felipe está muito abalado também, e estamos em silêncio. Acho melhor assim. Cada um em seus pensamentos, seus sentimentos de luto. Imagino como minha mãe deve estar nesse momento. Eu preciso ser forte para ampará-la. Preciso engolir minha tristeza goela abaixo para confortar alguém que está com certeza pior do que eu. Só agora paro pra pensar sobre meu primeiro dia de trabalho amanhã. Eu vou ligar para Ricardo e avisar que não vou poder ir. Espero que ele entenda. Procuro seu número em minha agenda e faço a ligação.

- alô?

- oi Ricardo. Sou eu, Eduardo.

- oi Eduardo! Como vai?

- não muito bem. Eu estou te ligando pra pedir desculpas, mas não vou poder começar amanhã. Eu estou indo pra minha cidade para o enterro do meu pai.

Nessa parte, eu quase caio no choro novamente, mas me controlo ao máximo para não deixar transparecer ainda mais tristeza pelo telefone.

- eu sinto muito pelo seu pai. Você vai ficar muito tempo lá?

- só até amanhã. Na terça eu já estou de volta.

- tudo bem, mande meus sentimentos pra família. Fique tranquilo, eu te espero terça feira.

- obrigado Ricardo. Até mais.

Encosto minha cabeça no encosto do banco e fico de olhos fechados, tentando acalmar meus pensamentos. Eu estou me sentindo muito mal. E não há nada que possa ser feito pra melhorar. Felipe encosta sua mão em minha perna, eu viro pra olhá-lo e ele me encara com uma expressão de consolo. Eu lhe dou o melhor sorriso que consigo agora, embora não seja nada convincente. Como nos dois sabemos que não há palavras que possam ser ditas agora que possam deixar as coisas mais simples, ele se limita a me falar um “eu te amo”. Eu o respondo, e fico grato por ele estar do meu lado nesse momento.

A viagem não demora muito, graças ao movimento de veículos estar baixo. Estamos chegando na cidade e meu coração se aperta. Eu vou ter que passar por isso. Seguimos direto para o cemitério da cidade, o único que tem, mas grande o suficiente. Quando chegamos, há um número considerável de carros na frente. Meus olhos ameaçam chorar, mas eu ia controlo. Não Eduardo, não agora. Seja forte por sua mãe. Saio do carro e encontro Felipe no outro lado, e então seguimos para as salas de velório, na parte esquerda, logo na entrada do prédio. O cheiro de velas me embrulha o estômago. Avisto uma pequena aglomeração de pessoas, incluindo q maioria dos taxistas que trabalham na frota, alguns amigos de infância do meu pai, e por último, minha tia abraçada à minha mãe. Ela está muito abatida. Os olhos inchados de chorar, e com o olhar perdido. Me aproximo o bastante pra ela me ver, e quando ela nos enxerga, começa a chorar violentamente. Eu estou travando uma guerra interior para não fazer o mesmo, e vou até ela a abraçar. Quando eu encosto nela, não consigo mais suportar, e choro. Choro muito. Choro desesperadamente pela perda do meu herói. Do meu primeiro melhor amigo de todos. Quem me ensinou a andar de bicicleta. Quem sempre se preocupou comigo, e apesar das nossas diferenças em algumas vezes, sempre houve amor entre nós. O abraço de minha mãe parece me confortar um pouco. Sinto um pouco o chão de volta, que parecia ter sumido desde que Felipe entrou no banheiro horas antes. Me desvencilho dela e meus olhos vagam o cômodo, vendo as outras pessoas presentes. Meu pai está no centro. Há muitas flores perto dele. Com certeza ele teve muitas amizades. Não era pra menos. Seu jeito cativava todos. Ele poderia ser difícil as vezes, mas tinha um coração do tamanho do mundo. Isso ninguém podia negar. Chego perto dele, e me assusto. Ele está diferente. Sua pele branca, sem vida, seu corpo imóvel. Como eu queria que ele se mexesse. Que ele acordasse. Que ele voltasse a vida. Toco em sua mão gélida, e falo entre lágrimas para ele que eu vou sentir muito sua falta, na esperança de que ele me ouça, onde quer que ele esteja. Volto para perto de Felipe, de minha mãe e de minha tia. Estamos sentados lado a lado. Estamos sem conversar. Não há nada para dizer. Algumas pessoas chegam depois e vem até nós para nós dar os pêsames. De vez em quando eu vou até a pequena cozinha tomar água. Felipe não sai de perto de mim. Ele não quer me deixar sozinho.

A madrugada parece se arrastar. Eu estou um pouco mais calmo, mas ainda quero ficar quieto. Estou com minha cabeça encostada no ombro da minha mãe. Fico pensando em momentos felizes com meu pai. É assim que quero lembrar dele. Vivo, alegre. Sempre esteve presente, em todos os momentos que eu precisei. Se esforçou pra caramba pra me dar o melhor, ao lado da minha mãe. Construiu o restaurante e a frota com muito suor, e não descansou nem um minuto depois, batalhando pra solidificar o que havia feito. Os pais de Felipe chegam logo em seguida. Fazia tempo que eu não os via. César vem direto em minha direção me dar um abraço, enquanto Paula vai até minha mãe. Apesar de ainda estarem um pouco estranhas sobre o que aconteceu no ano passado, nossas mães esquecem as diferenças para se unirem nesse momento. Paula vem até a mim e me da um abraço confortante também. Eles não demoram muito, mas o fato de terem ido já vale muito pra mim.

Em pouco tempo o sol aparece tímido entre as nuvens cinzentas de uma segunda feira triste. Talvez a segunda feira mais triste pra mim até então. Eu estou com sono, mas não quero dormir. E acho que nem conseguiria, se tentasse. Meus últimos dias tem sido tão melancólicos, tão obscuros. Ciúmes, disputas, perdas. Não era assim que eu imaginava meu futuro. As coisas viraram uma verdadeira bagunça. A manhã passa um pouco mais rápido, e logo o padre chega para começarmos o enterro. Agarro firme minha mãe, que está tão devastada quanto eu. Acho que essa é a pior parte até agora. Se despedir. Todos estão chorando enquanto rezam, e logo começam a se organizar para carregar o caixão até a gaveta. Eu não consigo fazer isso. Pensei que aguentaria, mas não o fiz. Felipe vai no meu lugar. Meu coração dói de ver meu pai pela última vez. Enquanto colocam-no dentro da gaveta, eu peço a Deus que ele esteja em um lugar melhor agora, e que esteja em paz.

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Voltar a rotina está sendo mais difícil do que eu imaginava. Não há nenhum vestígio de animação por meu primeiro dia no trabalho novo, algo que eu tanto queria. Estou me sentindo tão fraco, tão vazio, que me pergunto se algum dia vou demorar para me acostumar com a perda do meu pai. Nessa hora eu sinto raiva dele, pois eu e minha mãe cansamos de tanto falar e repetir pra ele sair do taxi, que estava muito perigoso. Mas ele não deu bola. Dizia que não tinha medo. Ele nunca teve. Mas se ele tivesse sido medroso uma porra de uma vez na vida, ele agora provavelmente estaria vivo. Vou até o banheiro fazer minha higiene, e meu reflexo no espelho reflete algo parecido com um fantasma em meu lugar. Eu já não me assusto mais. Escovo meus dentes e vou para o banho. A água caindo em fluxo contínuo por meu corpo me faz acordar um pouco mais, e eu me sinto um pouco melhor. Por sorte o dia começou ensolarado. Coloco a camisa azul que Felipe me deu, numa esperança de me dar sorte. Ela me deixa aparentemente melhor do que eu estou. Agora sem barba, eu pareço ter rejuvenescido uns 15 anos. Desço até a cozinha e encontro Felipe na cozinha, terminando de fazer duas torradas. Ele me percebe e me lança um sorriso animador.

- bom dia meu amor.

- bom dia. – vou até ele e lhe dou um breve beijo, sentindo seu perfume suave e fresco no pescoço. – acordou mais cedo.

- é, eu quis preparar nosso café. Você tá melhor?

- não sei. Ainda é difícil dizer, mas eu vou ficar bem.

- eu estou aqui, ok? Sempre do seu lado.

Ele toca as pontas dos dedos em meu rosto, me acariciando, e eu fecho os olhos em resposta. Felipe é meu alicerce. Sempre foi. Quando eu precisei de ajuda, seja no assalto há um ano atrás, ou de um conselho quando eu sai de casa, ou até da minha insistência em ajudar o pai de Alexandre. Ele sempre foi meu porto seguro, a pessoa que me segurava.

Tomamos nosso café trocando algumas palavras, mas na maioria do tempo em um silêncio não tão desconfortante. Pego minhas coisas e aproveito sua carona. O caminho até a livraria é rápido. Felipe me conta animado que eles acabaram de fechar um contrato grande com uma empresa famosa da cidade, e que vão começar a trabalhar duro para fazer o melhor que eles podem. Fico feliz por ele. Ele se encontrou. Pelo menos eu sei que agora ele está no caminho certo, fazendo o que gosta. Me orgulho dele. Apesar de não saber muito sobre como ser independente, felipe está se saindo muito bem com tudo. E eu sei que ele faz isso por mim. Faz isso para estar do meu lado, custe o que custar. Acho que isso é uma das maiores demonstrações do que é o amor; planejar sua vida em torno de outra pessoa, encaixá-la em cada objetivo que você tem, pois não faz mais sentido você pensar em metas sozinho. Há outra pessoa ligada a você. Chegamos em frente do prédio, e meu coração bate mais forte.

- boa sorte meu amor.

- obrigado Lipe.

Ele me da um beijo breve, e eu agradeço por ter película nos vidros, assim nós não temos que nos preocupar com demonstrações de carinho. Saio do carro e entro na loja controlando minha ansiedade. O clima aconchegante e organizado do lugar me cativa. São várias estantes de madeira envernizada cobrindo todo o perímetro do primeiro andar, e mais algumas formando corredores no meio, abarrotadas com os mais variados títulos. Mais pra direita há um espaço pra leitura, com mesas redondas de 4 cadeiras. Avisto Ricardo perto do caixa conversando com uma garota que eu já tinha visto quando vim aqui a primeira vez. Ele me vê e caminha em minha direção, com uma expressão amistosa.

- oi Eduardo! Como vai?

Ele estende a mão para me cumprimentar.

- vou melhorando, obrigado.

- a propósito, sinto muito pelo seu pai.

- obrigado.

- bom, pra começarmos bem eu quero te mostrar a loja por completo, tudo bem?

- claro.

Vamos pelo primeiro andar, costurando as variadas seções e encontrando meus colegas de trabalho. Há apenas mais três pessoas na loja; Julia, a simpática moça do caixa e mais dois vendedores; Pablo, um garoto negro muito bonito com um sorriso marcante, e Alice, uma menina de pele clara com algumas tatuagens e cabelo castanho estilo chanel. Todos parecem muito receptivos. No segundo andar há uma pequena área de discos, nacionais e internacionais, cuja responsabilidade é de Alice, e o estoque, onde cada um de nós seria responsável por organização, entrada e saída de produtos. Parece ser uma equipe bem unida e dinâmica, e eu tenho a sensação de que vou gostar daqui. Fico responsável pela área de ficção da loja, onde ficam os romances e afins. Pablo fica responsável pela outra metade, onde ficam os livros de faculdade, autoajuda e etc. Fico feliz pois me saio melhor do que imaginava. O dia passa rápido, e logo está na hora de ir embora. Não pude ter muito contato com o pessoal devido ao movimento intenso e por ser dia de chegada de produtos, o que ocupou Ricardo e Pablo por um tempo, deixando apenas Julia e eu cuidando das coisas no primeiro andar.

O tempo voa, e já está na hora de eu ir pra embora. Tenho que ir direto pra faculdade, não vai dar tempo de ir em casa primeiro. Finalmente estou ocupando meu tempo em tempo integral, e não estou tendo tempo pra pensar muito no que tem acontecido nos últimos tempos. Em suma, meu primeiro dia de trabalho foi ótimo. Ainda não tive nenhuma amizade ou alguém próximo. O pessoal parece ser bastante fechado, apesar de bastante receptivo.

Chego na primeira aula em cima da hora. Quase acabo me atrasando. A sala está quase completa, mas alguns dos meus colegas ainda estão entrando. Marina está em seu lugar, e quando me vê cruzando a porta me espera pronta para um abraço.

- eu sinto muito.

- obrigado.

Seu abraço é reconfortante. Sinto que Marina é a melhor amiga que alguém poderia ter. Me sento em meu lugar e ela se acomoda bem atrás de mim. Eu me viro pra conversar melhor.

- eu sei que você não se sente bem falando sobre isso, e não precisa falar nada se não quiser. Mas eu to aqui se precisar desabafar.

- obrigado Mari. Eu não tenho o que falar. Foi tudo muito rápido. Até agora acho que minha ficha não caiu.

- eu imagino. Por que você não ficou mais um pouco com a tua mãe? Não precisava sair correndo de lá. Acho que te faria bem ficar um pouco com ela e ela também ficaria melhor com você lá.

- eu queria muito, mas ficar lá só iria me trazer lembranças e me fazer ficar pior . Além disso, já atrasei meu primeiro dia de trabalho, e não posso perder muitos dias de aula. Eu vou passar o feriado com ela essa semana.

- vai mesmo. Fica com ela e dá apoio, ela deve estar precisando.

Eu sorrio agradecendo suas palavras, e logo em seguida o professor entra na sala, dando início à primeira aula.

Chegamos em casa e vejo a mesa arrumada. Felipe me olha com expectativa, e vai até a cozinha. Pouco tempo depois, ele volta com um barco de comida japonesa. Eu sorrio bobo. Fico feliz por Felipe estar tentando me animar, apesar de ser uma tarefa difícil.

- acho que vou te poupar de cozinhar hoje. Seu dia já foi bastante corrido. E também acho que você merece um mimo pelo primeiro dia de trabalho. Mas não se acostuma mal.

Ele finge fazer uma expressão maldosa, mas ele não consegue. Ele não consegue ser mal nem de tentasse ao máximo. Eu tento lhe dar um sorriso, mas ele sai amarelo. Felipe pega minha mão sobre o banco.

- eu sei que não estamos no clima, mas não quero te ver triste. Seu pai não ia gostar de te ver assim. Tente se lembrar dele vivo, com seu jeitão difícil, mas mole por dentro, do jeito que ele sempre era. Lembrar coisas tristes só piora tudo, meu amor.

Eu sorrio e lhe dou um beijo.

- eu sei. Obrigado meu amor.

Ele sorri, e eu decido dar o melhor de mim. Me senti na mesa enquanto ele me serve. Penso que talvez tenha muita comida ali, mas eu estou com fome. Aliás, só agora sinto meu estômago roncar.

- você vai ir pra casa dos seus pais no feriado?

- eu queria muito, mas não vou poder. Estamos no meio do grande projeto. Aquele, lembra?

- lembro.

- então, e todos nós lá da agência estamos trabalhando duro por isso. Além do mais eu deixei atrasar algumas coisas da faculdade. Vou aproveitar pra colocar tudo em dia.

- entendo. Eu queria ficar com você e te fazer companhia, mas não quero deixar minha mãe sozinha agora. Vai ser o primeiro domingo de Páscoa que eu estou morando aqui, e se não bastasse isso agora meu pai também não vai mais poder fazer companhia pra ela. Quero estar do lado dela sempre que puder.

- e deve. Vá, fique com ela e mande um abraço pra ela. Eu vou tentar ir no próximo domingo ficar com meus pais. Até lá o projeto já vai estar pronto. Pelo menos vou me empenhar ao máximo pra isso.

- eu amo ver você empenhado no trabalho. Fico feliz que você esteja gostando.

- e eu agradeço a você por ter me encorajado.

Ele sorri e acaricia meu rosto. De repente, eu me lembro de Caio. Minha cara se azeda.

- o que foi?

Ele sempre percebe quando não estou bem.

- você falou com Caio?

Felipe se ajeita na cadeira, tomando cuidado sobre como iniciar essa conversa.

- falei. Deixei claro que as atitudes dele na balada aquele dia não tinham te deixando confortável, e pedi pra eu e ele termos contato apenas profissional.

Eu fico feliz. Agora acho que terei um pouco de paz.

- e ele?

- ficou surpreso e pediu mil desculpas, disse que não era sua intenção, e que talvez tenha exagerado na bebida, mas que se era melhor assim, ele ia respeitar.

Bela desculpa a dele. Acho que a bebida não é a culpada de suas intenções com meu namorado. Mas isso pouco importa agora. Nosso problema já está resolvido. Estou aliviado.

- obrigado. De verdade.

- não precisa agradecer, meu amor.

Então, terminamos nosso jantar e vamos nos deitar. Me sinto tão cansado que caio na cama praticamente dormindo. Mas foi um ótimo dia. Aos poucos, as coisas estão voltando aos trilhos.

Estou sentado na frente da faculdade esperando por Felipe. Já faz mais de meia hora que eu estou aqui, e nada. Normalmente ele não demora muito pra chegar. Tento ligar pra ele e não consigo. Começo a ficar preocupado. Será que aconteceu alguma coisa? Não, eu não quero pensar assim. Tento fechar a porta desse pensamento e focar em alguma outra coisa. Vai ver ele ficou preso no trânsito, ou sei lá. Deve haver alguma explicação.

O carro de Felipe estaciona em minha frente, me tirando dos meus devaneios. Me assusto com o barulho. Logo entro e o vejo com o rosto tenso.

- ei, eu estava preocupado.

- eu sei, desculpa. Tive que ficar até mais tarde na agência, nem fui pra faculdade hoje. Meu celular descarregou no meio da noite.

- você não foi pra aula? Felipe você não pode ficar faltando.

- eu sei Edú, mas a gente precisava terminar o projeto hoje. Além do mais se pelo menos alguém tivesse ficado junto comigo e com o Caio, teríamos terminado mais cedo.

Opa, espera ai. Ficou com quem?

- só você e o Caio ficaram lá?

- sim.

- sozinhos?

- sim Edu, estávamos trabalhando.

- eu sei, mas vocês estavam sozinhos.

Eu não queria ter dito isso, mas meu pensamento se transforma em palavras mais rápido do que eu consigo controlar. Agora eu pareço uma criança fazendo bico.

- Edu, não começa. Meu dia foi muito estressante, e eu não quero brigar com você. Já não basta o clima tenso na agência.

- clima tenso por que?

Nessa hora ele fica apreensivo, parecendo que havia falado demais.

- Felipe?

- não é nada Edu.

- se você soubesse o quanto isso me deixa irritado, você não faria isso.

- fazer o que?

- deixar frases inacabadas, soltas no ar.

- eu só não quero te deixar mais chateado ainda.

- por que? Aconteceu alguma coisa pra me deixar chateado?

Isso faz meu corpo ficar quente. Eu estou com um mal pressentimento. Felipe parece estar tentando formar alguma frase com cautela.

- Caio tentou passar dia limites hoje.

Eu enrijeço os tendões da mão, e aperto a mandíbula com força.

- o que ele fez?

- tentou me beijar.

Eu bufo, soltando uma risada sarcástica, saindo mais alto do que o normal. Eu estou com tanta raiva agora, que poderia sair atrás desse bastardo e quebrar a cara dele até virar pó.

- filho da puta.

- Edu, calma.

- calma Felipe, você tá me pedindo calma? O cara tenta te beijar e você fica assim, normal? Será que você foi claro o suficiente com ele em relação a mim? Ele sabe que eu não quero vocês perto um do outro, a não ser quando é estritamente necessário?

- e nesse caso a gente estava trabalhando, isso não é estritamente necessário?

- o beijo também fazia parte do trabalho?

Minhas palavras saem como facas afiadas. Eu estou furioso.

- você diz isso como se a culpa fosse minha. Eduardo, ele é meu colega, eu não posso fazer milagres. Você tem que aprender a controlar seu ciúme idiota.

- ciúme idioma? Tá vendo, por isso que a culpa é sua em partes Felipe. Pra você nunca tem nada demais. Caramba, você acabou de me falar que ele tentou te beijar! Como você acha que eu me sinto?

- e o que você quer que eu faça?

- seja homem, porra! Tenha atitude, tira esse cara de perto de você. Seja claro. Se você fosse mais duro ele não teria brecha pra se engraçar pro teu lado. Parece que você gosta desse joguinho que ele faz com você. O que não me surpreenderia, já que ele tem um corpo perfeito, um rosto perfeito, e bem de vida, e isso...

- cala a boca Eduardo! Para de falar merda, caramba, por favor! Já to de saco cheio desse jogo de gato e rato de vocês dois. Para com isso!

Suas palavras saem aos berros, e eu o olho perplexo. Felipe nunca havia me tratado assim. Nunca.

- Ok.

Eu simplesmente abro meu cinto de segurança, aproveito que estamos parados no semáforo e saio do carro, batendo a porta com muita força e atravessando a rua procurando por um ponto de táxi próximo. Felipe está me chamando do lado de dentro, mas eu não me importo. Se eu ficasse lá com ele eu acabaria falando e fazendo besteira. Nunca pensei que chegaríamos a esse ponto. Quero tanto chorar, mas não vou. Droga, não consigo achar nenhum maldito taxi por perto. Por sorte estamos perto da UFCSPA, então vou até o ponto de ônibus torcendo para que passe logo o meu. Estou quase chegando no ponto quando o carro de Felipe encosta barulhento pela freada em meu lado.

- Eduardo entra no carro.

Eu não respondo. Estou com meu coração aos pulos.

- Eduardo para com isso, entra no carro e vamos pra casa.

Uma onda repentina de ódio descontrolado me invade, e eu chuto a lataria da porta do passageiro, fazendo um barulho alto.

- vai pra merda! Me deixa quieto! Vai embora sozinho!

Não posso acreditar que eu esteja falando assim com ele. Não acredito que nós dois estamos tendo esse nível de briga. Mas meu Deus, eu estou com tanta raiva por Caio, que a cada dia parece não ter nada de escrúpulos, cobiçando o que é meu, e ainda por cima o comportamento de Felipe agora. Eu poderia jurar que estou em chamas por dentro. Meu coração está freneticamente rápido. Felipe não fala mais nada, apenas arranca com o carro e desaparece rua afrente. Eu começo a chorar. O que está acontecendo com a gente? Costumávamos ser tão fortes, e agora qualquer coisa nos faz ficar magoados, brigados. Não quero ir pra casa. Na verdade eu nem sei o que fazer agora. Chego no ponto de ônibus, onde há alguns estudantes. Meu ônibus demora um pouco pra chegar, o que me deixa ainda mais irritado.

Entro pela sala com o coração na mão, sem saber o que fazer quando eu ver Felipe. A raiva agora está menos intensa, e está quase virando uma mágoa. Ultimamente eu vejo que por mais que a gente tenta ficar bem, sempre há algo que nos atrapalha. Já é quase meia noite, e eu estou exausto. Subo direto para o quarto, apenas precisando de um banho e uma boa noite de sono, o que eu acho um tanto difícil. Passo pela porta e vejo ele sentado no pé da cama, cotovelo apoiado no joelho e mãos apoiando a cabeça, cabisbaixo. Ele percebe minha presença mas não me olha. Eu vou para o banheiro e fico embaixo da água pelo que me parecem horas, perdido em pensamentos rápidos e arrependimentos sobre palavras mal ditas. Desligo o chuveiro e volto para o quarto, mas dessa vez ele não está lá. Estou com frio, então tiro a toalha enrolada na cintura e coloco uma camiseta e um shorts e vou procurá-lo. Estou no topo da escada quando vejo ele deitado no sofá da sala, enrolado no cobertor. Meu coração se aperta. A que ponto chegamos? Volto para o quarto me sentindo um intruso. Se tem alguém que deveria dormir no sofá sou eu, afinal o apartamento é dele. Mas não vou ir até lá e arriscar piorar tudo. Me deito na cama já sabendo que essa vai ser uma noite daquelas. Minha cabeça dói. Meu corpo está elétrico. Me viro pra lá e pra cá enquanto as horas passam. Tento me concentrar no meu sono, mas ele não vem. No relógio, 2h, 3h, 5h... Meus olhos estão secos. Quando dá 6h me levanto pra arrumar minha mochila com algumas roupas pra viagem. Fico feliz pois a loja hoje abre só até meio dia. Isso me dá mais tempo com minha mãe. Isso vai ser bom pra ela e pra mim. Sinto falta da companhia dela, e ainda mais depois de tudo isso que tem acontecido, não tivemos tempo de ficar juntos. Preciso de um colo de mãe. Acho tão estranho, pois quando estava lá em São Valentim eu não sentia falta disso. Mas agora que estou aqui, parece que preciso disso todos os dias.

Minha manhã passa vagarosa. Não há nenhum movimento na loja, então me distraio repondo alguns livros que estavam faltando. Isso me ocupa por um tempo. Faço uma relação de títulos que estavam em falta tanto em loja quanto em estoque, e repasso para Ricardo providenciar. Quando vejo já está na hora de ir embora. Isso me deixa ansioso. Pego minhas coisas e vou para a rodoviária. Quando chego já avisto um pequeno movimento de pessoas em todo o lugar. É véspera de feriado, e há muitas pessoas que como eu estão viajando para ficar com suas famílias. Olho para o meu celular e não há nenhum sinal de Felipe. Estou com tanta vontade de ligar e perguntar como ele está, mas não vou. Sou muito orgulhoso pra isso. Compro minha passagem e aguardo na plataforma de embarque. A saída está prevista para daqui a 15 minutos.

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À medida que o ônibus se aproxima do perímetro urbano, meu coração fica mais acelerado.

Chego em frente da minha antiga casa e sinto um frio na barriga. É estranho porque agora não sinto mais como se fosse minha casa. É apenas a casa dos meus pais. A sensação de estar visitando um lugar que até pouco tempo atrás era meu, é engraçada. Mal toco a campainha e minha mãe me atende, ficando com uma expressão leve ao me ver. É tão bom ver ela. Ela me abraça forte, e eu me sinto seguro.

- saudade, filho.

- eu também, mãe. Como você tá?

- vou indo. E você?

- também.

- onde está felipe?

Eu me sinto mal ao lembrar dele. Sai de Porto Alegre sem nem dar tchau.

- ele teve que ficar. Tinha muita coisa pra fazer.

Entro em casa e muitas lembranças invadem minha mente. Por sorte, a maioria delas são boas. Fazem meu coração se aquecer. Eu já vivi tantas coisas boas nessa casa, que é impossível não se sentir nostálgico.

Já é de noite, e estamos na cozinha preparando o jantar. Estava com saudade da comida da minha mãe. Ela insiste em querer fazer tudo sozinha, mas eu peço pelo menos para fazer a salada. Ela concorda. Estamos ambos ocupados com nossas coisas, enquanto eu conto para ela todos os detalhes de morar em uma cidade grande.

- fico tao feliz em saber que você está bem. Isso me alivia.

- mas agora eu fico preocupado com você aqui, sozinha.

- eu não estou sozinha filho. Sua tia vai vir pra cá morar comigo. Assim a gente faz companhia uma pra outra.

- que noticia boa mãe! Eu fico feliz. Não vou conseguir ficar tranquilo se você ficar sozinha aqui.

- você tem que viver a tua vida. Eu vou ficar bem. Claro que a companhia de seu pai vai me fazer muita falta, mas a vida é assim. As vezes temos surpresas não muito boas.

Eu pouso minha mão em seu ombro, num gesto de apoio, e ela sorri. Admiro a força da minha mãe. Ela sempre sabe se sair bem em situações difíceis. Sabe até melhor do que eu. No fundo sei que ela vai ficar bem, apesar de estarmos sofrendo com a perda recente.

Logo a comida fica pronta. Seu risoto é divino. Comemos e depois eu vou pro meu quarto descansar. Viajar de ônibus é um pouco cansativo. Me despeço dela e subo as escadas. Por um instante parece que eu nunca havia saído daqui. Me sinto com 17 anos novamente, pensando que amanhã eu iria pra escola e depois pro restaurante. Fico assustado em como as coisas mudam rápido.

O resto do final de semana passa rapidamente, e nenhum sinal de Felipe. Bem, se ele não me procurou, eu também não vou. Quero aproveitar ao máximo com minha mãe. No sábado, eu vou para o restaurante ajudar. A sensação é única. Eu mal posso esperar pra terminar a faculdade e trabalhar no que eu amo novamente. Assim que vejo Carlos, ele fica surpreso, e vem me dar um abraço. Ele e Humberto estão firmes e fortes, e eu fico muito feliz por eles. O ritmo louco de um sábado a noite no restaurante me faz distrair a cabeça. Depois que o restaurante fecha, eu começo a limpar o salão. Não posso deixar de olhar para a mesa 09. Felipe me vem na mente automaticamente. Sempre acontece. Nosso primeiro encontro, nossa primeira conversa, o começo de tudo. Deus, como eu odeio brigar com ele. Quero tanto ligar agora e dizer que estou morrendo de saudades, mas meu orgulho não deixa. As vezes eu não queria ser tão cabeça dura. No domingo, eu, minha mãe e minha tia almoçamos juntos. Elas fizeram salmão recheado. Estavam me deixando muito mal acostumado. Eu estava ganhando tudo nas mãos. Todos os anos na Páscoa era assim, um almoço com a família reunida. Mas agora estava faltando uma pessoa. Sei que elas também estão sentindo o mesmo, mas ninguém se pronuncia. Depois do almoço ficamos na sala conversando e matando tempo até a hora de eu ir pra rodoviária. Quando a hora de ir embora chega, meu coração se aperta. Não quero deixar elas aqui. Queria ficar pelo menos mais um pouco. Mas preciso ir. Me despeço delas em frente de casa e vou embora, já pensando na próxima data para vir pra cá de novo.

Estou dentro do ônibus quando decido mandar uma mensagem para Felipe.

“Já estou voltando.”

Ainda não sei se vou me arrepender, mas alguém tem que ceder. E eu estou com tanta saudade dele. Nem pude ouvir sua voz durante três dias. Devo um pedido de desculpas pelo meu comportamento explosivo. Como não obtenho resposta, coloco meus fones de ouvido e coloco minhas musicas no modo aleatório. A vista espetacular do fim de tarde me presenteia com paisagens espetaculares. A viagem não demora tanto quanto eu esperava. Logo estou de volta em Porto Alegre. Uma pequena parte de mim achava que encontraria Felipe me esperando no desembarque, mas isso não acontece. Talvez ele não tenha visto minha mensagem, ou está muito ocupado. Pego um taxi até o prédio, ansioso para vê-lo e tentar parar com essas brigas. Não quero que nosso relacionamento se desgaste por besteira. Caio pode tentar o quanto quiser, mas não vai nos prejudicar.

Estou pegando o elevador, e sinto meu coração bater acelerado. Ficar com minha mãe foi ótimo, mas senti tanta saudade dele, de Porto Alegre, de casa. Estou feliz por estar de volta. Mas assim que a porta se abre, eu sinto algo estranho. O rádio está ligado em volume mediano. Há dois copos vazios na mesinha de centro, e o celular de Felipe está em cima do sofá. Meu estômago se embrulha. O que está acontecendo? Procuro ele pela cozinha, no deck, no banheiro. Nada. Subo as escadas aflito. Onde está Felipe? Ouço um barulho no nosso quarto. À medida que me aproximo, meu coração fica mais acelerado. De quem será o outro copo? Abro a porta devagar, com um certo medo de ver o que há no outro lado. Minha visão se torna nítida depois que a porta está totalmente aberta. Minhas pupilas se dilatam, e meu coração para por um instante. Felipe está apenas de cueca deitado na cama, dormindo de bruços. Caio passa na minha frente, também vestindo apenas uma cueca. Eu acho que quero vomitar. - mas que porra é essa?

Ele finge estar surpreso, me olhando com os olhos cínicos.

- Eduardo? Calma, não é o que você tá pensando.

Eu olho perplexo para aquela cena, sem saber o que fazer. Felipe continua dormindo, esse filho da puta. Esses dois... infelizes. Não acredito que eles fizeram sexo em cima da cama onde eu durmo. Felipe? Não pode ser. Santo Cristo, o que está acontecendo? Não pode ser verdade. Felipe, o garoto destemido que me tirou de um assalto, depois fez eu me apaixonar por ele e enfrentar meio mundo pra ficarmos juntos? É esse o mesmo homem que está deitado após provavelmente um dia todo junto com Caio? Caio? Justo ele? Minha intuição não me engana. Minha visão se escurece, e eu não consigo mais ter controle sobre eu mesmo. Parto pra cima de Caio, pouco me importando se eu vou apanhar ou não. Eu só quero acabar com a raça desse desgraçado. O impacto do meu soco em seu rosto faz minha mão doer, e ele dá dois passos pra trás, caindo na cama. Felipe se acorda num susto, parecendo estar perdido. Ele olha pra si mesmo e depois para a gente.

- mas que merda é essa aqui?

Eu dou uma gargalhada, entre as lágrimas.

- eu é que quero saber que merda é essa, Felipe. Mas acho que já descobri, não se preocupa.

A essa hora, eu não tenho mais vontade de fazer nada. Não quero mover nem um dedo a mais contra Caio. Eu estou muito machucado por dentro pra isso. Não tenho forças. Simplesmente saio porta afora, chorando feito um louco. Estou com o coração doendo. As imagens vêm na minha cabeça em flashes, tudo muito rápido. Eu não consigo acreditar. Que droga. A gente sempre se apaixona e sempre pensa que a pessoa é diferente, e sempre acaba quebrando a cara. Sempre é assim. Exatamente assim. E eu pensei que comigo era diferente. Mas por que seria? Só porque ele foi meu primeiro? Que foi o primeiro e único a mexer comigo? Talvez. Justamente por isso eu o dei uma chance. Porque isso nunca tinha acontecido comigo, e eu sabia o quanto um sentimento igual o que eu tinha por ele era raro. E agora tudo tinha ido por água abaixo. Estou saindo do prédio sem saber pra onde ir. Nem minha mochila eu lembrei de pegar de volta. Estou apenas com meu celular no bolso. Pego-o e disco o número de Marina. Nessa hora ela é a única pessoa que eu penso que possa me ajudar.

Comentários

Há 10 comentários.

Por Dougglas em 2015-12-25 22:24:10
Caraca.. . Eu não sei o que falar sobre isso. Tô com ódio do Caio por ele ser tão atirado. Tô com ódio do Felipe por não ser firme e uma daí vinha mínima do Edu por ele ser tão explosivo. Mas convenhamos, tudo teria feito com que o Edu agisse assim, mesmo tentando se segurar. Enfim, eu vou continuar lendo pq não quero parar nenhum minuto. Parabéns, capítulo incrível.
Por Luã em 2015-09-11 00:55:04
Caramba, estou escutando e lendo a tradução e Fortes, o que é isso? A música bate com tudo! A parte "eu sei que ela era atraente, mas eu estava aqui primeiro." Se encaixou perfeitamente :o
Por Fortes_ em 2015-09-11 00:47:19
"Resentment" da Beyonce define a parte final desse capítulo perfeitamente…
Por Luã em 2015-09-10 21:57:32
Ooi gente! Tudo bom? Então, eu estava ansioso para postar essa parte da história. A coisa tá feia pro lado do Felipe, né? Então, acabou de sair um capítulo novo, agora as coisas podem começar a se esclarecer ou não. Corre lá pra descobrir! (:
Por Niss em 2015-09-09 23:45:29
Poxa, acho que esse foi o capitulo mais triste até agora! Primeiro o enterro e as lembranças do pai dele, e agora essa cena do Felipe com a maldição do Caio!!! Na boa, eu odeio esse cara, e na boa o caralho, odeio msm.... Agora é so esperar o proximo capitulo, e ver no que isso vai dar!!! Kisses, Niss.
Por Felex11 em 2015-09-09 14:24:06
Que historia legal amando tudo
Por BielRock em 2015-09-09 11:52:43
Aí, esse capítulo foi triste. Espero que não tenha tido traição e que tenha sido apenas um mal entendido como disse o Diego daí de baixo, mas se não foi um mal entendido, espero que o Edu não perdoe o Felipe pois traição não é um erro e sim uma escolha. Ansioso para o próximo beijos.
Por drim_ura em 2015-09-09 11:35:06
Muito bom, agurdo ansiosamente pela continuação! Bjo PÊ
Por diegocampos em 2015-09-09 11:32:51
Nossa que nojo desse caio , quero acreditar que foi apenas um mal entendido e que o Felipe não traiu ele é que tudo é culpa do Caio.
Por luan silva em 2015-09-09 09:39:33
ai meus deus, ja chorei e agora tô puto de raiva, mas que merdaaa é essaaa? como o felipe foi capaz, mesmo que nao tenha acontecido nada entre eles, mas so o fatp de ele ter encontrado essr filho da puta do carlos foi um puta erro, só pelo amor de Deus tenta postar o proximo logo... ai que raiva vou chorar :'(