02. Máscaras caem

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Fala galera! Como vocês estão? Segue aqui o segundo capítulo da série, onde as coisas complicam um pouco pro lado de Edu. Boa leitura! (:

Minha segunda feira amanhece chuvosa. Olho para a janela, onde as nuvens cinzentas e carregadas fazem eu soltar uma careta. Justo hoje?

Minhas aulas começariam de uma forma bem melhor se o dia estivesse bonito. Me espreguiço e levanto da cama, indo direto para o banheiro. Já faz alguns dias que conheci Caio, mas ele não sai da minha mente. Nada me tira da cabeça que há algo de errado com ele. Eu definidamente não gostei dele. Mas provavelmente deve ser por meus ciúmes. Eu nunca havia sentido ciúmes do Felipe antes. Mas não posso fechar os olhos para o óbvio. Caio pode ter o que quiser. Além de bonito, deve ser rico, o que combina mais com o estilo de vida de Felipe.

Eduardo, não! Eu não vou ficar pensando nessas coisas. Decido fechar a porta desse pensamento, e me ocupar com qualquer outra coisa. Lavo meu rosto e escovo meus dentes, e então vou arrumar minhas coisas para mais tarde. Coloco meu caderno e meu estojo em cima da cama, para não ter perigo de não achar mais tarde.

É feriado hoje em São Valentim. Logo para minha mãe e a ajudo a fazer uma conta no Skype, para poder ver eles quando a saudade apertar. Meu pai está no taxi, e ela está em casa limpando tudo. Ela não para nunca. Assim que sua conta fica pronta, ligamos a webcam para nos vermos. Quando a vejo, meu coração se aperta. É estranho estar enxergando a pessoa na sua frente, mas não poder tocar, abraçar. Me vem uma vontade de chorar, mas me seguro. Não quero ter esses momentos de drama perto dela. Sei que ela é mais emotiva do que eu, e vai chorar também, além de pensar que não estou bem aqui. Ficamos nos falando por quase duas horas. Depois que desligo o computador, preparo um sanduíche e decido conhecer a academia do prédio. Estou me sentindo inseguro comigo mesmo, e quero ter certeza que vou estar bonito o suficiente para Felipe. Não queria que Caio me afetasse de tal forma, mas não posso evitar. Eu sei que não estou acima do peso ou algo parecido, mas quero definir meus músculos, ficar mais atraente. Isso levantaria minha autoestima. Quando chego, agradeço por ter apenas eu e mais uma senhora idosa que estava usando a esteira. Eu não faço ideia de como começar. Isso é ridículo. Então decido imitar a minha companheira de exercício físico. Subo na outra esteira, e ligo na velocidade mínima. Até que não é tão ruim. Passados alguns minutos, aumento um pouco mais a velocidade, e acho que já está bom assim. Fico na esteira mais uns 10 minutos, e já me sinto exausto. Tomo um pouco de água da minha garrafinha pra reidratar, e tento descobrir como funciona os outros aparelhos. Minha tarde passa rápido, e logo já está na hora de me arrumar. Meu coração já começa a palpitar, e sei que meu nervosismo só vai aumentar.

Subo para tomar um banho demorado e relaxante. Estou ficando tenso por qualquer motivo ultimamente. Isso vai me render cabelos brancos antes dos 30. Escolho uma roupa confortável, mas bonita, para não fazer feio. Pego minhas coisas em cima da cama e vou até a cozinha pegar uma maçã pra comer no meio do caminho, e então sigo para a faculdade. Estou tão animado que não consigo controlar meus sorrisos bobos durante o trajeto todo.

Chego na frente do prédio e já vejo uma movimentação de estudantes. Mais um sorriso bobo. No lado de dentro há uma aglomeração de pessoas. Eu contorno por elas e sigo até a sala onde seria minha primeira aula. Agradeço por ter conseguido achar logo no mural, e não precisar ficar lutando contra a multidão que se espremia para achar sua sala. Subo as escadas até o terceiro andar e não demoro muito a achar a minha. Quando entro já há algumas pessoas que estão mais ansiosas do que eu. Digo isso porque ainda são 18:10, e a aula começa as 19h. Me certifico de pegar um lugar bem na frente, como eu gostava de fazer na escola. É engraçado como tudo parece ser diferente, mas no fundo a escola e a faculdade são totalmente iguais. O mesmo nervosismo, a expectativa por amigos, as preocupações, enfim, tudo. Meu celular toca. É uma mensagem de Felipe.

“Acabei de sair do trabalho meu amor. Boa sorte no seu primeiro dia de aula. Quando você sair me avisa, eu vou te buscar. Te amo.”

Suspiro ao ler o texto. Esses pequenos gestos parecem não ter muita significância, mas pra mim são tudo. Fico mexendo no meu celular para o tempo passar mais rápido. Checo meus emails, redes sociais e apago alguns lembretes antigos que já não precisava mais. Felizmente, logo o sinal toca, e a sala começa a lotar aos poucos. Tantos rostos novos, tantas pessoas realizando seus sonhos. Pra mim isso é mágico. A professora logo passa pela porta, e parece ser super simpática. Me lembra um pouco a professora Hermes. Eu rio ao lembrar dela. Por incrível que pareça, vou sentir falta dela também. Minha nova professora Hermes é baixinha, cabelos pretos e curtos, e usa óculos de grau.

- boa noite alunos! Bem vindos à UFCSPA. Meu nome é Marta e vocês terão aula de Sociologia na Alimentação e Gastronomia comigo. Se precisarem conversar ou me dar feedback sobre as aulas, eu estou sempre a disposição. Vamos começar se apresentando, porque eu sei que vocês adoram isso.

Ela enfatiza as duas últimas palavras e começa a rir, ouvindo o protesto de alguns assim que ela termina de falar. Todos já se sentiam a vontade com ela, mas a parte de falar na frente de todos nunca é algo fácil. Meus colegas começam a falar por ordem de posição na sala, ou seja, eu sou um dos primeiros. Quando chega minha vez, eu respiro fundo e tento praticar meu texto que formulei em mente enquanto minha vez não chegava.

- e você, moço bonito? De onde você é e porque escolheu o curso?

- bem, oi, eu me chamo Eduardo.

- prazer Eduardo. – a professora responde simpática, e olha para os alunos, lembrando-os da resposta padrão que temos que dar toda a vez.

- oi Eduardo!

As vozes das dezenas de alunos presentes me fazem corar um pouco. Isso é tão desnecessário. Mas vou passar por isso.

- e eu decidi seguir esse curso porque sempre fui apaixonado por gastronomia. Cozinhar sempre foi tudo pra mim. E é isso, eu acho.

Apesar de muito tímido, acabo me saindo melhor do que pensei. Todos batem palmas e eu me sento de volta, morrendo de vergonha. Mas a professora sabe como conduzir uma aula. Todos estavam com suas atenções presas nesse momento. Após todos se apresentarem, ela passa o plano de aulas do semestre e nos dá uma lista de livros pra ler no máximo em um mês, para discutirmos posteriormente.

O resto da noite se passa quase que igual, com apresentações dos professores e alunos e a divulgação dos conteúdos desse primeiro semestre. E eu estou adorando tudo. Quando vejo já está na hora de irmos embora, e eu mando uma mensagem para Felipe avisando que já estou esperando por ele. Cerca de vinte minutos depois, avisto seu Ecosport estacionando na calçada. Entro no carro com um sorriso bobo, e ele parece estar animado para saber todos os detalhes.

- ei.

- ei. Como foi o primeiro dia?

Ele me da um beijo breve, e eu me aqueço.

- foi ótimo! Tirando a parte embaraçosa das apresentações, foi tudo muito bom.

- que bom. E já conheceu alguém?

- não. Você sabe que eu sou fechado, então é difícil eu puxar assunto. Mas tem bastante gente que parece ser legal. E no trabalho, como foi?

- foi bem também. Tinha muita coisa pra fazer, então a hora passou rápido.

Seguimos até em casa conversando sobre nosso dia, e assim que chegamos eu vou direto pra cama. Estou tão cansado, apesar de não ter feito nada demais. Vejo que quando minha rotina começar a ficar agitada de verdade, eu vou virar um bagaço.

São quase 9h quando eu acordo de um sono profundo. Essa foi uma daquelas noites em que você dorme bem, mas passa rápido, dando a impressão de que mal fechou os olhos e já acordou. E eu também não sonhei com nada, o que é raro. Só então me dou conta de que Felipe já havia saído, e eu fico triste. Estou perdendo a parte do café da manhã com ele, e sei que isso não é legal. Eu não gosto de fazer minhas refeições sozinho, e imagino que ele também não. Decido lhe mandar uma mensagem de bom dia, numa tentativa de compensar minha ausência. Me espreguiço e sinto que hoje eu estou com energia. De repente me bate uma vontade de ir novamente na academia. Eu quero muito seguir com essa ideia adiante. Isso me ocuparia toda a manhã. Começo a achar isso uma ótima forma de me distrair, além de estar fazendo bem pro meu corpo.

O dia está lindo, e eu estou animado. Entro na academia e me sinto aliviado pelo que vejo. Dessa vez não há mais ninguém junto comigo, então me sinto bem mais à vontade. Começo a usar a esteira, e quinze minutos depois eu começo a fazer musculação. Vejo que estou tendo mais técnica pra usar os aparelhos também, e me sinto orgulhoso disso. Quando subo novamente para o apartamento já são quase 11:30. Tomo uma ducha rápida, e então vou preparar algo para almoçar. Não quero nada muito pesado. Vou começar a me policiar na alimentação. Tenho que comer coisas mais leves se eu quiser que meu esforço dê resultado. Vou até a geladeira e olho para o que eu posso fazer pro almoço. Pego atum, tomate, manga, repolho roxo e azeitonas para fazer uma salada. Coloco o arroz na panela e deixo a água absorver enquanto pico os vegetais. Tudo fica pronto muito rápido. Mas é estranho. Eu não costumo comer coisas tão leves assim. Parece que eu ainda estou de estômago vazio. Termino de comer com uma sensação de orgulho por estar focado no meu plano, e lavo o pouco de louça que eu havia sujado.

Logo já está na hora de começar a me arrumar pra faculdade. Isso me anima. Eu estou tão feliz com o início das aulas, que isso tem me distraído da minha angústia de ainda não ter emprego. Pelo menos agora eu tenho o que fazer todos os dias.

O sol começando a se por no horizonte, e o céu me presenteia com sua gama de cores espetaculares, com tons de laranjas e azuis; as pessoas apressadas o tempo todo em todo lugar, o ritmo de vidas apressadas que não diminui nunca. Quando desço do ônibus, meu telefone toca. É um número que não conheço. Estranho. Atendo e uma voz masculina fala do outro lado da linha.

- alô, Eduardo?

- sim, quem é?

- aqui é Ricardo, da livraria Pinheiro. Você entregou um currículo aqui a alguns dias. Você já está trabalhando?

Ai meu Deus! Finalmente.

- oi Ricardo! Não, não estou!

- ótimo. Você poderia passar aqui amanhã pra gente conversar?

- claro! Que horas?

- 10h. Vou ficar te esperando então. Até amanhã.

- até amanhã!

Desligo o celular e então eu surto. Estou tão feliz! Eu tenho que dar meu máximo. Estou quase dando pulos de alegria no meio da rua.

Decido ligar para Felipe e contar a boa notícia. Estou discando seu número quando ouço um barulho de carro freando bruscamente perto de mim. Meu coração dá um soco dentro do meu peito e eu olho para o lado em reflexo. Estou em uma rua calma perto da faculdade, e um Gol do modelo bolinha de cor bordô está parado a 5 centímetros de mim, e uma garota sai enfurecida e apavorada ao mesmo tempo do lado do motorista.

- você tá maluco? Não olha pros lados não?

- me desculpa. Eu me distrai com o celular.

- caramba cara você quase me mata de susto. Tenha mais cuidado.

- vou ter, pode deixar. E desculpa de novo.

Eu estou morrendo de vergonha. E aliviado também por seu carro ter um bom freio. Olho para ela e seu rosto me parece familiar. Ela também parece estar me encarando.

- você estava na mesma sala que eu ontem na primeira aula, certo?

Claro. Eu conhecia ela das apresentações.

- acho que sim. Seu rosto não me é estranho.

Ouvimos um barulho de buzina logo atrás do carro, então percebemos que ainda estamos no meio da rua conversando.

- entra ai, eu te levo até lá.

Eu decido aceitar. O motorista impaciente buzina mais uma vez, e a menina levanta o dedo do meio pra ele. Bem, ela tem um temperamento forte.

Estamos dentro do carro, arrancando em direção a UFCSPA. Agora eu estou mais calmo. Acho que vou esperar pra avisar Felipe depois.

- acho que você não me disse seu nome

- é Eduardo. E o seu?

- Marina.

- bem, prazer Marina.

- você não é daqui né?

- não. Parece tão óbvio assim?

- um pouco. Seu jeito é um tanto caipira, e qualquer pessoa aqui de Porto Alegre teria mais cuidado atravessando a rua, sabendo como é o movimento.

Começamos a rir, e eu me sinto aliviado. Ela parece ser gente boa.

- você já tem lugar pra morar aqui?

- já.

- legal. Eu demorei um pouco pra conseguir.

- você mora perto daqui?

- mais ou menos, é numa república que fica a uns 10 minutos de carro.

- república? Deve ser demais. Moram muitas pessoas lá?

- são 4 comigo. Eu, meu irmão, uma amiga que veio comigo pra cá e minha namorada.

Namorada? Que demais! Acabo de gostar ainda mais dela.

- e você? Mora onde?

- num apartamento no Rio Branco. É perto do centro.

- mora sozinho?

- não. Moro com meu namorado.

Essa é a primeira vez que eu falo isso e não me sinto receoso. Sinto que estou a vontade com ela. Quando falo que tenho um namorado, ela parece surpresa, e feliz também. Nossas reações se parecem muito.

- você não parece ser gay. Digo, isso é demais!

- bem, eu vim de cidade pequena. Lá eu tinha que ter cuidado para não dar assunto pro pessoal que fica cuidando da vida dos outros, sabe?

- eu sei bem, também vim de cidade pequena e dei graças a Deus quando eu sai de lá.

- você é de onde?

- Lajeado. Conhece?

- já ouvi falar.

- digo, lá é muito bonito e tudo mais, mas tem o mesmo defeito que todas as cidades pequenas tem:

- gente fofoqueira.

Nossas vozes se encontram, e falamos a mesma coisa ao mesmo tempo. Isso nos faz rir. Então, chegamos na faculdade. Logo o sinal toca e a gente segue para nossas aulas. É bom ter encontrado uma amiga. Apesar da situação em que a gente se conheceu, foi bem legal. E eu ainda estou em êxtase pela ligação. Eu preciso dar o meu melhor nessa entrevista.

Minha noite passa rápido, e quando vejo já está na hora de ir embora.

Espero Felipe ansioso para lhe contar a novidade. Quando ele chega, eu entro no carro e mal consigo conter minha alegria. Ele percebe e fica com o olhar curioso.

- o que foi?

- eu consegui uma entrevista!

Ele me olha incrédulo, e solta um sorriso instantâneo.

- meu Deus Edu isso é maravilhoso!

- eu sei!

E então eu estou quase pulando no banco. Ele segura meu rosto com as duas mãos e me beija.

- eu te disse que você ia conseguir, lembra?

E então, me beija de novo.

Seguimos até em casa ambos em êxtase pela novidade. Eu lhe conto como havia sido a ligação, e logo depois sobre Marina. Ele fica feliz por eu ter encontrado uma amiga.

Chegamos em casa e eu me sinto faminto. Só então percebo que estava de estômago vazio o dia todo. Corro pra cozinha preparar algo, mas não posso fazer nada muito pesado. Estou quase no ponto de pedir três pizzas grandes e devora-las sozinho, mas jogaria fora meu esforço. Faço isso por Felipe. E é pensando assim que eu vou tentando seguir adiante com essa minha ideia maluca. Vou até a geladeira e analiso minhas opções. Decido fazer apenas uma salada de frango desfiado com tomate, alface e cenoura. É algo prático e saudável. Depois que eu pude conhecer o novo amigo super gostoso, rico e charmoso de Felipe, quero me cuidar. Quero ficar bonito pro meu namorado. Eu sei que é algo estúpido, mas me sinto inseguro. As vezes tenho medo de que Felipe se canse da minha personalidade sem sal e queira outra pessoa mais interessante pra ele. E eu tenho medo de que esse tal Caio seja esse cara.

Ele chega perto do pote e observa a minha salada. E então reprime um riso.

- o que foi?

- essa é a nossa janta?

- sim. Por que?

Ele semicerra os olhos, a expressão brincalhona.

- impressão minha ou você está querendo entrar na onda fitness?

Eu reviro os olhos.

- sim, eu estou. Quero ficar bonito pra você. Algum problema?

- sim.

- qual?

- isso não vai matar minha fome.

Eu reviro os olhos e ele balança a cabeça rindo, em desaprovação.

Vou até o secador de louças pegar nossos pratos, enquanto ele me olha com um ar de desaprovação, mas reprimindo um riso. Eu quero muito rir também e dizer que estou louco pra devorar um boi pela perna agora, mas preciso aguentar firme.

Estou servindo a comida em nossos pratos enquanto ele se senta.

- eu fui na academia hoje de novo.

Ele ergue uma sobrancelha.

- foi?

- fui ué. Por que?

Ele pende a cabeça pro lado, me analisando por uns segundos.

- às vezes você é tão bobo.

- por que?

- sua insegurança.

- eu não estou inseguro. Só quero ficar bonito pra você. Eu já disse.

- você não precisa se preocupar em ficar bonito pra mim. Sabe por que?

- hum.

Ele se levanta da sua cadeira e a puxa até a mim, ficando do meu lado.

- por que você já é lindo. E além de lindo, tem um caráter incrível. Eu te amo pelo que você é Edu, e não acho que você precise mudar em nada.

Bem, eu não esperava por isso. Eu acabo me derretendo, e lhe dou um beijo intenso. Eu sei que é besteira, mas sim, eu me sinto inseguro. Perder Felipe é algo que eu não consigo nem imaginar. Quero sempre ser o homem certo pra ele. Me levanto da mesa para lavar a louça e só então sinto o cansaço bater forte. Meus dias estão ficando cada vez mais intensos, e eu sinto que está só no começo. Mas estranhamente, eu gosto disso. Quero sentir essa correria, isso me faz sentir vivo, útil. Deito na cama e adormeço rapidamente, com Felipe me abraçando por trás.

Minha ansiedade não me deixou dormir direito essa noite. Eu durmo um pouco e acordo, e assim foi até agora de manhã. O despertador de Felipe toca, e eu já estou acordado. O barulho rompendo o silêncio absoluto me assusta. Eu preciso aprender a controlar minha ansiedade. Espero que eu não boceje durante a entrevista, ou que eu não esteja com olheiras. Felipe se mexe na cama e tateia no criado mudo para achar o celular e desligar o despertador. Em seguida se vira pra mim e me vê acordado. Eu sorrio pra ele, e ele pra mim.

- bom dia.

- bom dia. Por que tá acordado tão cedo?

- não consegui dormir direito.

- você tem que parar com isso.

- é, eu sei. Mas não foi tão ruim. Pude te ver dormir. Você é ainda mais lindo dormindo.

Ele parece ficar um pouco sem jeito, mas se aproxima e me da um beijo de bom dia. Eu fico apreensivo por meu hálito matinal, mas acho que isso é besteira. Agora estamos morando juntos, e isso vai ser só uma das várias coisas que vamos nos acostumar. E eu amo isso. Nossa intimidade ficando mais forte. Ele se levanta e caminha sonolento até o banheiro, e eu fico hipnotizado olhando para aquele corpo maravilhoso de costas, vestindo apenas uma cueca preta bem colada e delineando sua bunda. Felipe é um espetáculo de homem. Além de ser amoroso, gentil e batalhador, é muito bonito. Acho que nunca vou me acostumar com a ideia de que ele é meu. As vezes isso parece loucura.

Me levanto e vou até o banheiro para escovar meus dentes. Felipe está tomando banho, e cantarolando musicas aleatórias. Olho para meu rosto no banheiro e fico aliviado por não estar com olheiras. Mas estou com aspecto de cansado.

Não devo ficar sem dormir na véspera de algo importante. Não devo ficar sem dormir na véspera de algo importante.

Fico repetindo isso em minha cabeça para me certificar que isso não irá se repetir. Felipe abre a porta de vidro do box e coloca a cabeça pra fora.

- Edu?

- oi.

- me alcança a toalha?

- claro.

Eu vou até a gaveta debaixo do enorme tampo de mármore escuro da pia e pego uma toalha limpa. Me levanto e olho para ele, que está com a porta totalmente aberta agora, revelando seu corpo molhado, com um pouco de espuma na barriga e nos braços. Essa é uma bela vista pra mim. Quando me aproximo para lhe alcançar, ele me puxa e em segundos estou debaixo da água, de roupa e tudo. Com o susto, eu solto um grito de “não”, mas já é tarde. Ele está rindo agora, e apesar de eu querer estar com raiva, eu não consigo. Então eu lhe beijo. Eu estou sentindo tantas coisas de uma vez só, que só um beijo poderia me acalmar. Um beijo apaixonado, com vontade, intenso. Sinto sua língua quente e molhada percorrer minha boca, e isso me deixa de pernas bambas. Seu toque é inebriante. Eu retiro minha camiseta e minha cueca, e fico nu assim como ele.

- isso facilita bastante . – ele fala soltando um sorriso malicioso.

- muito sugestivo.

Então, voltamos a nos beijar. Dessa vez, sou eu quem coloca Felipe contra a parede. Eu quero assumir o controle agora. Ele parece gostar da minha atitude, e me deixa a vontade pra fazer o que eu quiser. Mas eu não quero fazer o mesmo de sempre.

- você se importa se não sair mais cedo hoje?

Ele sorri, me olhando com certa curiosidade.

- não.

- ótimo.

Então, eu desligo o chuveiro e pego outra toalha para me secar. Ele faz o mesmo, mas me olhando a todo instante para tentar saber o que eu quero.

- vai indo pra cama, eu já volto.

Então, eu desço até a cozinha e vou até a geladeira. Eu espero que tenha o que eu procuro. Se não me engano, tinha visto ontem. E lá está ela, na porta da geladeira. Pego a calda de chocolate e volto para o quarto. Quando entro, Felipe está deitado de barriga pra cima, com o pênis levemente duro e encostando em sua barriga. Ele vê o que eu tenho na mão e sorri, incrédulo.

- quero testar uma coisa.

- à vontade.

Subo na cama e fico em seus pés, admirando cada detalhe dele. Abro a tampa da calda e vou até seu peito, derramando um pouco em seu mamilo. Acho que está gelado, e quando a calda cai em contato com sua pele ele se assusta e começa a rir. Então eu me abaixo e começo a chupar seu mamilo, não tirando os olhos dos seus. A julgar por seu olhar, ele gosta, pois parece que está fora de si. Eu abro novamente a tampa e jogo no outro mamilo, e repito o processo. A sensação é única. Então, é a vez da barriga. Derramo um fio de calda desde o tórax até abaixo do umbigo, e depois lambo de baixo pra cima, subindo até chegar em sua boca. Estamos explodindo de prazer. Nosso beijo é mais intenso. Pra finalizar, eu coloco um pouco de calda em seu instrumento duro e latejante. E tenho que admitir que é a melhor parte.

Minha boca está salivando muito, babando por esse mastro melado. Eu encosto minha língua na ponta dele, e ele estremece com meu toque. Eu eu amo isso. E então, eu afundo minha boca em seu pênis, o colocando inteiro na minha boca, e tentando fazer o melhor sexo oral que eu poderia ter feito antes. Eu acho que estou no caminho certo, pois ele já está gemendo baixinho, com sua voz abafada. Isso me estimula a tentar mais. Começo a usar minha língua como minha aliada, passando-a freneticamente em todo seu pênis, que já está vazando lubrificação. O gosto do chocolate é ótimo, e deixa tudo ainda mais excitante. Minhas mãos estão ansiosas por seu corpo, percorrendo seu abdômen, seu peito, suas pernas... Quero sentir todo seu corpo. Eu estou com muito tesão.

- Edu, desse jeito eu vou gozar.

Ah sim, mas esse é o meu objetivo. Quero fazê-lo gozar em minha boca. Quero estimulá-lo até chegar em seu limite. E eu não paro. Muito pelo contrário, faço de tudo para aumentar seu prazer. Suas mãos estão segurando firme no lençol, e eu vejo que está vindo. E eu quero receber cada gota. Então, seu pênis explode dentro de minha boca, liberando jatos de esperma quentes e deliciosos, e eu adoro sentir o gosto. Ele se contorce na cama e ouço seu gemido reprimido, e sua respiração irregular. Minha boca está toda lambuzada, e eu engulo tudo com gosto. Ficamos em silêncio até que ele esteja de volta a si. Eu nem precisei ejacular para sentir prazer. Esses momentos em que fico tão íntimo de Felipe são tão intensos pra mim, que eu fico louco apenas de tocar em sua pele. Não consigo explicar.

- você não tem jeito Eduardo.

Ele me olha e sorri, e eu o beijo. E então, ele volta ao banheiro para se limpar e colocar sua roupa. Ele precisa se apressar, pois a essa hora em outros dias ele já estaria saindo de casa. Em poucos minutos ele já está pronto, me dando um beijo de despedida. Ele fica tão bonito com essa camisa social rosa pálido e calça de sarja off white com corte tradicional. Cai muito bem nele.

Felipe mal sai pela porta, e eu já vou correndo me arrumar. Santo Cristo, eu não posso me atrasar. Tomo um banho rapidamente e coloco minha camisa azul que Felipe me dera no outro dia. Espero que dê sorte. Pego minha pasta com um currículo e alguns certificados de cursos e outros documentos que poderiam ser úteis e sigo com o coração pulando dentro do meu peito para o ponto de ônibus.

Chego em frente à livraria e respiro fundo. Vai dar tudo certo. Eu tenho que pensar positivo. Quando passo pela porta já procuro por Ricardo, e não demoro muito para achá-lo. Ele é um homem de meia idade muito atraente, elegante e aparentemente simpático. Tento controlar minha ansiedade enquanto caminho até ele para cumprimenta-lo.

- Ricardo?

- sim, sou eu.

- eu sou o Eduardo. Tudo bem?

Eu estendo minha mão para cumprimentá-lo, e ele sorri ao ouvir meu nome.

- prazer Eduardo.

Ele olha para o relógio, e fico feliz porque eu fui absurdamente pontual.

Seguimos para uma sala onde fica uma mesa com um computador, impressora e um armário. Há muitos documentos em cima da mesa. Suponho que esse seja o escritório de Ricardo. Ele faz questão de me deixar muito bem à vontade durante toda a nossa conversa, e suas perguntas são bem objetivas. Eu lhe conto sobre minha vinda recente para morar aqui, e ele fica admirado por minha coragem.

- bem, eu acho que já consegui ter informações o suficiente. Eu gostei muito de você Eduardo.

Ele se move com a cadeira até sua mão chegar na impressora, e então coloca um documento na minha frente.

- esse é seu contrato. Pode ler com calma, e se tiver alguma dúvida pode perguntar.

Eu não posso acreditar. Eu consegui? Sim eu consegui! Eu estou tão feliz agora, que quero pular em seu pescoço e agradecer muito, mas seria bastante inconveniente. Eu me controlo o máximo que posso, mas não consigo esconder minha euforia ao conseguir a vaga. Passo meus olhos rapidamente sobre o contrato e o assino um pouco trêmulo.

- você tem até o fim da semana para fazer o exame admissional. O endereço está anotado na sua via do contrato. Você começa segunda.

- muito obrigado Ricardo! Eu fico muito feliz pela oportunidade, de verdade!

Eu aperto sua mão novamente, e então me despeço dele e saio com o envelope com as papeladas e minha pasta de documentos. Nem foi preciso deixar meu currículo com ele ou mostrar meus certificados. Eu estou com minha cabeça nas nuvens.

Já é quase meio dia quando eu estou no ônibus indo de volta pra casa, e mando uma mensagem pra Felipe.

“Consegui!!!! Começo na segunda feira. Eu estou tão feliz!”

Mas não recebo resposta. Ele deve estar ocupado. Chego em casa e ainda não acredito que foi tudo tão rápido assim. Estou subindo as escadas em direção ao quarto quando meu telefone toca. É Felipe. Atendo e ele já começa a falar do outro lado da linha.

- parabéns meu amor! Eu estava com a minha cabeça na sua entrevista o tempo todo aqui.

- obrigado meu amor. Lá é um lugar incrível, e Ricardo parece ser uma ótima pessoa. Acho que vou adorar trabalhar lá.

- eu tenho certeza que vai. Eu tenho que voltar ao trabalho agora, vou almoçar um pouco mais tarde hoje. Qualquer coisa me mande uma mensagem, assim que puder eu te retorno.

- tudo bem. Bom trabalho. Te amo.

- eu também te amo. Até mais tarde.

Nessa hora, estou do lado da cama, e me jogo nela pensando em como será meu primeiro dia na livraria. É algo totalmente novo, já que eu apenas havia trabalhado no restaurante e na floricultura. Não tenho experiência com empresa grande, e pelo que eu li na internet a rede Pinheiro tem muitas lojas. Fora que é um universo diferente pra mim, mas eu estou animado e curioso.

Estou a caminho da faculdade quando Felipe me liga novamente.

- ei, tá onde?

- saindo do trabalho agora, e você?

- quase chegando na faculdade.

- te liguei pra avisar que o caio quer sair com a gente no sábado à noite. Ele disse que tem um bar ótimo que ele quer que a gente conheça. Também acho que é uma boa forma da gente comemorar seu novo emprego.

Eu faço uma cara azeda. Sair com Caio? Não me soa tão bom. Mas não vou ser desagradável. Felipe parece entusiasmado.

- parece legal.

- perfeito. Eu vou falar pra ele então. Chama a Marina pra ir junto, seria legal conhecer ela.

- claro, eu vou falar com ela hoje. Eu vou indo nessa, a gente se fala depois.

- tá bom. Se cuida, te amo.

- eu também.

Encerro a chamada e ja me sinto arrependido se ter aceitado. Mas eu não vou dar pra trás. Talvez seja apenas implicância minha. Mas nunca vou saber se eu não tentar. Entro na sala de aula e já avisto Marina. Vou até ela para dar oi.

- e aí caipira, parece animado hoje.

- sim, eu estou. Consegui um emprego!

- isso é ótimo!

Ela parece estar realmente feliz por mim. Tenho bons pressentimentos em relação a Marina. Ela parece ser uma boa amiga.

- é, eu sei, eu estou muito animado!

Paro um pouco e penso que ela pode me salvar desse lance de sábado.

- Marina, eu vou sair com o Felipe e um colega de trabalho dele no sábado à noite. Vamos junto? Felipe quer te conhecer.

- claro, eu também quero conhecer ele. Onde vocês vão?

- acho que é em um bar, não sei o nome, mas dizem que é ótimo.

- tudo bem, eu vou falar com a Barbara e te dou a resposta amanhã, tudo bem?

- claro.

Só então que eu fico animado em ir. Se elas forem junto, eu não corro o risco de ficar de lado enquanto os dois conversam sobre a agência e a faculdade. Além do mais, quero conhecer a namorada da Marina, e aproveitar meu ultimo final de semana livre. Depois minha vida aqui em Porto Alegre começa de verdade.

Estou em frente das minhas roupas e sinto raiva de mim mesmo. Estou naquele momento em que sempre achei que fosse frescura, mas eu não consigo achar uma roupa sequer que possa servir pra sair. Acabo de sair do banho, e estou com a toalha enrolada na cintura, sentindo um pouco de frio, e eu só preciso achar uma droga de roupa que seja perfeita pra sair. Felipe me disse que é um bar com música ao vivo, então eu não preciso ir tão arrumado. Mas eu faço questão de estar decente. Por fim decido usar minha camisa social cinza claro, dobrada até o cotovelo, com os dois primeiros botões abertos, revelando um pouco do meu peito. Isso me da um ar mais despojado e sexy, e é exatamente o que eu quero hoje. Completo colocando uma calça jeans escura, uma das mais justas que tenho, e um sapatênis. No pulso, meu relógio prata que quase não uso. Mas hoje é uma ocasião que vai cair feito uma luva. Minha barba ainda está por fazer, um pouco maior, e eu amo que meu rosto está mais adulto. Me olho no espelho. Para mim está perfeito. Ouço a porta abrindo e depois fechando. É Felipe. Logo depois ele aparece na porta do quarto, vindo em direção a mim, e quando me vê vestido assim, parece surpreso e satisfeito.

- você tá lindo.

- obrigado.

Eu fico um pouco sem jeito, e ele me me dá um beijo e vai direto pro banheiro tomar banho. Estamos quase atrasados. Ouço o barulho do chuveiro ligando, enquanto coloco um pouco de perfume. Felipe tem a incrível qualidade de se arrumar rapidamente. Em poucos minutos ele já estava de banho tomado e arrumado, com sua camisa jeans clara, calça jeans e uma bota estilo militar. Ele está tão sexy pra mim, que se não tivéssemos marcado horário com a Marina eu faria a gente se atrasar um pouco.

Assim que chegamos avisto Caio. Eu vou tentar tirar essa minha ma impressão que tive no primeiro encontro. Ele está vestindo uma roupa bem casual, mas não deixa de estar bonito. Penso até que me arrumei demais, mas não me importo. Chegamos até a mesa e ele se levanta para nós cumprimentar.

- pensei que iam furar. – ele está sorridente, com a voz aveludada de sempre. – e estão bem arrumados, me faz parecer desleixado perto de vocês.

Não se se é deboche, mas prefiro não ligar. Ele deve saber o grau de beleza que tem, e mesmo estando vestindo algo mais simples ainda atrai olhares. Percebo que ele começa a olhar novamente pra Felipe de maneira estranha, do mesmo jeito que olhava aquele dia no restaurante. Meu estômago se embrulha. Não, não era má impressão. Bem, vejo que essa vai ser uma noite daquelas. Onde está Marina? Só ela pra me distrair um pouco a essas horas. Termino de pensar nela e ela aparece na porta do bar, muito bonita por sinal. Está vestindo uma calça jeans skinny, uma jaqueta de couro preta e uma camiseta vinho por baixo. Seu cabelo ruivo natural está solto e caindo em ondas sobre os ombros. Ela nos enxerga e vem até nós, mas vejo que está sozinha. Onde estará Bárbara? Quando se aproxima de mim pra me dar um abraço, eu sussurro em seu ouvido.

- você é a minha salvação.

Ela sorri, mas não fala nada. Gosto que ela entende as coisas rápido.

- Felipe, essa é a minha amiga Marina. Marina, esse é o meu namorado Felipe, e o seu amigo Caio.

Ela os cumprimenta, e então se senta do meu lado. Há uma banda tocando no palco do outro lado do bar. A música é ótima, e o clima do lugar é muito aconchegante.

- onde está a Bárbara?

- não tava se sentindo muito bem, pediu desculpas mas ficou em casa descansando. Ela trabalhou até tarde hoje.

- queria tanto conhecer ela. É uma pena, mas eu entendo. Espero que ela melhore logo.

Eu olho para os dois no outro lado da mesa, que estão animados conversando sobre vários assuntos desde que eu cheguei. Parece que eu nem estou aqui. Isso era tão previsível, mas me irrita. Marina logo percebe que estou desconfortável.

- ei, qual o problema?

Tenho medo de que eles escutem, então decido conversar longe deles. Faço sinal com a mão para ela esperar.

- amor?

Eu nunca chamo Felipe assim. Mas estou com tanta raiva e quero deixar claro pra Caio quem de fato é namorado de quem aqui.

- oi amor.

- eu vou no banheiro com a Marina. Já volto.

- tudo bem, não demorem.

Então, eles voltam a conversar sobre as coisas da agência, e então eu me levanto e a gente vai em direção ao banheiro, e ficamos parados no corredor, onde a música já não é tão alta.

- o que foi Edu?

Eu suspiro fundo. Preciso desabafar.

- é esse amigo do Felipe. Ele parece engolir o Felipe com os olhos enquanto conversam. E eu não sei se Felipe percebeu ou não, mas isso tem me deixado chateado.

- eu não sei, mas eu bati o olho nesse cara e não gostei dele. Algo me diz que ele não é boa pessoa.

Eu fico surpreso, pois pensei a mesma coisa quando o vi pela primeira vez. Será apenas coincidência? Ou ele realmente não presta?

- eu também não tenho uma boa impressão sobre ele. Mas não posso fazer nada. São colegas de trabalho.

- mas não fica assim. Pelo pouco que eu conheço o Felipe, ele te respeita acima de tudo. Não fica encucado com isso.

- é eu sei, eu não queria ter ciúmes, mas não consigo.

Ela me olha e bate no meu braço, em um gesto de camaradagem.

- vem, vamos voltar lá e você vai estar mais confiante do que nunca. Mostra quem manda nessa merda.

Eu sorrio, e fico feliz porque pelo menos tenho Marina aqui comigo. Decido criar um pouco de confiança e seguir o conselho de minha amiga. Logo estamos de volta na mesa, e eles parecem não ter parado de conversar nem um minuto enquanto estávamos fora. Estão super entrosados. Felipe me vê e sorri, e eu tento não sentir raiva, mas ele parece ser a única pessoa no mundo que não percebe que Caio não presta.

- ei, demoraram.

- desculpa, a Marina demorou pra sair e eu esperei ela.

- a gente tá querendo ir numa balada aqui perto. O que vocês acham?

Assim que Caio termina de falar, eu volto a olhar para Felipe, que parece animado mas não dá sua opinião, esperando pela minha. Eu olho para Marina, que está me olhando com a expressão tipo “tá esperando o que pra dizer que sim e mostrar quem manda?”

- claro, vamos lá.

Meu olhar confiante queima Caio discretamente, que me olha sorrindo, com um olhar que me parece desafiador. Parece que ele quer disputar o meu namorado comigo? Bem, se essa for a intenção, ele vai se dar muito mal. Seguimos por alguns minutos de carro até a balada em questão. Caio está na nossa frente, e Marina está logo atrás de nós. Quando chegamos em frente ao prédio enorme com um letreiro bem chamativo escrito “Diesel”. O clima é bem undergrond, e parece ser bem bacana. Já de cara avisto uma pequena fila para entrar. Ficamos esperando por um tempo até conseguirmos comprar os ingressos. Estou conversando com Marina sobre minha cidade, e só então que paro de pensar um pouco na situação chata que eu estava até agora a pouco. Falar de São Valentim é sempre um misto de alegria e tristeza pra mim. Descrevo os pontos mais bonitos da cidade, e ela diz que quer visitar algum dia. E então, estamos dentro da boate. É grande, com muitas luzes e está tocando Omen, do Disclosure com Sam Smith. Caio começa a dançar, mexendo os quadris de forma sensual e exibindo a calça jeans apertada. Ele chama Felipe pra dançar também, que já estava entrando no clima da música. Felipe me olha para ver se há algum problema, e eu o aceno que sim. E então, eles começam a dançar. Eles parecem estar em sintonia. Caio está jogando todo seu charme, mas Felipe está apenas dançando. Eu me sinto tão mal, que já quero ir embora. Eles parecem ter química. E eu não consigo fingir que está tudo bem. Marina está do meu lado começando a dançar. Ela me puxa para falar no meu ouvido.

- animação!

- não dá. Eu não consigo ver essa cena.

Ela olha pros dois, que estão um pouco à frente da gente.

- não tem nada demais. E só uma dança. Mas se você não gostar, reage.

E então, é isso mesmo que eu decido fazer. Eu começo a dançar, um pouco sem jeito, mas vou me aquecendo e chegando perto deles, e então estou do lado de Felipe. Ele me vê e sorri, e eu fico parado em sua frente, com nossa dança em sintonia. Ele pega minha cintura e conduz o ritmo de nossos quadris, e eu o beijo. O beijo com vontade, e eu me sinto ótimo por isso. Um beijo dominante, de tirar o fôlego , mostrando que eu estou de olho aberto e observando tudo, e que Felipe é meu. Quando nos separamos, continuo dançando e olho para Felipe, que está sorrindo incrédulo, mas feliz. Olho discretamente para Caio, que está um tanto sem jeito, e depois para Marina, que parece estar feliz por eu ter tomado uma atitude. Ela me mostra o polegar, em sinal de positivo , e eu sorrio. Me sinto um pouco estanho. Esse não é o tipo de atitude que eu costumo ter. Esse também não é o meu tipo de ambiente. Mas eu quero ver até onde isso vai. E de repente, eu estou envolvido no ritmo da música, e puxo Marina para perto de mim, e sorrio pra ela, feliz por ter finalmente tido coragem de tomar a frente. E então estamos dançando todos juntos, aparentemente normais, mas eu e Caio sabemos que há eu quero esfolar sua cara vivo nesse momento. Há muitos homens gays e bonitos em Porto Alegre que estão solteiros, então eu espero que ele largue do pé de Felipe. Meu recado já está dado, e eu espero que ele tenha entendido.

Mas não posso negar que o ambiente está pesado, e vejo que Caio tenta novamente engatar uma dança animada com Felipe. Ele está suado, com sua camiseta colada em seu corpo, revelando um peito super definido e uma barriga trincada. Posso jurar que ele está excitado por Felipe. Percebo um volume em sua calça, enquanto ele está dançando na frente do meu namorado. Bastardo. Eu não estou mais no clima de festa, se é que eu estive em algum momento dessa noite, e então peço para Felipe para irmos embora antes que eu acabe quebrando a cara desse filho da mãe.

- Felipe, vamos embora?

- mas a gente recém chegou.

Ele me olha surpreso.

- se você quiser pode ficar, eu vou embora com a Marina.

A essa hora, eu já estou visivelmente irritado. Se ele quiser pode ficar com seu amigo perfeito e super disponível que está louco pra beijá-lo a noite toda. Eu só quero ir embora.

- não Edu, não precisa. Vamos embora então.

Felipe está um tanto chateado, e acho que ele não está entendendo nada. Caio está com uma expressão cínica, e eu mal me despeço dele. Eu estou muito mal. Nunca havia ficado com tanta raiva ou ciúmes antes. É algo que não consigo controlar.

Estamos todos do lado de fora da boate, e Felipe está se despedindo de Caio, perto do seu carro, enquanto eu me despeço de Marina perto do seu.

- Edu, vai com calma. Não vá brigar com o Felipe.

- eu sei. A minha vontade é de pegar o Caio e dar uns socos, e falar umas verdades pro Felipe pra ver se ele acorda um pouco, mas eu vou tentar me controlar.

- olha, não esquenta a cabeça. Eles são colegas de trabalho, vai ser chato se ficar um clima tenso entre eles.

Marina tem razão. Acima de tudo eles são colegas, e eu não posso criar atrito entre eles. Mas tenho que me impor. Essa relação deles não está sendo saudável pra mim, pois eu vejo as intenções de Caio e isso me machuca. Marina me da um abraço e faz a volta em seu carro, indo para a porta do motorista.

- se precisar de qualquer coisa me liga.

Eu aceno com a cabeça e tento sorrir o mais convincente possível. Não queria ter feito ela passar por essa situação chata também. Ela arranca com o carro e então me viro para ir de encontro com Felipe. Vejo que Caio também já havia ido embora, e eu me sinto aliviado por isso. A expressão de Felipe é confusa. Ele me olha com cautela, e eu decido não olhar muito pra ele. Entro dentro do carro, e espero ele fazer o mesmo. Ele senta do meu lado e fica em silencio, e eu agradeço em pensamento. Mas sei que precisamos conversar. Caio precisa sair de nossas vidas, e eu quero que isso aconteça logo.

Comentários

Há 6 comentários.

Por Dougglas em 2015-12-25 21:19:02
Nowjo desse Caio... conheço muita gente assim, e da mesmo vontade de dar uns belos tapas na pessoa. Mas é bom que o Edu se controle um pouco. Eu tô adorando essa fase deles, porque estão mais maduros no relacionamento e uma hora ou outra iria acontecer isso. E adorei a Marina. Ela é simplesmente incrível e me apaixonei aqui kkkkkkkkkkkkkk.
Por Luã em 2015-09-07 01:47:17
Oi galera! Tudo bom? Obrigado pelos comentários, isso é muito gratificante pra mim. Vocês já perceberam o quanto a história dos dois já amadureceu? Está ficando tudo mais complicado, mais complexo, a vida adulta deles chegou mais rápido do que eles pensavam. Eu gosto de ver a evolução deles. A propósito, acabei de postar um novo capítulo! Corre lá pra ver. Abraços! (:
Por luan silva em 2015-09-03 19:04:51
esse Caio é do mal cara ele ñ é boa peça e eu amei a marina ele parece ser muito legal e espero q o felipe ñ chegue nem a olhar pro Caio de outra forma, tô muito ansioso pelo proximo.
Por Niss em 2015-09-03 01:06:32
Sai do caminho satanás, pohan ainda bem que tem a Marina pra ajudar o Edu, só quero que esse mal amado e ml comido do Caio saia do caminho deles. Espero que eles fortaleçam o suficiente o namoro deles Espero pelo proximo capitulo. -Que bom que o Edu conseguiu um emprego. Kisses, Niss.
Por diegocampos em 2015-09-02 23:40:24
Amei o capítulo é odiei esse caio kkk garoto oferecido sabe que o cara tem dono e fica dando em cima rsrs ansiso para o proximo espero que eles não briguem.
Por BielRock em 2015-09-02 23:40:20
Perfeitamente perfeito. Esse Caio é uma cobra de 7 cabeças. Amei a Mari, super foda ela. Me identifique pakas com ela. Espero que o Lipe e o Duh não briguem por causa do Caio, eles são tão fofos juntos que não merecem tamanha sacanagem na vida amorosa. Amando cada capítulo. Beijos seu fofo.