01. Vida nova

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Oi gente! Que saudade que eu tava dessa ansiedade e expectativa de postar aqui. Esse capítulo é bem extenso, tem 18 páginas. Eu estou fazendo a história bem mais detalhada, e ela por si só já é mais extensa. Enfim, eu espero que vocês gostem! Qualquer feedback é válido. Boa leitura!

Estou terminando de colocar meu último livro dentro da caixa. Meu quarto está tão vazio, isso me da um aperto no peito. Estou definitivamente indo embora da casa dos meus pais. Minha independência era algo que eu sempre quis, e agora que a estou conquistando, estou com um frio estranho na barriga. As duas malas com minhas roupas já estão perto da porta. Respiro fundo e saio do quarto, carregando tudo com um pouco de dificuldade. Minha mãe me avista da ponta da escada e sobe pra me ajudar.

- por que não me chamou?

- achei que eu conseguia.

Ela me analisa por um segundo, a expressão chorosa.

- mãe, não, por favor. Eu odeio esse clima de despedida.

- é, eu sei. Mas eu vou sentir sua falta.

- eu também.

Eu largo as coisas no chão e lhe dou um abraço. Quem dera eu poder levar todos juntos comigo. Mas eles têm suas vidas aqui.

Ouço um carro buzinando do lado de fora. É Felipe. Meu pai já está lá fora, lavando o carro há um tempo. Ele está me evitando a semana toda, e sei que ele está sofrendo por eu estar indo embora. Essa é a maneira dele de se proteger. Quando saio, Felipe já está me esperando do lado de fora do carro, abrindo o porta malas para eu colocar minhas coisas.

- oi.

- oi, como foi com seus pais?

- meu pai me deu mil e uma recomendações, e minha mãe estava controlando o choro.

- por aqui as coisas também estão um pouco emotivas. Vou sentir falta deles.

- eu sei, mas você vai...

- poder vir visitar sempre que quiser. Eu sei. Mas é diferente.

Ele para por uns instantes e fica me olhando.

- você tá com medo?

Ele parece um pouco apreensivo. Claro que eu estou com medo. Medo das responsabilidades, dessa vida nova, da cidade grande. Mas eu tenho esse sonho desde sempre.

- um pouco. É só por causa desse momento. Logo passa.

Ele me da um sorriso tranquilizador, e eu tento controlar minhas emoções.

Então, é hora de ir. Minha mãe me abraça forte, e eu sei que vou sentir falta desse jeito protetor dela perto de mim o tempo todo.

- filho, se cuida. Se vocês precisarem de qualquer coisa, me liga a hora que for. E cuidado naquela cidade, tá tudo muito perigoso.

- tá bom mãe, pode deixar.

Ela me solta e eu olho pra meu pai, que está me olhando de canto. Eu estendo meus braços para lhe dar um abraço, e ele desmorona. Vejo que está quase chorando. Oh Deus, esses momentos são tão delicados.

- se cuida Edu. Porto Alegre é grande demais. Não pense que é brincadeira.

- eu sei pai. E obrigado.

Então, entro no carro, com o coração apertado, mas feliz por estar indo em busca do meu futuro. Agora estamos em movimento, e vejo meus pais pelo retrovisor, acenando na calçada. Eu suspiro fundo.

- tudo bem?

Felipe me olha de canto, com metade de sua atenção na estrada.

- é, claro. Só é difícil esse lance de despedias.

Ele coloca sua mão em minha perna, tentando me reconfortar.

- vai dar tudo certo.

Eu lhe olho e sorrio. Estou começando a me acalmar, e State of Grace, da Taylor Swift, esta tocando no rádio. Essa música me acalma. Encosto minha cabeça no banco e me concentro na paisagem.

A rodovia está tranquila, e mais ou menos 3 horas e 10 minutos depois estamos chegando em Porto Alegre. O dia está lindo, o sol forte e o céu sem nuvens me deixam maravilhados no meio daquele horizonte cheio de prédios. Solto um sorriso involuntário ao ver os detalhes, as construções, as pessoas. Esse mundo me pertence agora. Seguimos direto para o apartamento da família de Felipe, que agora seria nossa casa. Não demora muito até que entramos na garagem do subsolo, e a temperatura muda consideravelmente. Após estacionar o carro, Felipe me olha e parece estar muito animado, e eu sorrio. Pegamos nossas coisas na parte traseira e então o elevador nos leva direto para a cobertura. Tudo está em ordem, pois Paula esteve aqui não faz muito tempo. Subimos nossas coisas até o quarto principal, que agora seria nosso. É um cômodo grande, claro e bem arejado, e tem uma sacada espaçosa com uma vista privilegiada da cidade. Eu olho tudo encantado, e ainda não acredito que estou aqui. Olho para Felipe, que está parado do lado da cama me observando. Quando nossos olhares se cruzam, sorrimos um para o outro. Ele vai até a cabeceira da cama e pega um travesseiro, e seu olhar é travesso. Bem, acho que é agora que vou voltar a ser criança. Eu vou e pego outro, e então ele me golpeia na cara, gargalhando em seguida. Bem, isso acaba de ficar pessoal. Eu lhe golpeio de volta, e então estamos os dois lutando com os travesseiros. Caímos na cama e começo a rir, perdendo um pouco a força. Ele se aproveita e sobe em cima de mim, me golpeando mais uma vez, e eu me rendo. Felipe agora está com os braços me cercando, o rosto bem perto do meu, e os olhos apaixonados.

- eu te amo.

- eu também te amo.

Então, ele me beija. E eu sinto que as coisas vão ficar bem.

Passamos a tarde arrumando nossas coisas. A prateleira perto da porta agora está abarrotada com meus livros e meus discos. Felipe está desfazendo sua mala e colocando as roupas no closet, que apesar de pequeno, cabe bastante coisa. Fico pensando em como vai ser meu primeiro dia de aula. Tenho que ir segunda feira na universidade fazer minha matricula.

Terminamos de arrumar tudo e só então nos damos conta de que precisamos ir no mercado abastecer a casa. Está fazendo calor, então decido trocar a roupa que eu estava desde de manhã por algo mais leve e confortável. Estamos no supermercado, e Felipe parece não ter noção de como fazer despesa mensal. Por sorte eu tenho salvo uma lista básica de compras no meu celular, pois era eu quem geralmente as fazia quando morava com meus pais, enquanto eles estavam no restaurante. Eu o olho e reprimo um riso, pois acho isso muito fofo. Ele percebe e faz beicinho, fingindo estar bravo.

- eu sei como fazer isso. Só preciso de tempo.

- claro, eu sei que você sabe.

Ele percebe minha ironia e revira os olhos, e eu rio. Há tanta coisa pra comprar, que eu acabo me afundando na tarefa e me distraio com tudo. Comida, produto de limpeza, coisas de higiene pessoal... Apesar de já ter feito isso antes, agora parece tão diferente, pois não estou fazendo compras pros meus pais, estou fazendo pra mim. Logo estamos seguindo pra casa novamente, enquanto temos uma conversa calorosa sobre nossa próxima semana. Felipe parece tão ansioso quanto eu por começar a procurar emprego e pela proximidade do início das aulas. Levamos tudo pra cima em três vezes. São muitas sacolas. Quando subimos com as últimas, já me sinto exausto. Estou guardando as coisas na cozinha, enquanto Felipe se encarrega dos produtos de limpeza. Tenho a ideia de fazer um jantar romântico em comemoração. Esse é um dia muito especial, não posso deixar passar em branco. Mas primeiro, preciso de um banho. Guardo todas as sacolas vazias e então subo para o quarto. Ainda me sinto um pouco estranho por estar no quarto principal, onde seus pais ficavam. É tão espaçoso, com um banheiro tão espaçoso, e caramba, tem até um closet. E assim como o resto do apartamento, esbanja luxo. Eu não quero que isso suba pra minha cabeça. Não quero que essa vida nova me mude, nem um pouco sequer. Mas não posso negar que mudei. Mudei muito desde o último ano. Mas sei que as mudanças foram pra melhor. E sei também que a maioria delas foram por causa de Felipe. Ele tem sido incrível pra mim, e logo vai fazer um ano que nos conhecemos. O tempo passou muito rápido. Percebo isso ainda mais agora, que estou aqui, em Porto Alegre.

Vou para o banheiro e começo a me despir. A porta se abre e Felipe entra, me encarando com um olhar sedutor.

- você não me avisou que ia tomar banho.

- não quis te atrapalhar. Você tava ocupado.

Ele vem até a mim e me abraça por trás, e sinto sua ereção.

- posso tomar com você?

- claro.

Então, ele se afasta e começa a tirar a camiseta, revelando seu peito e barriga definidos. Eu gosto muito do que vejo. Então, ele desabotoa a calça, e em segundos está com ela em seus pés, mostrando sua cueca boxer preta com um volume a mais. Solto um sorriso de canto e ele percebe minhas intenções. Acho que as dele são iguais. Vou para o chuveiro e o ligo, esperando a água ficar morna. Então eu entro, e ele me acompanha. Ele me abraça por trás novamente, e agora estamos sentindo a água passar por nossos corpos. Seu toque forte e intenso me segurando contra seu corpo faz eu me aquecer por completo. A neblina que cobre todo o banheiro da um ar de mistério, envolvendo nossos corpos que estavam acesos pelo desejo do momento. Pego o sabonete e começo a passar em seu peito, e o toque de nossas peles faz meu coração acelerar. Começo a passear minha mão em seu corpo, ensaboando e aproveitando cada centímetro. Ele apenas me observa, os olhos penetrando os meus intensamente. Chego lá embaixo e agarro firme enquanto estou ensaboando. O movimento o faz inalar forte, e eu gosto de vê-lo assim.

- vira.

Ele me obedece, e então eu estou limpando suas costas, enquanto dou beijos e pequenas mordidas na medida que vou descendo até a bunda. Quando chego lá, aperto forte, sentindo ainda mais tesão. Pego o shampoo e passo em seu cabelo, para terminar. O meu toque faz Felipe fechar os olhos. Faço um moicano nele, e quando termino ele abre os olhos novamente e olha pro espelho, rindo do que vê.

- minha vez.

Ele começa do contrário. Começa passando shampoo em minha cabeça, e a sensação é realmente muito boa. Quando ele termina, eu também olho para o espelho, e nossos cabelos estão iguais. Eu sorrio e ele me beija. O desejo começa a ficar mais forte. Então, ele pega o sabonete, e é minha vez de sentir aquilo tudo.

Quando ele toca meu peito, minha pele se ouriça. Eu estou com muito tesão. Sua mão segue pela minha barriga, e a medida que vai se aproximando do meu pênis, eu fico mais ofegante. Felipe encosta nele, e ele pulsa. Então, começa o movimento de vai e vem, e eu fecho os olhos. Felipe sabe como dar prazer a um homem. Eu apenas quero sentir isso, e muito mais. O movimento é devagar, mas intenso. Eu estou com muito calor. Felipe me vira, e eu estou com a cabeça encostada no vidro do box, enquanto ele passa a cabeça de seu pênis em minha bunda. Isso me enlouquece ainda mais. Eu estou com as mãos encostadas no vidro, e me sinto tão vulnerável, ele pode fazer o que quiser comigo agora. Sinto então que ele passa mais sabonete em sua mão e começa a esfregar minhas costas, descendo até chegar em minha bunda. Sinto seu dedo forçar a entrada em meu ânus, e me assusto.

- tá tudo bem?

Confirmo com a cabeça, e ele prossegue. No começo, é estranho, mas depois eu me acostumo. Seu dedo entra e sai, gira, faz a festa dentro de mim, e isso é tão gostoso. Nessa hora, eu já estou me masturbando. Felipe se agacha e começa a mordiscar minha bunda, e eu fico em êxtase. Seu dedo começa a ir mais fundo, e mais rápido, e eu começo a gemer o mais baixinho que posso, mas é difícil controlar. Olho de lado e vejo que felipe também está se masturbando. Aquele pênis enorme, com a cabeça rosada, e Felipe está em fúria o usando. São tantas coisas ao mesmo tempo, que eu já sinto que vou gozar. Aviso Felipe, que não para nem um segundo de fazer o que está fazendo. E então, eu não consigo mais aguentar. Eu explodo, e meus jatos de esperma voam até o vidro do box, várias vezes seguidas. Escuto Felipe gemendo mais alto e sua respiração mais irregular, e então sinto sua ejaculação em minha bunda, em minhas costas, em todos os lugares. Foi uma gozada farta. Nossas respirações estão começando a voltar ao normal, mas minhas pernas ainda estão bambas. Eu me endireito e me viro pra ele, que me olha com cara de cansado. Eu gesticulo com a mão, sinalizando bandeira branca, e ele sorri. Lhe dou um beijo breve, e começamos a nos limpar novamente.

Decido preparar uma massa, com um molho especial, e vários ingredientes. Enquanto o macarrão está na panela com água fervendo, estou refogando azeitona preta, presunto picado, queijo, peito de peru e tomate seco em uma frigideira com manteiga. Depois que tudo está misturado e pronto, eu escorro o macarrão e coloco junto com as outras coisas pra refogar mais um pouco. O molho de queijo está quase no ponto. Coloco tudo em uma travessa e desligo a panela do molho, jogando por cima. O jantar está pronto, e eu fico satisfeito com o resultado. Felipe parece estar ansioso, elogiando o cheiro enquanto arruma a mesa.

- quando que você aprendeu a cozinhar assim?

Estamos sentados comendo, e a lua está linda lá fora. A vista de Porto Alegre aqui de cima é ainda mais espetacular.

- hum, eu não lembro bem o momento exato. Mas sempre gostei de cozinhar. Sempre foi a coisa que eu mais gostei de fazer. Comecei observando minha mãe cozinhando em casa, e depois no restaurante, e comecei a fazer por conta própria. Sempre fui bastante curioso em relação a comida.

- eu fico muito feliz que você está fazendo o que você gosta. Eu digo, ter certeza tão cedo do que quer e seguir a carreira que você gosta. Isso é algo não muito comum hoje em dia.

- não acontece o mesmo com você?

Fico confuso, pois achei que Felipe estava feliz por sua escolha de curso.

- mais ou menos. Eu sei que gosto de publicidade, mas nunca tive a certeza do que ia seguir ou escolher pra minha vida.

- se você não gostar, você pode começar de novo, meu amor. A gente é jovem, temos tempo pra descobrir. E eu sei que você vai se dar bem. Eu to aqui pra te ajudar.

Ele sorri e acaricia meu rosto, mas eu me sinto preocupado com ele agora. Será que ele tem certeza que é isso que ele quer? Será que ele não escolheu isso só pra vir comigo pra cá e ter algo pra fazer? Eu espero que não, pois eu realmente quero que ele goste do que faz.

- ei, ficou pensativo de uma hora pra outra?

Ele é muito observador.

- não, só estou pensando sobre nossa vida agora.

- nada disso. Vamos deixar as preocupações pra lá. Temos que comemorar. Estamos vivendo nosso sonho agora, e é isso o que importa.

Nosso sonho ou meu sonho? Será que eu estive tão obcecado com meu objetivo que trouxe Felipe de arrasto comigo sem saber exatamente quais eram seus planos? Mas eu não vou lhe aborrecer com isso agora. O que preciso fazer é estar do seu lado, lhe fazendo feliz. Sorrio para ele, que pega a taça de vinho branco e a ergue, propondo um brinde. Eu pego a minha e faço o mesmo.

- ao começo da nossa nova vida.

- ao começo da nossa nova vida.

Então, ele se levanta e vai até a sala. Pouco depois eu ouço Dance Like We’re Making Love, da Ciara, no rádio. Ele retorna para a sala de jantar, e estica a mão, me convidando pra dançar. Eu o olho incrédulo, e de repente ruborizo, mas logo levanto e o acompanho. O ritmo sexy e envolvente da música nos faz dançar de forma provocativa, enquanto Felipe vai se aproximando de mim e me segurando pela cintura, me aproximando dele. Nossas pernas se encaixam, e estamos nos movendo, sensuais, com o olhar em chamas, e meu coração bate forte. O ritmo é controlado por ele, e eu estou em seus braços. Sua respiração perto da minha me faz ficar ainda mais louco. Coloco minha mão por dentro de sua camiseta, e sinto o calor de sua pele. As linhas de suas costas me atiçam a imaginação, e eu acho que já está na hora de tomar partido. O puxo pra perto de mim também, e nossas ereções se encostam. Ele olha pra baixo e sorri provocativo, vendo como estou excitado. Então, volta seus olhos pra mim, e sinto que agora sou sua presa. Ele me beija intenso, e eu o sinto com todos meus sentidos. Felipe me encurrala no sofá, e cai por cima de mim. Estou deitado e sentindo seu peso em mim, e seu beijo se tornando mais intenso.

- você é insaciável, Eduardo.

- a culpa é sua.

Ele sorri e me beija, e eu sinto aquele calor do banheiro retornar. Sua mão agora começa a percorrer meu corpo debaixo da minha camiseta, e eu me contorço um pouco com o toque. Ela vai descendo até segurar minha ereção sobre minha calça, e eu quero me livrar de toda essa roupa. As coisas começam a ficar mais quentes, mas seu telefone toca. Eu olho pra Felipe, sem saber o que dizer, e ambos começamos a rir. Como o clima já havia sido interrompido, ele levanta e pega o celular na mesa.

- oi pai.

- sim, a viagem foi ótima. Já arrumamos tudo. Como estão as coisas ai?

- entendi.

- não pai, eu não vou esquecer de vocês. Sempre vou manter vocês informados. E a gente tá bem, não se preocupe.

- amo vocês também. Boa noite, até mais.

Ele desliga e me olha, com um vestígio de desejo ainda aceso em seus olhos.

- como eles estão?

- estão bem, mas preocupados pela falta de notícias.

- é compreensível, agora que estamos longe, eles vão ficar ainda mais preocupados.

Ele se aproxima de mim e se senta, me colocando em seu colo. Vejo que sua ereção ainda está viva. Acho que não sou o único insaciável por aqui. E então, percebo que o clima não havia ido embora.

- onde foi que a gente parou?

Ele me olha com uma sobrancelha arqueada.

- deixa eu pensar...

E então, me beija com vontade. E sei que a noite ainda vai ser longa.

Acordo com um sol exuberante passando pelas frestas da persiana do quarto. Ainda é cedo, mas meu dia vai ser cheio. Decido levantar logo antes que a preguiça me vença e eu fique mais tempo na cama. Fico parado pelo que me parece muito tempo tentando escolher uma roupa adequada para fazer a matrícula e procurar emprego mais tarde. Não sei desde quando comecei a ligar tanto pra roupa, mas esse é um dia que eu preciso me preocupar com isso. Escolho minha polo preta, calça jeans e tênis casual. Então, vou para o banho. Faço minha barba com cuidado, e depois entro debaixo da água agradável, me fazendo relaxar. Eu estou bastante ansioso. Hoje começa meus compromissos aqui na cidade. Eu espero que não demore muito pra eu conseguir um emprego. Preciso me manter aqui, e sei que as coisas não são baratas. Depois que termino, me visto rapidamente e volto até o quarto para pegar a pasta com meus currículos e documentos pra matrícula na estante e desço para preparar o café. Vou deixar felipe dormir até as 9h, depois vou acordá-lo para não sairmos tarde. Coloco a geleia, os frios, a manteiga e o suco na mesa, e vou preparar algumas torradas. Estou terminando de colocá-las junto com as outras coisas quando Felipe surge na porta, com a cara amassada e sonolenta mais linda que eu já havia visto na vida.

- bom dia.

- bom dia. Eu já ia te chamar.

- acordei e senti sua falta na cama. Então vim te procurar.

Ele vem até a mim e me da um beijo de bom dia, com a boca úmida e seu hálito cheirando a hortelã.

- tá com fome?

- um pouco.

Então, nos sentamos na mesa e começamos a conversar sobre nossos planos para o dia enquanto comemos.

- já tem algum lugar em mente pra ir entregar currículo?

- não, ainda não. E você?

- meu pai me disse pra procurar um amigo dele que tem uma agência de publicidade perto do centro. Ele me indicou lá.

- isso é ótimo. Você vai agora de manhã?

- logo depois que eu te deixar na faculdade.

Terminamos nosso café e Felipe sobe pra se arrumar. Eu aproveito pra ligar pra minha mãe. Estou com saudades.

- Edu?

- oi mãe, tudo bom?

- oi filho, que surpresa boa. Tudo bem graças a Deus, e com vocês? Como tá a cidade?

- tá tudo bem aqui também, daqui a pouco eu estou indo fazer minha matricula lá na faculdade.

- isso é ótimo. E você tá ansioso?

- muito. E to com saudade também.

- nós aqui também estamos. Mas sabemos que você tá feliz, e é isso que importa. Seu pai e eu estamos planejando visitar vocês em breve.

- eu ia adorar. Vou ficar esperando. Eu tenho que ir agora, mas foi bom conversar com você.

- se cuida filho. Qualquer coisa me liga.

- tá bom mãe. Eu te amo.

- também te amo. Tchau.

- tchau.

Desligo e sinto um alívio por falar com ela. Minha mãe sempre me trouxe uma sensação de calma que eu não sei explicar. Um pouco depois Felipe desce novamente, de banho tomado e arrumado. Então, seguimos para a UFCSPA. Ao chegarmos, me bate o nervosismo, como se hoje fosse meu primeiro dia de aula. Felipe me deseja boa sorte, e eu agradeço, lhe beijando.

Sigo em direção à porta com o coração acelerado, e quando entro, já procuro a secretaria. Há um movimento de alunos, e eu me imagino entre eles daqui a um tempo. Felizmente minha matricula não demora tanto a ser feita, e eu havia levado até coisas demais, para prevenir. No final a simpática senhora de meia idade me deseja boas vindas e eu aproveito que Felipe irá demorar e começo a conhecer a universidade por dentro. É tudo muito espaçoso, claro e aconchegante. Ando pelo meio dos outros jovens, e alguns já notam minha presença estranha, e acho que está óbvio que sou calouro. Há muitos alunos bonitos, tanto meninos quanto meninas. Porto Alegre é cidade de gente bonita, sem dúvida. Muitos me encaram, e eu desvio o olhar. Se Felipe estivesse aqui, já arrumaria briga. E eu fico abismado pela quantidade de gays. Digo, eu sei que há em todos os lugares, mas aqui é notável que há muitos. Eu não costumava ver isso na minha cidade. Sinto que já não sou mais uma espécie de aberração, e estou no meio de pessoas que são semelhantes a mim. Vejo que há uma movimentação intensa para o mesmo lugar, e decido seguir. Está tendo uma exposição de trabalhos sobre culinárias internacionais no saguão principal. Eu fico vislumbrado vendo tudo com atenção. É uma riqueza de detalhes, e cada trabalho apresenta algo totalmente diferente. Alunos, provavelmente de outros cursos, estão admirando tudo assim como eu. Há várias tendas, com grupos de alunos apresentando um pouco de casa comida, e tem pratos para degustação. O cheiro me abre ainda mais o apetite, e eu olho pro relógio. Caramba, já é quase meio dia. Felipe está demorando. Será que está tudo bem? Ele conseguiu a vaga? De repente me sinto apreensivo. Espero que ele consiga. Seria ótimo ele ter como praticar o que ele escolheu, e ver como as coisas são. Caso ele não goste, ele terá a certeza pra poder trocar logo de curso.

Meu celular vibra no meu bolso. Eu o pego e há uma mensagem de Felipe.

“Estou indo te pegar.”

Pouco mais de vinte minutos depois, ele chega em frente ao prédio, e quando entro no carro, percebo sua expressão eufórica. Meu coração se aquece. Acho que temos boas notícias.

- o que foi?

- eu consegui a vaga.

Eu o olho boquiaberto e não sei o que falar. Lhe abraço em reflexo, e eu estou tão feliz por ele nesse momento. Sei o quanto esse emprego é importante pra ele.

- meu Deus Felipe isso é maravilhoso! Como foi?

- foi muito rápido. Eu fiz a entrevista, e eles de cara já gostaram do meu perfil. Só preciso resolver a papelada e fazer o exame admissional. Começo na segunda que vem.

- eu estou tão feliz e orgulhoso meu amor. Parabéns!

Então, lhe abraço novamente. Espero que ele esteja tão entusiasmado quanto eu estou. Me sinto aliviado. Começamos a procurar um restaurante perto da universidade. Acho que Felipe adivinhou que eu estava morrendo de fome. No caminho, ele conta os detalhes de como foi, e eu fico feliz que ele esteja animado. Depois de alguns minutos, encontramos um lugar super aconchegante, com uma fachada charmosa que me lembra levemente do restaurante da minha família. Ao entrarmos o cheiro de comida colonial já deixa meu estômago alvorotado, e eu sigo para pegar um prato e me servir.

Após almoçarmos, começo a entregar meus currículos. Como eu ainda não sei andar pela cidade, Felipe me ajuda a encontrar lugares bons pra tentar minha sorte. Vamos primeiro em uma agência de empregos, e depois seguimos entregando em lojas. Eu quero muito tentar em restaurantes, mas sinto que ainda não estou pronto. Quero estar preparado para tentar algo grande. O dia passa rápido, e eu me sinto cansado. Já percorremos todo o centro, e acho que já é hora de irmos embora. Agora é cruzar os dedos e esperar que alguém me ligue logo para uma entrevista.

E assim se passa o resto da semana. Fico com meu celular perto de mim o tempo todo, mas não recebo nenhuma ligação. Começo a enviar meu currículo online também, para agências e empresas. Sei que não posso querer que as coisas aconteçam pra ontem, mas não achava que seria difícil conseguir pelo menos uma entrevista. Acho que estou sem sorte.

É sábado de manhã, e Felipe está em frente de suas roupas, impaciente. Eu o olho e acho isso engraçado. O que será que está acontecendo?

- algum problema?

- minhas roupas. Eu não tenho nada apropriado pra vestir agora que vou começar a trabalhar.

Ele se vira pra mim e sua expressão me faz rir mais ainda. Ele é fofo ficando bravo. Ele parece intrigado com minha reação.

- acho que você precisa ir às compras então.

Sua expressão melhora. Acho que dei uma boa ideia.

- isso é uma ótima ideia.

Então, partimos para as compras. O dia está lindo, como todos os outros. O verão é uma época ótima pra aproveitar ao ar livre. Vamos até uma loja de departamentos no Barra Shopping Sul. Ainda não me acostumei com o tamanho desse shopping. A loja é sofisticada, e tem muitas roupas incríveis. Estou sentado em um banco estofado no provador enquanto Felipe prova um número interminável de camisas sociais e calças. Ele fica muito bem em todas. Na verdade, sua beleza é um ponto favorável. Poderia vestir qualquer coisa que ficaria bem. Mas minha preferida até agora é uma camisa de linho preta, muito sofisticada. Ele insiste que eu compre algo pra mim, mas é desnecessário. Estou bem com minhas roupas.

- Edu, por favor. Eu quero te dar alguma coisa.

Eu reviro os olhos, e sou vencido pelo cansaço. Começo a olhar pela loja alguma camisa que não seja tão cara, mas que possa ser algo que me ajude nas futuras entrevistas. E meu Deus, são tantas opções. Pego algumas peças e vou para o provador. Dessa vez é Felipe quem está sentado no banquinho, e dando sua opinião. No final, ambos de nós preferimos a camisa azul marinho com relevos discretos no tecido. É realmente muito bonita. Depois de passarmos tudo no caixa, saímos da loja com um número considerável de sacolas. Eu nunca havia feito isso na vida. Estamos descendo a escada rolante, e Felipe me olha, vibrante.

- gostou do seu presente?

- adorei. Ela é linda. Obrigado.

- quero te dar muito mais. Eu estou tão feliz de estar aqui com você. É um sonho.

Meu coração se aquece.

- você estando aqui comigo já basta.

Eu lhe toco no braço, em uma expressão de carinho, e ele sorri.

- eu te amo.

- eu também te amo.

Quero muito o beijar agora, mas não posso. Fico triste em ter que me segurar assim. Não gosto de trancar sentimentos por causa do medo. Mas sei que aqui é tão perigoso me expor quanto em São Valentim. Aqui também há muitas pessoas intolerantes. Ser discreto continua sendo a melhor alternativa para ambos.

Já estamos de volta em casa, e eu estou animado em fazer o almoço. Felipe sobe com as sacolas para o quarto e eu vou para a cozinha ver quais são minhas opções. Vou até a geladeira, e abro a porta do congelador. Há um frango já temperado e picado de outro dia, que acabei não fazendo. Pego-o e coloco no microondas para descongelar. Enquanto isso, pico uma cebola grande e começo a preparar o arroz para adiantar as coisas. Quando o frango descongela, coloco-o em uma panela para cozinhar, enquanto em outra começo a preparar o molho. Coloco manteiga para derreter, e a cebola picada. Deixo refogar um pouco e misturo creme de leite e um pouco do vinho branco do outro dia que está na geladeira. Coloco mais água no arroz e deixo terminar de cozinhar, enquanto o molho engrossa. Quando a carne está boa, misturo na panela do molho, e deixo mais um pouco em fogo baixo. Pouco tempo depois, está tudo pronto. E o cheiro é divino. Felipe me abraça por trás, me assustando um pouco.

- se você continuar cozinhando desse jeito, eu vou engordar 30 quilos muito fácil.

- isso é bom. Sinal de que estou cuidando bem de você. É como dizem, a gente conquista a pessoa pela barriga.

Ele faz uma careta, imitando o que eu falei por último, e me beija.

- precisa de alguma ajuda?

- se você quiser fazer a salada enquanto eu coloco a mesa, eu agradeço.

Então, ele começa a pegar as coisas que precisa, enquanto eu pego a louça no armário. Nosso almoço é calmo, e Felipe é todo elogios pela comida.

Estou terminando de lavar a louça, quando ele aparece na porta novamente com a chave do carro na mão. Eu o olho e ele a balança, me olhando com uma cara animada.

- termina logo ai, que eu vou te levar pra dar uma volta.

Eu sorrio, e acho a ideia muito boa. Em poucos minutos, estamos saindo novamente, e não tenho ideia de onde estamos indo.

Então, chegamos em um lugar que eu nunca tinha visto, nem mesmo por fotos. Era uma das grandes partes da cidade que eu não fazia ideia que existia. É um espaço verde, uma espécie de jardim japonês, e eu fico vislumbrado vendo a beleza do lugar. Tem um lago lindo ocupando grande parte de sua extensão, com várias árvores diferentes e um gramado irregular. No fundo pode-se ver os prédios dando o contraste de urbano e natureza ao lugar. É lindo. Me lembra vagamente o parque da lagoa, da minha cidade.

- Lipe, que lugar é esse? Que incrivel!

- é a praça Província de Shiga. Eu vim aqui poucas vezes, mas sempre me impressiona.

Eu olho tudo com muita atenção. Essa vista é de tirar o fôlego. E traz uma sensação de paz. Nos aproximamos do lago e ficamos sentados na grama, admirando a paisagem. O silêncio que há entre a gente não é desconfortável. Estamos cada um com nossos pensamentos, mas não estamos distantes um do outro.

- obrigado por me apresentar esse lugar.

- há tantos outros que eu quero te mostrar. Vamos precisar de tempo, mas você vai conhecer todos os cantos da cidade.

Ele me olha e sorri, e eu faço o mesmo. Tudo isso tem sido um sonho ao seu lado, e eu estou tão feliz. Ele faz tudo ficar ainda melhor.

O domingo amanhece chuvoso, e eu estranho o fato de que no dia anterior o tempo estava ótimo. Antes de dormir, eu percebi que o céu já não estava tão estrelado, mas não achava que iria chover. O que nos resta a fazer é ficar debaixo do cobertor assistindo filmes e comendo besteiras. Eu corro até a cozinha, e preparo pipocas. Vou até a geladeira e pego uma barra de chocolate que estava guardada, e volto para o quarto com as mãos cheias. O dia se passa vagaroso e estamos com preguiça. Falo para Felipe para aproveitar, pois a partir de amanhã ele não terá mais toda essa folga. Por sorte, está começando uma maratona de Star Wars. Isso já é um motivo para eu não sair mais da frente da televisão. Isso nos ocupa o resto do dia. Estamos assistindo o ultimo filme, e já é de noite. Eu estou começando a ficar com sono, mas tento não dormir. Não quero perder o final do filme. Mas Felipe está me fazendo cafuné, então as coisas ficam mais difíceis pra mim. Fecho os olhos e sinto o toque de sua mão, e então adormeço.

O dia amanhece mais quente do que o normal. Não há mais nenhum vestígio da chuva de ontem. Realmente foi chuva de verão. O tempo está muito instável. Passo minha mão pela cama e não sinto Felipe. Abro os olhos e vejo que ele está com a escova de dentes na boca, de calça preta e meias, sem camisa, arrumando sua pasta visivelmente animado. Então, volta para o banheiro escovando os dentes e cuidando pra não sujar o chão, e pouco tempo depois volta sem a escova.

- bom dia.

Ele se vira pra mim e seu rosto se ilumina.

- bom dia.

Então se aproxima de mim e me beija, e seu hálito é tão fresco que me sinto envergonhado por provavelmente estar com mau hálito matinal.

- você tá bonito.

- acordei mais cedo pra me arrumar.

- tá animado?

- muito.

Eu sorrio, e sinto que ele já não tem mais aquela dúvida sobre seu futuro. Decido me levantar pra preparar seu café. Lavo meu rosto e escovo meus dentes enquanto ele termina de se vestir, e corro pra cozinha preparar as coisas. Quando ele desce, a mesa já está pronta.

- você é rápido.

Ele parece surpreso. Eu sorrio e então sentamos na mesa para fazer nossa refeição. Ele insiste em sair alguns minutos mais cedo, então nosso café é breve. Me despeço dele com um beijo e desejo-lhe boa sorte. Ele sai pela porta radiante, e eu me abraço orgulhoso. Espero que dê tudo certo.

Agora que estou sozinho em casa, não há muitas opções do que se fazer. Guardo as coisas de volta na geladeira e decido ir até a piscina do prédio. Coloco um calção de banho e desço o elevador. É segunda de manhã, e acho que sou um dos poucos que estão em casa no prédio. Isso é bom. Não gosto de ficar sem camisa perto de outras pessoas. Estou me sentido a vontade. A piscina é monumental. Chego na borda e me abaixo para sentir a temperatura da água. É perfeito. Vou até o chuveiro perto do muro lavar meus pés, e então entro na água limpa e agradável. Meu corpo se arrepia de início, mas depois eu me acostumo. Fico boiando na água, olhando pro céu limpo e de um azul impecável bem acima de mim. Isso me traz uma sensação de paz interior. Me coloco de pé novamente e começo a mergulhar. Ter essa piscina só pra mim é um privilégio. Vou de ponta a ponta, e me divirto feito uma criança. Fico assim pelo que me parecem horas. Sinto o sol ficar mais intenso, então decido sair. Estou de volta no apartamento, e já são quase meio dia. Caramba, eu perdi q noção do tempo lá embaixo. Meu estômago ronca, e eu percebo só agora que estou com muita fome. Vou até a geladeira ver se tem algo pronto, pois não estou com ânimo pra cozinhar agora. Ainda há um pouco de comida de ontem em dois potes pequenos, que agora vão virar o meu almoço. Ligo a televisão da sala e me acomodo no sofá, com o prato de comida requentada na mão. Está passando o noticiário do meio dia. É difícil eu parar pra assistir telejornal. Mas por hora isso acaba me distraindo. Termino de comer e lavo a bagunça que deixei, e então volto para o sofá e começo a zapear pelos canais. Acho um bom filme que já estava na metade, mas decido assistir. Estou quase no final do filme quando o sono me vence, e eu acabo tirando um cochilo.

Meu celular toca, e eu me acordo assustado. É uma mensagem de Felipe.

“Saudade.”

Eu sorrio quando a vejo e respondo.

“Também estou com saudades. Como vai o trabalho?”

Olho para o relógio e já passa das 13h. Meu celular toca novamente.

“Aqui tá tudo ótimo. Mas queria estar com você.”

“Eu também. Mas você não pode ficar mexendo no celular em serviço. Se comporte. Até depois, eu te amo.”

“Eu também, até depois.”

Me espreguiço e levanto do sofá, e decido gastar um pouco de energia indo até o centro entregar mais alguns currículos. Provavelmente os que havia entregado não me renderam resultados. Preciso continuar tentando. Dessa vez, eu ensaio minhas falas e gestos dentro do ônibus, numa tentativa de me sair melhor do que na primeira vez. Talvez tenha me faltado confiança. Chego no centro e começo a analisar onde posso tentar. São muitos lugares. E tento em todos. Muitos me recepcionam bem, outros nem tanto, mas eu ainda estou animado. Já até perdi a conta de quantos currículos já deixei, mas isso não importa. Entrego mais alguns no Shopping Rua da Praia, e depois sigo para o Barra Shopping, e depois para o Iguatemi. O primeiro fica bem no centro, e os outros dois são um dos maiores shoppings da cidade, é impossível não estarem precisando de alguém. Quando termino, já passa das 18h. E caramba, eu estou muito cansado. Agora eu só preciso ir pra casa.

Chego em casa suado e decido ir direto tomar um banho. A água morna percorre minha pele, e eu me sinto relaxado. E então, sinto que estou com fome. Termino meu banho e visto apenas um calção confortável, e desço até a cozinha para preparar alguns sanduíches. Pego atum, queijo, azeitonas e maionese na geladeira. Coloco meus sanduíches em um prato e arrumo um copo de suco, e sigo para a sala. Pego meu notebook e decido estudar um pouco sobre meu curso, para estar aquecido quando as aulas começarem. Estou sentado no sofá lendo uma matéria online, com a televisão ligada e terminando de comer quando ouço um barulho na porta. É Felipe. Ele está com o rosto leve, feliz, e e isso me contagia. Ele vem até a mim e me beija, largando suas coisas no sofá e sentado do meu lado.

- ei.

- ei. Como foi seu dia?

- foi bom. Sai um pouco pra entregar currículos. Isso me ocupou a tarde toda. Acabei de chegar, e agora estou aqui lendo um pouco.

Sua expressão muda drasticamente. Felipe parece surpreso, e talvez um pouco irritado.

- você saiu sozinho pela cidade sem conhecer nada?

Eu dou de ombros. Não vejo motivo para se preocupar. Eu fui onde já havia ido antes, com exceção do Iguatemi.

- não há nenhum segredo. É só saber pegar ônibus.

Ele passa a mão no cabelo, visivelmente irritado.

- Eduardo, eu não quero que nada te aconteça. Você ainda não sabe andar por aqui. Porto Alegre não é brincadeira. Há muitos perigos. Espero que você não faça mais isso. Deixa que eu te ajudo a procurar.

- como? Agora que você está trabalhando, não vamos conseguir.

- vamos dar um jeito. Podemos mandar seu currículo por e-mail para outras agências de emprego. Mas não quero você sozinho por aí, entendeu?

Eu fico tão irritado com seu jeito superprotetor. Mas entendo que é para o meu bem, e então decido não insistir.

- como foi o primeiro dia de trabalho?

Sua expressão se suaviza. Ótimo, o rumo de nossa conversa mudou para algo mais leve.

- foi ótimo. O pessoal é muito receptivo, me mostraram tudo e eu me senti bastante acolhido. É um lugar ótimo pra se trabalhar.

- que bom meu amor. E já fez alguma amizade?

- já. Na verdade todos são super legais, mas passei a maior parte do tempo com o Caio.

- Caio?

- é um estagiário, assim como eu. Super gente boa. Me deu varias dicas, e fiquei sabendo que ele estuda publicidade na PUC também.

Bem, se ele estuda na PUC, deve ser novo. E bonito. Uma pontada de ciúmes me embrulha o estômago, mas não deixo transparecer. Isso é besteira. E Felipe está tão animado. Eu decido deixar isso pra lá.

- provavelmente você vai ser o calouro dele. É bom que você já tenha algum conhecido lá pro seu primeiro dia.

- é, com certeza.

Ficamos uns segundos em silêncio, e eu fico curioso para perguntar algo. Não sei se devo, mas as palavras saem antes que eu pense.

- e ele é bonito?

Felipe me analisa por alguns instantes, e então começa a rir.

- por que?

- é ou não é?

- é, mas o que isso importa?

Maravilha. O cara é bonito. É inteligente e super atencioso também. Temos um garoto prodígio. Eu bufo em pensamento pra mim mesmo, e não acredito que estou com ciúmes infantis.

Ele percebe e me agarra com as duas mãos em meu rosto, me dando um beijo.

- não começa com isso.

- com isso o que?

- você sabe.

Então, ele pega o último pedaço do meu sanduíche, e se levanta para tomar um banho. Estou com raiva, mas não há motivo. Quero lhe bater agora, e lhe beijar também. Me sinto tão preguiçoso para preparar comida que decido pedir pizza. Procuro o número de algum lugar perto, pois não quero jantar tarde. Quando ele volta, está assim como eu, apenas com um shorts branco, revelando suas pernas fortes e peludas. Gosto de sua virilidade. Isso me excita. Pouco mais de quarenta minutos, a pizza chega. É enorme. Metade portuguesa, metade chocolate. Jantamos no chão da sala, com os pratos, a pizza, o litro de refrigerante e os copos tudo em cima da mesinha de centro enquanto ele termina de me falar sobre a agência.

- é um ambiente super moderno, organizado e o pessoal é bem unido. É uma esquipe de verdade. Compraram alguns salgados pra comemorar a minha chegada. São todos muito receptivos.

- e como é o seu chefe?

- o Oscar? Muito gente boa. Eu digo, é super exigente e profissional, mas é uma pessoa incrível. Já me deu muitos conselhos.

Felipe parece tão entusiasmado, e eu estou tão contente. Espero que eu consiga logo ter a mesma sorte. Terminamos de comer e levamos a bagunça para a cozinha, e então vamos para o quarto. Foi um dia e tanto, e eu só preciso da minha cama.

Estou escovando meus dentes enquanto ele está terminando de lavar o rosto. Ele me analisa e percebe que ainda estou pensativo sobre nossa conversa de antes. Então, ele se aproxima, encaixa seus braços em volta das minhas costas, me encarando com a expressão apaixonada.

- eu sei que você quer muito arrumar um emprego logo, mas eu me preocupo sobre você sair sozinho por aí.

- é eu sei. Eu entendo seu ponto de vista. Mas não quero ficar trancado dentro de casa. Eu quero trabalhar, estudar, e não vou poder fazer isso se eu não souber andar por aí. E você não vai poder me acompanhar pra lá e pra cá toda hora.

- eu vou fazer o possível.

Lhe lanço um olhar duro, e ele reprime um sorriso.

- tudo bem. Mas só me prometa que você vai se cuidar.

- eu prometo.

Então, lhe dou um beijo e acho que nossa conversa já terminou. Vamos para a cama e ficamos abraçados em silêncio, apenas trocando carinhos. Felipe está cansado e logo dorme. Eu demoro mais um pouco, mas logo pego no sono também.

Outra semana se passa, e eu não recebo nenhuma ligação sobre alguma vaga. Minha vida agora está se resumindo em limpar a casa, estudar para não sair do ritmo, dar uma volta no bairro para pegar um ar fresco, mandar currículos pela internet para várias agências e ficar com meu celular o tempo todo perto de mim. Isso me deixa triste. O tempo está passando rápido. Minhas aulas começam em breve, e eu quero ter meu próprio dinheiro para sustentar meus gastos. Não achava que seria tão difícil assim conseguir trabalhar. Estou deitado na cama, e Felipe está me fazendo carinho na cabeça. Ele percebe que não estou bem. Ele sempre percebe.

- Edu, o que houve? Você parece triste.

Ah não. Eu não quero ter essa conversa. Não quero estragar seu momento. Ele está tão animado com seu emprego, que seria desagradável falar sobre isso.

- triste? Não, é impressão sua.

Tento fazer minha melhor cara, mas não convenço. Ele me olha em tom de desaprovação, e eu desisto. Me ajeito na cama, sentando com minhas costas encostadas na cabeceira, e ele me imita.

- eu só estou angustiado por ainda não ter conseguido emprego. Digo, nem uma entrevista. Não quero ficar nas suas costas.

Ele me olha e parece chateado com o que eu disse.

- Eduardo, você não vai ficar nas minhas costas. Estamos juntos agora, e somos um casal. Ninguém fica nas costas de ninguém.

- eu sei, não quis dizer isso. Só fico mal porque eu quero trabalhar logo.

- e você vai. Tenha calma. Chegamos aqui faz apenas um mês. Não é fácil.

- é fácil falar quando você já está trabalhando. Eu me sinto um inútil dentro de casa.

Ele puxa meu queixo, me fazendo olhar pra ele.

- você não é inútil. Você é incrível. E eu sei que é diferente, meu pai me ajudou muito com essa entrevista na agência. Se não fosse ele, eu também provavelmente não estaria trabalhando ainda.

Ele para por alguns segundos, me analisando. Eu pareço uma criança fazendo beiço agora. Isso é ridículo.

- eu vou pedir pra ele me ajudar a encontrar algo pra você.

Eu o olho na hora, com uma certa raiva.

- não Felipe. Eu não quero ajuda. Quero conquistar isso por conta própria. Eu sei que eu consigo. Não quero ficar abusando do seu pai.

- não seria nenhum abuso. Ele ficaria feliz em ajudar.

- eu sei, mas eu não quero. Eu vou conseguir.

Ele me analisa um pouco, e então me abraça. Me sinto péssimo por ter essa conversa, pois eu não queria estragar o clima. Nossa vida em Porto Alegre está apenas começando, e eu sei que não vai ser fácil, mas eu queria tanto já estar ganhando meu dinheiro e me ocupando mais. Ele me beija e acaricia meu rosto.

- agora vamos dormir. Temos um dia cheio amanhã. Eu e você.

Concordo com a cabeça e lhe dou outro beijo. Deito minha cabeça no travesseiro e tento me concentrar para o sono vir logo, mas estou tão angustiado que minha mente ainda está agitada. Me viro pra lá e pra cá, e não consigo ficar calmo. Vejo que Felipe já pegou no sono. Está virado pro outro lado, e sua respiração é calma. Se eu não dormir, amanhã eu vou estar um bagaço, e eu preciso estar bem para procurar mais lugares para tentar uma vaga. Para não ficar mais agitado, decido me levantar e ir até a cozinha pra tomar um copo de leite. Vou até a janela e começo a olhar a vista de uma Porto Alegre noturna e aparentemente calma. As coisas são mais difíceis do que a gente pensa. Não é fácil mudar nossa vida em um rumo totalmente diferente, e apesar de eu estar amando minha independência e estar onde eu sempre sonhei, estou começando a ver que não é tão simples. Olho para o relógio e já são quase 3h da manhã. Caramba, eu preciso dormir. Lavo meu copo e volto para o quarto. Um pouco depois, Felipe se vira e me abraça, ainda dormindo, e eu começo a me concentrar novamente no sono. Pouco tempo depois, ele me domina, e eu durmo.

Acordo e vejo que Felipe não está mais na cama. Olho para o relógio e já são 9:31. Queria muito ter acordado mais cedo e fazer companhia pra ele no café, mas dormi tarde na outra noite. Checo meu celular e há uma mensagem dele.

“Desculpe não te acordar, mas fiquei com pena. Você é lindo dormindo, seria um crime se eu interrompesse seu sono. Tenha um ótimo dia. Te amo.”

Sorrio ao ver sua mensagem. É ótimo acordar assim. Isso me anima. Me espreguiço e levanto, indo para o banheiro fazer minha higiene matinal. Depois desço ainda sonolento e começo a analisar o que temos na geladeira para o café. Decido então fazer uma omelete com queijo e tomate. O cheiro já me abre o apetite na hora. Preparo também um suco natural de laranja, e coloco na mesa junto com os pães e a margarina. Está fazendo um dia lindo lá fora, e eu quero fazer alguma coisa que não seja ficar trancado nesse apartamento. Decido ir até o mercado comprar algumas coisas que já haviam acabado. As compras me ocupam um bom tempo, e eu acabo me distraindo. Quando volto pra casa, coloco meu pen drive no rádio e o ligo em um volume aceitável. Estou guardando as coisas quando meu telefone toca.

- Felipe?

- oi meu amor. Como você tá?

- eu to bem. Guardando algumas coisas aqui. Aconteceu alguma coisa?

- não, só estou com saudade. E queria te convidar pra almoçar comigo.

A ideia me anima. Eu já estava com saudades dele.

- me parece ótimo.

- então se arruma, daqui a vinte minutos eu to saindo aqui da agência pra te buscar. Ah, e vamos ter companhia.

- sério? Quem?

- Caio. Quer tanto te conhecer que acabei o convidando pra almoçarmos todos juntos.

- isso é ótimo, também quero muito conhecer ele.

- então até mais tarde. Te amo.

- também te amo.

Desligo e vou tomar um banho rápido. Preciso estar bem para passar uma boa impressão. Escolho uma polo vermelha, que havia usado poucas vezes, uma calça jeans e um sapatênis. Minha barba está crescendo, me dando um aspecto de mais velho. Apenas a aparo e a desenho, e já estou pronto. Logo Felipe me manda uma mensagem dizendo que está lá embaixo, e eu vou ao seu encontro. Quando avisto seu carro na calçada, vejo que ele está sozinho. Caio deve ter ficado no restaurante.

- ei.

- ei. Onde está o Caio?

- estava terminando umas coisas e já ia pro restaurante nos esperar.

As ruas do centro como sempre são movimentadas. Carros, ônibus, pedestres. É um ritmo frenético de pessoas e vidas ocupadas o tempo todo. E de uma forma estranha, isso é encantador pra mim. A vida urbana, agitada e até caótica de uma grande metrópole. Seguimos nosso caminho conversando sobre o dia de Felipe, e logo chegamos. É um local aconchegante, mas espaçoso e elegante. Nada muito formal, mas dá uma boa impressão. Já há um bom movimento, e estamos indo para uma mesa perto de uma grande janela que ocupa toda a altura do salão, onde há um homem de mais ou menos uns 20 anos, com cara jovial, cabelos loiro escuros e barba desenhada. Esta vestido de forma elegante, mas não tão formal. Sua camisa social cinza com mangas dobradas na altura do cotovelo revelam braços musculosos. Eu olho para os meus, que agora parecem ser de um adolescente de quinze anos, comparando com os seus. Me sinto um pouco desconfortável, mas não deixo transparecer. Ao chegarmos na mesa, Caio sorri para mim e para Felipe. Seu sorriso é de um branco perfeito.

- Edu, esse é o meu colega, Caio. Caio, meu namorado, Eduardo.

Ele estica sua mão para me cumprimentar.

- finalmente estou conhecendo o famoso Eduardo. Só ouço falar em você o dia todo.

Eu ruborizo.

- acho que isso é bom.

- claro que é.

Ele sorri, e nos sentamos para conversar um pouco antes de comermos. Ele aparenta não ser muito mais velho do que a gente, mas seu jeito de falar, seu jeito de agir, é diferente do nosso. É descontraído, mas adulto. Além de ser bastante atraente. O cabelo cuidadosamente arrumado demonstra que ele é vaidoso. Me sinto inseguro. Eu sei que é besteira, mas Caio é estupidamente mais bonito do que eu, e convive todos os dias com Felipe. Se ele quisesse, poderia dar em cima de Felipe. Mas eu espero que isso não aconteça, pois não vou deixar.

Seguimos para a pequena fila que acabara de se formar ao lado do buffet. Felipe e Caio estão discutindo algo sobre um projeto novo da agência, e parecem bastante entusiasmados. Ele não parece ser gay. Ou se é, é bem discreto. Diria até que talvez ele seja bi. Mas é difícil dizer. Ele não é tão másculo para ser hétero, e não tem muitos trejeitos que eu possa ter certeza que ele é gay. Sei que analisar pessoas por esteriótipos é errado, mas nesse momento eu não consigo evitar.

- e então Edu, o que você tá achando da cidade?

Ele me tira de meus devaneios, com sua voz aveludada e divertida.

- ah, hum... eu ainda não pude sair pra conhecer muito além dos pontos mais famosos, mas é incrível. Sempre gostei muito daqui.

- você vai ver que nunca vai faltar lugar pra você ir aqui. Porto Alegre é cidade pra aventureiros. E sei que você é um. A vida noturna é agitada, você vai gostar.

Eu sorrio, e penso que eu não saberia agir bem na agitada vida noturna, pois eu não sou muito dessas coisas. Nem sei se sou aventureiro, e me pergunto como ele tem tanta certeza disso.

- Felipe me contou que você vai fazer gastronomia. Isso é muito legal.

- é, muito. Gastronomia é minha paixão. Minhas aulas começam hoje inclusive.

- isso é ótimo. Você vai adorar a vida acadêmica. Eu digo porque já estou com mais da metade do meu curso feito, e essa é a melhor fase da minha vida.

Ele é muito gentil, receptivo e simpático, mas há algo de errado com ele. E eu não sei dizer o que é. Também percebo que ele não para de olhar para Felipe, até mesmo quando a conversa está direcionada a mim. Eu não sei se isso é paranoia, mas estou ficando desconfortável. Talvez seja uma primeira má impressão. Mas ele é perfeito demais para não ter nenhum defeito. Caio é definitivamente um mistério.

Comentários

Há 6 comentários.

Por Dougglas em 2015-12-25 20:44:00
Aaaaaaaah, que capítulo maravilhoso. Eu nem percebi o tamanho dele. Só fui lendo e nem reparei. Cara, já tô cansando de te elogiar tanto. Já falei umas 100x que amo tua escrita. Nesse capítulo tu narrou uma rotina de forma descritiva, mas fez os fatos correrem sem demora. E adorei ver a nova vida do casal. E esse Caio, tbm não gostei dele. Mas amei toda essa questão do ciumes e uma outra pessoa no meio da relação. Vou continuar aqui. Abraços.
Por Luã em 2015-09-02 19:18:07
Oi gente! Tudo bom? Agradeço o feedback de vocês. Essa segunda temporada está sendo um desafio pra mim, porque a história é bem mais complexa e o clima é bem mais adulto, fazendo com que os personagens tenham que mudar, mas eu não quero que eles mudem muito. Eu fico feliz que vocês estejam gostando e acompanhando a série, e espero que a história fique cada vez mais interessante pra vocês! Obrigado pelo carinho. Abraços!
Por diegocampos em 2015-08-31 14:32:00
Nossa, não gostei desse caio espero que ele é o Felipe continuem juntos e que esse caio não atrapalhe.
Por BielRock em 2015-08-31 12:01:33
Oi, comecei a ler sua história ontem e já me apaixonei por completo por ela. Sua escrita é cativante. Bom, esse capítulo está do jeito que gosto, enorme. Mas espero que o relacionamento do Edu e Lipe não acabe por causa do Caio. Eles já enfrentaram muitas coisas piores e com certeza eles vão enfrentar essa. Espero que não aja traição por ambos, traição é algo imperdoável não é verdade ? Enfim, amei a sua história e você ganhou mais um leitor. XoXo.
Por luan silva em 2015-08-31 01:31:49
ai jisua ñ gostei desse caio to vendo treta por ai, muito ansioso para o proximo.
Por Niss em 2015-08-31 01:10:38
Aiaiaiaiaaiaiaiaaia. Não quero acreditar que esse deus grego vai tomar o Felipe do Edu. E tbm não aceito que isso aconteça. Eles dois são tão lindos juntos passaram por tantas coisas pra vir um filho de Lúcifer lindo desses e acabar com tudo??! Não mesmo. Espero que isso não aconteça. Espero pelo próximo capítulo. Kisses Niss.