01. Álbum de família
Parte da série O garoto da mesa 09
O que pode mudar em 03 anos? Bom, posso afirmar com toda a certeza que muita coisa. Nesse espaço imenso de tempo, mais precisamente 1095 dias, muita coisa pode acontecer. Podemos receber promoções no emprego, ou trocar de emprego, uma, duas, dez vezes. Mudar de carro, de casa, de namorados, de ciclo de amigos, ou fortificar as amizades antigas. Todos os dias é como se tivéssemos a chance de fazer algo diferente, ao acordar. É como se nossa vida fosse um grande livro, onde cada dia é uma página nova e que tudo pode ser tão fácil ou tão difícil, dependendo do ponto de perspectiva. O mais engraçado é que nessas páginas, não é permitido voltar atrás e apagar algo que já escrevemos, pois o fizemos à caneta. Muitos podem se assustar com a ideia, mas para mim é algo emocionante.
Agora eu estou em frente ao espelho grande com moldura quadrada de madeira envernizada, combinando com o restante da mobília do quarto, que mescla aspectos rústicos e modernos. Olho para mim e vejo um Eduardo diferente. Mesmos olhos castanhos, mesmo cabelo curto e com o corte propositalmente bagunçado, mas de um jeito agradável, mesma pele clara que contrasta com minha barba, agora crescida e bem desenhada, mas mesmo assim, há algo diferente. Eu me sinto mais adulto, mais decidido e confiante.
Enquanto olho para mim, a aliança em ouro branco reflete na minha mão direita, fazendo meus olhos correrem pra ela, admirarem ela e lembrarem que eu meu casamento está tão próximo. Esse ano que vai começar daqui a um par de horas vai ser muito decisivo pra mim. A festa de formatura já vai ser na semana que vem, e só de pensar nisso meu coração se aperta. Vou sentir falta da faculdade, de ver Marina todas as noites. Então, em abril será meu casamento. Dia 29, aqui nessa chácara da família do Felipe. Estamos aqui passando alguns dias para descansar do caos e da correria de Porto Alegre, além de passarmos a virada do ano em um lugar diferente e só nosso.
Termino de me arrumar e dou uma última olhada para o garoto vestido de branco no espelho e empurro a cadeira para fora do quarto, onde eu encontro Felipe na cozinha, preparando o jantar. Ele insistiu para fazer isso, e eu lhe dei o voto de confiança.
- ei.
- ei. Já tá pronto? – ele fala ao se virar pra mim, enquanto está ocupado fritando o lombo na panela de pedra.
- já. O cheiro tá ótimo.
- isso porque eu ainda nem fiz o molho de maracujá. – ele estufa o peito, orgulhoso.
- tenho fortes concorrência na cozinha agora. Bom saber. – franzo o cenho, fingindo estar bravo, e ele me lança aquele sorriso lindo e largo, esticando o braço e pedindo para eu me aproximar.
- o que um livro de receitas não faz, né?
Ele sorri e eu o encaro por alguns segundos.
- você também tá lindo.
- obrigado. Coloquei a bermuda que você me deu. Você viu?
- vi sim, ficou linda em você. – e é a mais pura verdade. Ele também está todo de branco, com uma camisa de linho arremangada nos cotovelos, a bermuda de algodão da mesma cor e um chinelo.
- precisa de alguma ajuda?
- não, hoje o jantar é por minha conta. – ele pega um copo com um drink no balcão de mármore branco da pia, tomando um gole. – quer um pouco?
- o que tem aí?
- coquetel de frutas.
- hum, parece bom.
Ele me alcança e eu tomo um longo gole. O gosto do maracujá, da uva e do morango acendem meu paladar, enquanto o gelo picado e a vodka provocam um equilíbrio quente e gelado na minha garganta.
- tá ótimo.
Alcanço o copo pra ele de volta e vou até a sala ampla, com o piso de madeira e amplas janelas de vidro, que revelam o céu limpo lá fora. É uma vista muito agradável. Pego o controle do mini system no sofá cinza grande e cheio de almofadas e coloco no modo USB, onde meu pen drive começa a tocar I’m not the only one, do Sam Smith.
- nem ouse trocar de música. – Felipe protesta ao longe.
- trocar Sam Smith? Isso seria loucura.
Então, fecho os olhos e sinto a música. Eu sei que a letra dela não combina com o momento, mas ela parece se encaixar tão bem aqui, instalando uma paz, um estado de satisfação interior e de reflexão sobre tudo. Ao abrir os olhos novamente, Felipe está de pé em minha frente, me olhando com aqueles olhos apaixonados, cintilantes e intensos.
- por quanto tempo você ta aí? – pergunto um pouco sem jeito, pois eu estava me balançando ao ritmo da música.
- acabei de chegar.
Então ele se aproxima mais ainda de mim e eu sinto o cheiro do seu perfume misturado com cheiro de óleo de cozinha e de maracujá. Ele se senta em meu colo e envolve seus braços ao redor do meu pescoço.
- quase cinco anos juntos. Isso são bodas de que?
- sei lá, papelão? – eu digo dando de ombros, fazendo ele rir.
- mas já é um tempo e tanto.
- com certeza.
Então, ele me beija devagar e intenso. Sentir seus lábios são sempre algo divino pra mim. Então ele se levanta novamente e volta para a cozinha para terminar o jantar. Eu continuo na minha vibe Sam Smith, sorrindo por estar absurdamente feliz agora, estando nesse lugar incrível, apenas eu e Felipe, entrando em um novo ano juntos.
__
Assim que Felipe termina de colocar a mesa, vejo que ele realmente caprichou na comida. Arroz a grega, lombo e salada de alface, tomate e pimentão amarelo. O cheiro faz meu apetite se abrir ainda mais. Assim que dou a primeira garfada, me encho de orgulho de Felipe. Ele está aprendendo a cozinhar, e faz isso bem. Enquanto comemos, conversamos sobre coisas aleatórias; a festa da formatura, a promoção recente de Felipe a gerente da agência, o destino ainda não definido de nossa lua de mel. Oscar recebeu uma proposta para uma agência de publicidade maior no Rio no meio do ano, mas só no mês passado que ele realmente aceitou. Para a surpresa de Felipe, ele foi a escolha unânime tanto de Oscar quanto do resto da equipe para a liderança da agência. Ele está muito feliz por isso, e não é pra menos. E em relação à lua de mel, Felipe quer muito ir para Nova Iorque, já eu prefiro não ir tão longe e não gastar tanto. Meu palpite é Buenos Aires, mas não nego que eu queria muito conhecer nova Iorque também. Precisamos resolver isso pra ontem, já que os pacotes de viagem não são tão baratos e quanto mais perto da data é, mais caro fica.
__
Olho para o relógio e vejo que faltam dez minutos para a meia noite. Pego as taças de champanhe e vou até a sacada da sala, onde Felipe já está olhando o horizonte estrelado e colorido por fogos de artifícios antecipados.
- pensando em que? – falo chegando ao seu lado, alcançando uma taça pra ele.
- como esse ano passou rápido.
- isso é verdade.
- e como eu to feliz de passar mais uma virada de ano junto contigo. – agora ele me olha, o rosto reluzente e emotivo.
- parece loucura, mas faz quatro anos que a gente tá junto. Quatro viradas de ano juntos.
Ele sorri e passa sua mão pela minha bochecha, fazendo eu fechar os olhos.
- te amo, Edu.
- eu também, Felipe.
Então, olho no meu relógio de pulso e vejo que agora falta um minuto para a virada. Os fogos se intensificaram, agora riscam o céu incessantemente com cores e formas variadas, deixando tudo mais colorido e intenso. O ponteiro anda das 23:59 para as 00:00 e meu coração se aquece.
- feliz ano novo, meu amor.
- feliz ano novo. – ele me responde e me planta um beijo nos lábios. Sinto sua boca quente e úmida, sua barba roçando em mim, uma de suas mãos envolve minha nuca e a outra segura a taça. Damos nosso primeiro gole e eu começo a fazer minhas reflexões, enquanto acho que Felipe faz o mesmo.
Ano novo, um novo livro com páginas em branco. Ano novo, um ano mais velho e com mais sabedoria para escrever nesse livro.
__
Me desperto sentindo o braço de Felipe por cima de mim. As cortinas da ampla janela estão abertas, deixando o sol entrar e aquecer meu rosto. Me desvencilho com cuidado do abraço de Felipe e me transfiro para a cadeira com o máximo de cuidado para não acorda-lo. Vou até a geladeira e começo a pegar as coisas para o café da manhã. Estou preparando as coisas na mesa quando ele aparece com a cara amassada e sonolenta na porta do quarto, me olhando de longe.
- bom dia.
- bom dia, dorminhoco.
- acordou cedo.
- tava com fome, quis preparar o café antes de você acordar.
- quer ajuda?
- não precisa. Já to acabando.
Ele consente e vai para o banheiro. Eu termino de pegar tudo o que preciso na geladeira e então vou até a pia e pego os pratos e os copos.
Felipe se junta a mim na mesa e começamos a debater o que vamos fazer hoje. A chácara é grande e lugares pra conhecer não faltam, então vamos aproveitar logo de manhã pra fazer isso.
Do lado de fora da casa está minha picape adaptada. É uma Amarok prata, grande até demais pra mim. Felipe me deu de presente no ano passado. Vou até ela e abro a porta, acionando o botão para o banco rotativo descer até a mim. Então me transfiro da cadeira para o assento e então aciono o botão novamente, desta vez para subir de volta. Enquanto isso, Felipe pega a cadeira e guarda na parte de trás. Já dentro do carro, dou a partida e seguimos para a estrada de chão batido que nos leva pela propriedade. No rádio está tocando Goodbye Apathy, do OneRepublic, me remetendo a uma sensação de paz absoluta, enquanto dos dois lados da estrada há uma fileira de eucaliptos enormes em todo o caminho, desde a casa, parecendo apenas manchas verdes que ficam pra trás enquanto eu e Felipe dirigimos em direção às parreiras de uva, apenas admirando a paisagem natural diante de nossos olhos. Ao chegarmos, vejo uma vasta plantação de videiras suntuosas e imponentes, que por estarem em época de colheita, já há algumas pessoas colhendo as uvas e levando para a vinícola, mais ao longe, que está em plena atividade, sediada em um prédio construído com tijolos a vista, de aspecto antigo, deixando tudo com um ar mais rústico. Esse é um fato interessante sobre a família de Felipe que até pouco tempo atrás eu não sabia. A vinícola é um negócio da família que atravessa gerações e que é tratado com muita seriedade por César e seu irmão.
- costumava vir pra cá todos os anos nas minhas férias, quando eu era menor. Ficava correndo pela vinícola, irritando os empregados e fugindo do meu avô, que ficava muito bravo atrás de mim. Aí quando eu comecei a crescer, tomava um pouco de vinho escondido todos os dias, até que meu pai viu e me colocou de castigo. – ele conta tudo com um tom nostálgico em sua voz.
Damos a volta e então estacionamos bem em frente ao prédio da vinícola. Há algumas pessoas trabalhando no que eu acho ser a fermentação do vinho. Felipe cumprimenta a todos e me apresenta como seu noivo. Toda vez que ele fala “esse é meu noivo, Eduardo”, meu coração bate acelerado. É alto tão intenso e pesado, mas de uma forma boa. Passando por todos, chegamos em uma rampa onde nos leva até um andar abaixo do térreo, onde a iluminação é mais baixa e a umidade é elevada. É onde ficam os barris de carvalho com o vinho já fermentado, agora em estado de envelhecimento. Passear pelos largos corredores cheios de história e de nostalgia para Felipe é encantador. O cheiro de madeira e de uva está impregnado no lugar, e eu estou admirado ouvindo as histórias da infância de Felipe que ele ainda não havia me contado. E são tantas. Ele passou boa parte da infância nesse lugar, e eu imagino o quanto isso lhe trouxe bons momentos.
___
Já de tardezinha, no caminho de volta para a casa, vejo que o céu limpo agora torna-se cinza e pesado, anunciando chuva.
- pena que já temos que voltar amanhã. – Felipe resmunga ao entrarmos na sala.
- passou rápido, realmente. Mas já deu pra descansar um pouco.
- a agência tá uma loucura agora que um dos meninos saiu, justo agora que temos um projeto grande. Amanhã tudo vai cair na minha cabeça. – ele vai até a geladeira e pega uma garrafa de água, bebendo alguns goles grandes no bico, o rosto tenso.
- calma, vai dar tudo certo. Temos hoje ainda, se você ficar pensando nos problemas de lá, vai acabar não aproveitando nada. Lá no restaurante as coisas também estão corridas, mas eu prefiro não pensar nisso agora. – digo ao me aproximar dele. Ele relaxa um pouco os olhos, deixando aparecer um vestígio de um sorriso.
- tudo bem. Eu vou tomar um banho.
- vou aquecer a comida de ontem e ver algum filme bacana pra gente assistir mais tarde, o que acha?
- é uma ótima ideia. – ele se curva para mim e me dá um beijo. – já volto.
Depois de colocar tudo para aquecer no microondas, vou até o quarto e pego o notebook, o cabo HDMI e conecto na televisão da sala, procurando algum título interessante para assistir. Enquanto busco incessantemente pela lista não tão grande do aplicativo, acabo correndo meus olhos até a rack de carvalho, onde em uma das prateleiras na parte de baixo, há o que parece ser um álbum de fotos. Tiro o notebook do meu colo e o coloco no sofá, indo até o objeto que me chamou a atenção. Então, para minha surpresa, logo ao abrir o álbum vejo a família de Felipe em uma foto de no mínimo 15 anos atrás. Estão todos parados em pé, um do lado do outro, na frente da vinícola que é visivelmente motivo de orgulho da família. Atrás deles está uma picape Ford 1965 imensa, azul claro com branco, a parte de trás abarrotada de uvas. Um casal simpático que eu acredito ser os avós de Felipe por parte de pai, os quais eu nunca conheci, e Felipe não lembra muito, já que eles morreram quando ele era pequeno. Ao lado deles está César, com os cabelos compridos e uma camisa xadrez enfiada para dentro das calças jeans largas; Marcelo, seu irmão, ainda não aparenta calvície, com o cabelo um pouco mais curto e bem cheio. Helena está tão linda na foto, com um rosto jovial, cabelos soltos com franja e usando uma calça boca de sino e um suéter. Felipe está ao seu lado, um toco de gente. Sorrindo exageradamente, os cabelos em formato de cogumelo, semelhante à de índios, com os dois dentes da frente faltando. Ao olhá-lo já começo a rir, lembrando das travessuras que ele me contou mais cedo.
- o que você achou aí? – me assusto ao ouvir a voz de Felipe, olhando para a porta da sala que faz divisa com a cozinha, onde ele está parado com a toalha enrolada na cintura, o corpo molhado do banho e sendo iluminado parcialmente pela luz que vem de trás dele, da cozinha, com a iluminação da rua, formando um jogo de sombras sedutor em seu corpo e destacando seu abdômen, seu tórax e seus braços.
- achei um álbum de fotos aqui.
- deixa eu ver.
Ele se aproxima e senta no sofá, enquanto eu chego ao seu lado e coloco o álbum em meu colo, de uma forma em que os dois consigam ver. Ao folhear as páginas cheias de memórias, Felipe vai me contando cada história por trás das fotos, nos retratos envelhecidos e com cores um pouco apagadas, dando um aspecto ainda mais especial nas recordações. Em um determinado momento, há uma foto só dele na vinícola, em cima dos barris de vinho com os braços abertos, como se ele fosse o rei do lugar. Isso faz eu e ele rirmos e nosso olhares então se cruzam e pairam um sobre o outro. Os olhos castanhos de Felipe me fitam intensos, e eu sem pestanejar lhe dou um beijo ardente de desejo. Minhas mãos tocam seus braços definidos e ainda levemente úmidos do banho, enquanto nossas línguas dançam juntas em uma sincronia perfeita. O barulho da chuva lá fora começa a bater no telhado, e as gotas pincelam a janela grande de vidro ao nosso lado. Felipe começa a me ajudar a tirar a camiseta, ansioso, e depois em um movimento rápido me põe em seu colo, me segurando pelas costas, sem tirar sua boca da minha um minuto sequer. Então, ele me deita no sofá, tirando algumas almofadas para o chão, e então começa a me ajudar a tirar a bermuda e a cueca, revelando meu pênis começando a despertar. É nessa hora então que ele se livra de sua toalha, fazendo seu mastro pular pra fora, branco e reluzente, apontando para cima. Ele se aproxima de mim e então eu o puxo rapidamente, com uma mão na nuca e outra nas costas, até que seu peso esteja totalmente em cima de mim.
Seu beijo molhado em meu pescoço me provoca arrepios e só me deixa com mais prazer. Ele então prende meus braços e vai lambendo meus mamilos, se dedicando um bom tempo neles, e depois vai descendo pela barriga, com sua língua fazendo um rastro em mim, até chegar na parte mais importante. Assim que ele coloca sua boca em meu pênis, eu vou à loucura. Depois que eu fiz a cirurgia e recuperei a sensibilidade ao toque, a relação de pele a pele entre eu e ele ficou ainda mais intensa. Essa foi a principal conquista da cirurgia, e eu fico muito feliz por isso. Ele se diverte comigo, subindo e descendo sua boca em mim, enquanto eu apenas aproveito a sensação. Então, ele vem até minha boca e me beija, fazendo eu sentir o gosto da minha própria lubrificação. Seus olhos parecem arder em brasa ao me encararem, pouco antes de colocar seu pênis em minha boca, e quando ele o faz, ah que sensação boa! Esse membro grande, quente e pulsante, só meu. Ele controla o movimento, ora lento e ora acelerado, com sua mão pegando em minha nuca e enterrando seu pênis em minha garganta. Sua cara é de prazer absoluto e eu também estou extasiado ao sentir tudo isso. Meu corpo todo se arrepia ao sentir o toque feroz de Felipe, sua necessidade de me ter por completo, isso me atiça. Ele então fica embaixo de mim, me colocando em seu colo e começando a brincar com a entrada do meu anus, forçando a entrada. Nesse momento eu agradeço por estar limpo. Então, como se ele adivinhasse que eu queria isso quase mais do que ele, ele enfia seu pênis dentro de mim, fazendo o contato de pele com pele arrancar um gemido abafado de minha boca. Sua expressão facial revela prazer absoluto enquanto ele entra devagar em mim, até estar completamente do lado de dentro. Agora ele está com a cabeça apoiada em algumas almofadas, ficando com seu corpo levemente curvo em cima do sofá e me segurando pelas costas, dando sustentação. Então eu me deito por cima dele e, com as pernas dobradas, de joelhos, eu me estabilizo no sofá, afundando meu nariz em seu pescoço, que assim como o resto do corpo, cheira a sabonete e perfume amadeirado. O movimento de entra e sai natural, sem nada entre eu e ele parece ser ainda mais intenso. Agora eu estou relaxado, me dando a liberdade de sentir tudo isso com prazer e sem preocupação nenhuma. As estocadas aumentam de velocidade e as nossas respirações se misturam, aceleradas, nossos gemidos se elevam, ficam mais intensos e mais altos. Eu afundo meus dedos no cabelo de Felipe e fecho os olhos, deixando minha mente se concentrar apenas em seu membro me invadido e me dando um prazer sem igual. Nossas bocas voltam a se beijar, agora com muito mais intensidade e necessidade. Eu sugo seu lábio inferior, mordendo-o levemente em seguida e sentindo sua língua na minha. Ele começa a aumentar as estocadas então eu sinto que ele está próximo do limite. Quando menos espero, sinto o primeiro jato quente dentro de mim, enquanto ele está com o corpo se retorcendo e com os olhos fechados e a boca aberta, no ápice do prazer. Jatos e mais jatos continuam a serem disparados dentro de mim e a sensação é única, me pincelando por dentro. Suas mãos me agarram com força e me puxam contra seu corpo, depois que ele começa a respirar fora de compasso e com vestígios de suor na testa. Nossos corações estão um em cima do outro, peito com peito, enquanto as batidas aceleradas se misturam.
O despertador toca, me chamando pra vida normal novamente. Após alguns dias de descanso, preciso voltar ao mundo real. Já de volta em Porto Alegre, uma nublada e maravilhosa Porto Alegre. Felipe se espreguiça e me dá um beijo de bom dia e se levanta pra escolher sua roupa. Eu vou para o banheiro tomar uma ducha pra despertar. Depois de arrumado, vou para a cozinha preparar o café enquanto Felipe toma o banho dele. Após comermos, nos despedimos, cada um pegando seus respectivos carros e seguindo para nossos trabalhos.
Logo ao chegar no restaurante vejo as meninas da limpeza já passando um pano no chão, deixando um cheiro agradável de lavanda no ar.
- bom dia, meninas.
- bom dia, Edu!
Sigo para a sala dos armários e troco minha camiseta pelo meu avental e minha touca, ambos brancos e de corte fino. No avental, o emblema do restaurante bordado no lado esquerdo do peito, em um sinal de paixão pelo que se faz. Sigo para a cozinha e vejo meus colegas já preparando tudo para a abertura do restaurante. A correria me dá boas vindas de volta, então eu começo a fazer meu trabalho.
- e aí Edu! – Patricia, como sempre de bom humor, me recepciona de forma calorosa. – como foi a virada do ano?
- foi boa. Eu e o Felipe passamos em
Bento Gonçalves, na chácara da família dele.
- hum que chique! Eu passei em casa mesmo, comendo panetone e olhando o especial de fim de ano na televisão.
- que deprimente, Pati. Não saiu por que? Onde tava o Maurício?
- aquele bastardo foi viajar com a família dele e me deixou sozinha.
- vish...
Papo vai, papo vem, começamos a cortar as saladas e temperar as carnes. O restaurante abre as 11h e o movimento começa a crescer timidamente. Dentro da cozinha, recebemos alguns pedidos de pratos leves, então já temos ocupações. Eu coordeno meus colegas, pois Bruno, o Chef oficial, está de férias. Admito que liderar a equipe é muito prazeroso. Tudo o que envolve a gastronomia pra mim é prazeroso. Eu me sinto feliz todos os dias por estar fazendo o que eu gosto. Tamanha minha felicidade, o dia passa voando, e quando eu vejo, está na hora de ir embora. O movimento ma hora do almoço cresceu inacreditavelmente bem pra uma segunda feira do começo de janeiro, então eu tive bastante com o que me ocupar. Faltando alguns minutos para as 18h, termino de guardar algumas panelas já limpas e me dedico a fazer uma pequena relação do que está em falta na despensa de temperos e deixo um de meus colegas encarregado de comprá-los. Me despeço de meus colegas, que lavam a louça e organizam a cozinha, e dou um abraço em Patricia, que ainda reclama sobre Maurício, e sigo direto para o mercado. Agora que as aulas acabaram, o período em que eu ficava na faculdade eu aproveito pra descansar e cuidar da casa. Compro algumas coisas que estavam faltando e vou pra casa fazer um jantar especial e esperar Felipe.
__
O aroma do jantar está espalhado pela cozinha. Os filés de frango temperados com açafrão, pimenta calabresa e alho estão na frigideira, abrindo meu apetite, enquanto a salada de repolho roxo com laranja já está pronta e temperada com limão na mesa. Está quase tudo pronto quando o interfone toca. Quem será a essa hora? Limpo minhas mãos no pano de prato e vou atender. O porteiro me informa que Marina está lá embaixo. Prontamente eu mando-a subir, surpreso por sua visita repentina. Vou até a cozinha e tampo o pote com os filés já prontos e guardo a salada na geladeira.
- ei caipira, enrolado na cozinha?
- Marina! – sua voz faz eu me virar já com um sorriso estampado no rosto. Não via ela desde semana passada, quando fomos até a universidade pela última vez para a prova da beca.
- se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. – ela fala com um semblante de beicinho, fingindo estar brava por eu não ter procurado-a.
- ah Mari, desculpa, eu ando tão atarefado no restaurante. – digo encolhendo os ombros, me sentindo culpado.
- não tem problema, não foi pra isso que eu vim.
- ah não?
- não. Eu trouxe visita.
- visita? – arqueio a sobrancelha. Será Bárbara? Se for, não precisa de todo esse mistério, ela já é de casa.
Ela dá um passo pro lado e vejo Bernardo surgindo de trás dela, fazendo meus olhos se arregalarem.
- Bê! Meu Deus! – eu praticamente grito ao vê-lo.
- e aí, caipira! – seu sorriso e seus olhos brilham, assim como os meus ao vê-lo. Sua barba ruiva agora está um pouco maior, lhe deixando com aspecto mais velho. Só agora eu vejo o quanto eu havia sentido sua falta.
- como assim você não avisa nada que chegou? Desde quando você tá aqui? E nossa, você tá mais alto! – eu digo depois de um longo abraço. Ele está tão mais adulto, tão mais homem. O ar europeu lhe fez muito bem.
- eu cheguei hoje à tarde, pedi pra Marina fazer surpresa.
- você é uma cretina. – lanço um olhar fuzilante para ela, que dá de ombros.
- não culpe ela, eu que quis lhe fazer surpresa.
- bom, então são dois cretinos. – eu digo, fazendo os dois rirem. Em seguida, puxo Bernardo para mais um abraço. É tão bom ver ele bem. A última vez que o vi foi no feriado de Páscoa do ano passado. Ele estava um pouco abatido, devido à correria que esta sua vida na Alemanha. Ele está cursando o primeiro semestre de engenharia mecânica, entrou logo após terminar química.
- e cadê o Fabrício? Vai me dizer que ele não veio dessa vez, de novo?
- ah ele veio sim, mas tava muito cansado, pediu desculpas mas ficou descansando em casa.
- entendo. Mas como ele tá? E vocês dois?
- estamos bem, mês que vem faz um ano de namoro.
- fico feliz por vocês, Bê.
- o Bernardo é corajoso por aguentar ele esse tempo todo. – Marina resmunga sarcástica, fazendo Bernardo ficar sem jeito.
- Marina...
- ah Bê, não me leva a mal, mas você sabe que ele é um pé no saco.
- vocês só não tiveram um entrosamento bom até agora, mas acho que ele vindo pra cá pessoalmente isso vai mudar.
- veremos.
- vocês tão com sede? Querem algo pra beber? – tento cortar o clima tenso que se instalou. Grande parte de mim sabe que Marina está falando a verdade, mas eu prefiro não opinar sobre isso agora.
- eu aceito uma água, Edu. – Bernardo é o único a falar. – onde é o banheiro mesmo?
- já esqueceu? – meu tom de voz é brincalhão. – na primeira à direita, no corredor da sala.
Enquanto ele vai, eu vou para a cozinha pegar a água. Marina logo vem atrás de mim.
- desnecessário o seu comentário, Mari. – falo em um tom de repreensão.
- ah o Fabrício é um nojento, eu não faço questão de esconder que não vou com a cara dele. Você acha que ele não veio porque estava “cansado da viagem”? – nessa parte ela faz aspas com o dedo. Claro que não, ele não vai com a sua cara Edu, ele tem ciúme da amizade que você e o Bê tem.
- bom, isso não importa. Se ele não gosta de mim, o problema é dele.
- ele não gosta de ninguém. É um ridículo.
- Marina! – apesar de repreender ela, não consigo deixar de rir.
Bernardo se junta a nós na cozinha, fazendo-nos mudar de assunto rapidamente.
- mas e aí Bê, como vai a Alemanha?
- agora está tudo correndo bem. Passado a correria de início de curso, já me acostumei.
- eu sei como é essa correria. Final de curso acabou comigo.
- acabou com a gente né? – Marina complementa indignada. – tenho certeza que a professora Laisa descontou aquele meio ponto de mim por implicância. Meu trabalho tinha sido perfeito.
- eu quase não consegui vir, tinha muitas coisas pra resolver lá em Berlim, mas eu não podia perder a formatura de vocês. Minha irmã e meu melhor amigo se formando, que orgulho.
- melhor amigo? Me engana que eu gosto, Bernardo. Você agora tem aqueles seus amigos alemães, loiros de olhos azuis, inteligentes e carrancudos, que só comem chucrute.
- ah para de drama Edu! Você sempre foi meu melhor amigo, você sabe disso.
- eu sei, bobão. To zoando com a sua cara.
Ele me faz uma careta e eu pisco pra ele. É tão bom ter ele de volta aqui, mesmo que por alguns dias. A amizade de Bernardo me faz falta as vezes.
- e o Felipe, cadê?
- deve tá chegando daqui a pouco, a gente voltou ontem do feriado e as coisas lá na agência devem estar uma loucura.
- imagino, agora ele sendo o cabeça de lá. Fico feliz por ele.
- não vai demorar muito pros dois serem os cabeças de onde eles trabalham, Be. O Edu é praticamente o Chef lá do restaurante, só não é na teoria, mas na prática...
- ah é? Mas vejamos só. – ele cruza os braços, me olhando com a cabeça pendida pro lado.
- ah não é pra tanto, eu só me esforço pra fazer de tudo um pouco.
- Edu, não seja modesto. Você sabe que faz um trabalho incrível lá. Esses dias eu fui lá jantar Bê, e pude comprovar. O Edu se desdobra em dez, é praticamente quem comanda lá.
- eu não duvido disso. O Edu sempre teve capacidade.
Vejo os dois me olhando orgulhosos e isso aquece meu coração. Esse tipo de reconhecimento é incrível pra mim, saber que eu faço o que eu amo e faço isso bem.
Escuto um barulho de chaves e passos na sala. É Felipe. Antes de terminar meu pensamento ele surge na cozinha, ficando surpreso quando vê Bernardo.
- Bernardo? Que surpresa! – ele diz se aproximado para um abraço. Eu queria tanto ver essa cena. Ver os dois se dando bem. Agora que passou tanto tempo, não era pra menos que eles estivessem amadurecidos e que tivessem superado as diferenças.
- como vai, magnata da publicidade? – Bernardo diz ao estar com um braço envolvendo Felipe e o outro dando dois tapinhas em seu peito.
- bastante corrido. Hoje a hora não passava. Mas faz parte. E você, já tá fluente no alemão? – ele fala brincalhão.
- quase, quase.
Os dois engatam uma conversa animada e eu olho feliz para Marina, que entende o motivo de meu sorriso bobo. Eles estão se dando tão bem. Meu noivo e meu melhor amigo. E pensar que eles se odiavam no começo. “É, o tempo fez pra eles.” – penso comigo mesmo, sorrindo orgulhoso mais uma vez.
Então, depois de estarmos os quatro reunidos, insistimos para Bernardo e Marina ficarem pra jantar. Nossa noite foi bastante agradável, com Bernardo nos contando as novidades da Europa. O clima de reencontro é tão acolhedor, faz eu me sentir tão bem. É como se eu e Bernardo nunca tivéssemos ficado longe por tanto tempo. Sempre que ele volta ao Brasil, é como se nada tivesse mudado. Ter sua amizade é algo muito valioso pra mim. Agora, estando com quase todas as pessoas que eu mais amo no mundo de uma só vez – só faltando a minha mãe pra completar – eu me sinto realmente feliz por inteiro. Aqui, olhando Bernardo tão crescido, mas com o mesmo sorriso jovial enquanto conversa com Marina, que também está com aspecto mais maduro e com Felipe, que não só aparenta estar mais maduro, mas esta se mostrando um homem de responsabilidades, um verdadeiro chefe de casa, eu vejo quanto o tempo passou. É como se os anos tivessem voado, apenas nos trazendo coisas boas e nos deixando pessoas melhores.
- gente, precisamos tirar uma foto pra registrar o momento! – Marina grita, chamando a atenção de todos e me tirando dos meus devaneios. Então, todos nos aproximamos e Bernardo aciona a câmera frontal do seu celular, tirando uma foto. Pego o telefone pra ver e é como se fossemos uma pequena família ali. A alegria era palpável, deixando a fotografia ainda mais bonita. Então, penso que ela é digna de um álbum de fotos, aqueles álbuns de família, igual ao que tinha na chácara da família de Felipe.