11. Reações inesperadas

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série Dia a dia, lado a lado

Passo a mão na cama, procurando por Gustavo e não o encontro. Que horas são? Olho no relógio e vejo que ainda não são nem 7h ainda. Ele conseguiu ao menos dormir? Fomos dormir tarde ontem e se eu, que dormi antes que ele, já estou com a cabeça explodido com todas as informações soltadas, somando as poucas horas de sono que eu tive, imagino ele, que provavelmente dormiu menos do que eu. Me levanto e vou até o banheiro. Nada dele, porém, o cheiro de sabonete e perfume no ar, junto com o box molhado deixam rastros dele. Me visto e saio do quarto, desço as escadas, olho pela sala; ele também não está lá. É só na minha última tentativa, na cozinha, que eu o encontro. Lá está ele, vestido com a roupa usual do trabalho, uma calça social preta é uma camisa cinza claro, virado de costas pra mim enquanto espera a cafeteira terminar de soltar sua bebida no recipiente, o aroma me aguçando o olfato.

- ei, acordou cedo.

Tento uma aproximação, não sabendo se eu finjo que nada aconteceu ou se eu toco no assunto, mas prefiro deixar tudo no modo mais tranquilo pra ele, o que eu julgo ser a primeira opção. Como resposta, eu recebo apenas uma virada parcial de rosto e um esboço de um sorriso. É, ele não está muito afim de conversar, eu presumo, então eu dou seu espaço necessário. Sirvo uma xícara de café pra mim e me sento na banqueta, de frente pra ele e com a bancada de mármore nos separando, como se já não bastasse o silêncio incômodo que parecia mais uma muralha entre a gente. Abro a boca tentando soltar alguma coisa, mas minha mente não consegue produzir nada de construtivo e então eu volto a fecha-la, enquanto passo meu dedo indicador na borda da xícara. Ele olha pra mim e nota minha tentativa, mas não faz nada a respeito. O silêncio está me deixando gradualmente irritado. Vamos ficar assim por muito tempo? Eu não quero que ele se sinta inseguro em me deixar saber sobre essas coisas, eu sou quem mais quer compreender ele nesse momento, ajudar a tentar esquecer isso ou pelo menos deixar amenizado, como provavelmente era antes daquela mulher aparecer.

- vamos?

Ah, o som de sua voz! Consigo ouvi-la pela primeira vez no dia, mas mesmo assim tudo soa tão triste, vazio. Eu concordo com a cabeça e levanto com ele, indo em direção à garagem. Já a bordo do Audi, até o motor silencioso do carro era barulhento, então eu sinto que preciso tentar quebrar esse silêncio.

- Gus, se você quiser conversar sobre o que...

- não, eu não quero.

Seus olhos se mantém firme na estrada e eu engulo em seco. Seu tom de voz ríspido me deixa sem saída e eu me sinto chateado. Por que ele tá me tratando assim?

Depois que chegamos na agência, mais surpresas. Quando entro no elevador, noto que ele não está mais do meu lado. Coloco a cabeça pra fora e noto que ele pegou a escada. Mas que porra! Eu fiz alguma coisa? Falei alguma coisa de errado? Será que minha reação de chorar ou de fingir estar dormindo o deixou irritado? Pois eu não vejo explicação pra isso tudo. Por conta disso, o resto do meu dia acaba se tornando chato e pesado. Nem mesmo as diversas tentativas de distração de Amanda na hora do almoço tiveram êxito. Ela me perguntou várias vezes o que eu tinha, mas eu usei a desculpa podre de que estava com dor de estômago e, mesmo não sendo convincente, consegui escapar de sua tenacidade, por hora.

No final do dia, vejo Gustavo indo embora e ele nem ao menos se despede de mim. Eu, que já estou com os nervos exaltados, decido ser orgulhoso e não ir atrás. Porém, logo após sair da agência, não consigo me aquietar. Eu preciso saber o que ele está pensando, o que está acontecendo. Bem no semáforo, quase pegando a outra avenida que vai em direção ao meu bairro, eu faço o contorno e mudo minha rota, indo para a casa dele. No mínimo eu preciso saber se ele está bem, pois eu estou preocupado. A reação dele de chorar ontem e de confessar seus medos não foi algo natural e eu sei que isso deve ter assustado ele, então mesmo que ele não queira conversar nem comigo e nem com ninguém ou até mesmo que eu esteja chateado com a atitude dele, eu preciso saber se ele está bem, apesar dos pesares.

Quando meu carro estaciona em frente à sua casa, já está anoitecendo. Sigo com a respiração fora de compasso e com o coração acelerado até a porta, então aperto a campainha. Poucos segundos depois, um Gustavo abatido e com o olhar levemente bêbado aparece, com a mesma roupa do trabalho, mas com os três primeiros botões da camisa desfeitos.

- ahm, eu... Você tá bem?

Ele me encara alguns segundos, não respondendo, apenas tirando a mão da porta e dando a volta, retornando para a sala e me deixando sozinho. Eu permaneço com meu pensamento de ao menos saber se ele está bem firme na minha cabeça e atravesso a porta, não me importando com a ma receptividade dele. Agora eu mais pareço um intruso e eu sinto que minha insistência está sendo indesejada, mas eu não consigo ver ele assim. Chego até suas costas e toco minha mão em seu ombro, numa nova tentativa de aproximação. Para minha surpresa, como resposta ele se vira e tenta me beijar, mas seu bafo de bebida e seu jeito quase agressivo me fazem o empurrar, assustado.

- Gustavo, o que você tem? - meus olhos estão arregalados e meu tom de voz é alto.

- eu quero aliviar a minha tensão, bebê. Vem cá.

Ele se move pra frente, querendo me agarrar, então eu o empurro novamente.

- Gustavo, para.

- não foi pra isso que você veio? Pra foder?

O que? Porra!

- como assim, Gustavo? Claro que não! Eu vim ver como você tá.

- bom, você não precisa se importar com isso. Pra mim você me deixando eu te foder já basta.

Suas palavras saem tão agressivas, mas tão baixas e calmas que nem parecem que estão me quebrando por dentro.

- eu não quero só transar com você, Gustavo. Eu me importo com você. Quer dizer, eu me importo com o Gustavo que eu conhecia até ontem, não esse nojento que eu to conversando agora.

- bebê, você só serve pra foder e você já faz isso muito bem. Deixa que as terapias e psicanálises eu me viro com outra pessoa.

Pra mim, isso já basta. Eu começo a sentir meus olhos se encherem de lágrimas e eu sinto vontade de partir pra cima dele e encher ele de socos e tapas, mas eu não consigo me mover do lugar por alguns segundos.

- então quer dizer que eu sou tipo um garoto se programa pra você. - eu falo, tentando ao máximo manter o nível de calmaria na voz que ele está agora. Como não obtenho resposta, eu sorrio de raiva e com isso, a primeira lágrima escorre do meu olho. Droga! Eu não quero chorar, não na frente desse filho da puta. - se eu sou um garoto de programa, acho que eu não preciso disso. - reviro meu bolso e tiro a chave do carro, colocando em cima da mesa de centro. - É um presente muito caro.

Seu olhar acompanha meus movimentos milimetricamente, enquanto eu retiro a gravata do outro bolso, a qual eu peguei emprestado dele ontem para combinar com a minha roupa pra festa e coloco ao lado das chaves.

- as outras coisas que você me deu eu peço pra alguém trazer mais tarde.

- Arthur, para com isso...

Ele finalmente parece ter um vestígio de consciência do que ele acabou de falar, mas não adianta nada. Eu reprimo o choro mais uma vez, que ameaça estourar meus olhos como uma represa, então eu me viro e sigo para a porta, querendo sair dessa casa o mais rápido possível.

- deixa eu chamar um taxi pra você.

Eu me viro e consigo sorrir sarcasticamente, olhando firme pra ele.

- eu pego um ônibus. Não se preocupa com isso. A gente só servia pra foder um com o outro, lembra? Era só sexo.

Então eu abro a porta e enfim, no lado de fora, posso ter a liberdade de soltar o choro. Eu estou com tanta raiva e com tanta mágoa que eu não sinto mais meu corpo, é como se eu estivesse entorpecido e andando apenas por andar, sem sentir nada ou poder pensar em nada a não ser em suas ofensas. Acho que eu estou prestes a passar mal, sinto meu estômago se embrulhar e eu só preciso ir pra casa logo. Saco meu celular do bolso e disco o número de Samuel, ansiando para que ele logo atenda.

- Arthur?

- oi, sou eu. Você tá em casa?

- to, por que? Onde você tá?

- na frente da casa do Gustavo. Vem me buscar?

- aconteceu alguma coisa?

Meu breve silêncio o faz entender que há algo de errado e então eu começo a chorar novamente, contra minha própria vontade.

- daqui a pouco eu to aí. - como eu esperava, não foi preciso dizer mais nada pra ele saber que eu não estava bem. Ouço a ligação terminar e caminho pra fora do condomínio, sentando na calçada bem em frente e torcendo para que Samuel não demore e nem para que Gustavo apareça agora, ou até mesmo para que isso seja algum tipo de pesadelo e que logo eu acorde e suspire aliviado, com tudo encaixado no lugar, como deveria ser.

Comentários

Há 6 comentários.

Por Luã em 2016-03-31 22:39:10
Obrigado pelos comentários, gente! Agora a história começa a complicar um pouco pros nossos dois protagonistas, enquanto a série já chega mais ou menos na sua metade da primeira temporada. Eu até estou fazendo alguns planos pra segunda temporada, mas ainda é muito incerto, além de que depois que a primeira temporada de DDLL acabar, eu vou focar em terminar a série GM9. Mas gostaria de saber se, pelo que vocês viram até agora, vocês se animariam se tivesse uma segunda temporada. Aliás, tem capítulo novo já! Confere lá. Abraço gente <3
Por Sirferrow em 2016-03-29 21:01:14
Cadê o próximo?? Quero pra ontem!! O Gustavo deve tá muito abalado cm essa volta repentina do passado dele é tá descontando suas frustrações em cima do Arthur. Coitado dele, não merecia isso. Espero q o Arthur mostre a ele q n precisa do Gustavo e é o contrário (apesar de saber q um precisa do outro mutualmente). Enfim, simplesmente amei.
Por LuhXli em 2016-03-23 22:27:44
Coitadinha! Tinha achado muito bonito ele ter se aberto para o Arthur mostrando toda a sua fragilidade, pena que depois tudo isso aconteceu! Espero que a confusão passe logo e eles fiquem bem! Afinal, acho muito triste quando perdemos tempo com coisas bobas e sem sentido, em vez de focarmos no que realmente importa!
Por Fla Morenna em 2016-03-23 07:33:39
Poxa...
Por yohan em 2016-03-23 01:59:24
Esse capítulo foi pequeno... 😢😢😢 Ancioso aguardando o próximo, 😍😍😍
Por Niss em 2016-03-23 00:31:03
Como assim cara!! O Thur não fez nada Gus! Que putaria hein!! Até eu me comovi no lugar do Arthur quando eu li aquelas frases... Deve ser por isso que o pessoal da agencia chama ele de intimidador. Que cara frozen! Nenhuma situação justifica ele fazer aquilo com o pobre Arthur.. #Indignada Espero que eles se resolvam logo... Não gosto de destratamento em relações... Saio logo fora.. Aloka kkkkk Enfim. Aguardo pelo proximo. Kisses, Mana Amazônica.