04. Presente de aniversário

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série Dia a dia, lado a lado

Me olho no espelho do banheiro, apenas com minha toalha branca enrolada em volta da cintura e com o corpo e cabelo molhados por causa do banho. A barba está feita, mas mesmo assim ficar um ano mais velho me traz uma aparência diferente, mesmo que isso seja besteira. Até um dia atrás eu era o mesmo, então é loucura pensar que hoje eu me sinto diferente, mais velho, mais... maduro. Mas é assim que eu me sinto agora. Estou na reta final do meu curso, totalmente focado no meu emprego novo, vivendo na maior cidade da América latina e apenas começando meu futuro, mesmo que eu recém tenha saído dos meus 23 anos.

- e aí mocinha, é pra hoje. – ouço a voz de Samuel do outro lado da porta e sorrio com a piada, então destranco a porta e saio, fazendo uma careta para ele e seguindo para meu quarto.

Depois de vestir minha camisa azul escura e minha calça jeans clara, passo um pouco de perfume e dou um jeito em meu cabelo, sem nem me preocupar com o tempo, já que e irônico Samuel reclamar da minha demora, quando na verdade quem mais empaca pra sairmos de casa todas as vezes é ele. Depois de pronto, vejo ele vestindo sua camisa preta com listras finas em cinza claro, a calça jeans escura e seu relógio de prata, estando muito mais do que elegante e com certeza querendo atrair a atenção das pessoas. Essa é uma característica bem forte no meu melhor amigo quase formado em medicina, vindo de uma família rica o bastante para sustentar todos os gastos dele aqui em São Paulo, inclusive a parte do aluguel dele, que antes de eu conhecê-lo através de um amigo em comum e vir dividir o apê, eram seus pais quem pagavam tudo sozinhos. Lembro-me como se fosse ontem, ele já estando em seu quarto semestre na USP quando eu o conheci, recém chegado em São Paulo e sendo bolsista na Mackenzie, logo nos entrosamos e ele me perguntou se eu já tinha onde morar aqui, como eu não tinha, no outro dia eu já estava arrumando minhas coisas e levando para o apartamento dele. De todos esses anos aqui em São Paulo, ele é meu único e melhor amigo, e é uma tradição comemorarmos o aniversario um do outro apenas nos dois, sempre em lugares diferentes. Meus pais em Presidente Prudente e os dele no Rio de Janeiro nunca se conheceram pessoalmente, mas eles sabem até de olhos fechados o quanto nós somos amigos e ficam tranquilos ao saber que um cuida do outro sempre, mesmo eles não estando por perto.

- e aí, bora? – ele fala e me traz de volta ao aqui e agora, enquanto passa por mim e vai em direção a sala, então eu o acompanho e em pouco tempo estamos dentro de seu Focus vermelho dos modelos novos, com os vidros abaixados e com o rádio tocando TKO, do Justin Timberlake, enquanto seguimos para o Jardins, mais precisamente para a cobertura do Hotel Unique, onde fica o Skye. Não é todos os dias que posso fazer um tipo de programa desses, já que o bar é absurdamente caro, mas hoje é meu aniversário é francamente, eu mereço.

Já no topo do prédio, que diga-se de passagem, é uma das construções mais magníficas que eu já vi, mais parecendo como um arco invertido e suspenso no ar, lembrando um pouco a forma de um barco, revestido com placas de cobre e com detalhes únicos. Como se já não fosse suficiente, a cobertura abriga o bar e o restaurante donos de uma das vistas mais lindas da cidade, se não a mais linda. Agora eu e Samuel estamos sentados em uma das mesas à beira da piscina, com a noite limpa e com algumas estrelas se juntando com as várias luzes da cidade no horizonte, nos proporcionando uma visão panorâmica de tirar o fôlego da Avenida Paulista.

- o nível só vai aumentando, hein.

- pode apostar, meu amigo. A gente merece. – ele diz ao levantar seu copo com um drink tropical, encontrando-se com o meu e formando um barulho de brinde, fazendo eu sorrir. Realmente merecemos. Estamos nos formando na faculdade, começando nosso futuro de verdade e finalmente nos tornando homens.

Como eu esperava, não são poucos os olhares que Samuel atrai para nossa mesa. Ele sabe disso, pois está olhando de relance para uma outra mesa cheia de homens realmente atraentes, reprimindo o riso e pelo que parece, fazendo um de seus jogos de sedução.

- você realmente não perde tempo, né Samuca?

- oi? – ele se faz de desentendido, tomando outro gole de sua bebida e me olhando com a cara de cinismo. – não to fazendo nada, você tá de prova.

- ah claro, você é sempre inocente.

Assim que falo isso e ambos rimos, o garçom chega até nós com dois drinks e com um bilhete, então entrega para Samuel.

- o moço da outra mesa pediu pra dar isso pra vocês.

Samuel lê rapidamente o bilhete e lança seus olhos para a outra mesa, sorrindo. Eu acompanho seu olhar e vejo que um dos homens, um dos realmente lindos, com cabelos louros acobreados, de corpo forte e com traços bem marcados no rosto, junto com um furo no queixo, agora olha para meu amigo. Por outro lado, o seu outro amigo, sentado em seu lado, de cabelos loiro escuros e olhos verdes, também lança seus olhos para mim. Parece que a noite pode estar só começando para a gente.

- e então? – pergunto sem nem saber o por que, já que eu sei que logo estaremos na mesma mesa que eles.

- hoje os planos são diferentes.

- ah são?

- são. Vem. Vamos lá dentro comer alguma coisa pra você manter esse seu corpinho magro de pé, pois a noite é longa.

__

Depois de jantarmos uma das melhores e mais caras comidas que eu já vi, Samuel segue para algum lugar que ele não quer me dizer, o que me deixa ansioso. O que ele está aprontando agora?

Depois de cerca de quinze minutos dirigindo, paramos na frente de uma entrada grande e imponente, com um portão eletrônico para carros e outra porta menor em madeira para pedestres, apenas com uma placa em neon escrito “R O C K E T” ilumina a extensão do muro alto. Esse nome não me parece estranho, mas eu não consigo lembrar de onde eu conheço. Mas quando o carro segue para o lado de dentro, minha memória logo se refresca, associando as características do lugar ao nome, e mesmo que eu já não tivesse ouvido falar, eu saberia o que é. Uma casa noturna gay de strippers de alto nível, provavelmente uma das poucas nesse nicho e ainda mais nesse nível de sofisticação. Algumas filas de carro estacionados no pátio já revelam o tipo de frequentadores; Audis, Volvos, BMW’s, carros nacionais de alto nível, nenhum intermediário ou algo parecido. Talvez o nosso seja um dos mais simples aqui, o que me deixa impressionado. Assim que entramos, a decoração bem convidativa nos recepciona e nos faz entrar no clima, com The Hills tocando enquanto rola um show de aquecimento com alguns garotos em plena forma e com um belo gingado no palco, que assim como o resto do ambiente, tem iluminação indireta, deixando que o palco, centralizado e cheio de lâmpadas de led azul claro e fluorescente roube a atenção, combinando com as mesas e cadeiras estofadas em couro preto, com sofás em cantos estratégicos e um bar generoso ao canto direito, com uma vasta cartela de opções para todos os gostos, também com algumas luzes de led da mesma cor do palco, mas em pequena quantidade, deixando o destaque apenas para o palco, onde tudo realmente acontece por aqui.

- feliz aniversário, Arthur. – Samuel fala orgulhoso, como se seu bom gosto para presentes fosse incontestável, o que no caso, realmente era.

Sem perder tempo, vamos até o balcão do bar começar a nos reaquecer para a noite, já que os drinks do Skye não foram suficientes. Eu prefiro ficar com uma vodka de frutas vermelhas com energético, enquanto Samuel radical já enfia a cara em um whisky com um pouco de guaraná, mas bem pouco mesmo, quase nada, deixando o líquido dourado quase intocado. Depois de algumas doses e já me sentindo com o rosto quente, vou com Samuel para os sofás e começamos juntos a apreciar o show, que agora conta com mais homens, esses de todos os tipos e pra todos os gostos. Eu me pego olhando para um de pele bronzeada e cabelos e olhos castanhos, com alguns pelos curtos no tórax e abdômen, além das coxas grossas e bunda redondinha bem marcada pela cueca preta que ele usa agora, me fazendo comemorar todas as vezes que ele fica de costas para a plateia. Meus olhos fuzilam o dele e parecem ser faíscas ao atravessar o ambiente, assim que ele olha para mim. Eu faço questão de deixar claro para ele que o quero, pois o desejo intenso que eu estou sentindo agora é algo raro de se sentir.

- bom, eu já escolhi o meu. – Samuel fala sem tirar seus olhos do palco. – e você?

- também.

- ótimo.

Assim que o show acaba e apenas musicas aleatórias seguem antes de outra performance começar, Samuel vai até o palco e conversa com um moreno forte e de cabeça raspada, mas com os cabelos começando a crescer timidamente, com barriga e peito lisinhos e trincados, o qual eu tenho certeza que é quem Samuca escolheu, então ele volta com ele, os olhos claros cintilando de desejo.

- tá esperando o que? Vai buscar o seu. – ele me fala sorrindo ao se sentar no sofá novamente, agora com seu príncipe do ébano estupidamente sexy.

Eu vou até a minha caça e ele já abre um sorriso largo ao me ver se aproximar, enquanto ele está do lado do palco, mais precisamente sentado na última banqueta do bar, tomando uma dose de algo que eu não sei identificar.

- e ai, novinho gostoso. Notei que você não parou de me olhar.

- gosto de avaliar bem as minhas presas antes de marcar o território.

- olha, tem atitude. – ele diz ao se virar mais para mim, ainda sentado. – mas falar é fácil. Quero saber o que sabe fazer.

Então, em pouco tempo, estamos os quatro, eu, Samuel e nossos dois acompanhantes na mesma sala, com nossos desejos a flor da pele e eu não sei eles, mas minha curiosidade está a mil. Estamos em um cômodo espaçoso, com uma espécie de cama larga, dois sofás grandes e com revestimento em couro preto, juntamente com outro estofado um pouco menor no centro da sala, onde lugar não falta para se acomodar e ter uma noite inesquecível com um desses homens bonitos pra caralho, fazendo valer a pena cada centavo gasto nesse lugar. Samuel fez questão de ocuparmos o mesmo cômodo, pois segundo ele, queria compartilhar dessa experiência juntos e termos algo em comum para contar depois. Eu não tenho nenhum tipo de pudor com ele, afinal ele é meu melhor amigo, mas estar com outro cara trajando bem em seu lado, assim como ele também vai estar transando com outro cara bem do meu lado, é uma ideia bem louca pra mim, louca o suficiente para ser animadora e até excitante.

Porém, como se a noite não tivesse me trazido surpresas o suficiente, entram mais dois homens na sala, fazendo eu olhar enquanto o meu acompanhante se esfrega em cima de mim e beija meu pescoço, mas Samuel faz sinal para que eu relaxe, então logo eu entendo tudo. Vamos fazer sexo grupal! Caralho!

Eu não sei nem como agradecer a ele por isso, mas só sei que até agora foi o presente mais inusitado de aniversário que eu já ganhei na vida. Pra melhorar ainda mais a situação, eu reconheço os dois rostos novos na sala. São os dois caras da Skye, que estavam na outra mesa.

- surpresa. – Samuel fala sorrindo ao ver minha reação.

Quando eu menos espero, os meus dois acompanhantes estão tirando minha camisa, enquanto Samuel já está sem ela, agora se livrando de sua calça e revelando seu corpo lindo e depilado, tendo apenas alguns pelos ralos nas pernas, que são quase invisíveis, já que são dourados. Algo que eu posso afirmar com toda a certeza é que o louro de olhos verdes, como eu acho que posso chamar de acompanhante número 02, sabe realmente beijar bem, me deixando com vontade de mais e mais, enquanto o meu acompanhante número 01 se dedica aos meus mamilos, me causando alguns arrepios pelo corpo.

Estamos todos no mesmo sofá grande, mas que agora parece ser pequeno para as seis pessoas se esfregando e se beijando, exalando desejo e cheiro de sexo no ar. Quando finalmente me livro da minha cueca, meu pênis pula feliz pra fora, então o acompanhante número dois não perde tempo e já o coloca na boca. Ele realmente está se mostrando uma pessoa bem experiente, sabendo beijar e chupar muito bem, mas quando o acompanhante número um resolve soltar seus instintos, revela-se alguém adepto ao sexo selvagem. Seus beijos e mordiscadas por meu corpo fazem eu arder em brasa, enquanto agora eu estou de pernas pra cima sentindo a língua do número 02 entrar em mim, me fazendo inalar profundo e reprimir um gemido intenso enquanto jogo a cabeça pra trás e sinto ainda mais a língua do número 01 percorrer o lado direito do meu pescoço.

Até que, sem pestanejar, o número 01 pega um envelope de preservativo e o coloca de forma rápida e habilidosa em seu membro, passando sua saliva na entrada do meu anus e forçando a passagem, fazendo eu segurar com força as costas do número dois, que me beija de forma que me faz faltar o ar. São tantas sensações ao mesmo tempo vindas de lugares diferentes que eu não sei nem como reagir a isso, parecendo que eu posso explodir em um orgasmo intenso a qualquer momento. Sinto o mastro grande do número 01 entrar por completo em mim, então eu abro mais as pernas para que ele possa se afundar ainda mais em mim e me deixar ainda mais louco de prazer. Eu estou em posição de frango assado, totalmente exposto e agora com o acompanhante número 02 sentado em meu peito, fazendo eu engolir seu pênis reluzente e duro feito pedra, que por sinal também é bem babão, soltando uma grande quantidade de lubrificante natural, deixando minha boca com um gosto salgado delicioso de pré-gozo. Suas mãos estão controlando minha cabeça, ditando o ritmo das estocadas enquanto eu me sinto totalmente preenchido lá embaixo, com a velocidade tanto do número 01 quanto do número 02 aumentando, até que o número 02 se levanta e eu consigo ver Samuel mandando ver no ruivo, que está de quatro na outra extremidade do sofá. Samuca está enfiando tudo dentro dele enquanto está de olhos fechados e com a cabeça pra trás, parecendo estar em transe, ao mesmo tempo que o ruivo está gemendo cada vez mais e deixando o suor escorrer de sua testa. O moreno está se masturbando olhando para os dois e depois para nós três, e meu olhar se prende automaticamente em seu mastro absurdamente grande, fazendo minha boca salivar. Ele, ao me ver e perceber que eu quero sentir ele dentro da minha boca, se levanta e logo está com os joelhos dobrados em cima do sofá e se espichando até chegar em mim, encaixando seu pênis na minha boca e me dando o que eu quero. Seu gosto é tão bom, eu o aproveito com tanto gosto que e como se eu tivesse ganhado um prêmio.

O acompanhante 02, que agora está se divertindo com Samuel, deixa espaço para que fizemos uma pequena troca por enquanto, pois eu quero aproveitar um pouco mais desse príncipe do ébano. O acompanhante 01 sai e o meu moreno agora começa a entrar em mim, enquanto o número 01 passa a beijar ele, parado de pé ao seu lado e enquanto o moreno lhe masturba simultaneamente. São tantas informações que minha cabeça parece querer dar um nó, mas só sei que todos aqui estão se divertindo muito. O moreno sabe dar prazer como poucos, alternando entre estocadas fundas e leves, me deixado sem saber qual das duas viria a seguir e consequentemente me deixando louco de tesao. O prazer é tanto que eu começo a me masturbar freneticamente, sentindo que eu já estou suando e chegando no meu ápice. É então quando o moreno parece ler em meus olhos que eu estou quase gozando e começa a aumentar a intensidade, entrando e saindo sem pena de mim e começando a gemer mais alto, me dando ainda mais prazer, o que eu achava que era impossível, então eu sinto a explosão crescer gradativamente em mim até que vem pra fora, me fazendo soltar jatos generosos de esperma para cima em direção da minha barriga, me deixando todo sujo, misturando esperma com suor, fazendo o cheiro do lugar se tornar ainda mais erótico do que já estava. O moreno então parece ter encontrado em mim sua fonte de prazer e resolve gozar dentro de mim mesmo, apertando forte minhas pernas e soltando gemidos fortes enquanto fecha os olhos com força e lança sua cabeça pra trás. O acompanhante número 01 se masturba com vontade, me pedindo permissão para gozar em cima de mim, e eu mais que prontamente deixo, então logo ele está me deixando ainda mais melecado com seu líquido Salgado e viscoso, soltando uma série de jatos que acertam parte do meu rosto, peito, barriga e braço. De olhos fechados e ainda em transe por causa do forte orgasmo que eu acabo de ter, escuto a voz de Samuel gemendo mais alto, encontrando seu ponto de explosão e com um dos meus olhos abertos, vejo ele gozar dentro do ruivo, que está de frango assado também, enquanto o acompanhante número 02 está deitado ao lado deles e masturbando o ruivo, ao mesmo tempo que se masturba com a outra mão, então não demora muito para o ruivo gozar e fazer o acompanhante dois gozar também.

Um longo silêncio se instala na sala, apenas o barulho de nossas várias respirações se acalmando aos poucos, então eu sinto um cansaço enorme, o que é mais do que compreensível, já que eu acabei de transar com três homens diferentes na última hora. Abro meus olhos depois de um tempo e vejo Samuel me olhando. Quando ele nota que eu também estou o olhando, ele faz um gesto com a mão simbolizado bandeira branca, significado que ele está se rendendo por causa do cansaço, o que me faz rir.

Após tomarmos um banho rápido, pegamos os contatos dos garotos, dos quais eu tenho certeza que não vamos retornar, pagamos a conta e vamos embora.

No meio do caminho, enquanto Samuel olha atento para a frente, na estrada vazia em suas 3:30 da manhã, então eu penso no tamanho da loucura que acabamos de fazer.

- como foi que a gente acabou se encontrando assim, todos na mesma sala?

Samuel sorri e me olha por dois segundos antes de voltar seus olhos para a estrada.

- lembra do bilhete deles? Lá na mesa, na Skye?

- lembro.

- então, eles mandaram uma mensagem dizendo que queria muito foder com a gente e que nos esperava ali no Rocket. Eu já conhecia um dos meninos da mesa, embora ele não seja muito o meu estilo, então logo presumi que eles todos fossem acompanhantes de lá. Então só tentei a sorte e torci pra que eles fossem fazer o trabalho deles direito, como eu esperava.

- inteligente, você.

- sempre, meu amigo. – ele diz, soando um pouco imodesto, mas mesmo assim engraçado. – mas e você, gostou do seu presente?

- sem dúvida o mais curioso e bem aproveitado que eu já ganhei. Valeu, Samuca.

- eu que agradeço pela companhia. Você é bom de cama, seu puto.

- fazer o que, né? Mas você também não é ruim não, aquele cara ruivo com certeza vai dormir sonhando com você essa noite.

Sorrimos e depois voltamos a conversar sobre coisas aleatórias, como se nada tivesse acontecido, mesmo que essa tenha sido uma das noites mais inesquecíveis que eu já tive e me fazendo pensar que se eu for ganhar presentes diferentes e de ótimo gosto assim, eu desejaria fazer aniversário mais que uma vez por ano.

__

Apesar da ressaca de bebida ter curado ontem, quando eu passei meu domingo inteiro jogado no sofá e tomando muita água para reidratar, a minha ressaca moral ainda está bem viva dentro de mim. Não que eu tenha me arrependido de ter feito aquilo, muito pelo contrário, foi incrível, mas eu estou me sentindo meio estranho, não sei bem por quê. Agora estou distribuído alguns documentos pela agência, vindos do malote externo agora pela manhã. Quando eu finalmente chego no último lugar, mais precisamente na sala de Gustavo, onde eu tentei evitar ao máximo passar e por isso deixei para o final, vejo que ele está tendo uma reunião com os outros gerentes da agência. Me certifico de prender bem todos os envelopes em minhas mãos para não correr o risco de deixá-los cair novamente como da última vez, então assim que apareço na porta desejo um bom dia coletivo e peço licença para deixar as coisas na mesa de Gustavo.

Quando estou quase de saída, passando por eles ao redor da mesa, ouço meio que sem querer eles discutindo sobre o baixo índice de contratações de serviços no autoatendimento, fazendo com que o desempenho da agência tenha caído nos últimos meses. Então, a voz de Gustavo se sobressai das demais, me fazendo parar de caminhar na hora.

- Arthur, precisamos de uma ajuda aqui. – todos se mostram surpresos com a atitude dele, porém não falam nada, apenas lançam olhares curiosos para mim e para ele. – acho que ter uma opinião vinda de fora, de alguém que recém saiu da faculdade e pode ter ideias jovens e ousadas pode nos ajudar.

- bem, sobre o que vocês estão discutindo? – me faço de desentendido, já que mostrar que eu havia ouvido a conversa não seria muito legal.

- nossos índices de contratações no autoatendimento da agência estão só caindo. E eu não falo só de seguros e capitalizações, mas até mesmo de serviços gratuitos, como débito automático de contas e serviço de mensagens para avisar os clientes quando a conta e movimentada, por exemplo.

- bem, vocês já tentaram pedir para que o supervisor de atendimento fizesse uma reunião com os estagiários e recepcionistas? Eles são os que têm mais contato direto com os clientes, se eles divulgarem pelo menos os serviços gratuitos pra começar, o número com certeza iria voltar a crescer.

- o problema é que os clientes não confiam nesses produtos, pensam que é algum tipo de fraude ou que simplesmente não é seguro. – uma das gerentes fala, rebatendo minha teoria aparentemente ingênua.

- então temos que fazer eles confiarem nisso! Se eles verem que isso apenas traz benefício e facilita as transações deles, não vai ter motivo para não fazerem. Esses serviços são na maioria gratuitos, certo?

Alguns concordam com a cabeça.

- e são totalmente seguros, certo?

Os mesmos concordam novamente, fazendo com que eu pareça estar fazendo eles entenderem um pouco melhor onde eu quero chegar.

- tudo depende de como o produto é apresentado para eles. O pessoal do atendimento precisa conhecer bem o produto, saber passar confiança ao apresentar para o cliente e ter argumentos para que o cliente saia com o serviço autorizado. Vocês já tentaram ir com eles até o caixa eletrônico, mostrar como se faz o passo a passo para cada um dos serviços?

Como ninguém se pronuncia, imagino que a resposta seja não.

- e pra instigar os estagiários e os recepcionistas a tentarem ao máximo apresentarem esses serviços para o público, vocês poderiam bolar um tipo de brincadeira, de gincana envolvendo uma meta. Quem conseguir alcançar, ganha um prêmio no final do mês.

Todos ficam em silêncio me observando, enquanto eu acho que eu provavelmente falei demais e soei ridículo, então espero que alguém fale algo para que eu possa sair e me enfiar na minha mesa novamente e fingir que isso não aconteceu.

- tá vendo? Por isso eu aprecio a mente dos jovens recém formados. São cheias de ideias, eles são cheios de entusiasmo, isso que traz soluções improváveis, mas eficazes para nossos problemas.

Eu sinceramente pensava que qualquer um deles já teria pensado nessa estratégia, já que pra mim é a opção mais óbvia a se seguir, mas talvez por eu estar com a mente fresca com as orientações do meu curso, posso realmente ter dado uma ideia ainda não explorada por eles.

Vejo que eles parecem ter gostado bastante da ideia, me fazendo ficar inclusive sem jeito e, ao olhar para Gustavo, vejo que ele me olha também, sorrindo e aparentemente satisfeito com meu desempenho na frente de todos.

- bem, obrigado por emprestar suas ideias, Arthur.

- se precisarem é só chamar. – digo sorrindo e saindo da sala mais do que feliz, ficando aliviado por ter dado uma boa impressão para todos.

Durante a tarde, temos todos uma reunião regada a refrigerante e salgadinhos, como forma de boas vindas para mim e para outro funcionário também novo, mas que passou a trabalhar no caixa essa semana. Depois de me apresentar brevemente para todos e contar um pequeno resumo da minha vida, torcendo para não falar nenhuma besteira, todos começam a comer e eu começo a tentar me enturmar com todos. Na verdade os funcionários são muito receptivos e simpáticos, sem exceção. Pareço ter ganhado a simpatia de todos eles com o meu discurso, além daqueles que já me conheciam por causa do episódio da reunião de mais cedo.

De volta ao trabalho, vejo através da janela que o céu escureceu e em pouco tempo a chuva começa a cair lá fora, murchando meus planos de ir comprar alguma roupa nova para a festa da formatura junto com Samuel.

Na hora de ir embora, meu Chevette resolve me sacanear e querer parar de funcionar justo em um dia chuvoso. Agora eu estou tentando pela décima vez girar a ignição do carro e esperando ouvir o barulho do motor rugindo, pela primeira vez não me importando com o barulho alto que ele faz, mas sem sucesso. O estranho é que eu consegui liga-lo, andei alguns metros e então ele parou. Simplesmente hoje eu terei que me molhar e matar a imensa saudade que eu estava de ter que andar de transporte coletivo, que é tão agradável e ágil, para chegar em casa. Fico tentando criar coragem e pego tudo o que pode ter de valor dentro do carro para levar comigo, até que, passando pelo meu lado, caminhando apressado com a pasta em cima da cabeça para não se molhar, Gustavo vai em direção a um Audi A6 preto, até que eu desisto e vou até o capô do carro, abrindo e tentando inocentemente descobrir qual o problema abaixo de uma chuva forte. Mas mesmo assim eu tento, porem não tenho certeza do que é. A única certeza que eu tenho é que não adianta nada eu ficar aqui fazendo companhia para a minha querida e amada lata velha.

Após bater a porta e trancar com a chave, começo a andar pelo estacionamento, até que o Audi de Gustavo se aproxima lentamente de mim até chegar ao meu lado, então vejo ele abaixar o vidro e me olhar com seu sorriso típico nos lábios.

- problemas com o carro?

- é, acho que sim. Isso que dá ter amor pelos clássicos.

- vem, eu te dou uma carona.

- não, não precisa, eu vou de ônibus.

- arthur, até você chegar em casa vai estar de noite e você vai estar todo ensopado. Não quero que você pegue um resfriado e fique de cama, isso me custaria alguns dias sem você aqui na agência. Preciso de suas ideias e de seu entusiasmo por perto.

Seu senso de humor é realmente sua grande marca registrada, pelo menos para mim. Como eu não estou nem um pouco afim de ir de ônibus para casa, mas ao mesmo tempo não quero ter que entrar no carro dele e ter que ficar muito tempo completamente sozinho com ele, opto por não pensar muito e comandar minhas pernas para andarem até a porta do carona e entrar dentro do carro quente, seco e aconchegante, com cheiro de couro e perfume comprado para carro.

- vou molhar tudo seu banco. – eu falo, já me desculpando.

- depois isso seca. – ele rebate, sorrindo. – então, sabe o que foi que aconteceu com o carro?

- suspeito de que seja correia quebrada.

- nossa, você entende mesmo dessas coisas.

- é, nessas horas eu fico feliz por isso.

- ah, e meus parabéns por hoje, lá na reunião. Você impressionou todo mundo.

- impressionei?

- sim. Até a mim, inclusive. Você se mostrou bastante audacioso e eficiente, suas ideias foram bem aceitas e vão ser postas em prática logo.

- bem, eu fico feliz em ajudar.

- sabia que meus instintos com você não estavam errados.

Eu não sei ao certo em qual sentido ele quis levar essa frase, porém eu levo em consideração o pensamento de que o silêncio é sempre uma boa opção pra quase tudo. Agora estamos parados no semáforo e eu me atrevo a olhar para ele, que está com a cotovelo esquerdo encostado na porta e co o braço dobrado, levando sua mão na boca e olhando para frente. Assim que ele nota meu olhar, ele também olha para mim, então em poucos segundos ele se curva em minha direção, fazendo meu coração parar por um milésimo de segundo e eu me sentir todo tenso e duro no encosto do banco, até que ele puxa meu cinto de segurança e passa por mim até afivelar ele.

- não é uma ideia muito inteligente andar de carro sem usar o cinto. – seu hálito fresco invade minhas narinas, enquanto seu rosto está a poucos centímetros do meu e seus olhos me encaram, me deixando sem reação. Apesar de eu estar molhado pela chuva, meu corpo todo está quente por causa da situação e a única coisa que eu quero agora é chegar logo na frente de casa para poder sair desse carro. Bem, na verdade o que eu realmente quero é beijar ele aqui e agora, mas como eu ainda tenho um pouco de juízo, eu prefiro querer sair logo do carro pra que isso não aconteça. Porém, minhas ações não correspondem ao meu pensamento e eu abro a boca levemente, como se eu estivesse pronto para ganhar seu beijo, porém a fecho logo em seguida e mordo meu lábio inferior, enquanto ele sorri e volta ao seu lugar, voltando a acelerar o carro assim que o sinal volta a ficar verde. Caramba, quanto tempo se passou? O que na verdade foi apenas alguns segundos, para mim pareceram minutos.

Quando finalmente chegamos em frente ao meu prédio, o carro encosta no meio fio e eu tiro o cinto, me certificando de que ele não tenha a ideia de querer se aproximar daquele jeito para querer tirar para mim, o que eu acho que não seria uma boa ideia, já que eu não estou mais podendo confiar no meu autocontrole.

- obrigado pela carona.

- sempre que precisar.

Ele me lança um sorriso simpático e eu retribuo, ainda sem jeito, enquanto pego minha bolsa e abro a porta, saindo para a chuva, que agora não está mais tão forte.

- até amanhã, Arthur. – sua voz aveludada deixa um pouco no ar um tom de tristeza ao se despedir, enquanto eu me agacho para olhar para ele e responder

- até amanhã, Gustavo.

Comentários

Há 4 comentários.

Por Disturbia em 2016-02-16 05:38:06
Nossa Senhora do Boy Mágia que cap. foi esse pqp, ahazou mana, quem diria que a beata fosse tão safadinha assim, é nos contos que a gente conhece as pessoas mana Niss.... Continue assim e não demore pra postar. Um bj da sua mana carioca Nivis
Por Um alguém em 2016-02-12 11:24:09
Melhor escritor EVERR!!! Adorei o conto, muito mesmo kk, super gosto dessa aproximação discreta deles, super ansioso para o próximo capítulo!
Por diegocampos em 2016-02-12 06:41:16
Nossa que capítulo surpreendente haha o Artur e bem safado haha não estava esperando por isso kkk mas adorei, o Samuel e um ótimo amigo haha, também estou gostando do Gustavo e acho que ele tem segundas intenções com Artur, muito ansioso para o próximo.
Por Niss em 2016-02-12 02:45:15
Me e eeeeeeeeu Paiii!! Que Arthur safadoooooo!! Mana você está de superando nesses episódios "quentes" kkkkkk, e como você sabe, eu sou um apreciador de carteirinha hahaha. Fiquei boquiaberta com esse Samuel, além de ter chamado a atenção dos boy no Skye ainda marcou um surubão no Rocket caraleo hahaha. E esse gusta aí. ... Rum... tá bem próximo hein kkkk. O Arthur tá sofrendo com esse autocontrole, o juízo tá quase saindo da cabeça kkkk. Adorei mana haha. Continue assim. Espero pelo próximo. Kisses, Nissan Spears.