Do outro lado da história - 1x11

Parte da série Os altos e baixos de um adolescente.

• Espera, espera! – disse Diego de repente

Eu olhei para ele e esperei por uma explicação. Ele não perdeu tempo.

• Você estava namorando ou algo parecido – ele falou apontando para mim - Mas e o Paulo? – ele prosseguiu

Eu fiquei surpreso. Eu já havia contado aquela história várias vezes, mas Paulo nunca me falou sobre sua adolescência. Olhei profundamente nos seus olhos tentando procurar algo que eu não sabia, algo que se deixou escapar.

Eu não falei nada, queria ouviu a história dele. Ele não parava de olhar para mim, olhar cada traço do seu rosto fazia minhas mãos suarem, as vezes me perguntava como alguém tão bonito ficaria comigo.

• É, eu acho que você precisa saber – disse ele me fazendo voltar a realidade

• Ótimo! – exclamou Diego sem esconder sua alegria

Fui um pouco para trás no sofá e esperei. Estava com um pouco de receio, não sabia exatamente o que esperar.

• Foi assim... – ele começou

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O despertador tocou bem alto! Eu pensei que fosse a maneira da mamãe para como se vingar de mim, comprar algo barulhento e muito irritante.

Suspirei fundo. Começou outro dia que seria, sem dúvidas, irritante. Eu me olhei no espelho e tentei sorrir. “Hoje pode ser melhor” eu dizia tentando encontrar verdade nas minhas palavras.

Meus pais ainda me ignoram desde que contei a eles que sou gay, acho que foi um choque muito grande seu único filho ser gay. Eu tentei, por várias vezes, entender o que sentiam. Minha mãe continuava a me perguntar sobre as namoradas e eu sempre a repreendia, mas o meu pai logo se apressava em mudar de assunto. Já estava irritante conviver com isso, infelizmente ainda faltavam três anos para isso acabar.

“Saco” – pensei entrando no banheiro

Desde que eu me abri para eles, e para todo mundo, notei que os sussurros aumentavam pelos cantos da casa, tudo que eu fazia ou pedia era questionado. Isso gerou(e ainda gera) um raiva enorme dentro de mim, meus amigos se afastaram, me sobrou apenas a Carol e a Vanessa, eu realmente amava muito as duas por elas me apoiarem.

Liguei o chuveiro e deixei a água correr pelo meu rosto, limpando as lágrimas que saíam durante a noite.

Vesti a roupa do colégio e dei uma ajeitada no cabelo, ele não ficou do jeito que eu queria. Eu ainda tenho um rostinho de bebê, mas já tenho 15 anos. As pessoas pensavam que eu tinha 13. Depois de muito tempo tentando ajeitá-lo, desisti.

Peguei minha bolsa e saí do quarto em direção a cozinha para pegar algo para comer. Fui com um passo silencioso de cada vez, não queria chamar a atenção das “paredes”.

Minha mãe estava fritando alguns ovos e olhava atentamente para a porta, como se já esperasse a minha presença.

• Oi, mãe

• Oi, filho! – disse ela vindo me dar um beijo

Abri a geladeira e passei os olhos em tudo de uma vez, peguei só um iogurte para sair logo dali.

• Sabe, eu estava falando com a Joana e ela me contou que a filha dela, Camila, é bem inteligente – começou ela – eu pensei que, talvez, vocês dois...

Eu já sabia onde isso ia acabar. Resumindo: Eu brigo, choramos, ela esquece e finge que nada aconteceu. Saí de lá e bati a porta para mostrar meu descontentamento.

Andei até o ponto de ônibus e sente no banco enquanto esperava.

Eu estava meio perdido, mas voltei meu olhar em busca de um som um pouco alto que se aproximava de mim. Era um garoto com cabelo negro e meio espetado, ele também estava usando óculos escuros. Dei uma rápida olhada para ele não perceber, mas ele pareceu ter percebido, pois sentou logo ao meu lado.

Notei que ele escutava música no celular, parecia ser Pink Floyd ou algo do gênero. Arrisquei mais uma olhadinha para ver o que ele estava fazendo e o peguei me encarando.

Eu voltei meus olhos para baixo e fiquei muito vermelho, nem eu queria me ver naquele momento. Eu tentei, juro que tentei, esperar o ônibus sem olhar para aquele garoto, mas a tensão ia aumentando cada vez mais. Não resisti, logo os seus olhos encontraram os meus.

• Tá olhando o que, moleque? – disse ele

• Nada, eu... – tentei falar

• Então vaza! – ele me cortou

Eu obedeci e fiquei um pouco encolhido no meu canto. Por sorte, o ônibus parou logo em seguida. Mal esperei a porta se abrir e saltei. Paguei e fui direto para o final. Até que não estava tão cheio hoje. Sentei na última cadeira da minha fila e o menino que vi lá fora sentou duas cadeiras a minha frente. Às vezes eu me pegava olhando para ele e tentando adivinhar a cor dos seus olhos.

O ônibus parou em um ponto pouco antes da minha escola. O Garoto desceu do ônibus e eu o observei descer. As portas fecharam e o veículo prosseguiu sem que eu tivesse a chance de conhecê-lo melhor. Não demorou muito para que ele parasse na frente da minha escola.

Levantei da cadeira e passei pelo corredor, olhei para o lugar do menino e vi um celular lá.

“Ele deve ter esquecido” – pensei comigo mesmo.

Fiquei feliz por dentro, talvez eu o visse novamente. Peguei o celular e guardei no bolso.

Já na entrada da escola, eu entrei e segui pelos corredores. Já fui conhecido ali, aprontava todas quando era mais jovem, mas as pessoas esquecem-se das coisas. Hoje elas não olham mais para mim como antes.

Entrei dentro da sala e vi que esta já estava cheia. Apenas dei “Bom dia” para o professor e fui e sentei no meu lugar. Vanessa sentava atrás de mim, enquanto Carol sentava ao meu lado. Ficávamos horas fofocando na aula até que acabávamos em deboche depois de levar várias broncas dos professores.

• Cabou o sossego – disse Carol ao me ver

Vanessa levantou a cabeça e se espantou ao ver meu sorriso.

• Ai, ai, Carol. Ele tá daquele jeito! – as duas riram

• Vocês nem sabem da mais nova – ignorei as duas

Elas se aproximaram e esperaram que eu falasse.

• Eu vi um gatinho no ponto de ônibus hoje – falei rindo

As duas reviraram os olhos e Vanessa disse:

• Você sempre vê. Pegar que é bom...

• É, mas ele esqueceu o celular dele – falei mostrando o aparelho

• Eu quero ver! – falou Carol pegando o celular das minhas mãos

Ela pegou com muita violência, fiquei com medo que ela quebrasse.

• Cuidado!!! – gritei

Todos na sala me olharam, incluindo o professor. Eu me encolhi e pedi desculpas.

• Só pode ser hétero – falou Vanessa – nem fique esperançoso – ela completou em seguida

• Deixa que eu devolvo, tenho mais chances que você – falou Carol que ainda estava babando ao ver uma foto no celular

• Não mesmo, o boy é meu! Eu vi primeiro – disse sem demoras

• Vaai, faz... – Carol parou – faz duas semanas que eu não fico com um garoto, você sabe o que é isso na vida de uma garota?! Eu tenho necessidades – ela disse em protesto

Eu discuti com ela, mas acabei sendo convencido. Os olhos de Carol já estavam brilhando cheio de planos.

• Obrigado, bê! – disse ela

Vanessa revirou os olhos de novo e disse:

• Essas loucas, isso é falta...

• Falta de que, D.Vanessa? – retruquei

• De amor próprio – ela falou ironicamente

• Xau, Vanessa

Virei para e frente e ouvi as duas combinarem mil coisas para o encontro da Carol. Roupas, sapatos, unhas. Eu quase vomitei com tantas besteiras.

O sinal do intervalo tocou e eu corri para a cantina para guardar o nosso lugar. Se dependesse daquelas duas, sentaríamos no chão.

Cheguei lá e fui logo abordado pelo Guilherme.

“Saco, esse garoto não me deixa” – pensei

• Oi, mô – falou ele

• Não sou seu mô! Não temos nada – falei friamente

• Ai, Paulo. Por que você faz isso? Sabe que eu sou louco por você – ele disse

Eu fiz sinal para que se calasse, as pessoas já estavam olhando para nós. Todos sabiam sobre mim, mas não queria ser o gay da escola.

• Olha, só ficamos uma vez – falei sussurrando – e foi só porque você implorou – eu completei

Não queria ser tão radical, mas se eu o deixasse continuar, passaria vergonha. Eu vi os olhos dele marejarem e ele saiu correndo. Fiquei triste logo de cara, mas Vanessa já chamava minha atenção em uma mesa um pouco afastada.

Eu me aproximei e sentei próximo a elas. Vanessa não se conteve e disse:

• Iludindo as crianças de novo? – ela riu

• Vanessa, Xau

• Mas ele saiu chorando – disse Carol

• Eu deixei bem claro para ele que não queria nada além daquilo – eu disse sem perder a pose

Elas mudaram de assunto e falamos sobre as patricinhas horrorosas do terceiro ano, isso ate tocar o sinal. O resto das aulas passou depressa e eu já estava de volta em casa. O momento da tarde era meu horário, pelo menos até às 6:00 que era quando meus pais voltavam. Eu fiquei horas assistindo Tv e, já no final da tarde, resolvi fazer a tarefa.

Eu estava bem concentrado até ouviu o som da campainha. Corri para atender e meus olhos ficaram surpresos.

• Oi, mô – disse o Guilherme

• O que você está fazendo aqui? – ignorei o que ele disse

• Não posso mais te ver? – ele riu – Estava com saudades

• Me deixa em paz! Eu não gosto de você! – falei tentando não gritar

• Adoro quando fica irritado

Eu ia mandá-lo pastar, mas ele veio rápido e me roubou um beijo. Ele me empurrou contra a porta e começou a apalpar minha bunda, estava sedento. Eu não fiz nada para impedir, fiquei dominado naquele minuto. Seu beijo alcançou a minha parte sensível, seu cheiro de macho estava me deixando cada vez mais excitado. Eu queria negar, mas o seu jeito que moleque me deixava doidinho.

Ficamos nos beijando na porta por muito tempo sem nos importamos se alguém olhava aquela cena.

• Paulo! O que significa isso?! – disse minha mãe gritando

Eu gelei. Olhei para a garagem e os dois vinham furiosos em minha direção. Guilherme, por outro lado, não pensou duas vezes, fugiu de lá e me deixou na pior. Minha boca caiu e eu fiquei sem palavras.

• Para dentro – meu pai ordenou

Nós entramos e fomos para sala. Eles começaram a dizer as mesmas coisas de sempre e que tinham vergonha de mim. Eu chorava e dizia que não tinha escolhido nada daquilo, mas nada parecia funcionar.

Continuamos assim até minha mãe perder a paciência e falar:

• Vamos nos mudar – falou ela sem demorar

• O que? – eu perguntei espantado

• É isso mesmo. Eu já vinha pensando nisso, mas depois de hoje decidi que temos que fazer isso logo

• Não pode fazer isso! Minha vida está aqui, meus amigos e... – tentei argumentar

• Ela tem razão! Vamos embora daqui imediatamente – falou meu pai – Ficaremos um tempo com meu irmão para que você perca o “ar” dessa cidade, foi ela que fez “isso” com você – ele completou

Algumas lágrimas caíram sem permissão e eu corri para o meu quarto e tranquei a porta, mas deu tempo de ouvir minha mãe dizer “Arrume as malas”. Chorei muito a noite, não dormi um minuto sequer. Chegavam várias mensagens da Vanessa no meu celular dizendo como foi o encontro da Carol, mas eu não dei atenção. Pensei em ligar para elas, mas eu não queria me despedir, simplesmente não queria me desapegar.

Em algum momento da noite, eu adormeci.

• Acorde, dorminhoco! Hora de partir – disse minha mãe me sacudindo

• ãwn? o que? – falei sem me lembrar

Ela apontava para as minhas malas e sorria como se nada tivesse acontecido. As lágrimas voltaram aos meus olhos e eu tentei não chorar.

• Vamos, seu pai já deixou tudo pronto para nossa ida – falou ela ao deixar o quarto

Eu me arrumei e me despedi de cada canto da casa. Foi muito difícil, mas o pior era não poder falar com a Vanessa e a Carol. Eu tentaria ligar para elas quando meus pais não estivessem por perto.

Olhei uma última vez para a casa que encheu minha infância e a deixei. Entrei no carro e coloquei minha melhor cara de indiferença.

Seria uma longa viagem...

Continua...

~~~~~~~Gente! Obrigado a todos que acompanham o conto, fico muito feliz com os comentários. Um abraço e não esqueçam de comentar. u.u~~~~~~

Comentários

Há 2 comentários.

Por fozzi em 2013-09-07 15:53:48
não entendi não é o conto do jarson
Por Jason_ em 2013-09-07 05:06:51
Por favor, não demore tanto para publicar, estou amando, bjs :-*