Jantando no parque - 1x08

Parte da série Perdidos na Floresta

Mal terminei de me arrumar e logo o Bruno já estava batendo na porta para irmos jantar. Abri a porta e pedi pra ele me esperar na sala que eu já estaria pronto logo. Nessas horas, eu já tinha superado o trauma em saber que aquela víbora era mãe do Bruno. Nem liguei muito pra isso, apenas queria sair com ele e aproveitar a noite já que o meu dia não tinha sido tão emocionante assim.

- Atrasado de novo? - Disse ele brincando.

- Já virou tradição pra mim - Disse rindo.

Conversamos mais um pouco enquanto eu me arrumava e finalmente saímos. No caminho ficamos um pouco em silêncio, mas era mais ele que perguntava as coisas e eu apenas respondia com "sim" ou "não". Mas uma hora, pra quebrar o meu gelo e vendo que ele estava ficando sem assunto, resolvi puxar conversa com ele.

- Então, a sua mãe deixou você sair comigo? - Disse sorrindo.

- Falei apenas que iria sair com um amigo. Foi por isso que ela deixou. - Disse ele rindo.

- Ainda não sei o porque dela implicar comigo.

- Ela é assim, implica com todos os meus... amigos.

- Você nunca namorou? - Perguntei.

- Ah, duas vezes mas foi coisa de três ou quatro meses. E você?

- Nunca - Disse direto e com muita firmeza na voz, achei que ele ficou um pouco sentido com a resposta.

- Então você não é pra namorar? - Disse ele rindo.

- Sou sim, até acho melhor namorar do que esse negócio de ficar com um e depois com outro. Mas eu estou esperando a pessoa certa.

- E essa pessoa ainda não chegou? - Disse ele me encarando.

- Não sei. Na verdade acho que o meu coração sabe, mas ele não conversa muito comigo entende? - Disse rindo.

- Coração rebelde - Ele riu.

- Então, onde vamos? - Perguntei.

- Segredo - Disse ele mordendo a língua.

- Como assim segredo? - Perguntei sorrindo.

- É um lugar especial.

- E onde fica esse lugar?

Quando eu perguntei isso, ele apenas ficou em silêncio e deu uma risadinha maliciosa. Aquele foi um dos únicos momentos em que senti um certo "medo" dele. Receio na verdade, do que ele iria fazer, do que iria acontecer. Eu não conhecia ele muito bem, apenas a algumas semanas e tudo o que eu sabia era sobre a mãe dele ser uma coruja muito chata.

Não conversamos o resto do caminho inteiro. Apoiei meu cotovelo na janela e fiquei admirando a lua já que não havia muitas estrelas no céu. Ele resolveu ligar o rádio e, estava tocando uma das minhas músicas preferidas; Young and Beautiful da Lana Del Rey. Essa é uma música muito depressiva e eu gostava muito de me jogar na cama e ouvir essa música, as vezes fechava os meus olhos e até mesmo chorava com esta música. Sei que não é pra tanto mas essa música é muito significativa pra mim de um certa maneira.

Mesmo no carro, tive que segurar as lágrimas, não queria que o Bruno me visse chorando ali então continuei olhando para o céu, até que ele me perguntou.

- Você gosta dessa música? É a minha preferida. - Disse ele.

- Sim, muito. Também é uma das minhas preferidas. - Disse e ele apenas sorriu.

- Chegamos.

- Mas... aqui é um parque? - Disse sorrindo.

- Sim. O melhor lugar pra se jantar a noite na cidade.

Descemos do carro. Ele abriu o porta malas e tirou uma cesta de dentro e uma toalha, a qual estendeu no chão para sentarmos. Era de noite mas o parque estava cheio de pessoas e principalmente casais. Fiquei surpreso em ver tantas pessoas ali nessa hora da noite, eu nunca tinha ido lá então eu não sabia que era um dos lugares preferidos para os apaixonados. O bom do lugar, que não o tornava muito perigoso era que tinha muitos policiais por ali, então os casais e as pessoas podiam ficar a vontade, apenas sentados sobre a luz da lua namorando.

- Tudo bem pra você se a gente jantar aqui? - Disse ele sorrindo e me encarando.

- Ham...tudo, claro, sim. Tudo certo. - Falei gaguejando.

Ele sorriu e se sentou e me pediu para sentar de frente para ele. Ele abriu a cesta e tirou uma garrafa de vinho e duas taças. Tirou também um cacho de uvas, algumas maças e peras, e o que eu menos esperava; uma pizza.

- Que jantar diferente - Disse sorrindo.

- Eu quis mudar um pouco. Tudo bem pra você assim? - Perguntou ele.

- Tudo ótimo. - Disse e ele me entregou uma das taças que ele havia acabado de colocar vinho

Comemos, bebemos e conversamos. Contei pra ele sobre a oportunidade de poder ir pra Harvard ou Yale e ele pareceu ficar muito feliz com isso. Falamos sobre muitos assuntos e principalmente comentários sobre o parque, em como estava cheio e sobre os casais que estavam lá. Ele é uma pessoa muito legal de se conversar e com certeza fica mais lindo com a lua refletindo aos olhos dele. Enquanto eu fala ele ficava me olhando como se quisesse dizer alguma coisa mas não conseguia, mas tentei não forçar a barra então ficava mudando de assunto toda a hora até que decidimos ir embora.

Guardamos as coisas e voltamos para o prédio. Ajudei ele a levar as coisas para o apartamento dele, e como já eram 22h da noite a mãe dele já estava dormindo, então com isso não tive problemas. Depois de eu o ajudar com as coisas ele me acompanhou até o meu apê e ficamos mais alguns minutos jogando conversa fora.

- Então, gostou de hoje? - Perguntou ele sorrindo

- Sim, demais. Foi uma coisa diferente, mas que eu adorei - Disse retribuindo o sorriso.

- Podíamos fazer isso mais vezes.

- Claro, quando você tiver livre e afim...

- Tudo bem então...

- Ah, mais uma coisa. Lembra que você me disse que podia me dar aulas de espanhol? - Perguntei.

- Sim

- Você ainda estaria disposto a me dar estas aulas? - Perguntei.

- Claro que sim, é só você marcar um dia.

- Ta, pode ser... amanhã a tarde?

- Por mim tudo bem. Então até amanhã a tarde.

Nos despedimos e ele foi para o apartamento dele. Fechei a porta, fui para o meu quarto e me joguei na cama. Adormeci pensando nele e nas coisas sobre o que conversamos. Acordei no outro dia um pouco mais cedo por causa do despertador, tomei banho e logo segui para a escola. Chegando lá encontrei com o pessoal e a Lara me puxou para um canto e me interrogou.

- Onde você estava ontem a noite em mocinho? - Perguntou ela.

- Eu... dormi o dia inteiro, acordei de noite e fiquei estudando.

- Não não, você pode até ter dormido o dia inteiro mas não ficou estudando a noite. Com quem você saiu?

- Saiu? Com ninguém, ta louca? - A Lara era muito esperta, não podia deixar ela saber que estava saindo com um garoto. Ela era muito capaz de descobrir outras coisas.

- Tentei ligar pra você ontem, mas você não atendia por nada e achei que tinha acontecido alguma coisa com você, então resolvi ligar para o seu pai e ele disse que você tinha saído com um "amigo". E o seu pai falou bem assim, com aspas "amigo".

- Ta bom ta bom, saí com um amigo, pronto, não precisa ficar preocupada, eu to bem.

- E que amigo era esse? - Perguntou ela.

- Um amigo poxa.

- Roberto... - Ela fez aquele olhar de "mamãe zangada".

- Não ta rolando nada Lara, ta louca? É só um amigo mesmo - Eu podia muito bem dizer "Eu sou hétero Lara" mas eu não era, então eu apenas dizia que não tava rolando nada.

- E porque você não atendeu o seu celular? - Perguntou ela.

- Porque no parque não pegava sinal... - Me arrependi de ter dito aquilo.

- Parque a noite? Só tem um parque por aqui que se pode ir livre a noite e não levar um tiro, que é onde os casais de apaixonados frequentam...

- Ta bom Lara, escuta: Ele me pegou no apartamento e me levou pro parque, fizemos tipo um pique-nique, tomamos vinho e comemos algumas coisas, conversamos muito e ele me trouxe as 22h embora. E não, não rolou nada, nem beijo. Pronto, feliz?

- Quem é ele?

- Não interessa.

A minha sorte foi o sinal para a aula começar ter tocado, senão a Lara ia me questionar mais ainda. E tudo o que eu não queria era ela me entrevistando.