Espanha (parte 3) - 1x18

Parte da série Perdidos na Floresta

Depois de muita conversa, chamaram um táxi e me ajudaram a entrar. Eu não sei o que estava acontecendo comigo, em um dia eu estava ótimo, querendo conhecer a cidade inteira, feliz e animado, e no outro, destruído e cansado. Não estava disposto a andar, a caminhar, a passear... Eu tive uma forte dor de cabeça, coisa rara, mas que quando eu tinha, era forte mesmo. Logo me levaram ao médico, não queriam que nada de ruim acontecesse comigo, pelo menos, não durante a viagem.

- Anda, temos que ir logo antes que ele piore. - Disse o Danilo.

- Então entra logo no carro pra levar ele. - Disse o Lucas.

O professor Lucas, como diria a Lara, estava "preocupadinho demais" comigo para um professor.

- Calma, calma. Não parece ser grave, apenas uma leve dor de cabeça.

- Mas e se for grave, você tem que fazer alguma coisa. Ele pode ficar doente aqui.

- Para de ser exagerado cara. - Disse o Bruno o encarando - Ele já vai melhorar.

- Dá pra pararem com isso e me tirarem logo daqui. - Disse a eles.

O Bruno parece não aguentar olhar na cara do Lucas, ta certo que ele possui uma rixa com este professor por minha culpa, mas mesmo assim, o jeito em que eles se encaram... Parecem que quando eu não estiver por perto, eles vão se atacar, e vai rolar muito sangue. Então o que mais quero é sempre estar perto de um dos dois para garantir não só a minha segurança mas como a deles também.

Não falaram mais nada, os três apenas se encararam e o professor Danilo entrou no carro comigo. Seguimos direto ao hospital. Sei que estou descrevendo isso como se alguém tivesse levado um tiro, ou como alguém que estivesse dando a luz, mas eles apenas correram com isso para eu não ficar pior e estragar o passeio deles, essa era a pura verdade. O Lucas com certeza parecia querer que eu melhorasse para não estragar o passeio, e o Bruno pareceu querer que eu piorasse para ficar de cama só com ele me cuidando. Sentia que estavam extravagando com tudo isso, não era nada de mais.

Não demorou muito e no hospital estávamos. O professor Danilo foi quem deu a minha entrada, tratou dos papéis e outras coisas, e por algumas coisinhas mais que ele deve ter falado, me deixaram passar na frente de muitas pessoas que pareciam ter estado horas e horas esperando para serem atendidas. Haviam crianças chorando, alguns anciões com um pano na mão limpando a boca, algumas pessoas que pareciam até ter acabado de vomitar. Isso me acalmou, por mais triste que seja, pois naquele momento senti que tinham pessoas piores que eu, e que se aquela dor de cabeça não seria nada demais.

O Danilo me acompanhou até a sala do médico e me serviu como tradutor, e pelas traduções do Danilo e pelo pouco que entendi do espanhol, o médico disse mais ou menos isso:

- O que está acontecendo com ele? - Perguntou o doutor.

- Ele teve uma rápida dor de cabeça.

- Ele estava com febre? - Perguntou examinando meus olhos.

- Não, apenas ficou um pouco zonzo e começou a reclamar de dor de cabeça.

- Bem, a garganta não está inflamada, os olhos estão normais, então isso com certeza deve ser estresse.

- Estresse? - Perguntou o Danilo.

- Sim. E isso é bom, ele poderia estar com alguma doença daquelas crianças lá fora. - Disse o médico.

- E o que elas tem? - Perguntei.

- Você reparou que algumas estão com a cabeça raspada?

- Sim. O que tem?

- Leucemia. - Respondeu ele diretamente.

- E elas vão se curar? - Perguntei o olhando com uma expressão de curiosidade com pena.

- A verdade é que... aquelas crianças me procuram... para não sofrerem quando partir. - Disse o médico.

Eu fiquei paralisado, sem dizer uma palavra. Aquilo tinha acabado comigo, eu estava sem chão. Tudo bem que eu nem as conhecia, mas naquela hora, pude me colocar no lugar delas, sabendo que elas estavam marcadas para partir, e que esse fim não estaria muito distante. Tudo o que eu queria era correr dar um abraço em cada uma daquelas crianças e dizer o quanto eram especiais para o mundo, e que neste curto período de tempo em que passariam pela terra, iriam mudar a vida de muitas pessoas.

O doutor receitou um remédio pra mim e me mandou não sair de casa, dizendo que eu precisava apenas de um descanso. Ao sair do hospital, pude observar melhor aquelas pobres crianças, o problema delas eram o mesmo. O professor Danilo saiu ao meu lado, sem dizer uma palavra mas ao mesmo tempo, seus olhos descreviam que ele estava tendo os mesmos pensamentos que eu.

- Ah se eu pudesse ajudá-las. - Disse ele com seus olhos se enchendo de lágrimas.

- Eu... não tenho o que dizer.

- Apenas vamos, e não fica com isso na cabeça. Se elas vão embora cedo, é porque tem que ser assim. - Disse ele colocando o braço pela minha cabeça e me levando para fora do hospital.

Saímos e finalmente vi a luz do sol que iluminava a cada canto do meu rosto. Pude sentir uma grande melhora no meu estado, a dor de cabeça havia passado, eu já estava melhor, mas por consideração ao médico, eu não poderia ir na balada a noite.

Voltamos para o hotel e já eram cerca de seis da noite por lá. Eu não iria poder sair, mas também não estava com vontade. Eu não gostava desses tipos de coisas, e agora eu tinha um ótimo motivo para não ir: atestado médico!

- Você ta bem amor? - Perguntou o Bruno

- To melhor sim, mas o médico pediu pra mim não sair hoje.

- Então eu vou ficar com você.

- Não, eu quero que você vá.

Por mais que o Bruno me fizesse uma boa companhia, eu queria que ele fosse para a festa. Não queria que ele perdesse as coisas por minha causa.

- Eu não vou te deixar sozinho. - Disse ele

- Você quer que eu me sinta melhor? - Perguntei

- Sim.

- Então vai na festa. Eu vou me sentir mal se você perder as coisas por minha causa.

- Mas e se você...

- Mas nada, você vai! Ta entendendo? - Perguntei o apontando o dedo.

- Sei que você vai melhorar. - Disse ele me dando um beijo na testa.

- Pode deixar.

Já estavam quase saindo para irem a festa. O pessoal vieram para me desejar melhoras e seguiram para o ônibus, enquanto isso, o Bruno me abraçava e me beijava, dizendo que eu tinha de melhorar, e que se ele voltasse e eu estivesse dormindo, ele ia se jogar em cima de mim. Eu não tinha o que dizer, apenas ri.

Eles tomaram o rumo para a boate, e eu tomei o rumo para o quarto, apenas querendo deitar e descansar.

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NA BOATE.

- Cara, não vejo a hora. - Disse o Yuri.

- A hora de que? - Perguntou o Bruno.

- De entrar na balada, para muitas festas e tals. - Respondeu.

- Lá dentro tem muitos stripers. - Disse o Bruno rindo.

- Sério? - Perguntou o Lipe se curvando.

- Felipe! - Gritou a Nanda dando um peteleco na orelha dele.

- Ai, calma amor. É brincadeira.

- É bom que seja. - Disse ela.

Eles estavam sentados um atrás do outro no ônibus, então isso facilitava a conversa entre eles.

- E o Beto hem Bruno? - Perguntou a Nanda.

- O que tem?

- Como ele tá?

- Ah, ta melhorando. Depois que ele tomou o remédio que o médico recomendou acho que ele já esta melhor.

- Ele vai melhorar rapidinho. - Disse a Lara.

- Como assim? - Perguntou ela.

- Com um homem igual o professor Lucas cuidando dele lá no hotel, logo logo o Beto melhora.

- O que? - O Bruno se levantou com uma expressão de raiva no rosto.

- Ele ficou cuidando do Beto.

- Não, quem ficou lá foi o Danilo. - Disse o Bruno.

- O que tem eu? - Perguntou o professor Danilo ali do lado.

A Lara apenas deu uma olhada para o Bruno de "Eu não disse?" e logo voltou a se sentar. A Lara foi uma vaca em falar para o Bruno sobre isso.

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NO HOTEL.

Eu apenas me joguei na cama, abracei meu travesseiro e fitei a janela. Era um lindo pôr-do-sol mas aquela luz só refletida pelo espelho só me traria mais dor de cabeça, então tive de me levantar e fechar as cortina, que por razão era preta e marrom para combinar com o quarto.

Eu estava vestindo uma camiseta preta e um shorts branco, próprio para dormir. Alguém bateu à porta a este momento enquanto fazia minha reflexão.

- Quem é? - Perguntei me virando.

- Sou eu, o Lucas. Posso entrar?

- Entre. - Respondi sentando na cama.

- Ta melhor? - Perguntou ele.

- To sim, valeu. - Respondi.

- Você não foi na festa? - Completei perguntando.

- Não, pedi ao Danilo pra ficar aqui para cuidar e te fazer companhia.

- Ah... - Disse.

- Então, não conseguiu aproveitar muito o seu dia hoje não é? - Disse ele se sentando na cama em frente a mim.

- É, foi uma pena. - Respondi com um triste sorriso.

- Mas amanhã vai ter mais coisas, se você melhorar até lá.

- Quer a verdade? - Perguntei.

- Que verdade?

Eu contei que o que eu tinha não era nada de mais, que eu estava bem, mas apenas que não queria ter ido na boate e usado o atestado médico como desculpa.

- Então quer dizer que você está firme e forte? - Perguntou ele.

- Firme sim, agora forte... - Disse me jogando na cama.

- Haha, pode tratar de levantar. - Disse ele me fazendo cócegas.

Ele realmente era um crianção. Quando ele fazia essas brincadeiras comigo, sentia que ele estava sendo muito real, que aquele era o verdadeiro Lucas que eu não tive a oportunidade de conhecer antes.

- Levantar pra que? Eu to doente, lembra?

- Doente nada. Você mentiu, e eu vou te castigar se você não vir comigo agora.

- Pra onde? - Perguntei.

- Não posso contar.

- Então não vou.

- Duvida?

Não sei como, mas ele conseguiu me pegar no colo. Mesmo comigo fazendo o maior escândalo, ele me carregou ali enquanto eu gritava e pedia para ele me colocar no chão. Como se não bastasse estar nos braços dele, ele continuou a me fazer cócegas, e isso era o pior de tudo.

Ele me levou pelos corredores no colo, e quanto mais eu perguntava pra onde estávamos indo, mais ele ria e me fazia cócegas, mas não contava nada. Percebi que estávamos subindo algumas escadas, e não demorou até eu ver a luz novamente, mas em vez de raios de sol, eram os raios da lua.

Ele finalmente me colocou no chão.

- Ah, onde é isso? - Perguntei.

- O terraço do hotel. - Respondeu ele.

- E você por um acaso tem permissão para subir aqui?

- E quem disse que eu preciso? - Perguntou ele me fitando.

- Olha lá em cima. - Ele apontou pro céu.

- O que? - Perguntei.

- O meu dedo.

- Seu idiota. - Disse rindo.

- É sério, olha lá em cima e veja.

O céu estava lindo, estrelado, e com uma lua maior do que o normal. Aquele momento estava maravilhoso.

- O que acha? - Perguntou ele.

- Lindo. - Respondi.

- E romântico. - Disse ele.

Eu deixei escapar uma risada no canto da boca. Ele começou a me encarar, e eu não sabia o que fazer.

- O que foi? - Perguntei.

- Posso? - Perguntou ele segurando meu rosto com as duas mãos.

Eu não falei nada. Apenas fechei os olhos... e deixei acontecer.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Oi em 2013-08-19 21:01:10
QUE PERFEITO.QUERO MAIS O.O POR FAVOOOR RAPIDO