Capítulo XII - Viva o que tem para viver
Parte da série O Anjo & O Ateu
- Já está querendo colocar uma coleira em mim? - Disse rindo.
- Sabe que ainda não tinha pensado por esse lado, mas é uma boa hein! - Disse ele.
- Bobo... -Coloquei a medalhinha no pescoço.
Eu estava tão feliz e honrado pelo presente de Andrew, eu sabia que essa medalhinha era de grande importância para ele, então aceitei e a coloquei em meu pescoço. Dei um beijo no Andrew, para agradecer o lindo presente.
Quando descemos, meu pai e minha avó já haviam chegado. Deixei o Andrew na sala conversando com minha avó, ela simplesmente amou ele, mas também é impossível não amar o Andrew. Ele é tão carinhoso, seu jeito de conversar e olhar para as pessoas faz qualquer um admirá-lo, é como se de alguma forma ele transmitisse uma paz, uma confiança, sem falar que ele é lindo, sexy e ótimo na cama.
Solano e Rebecca estavam na cozinha, preparando brigadeiro. Como não sou bobo, fui ver o que tinha saído, Solano me encarou com aquela cara dele de bobo da corte e disse:
- Vince, ainda bem que seu pai chegou agorinha, dez minutos atrás, ele chamaria a carrocinha.
- Por que, posso saber? - Perguntei sabendo que ia me arrepender.
- Vocês não ouviram os gemidos de um gato lá em cima? E pareciam ser dois, um mais alto que o outro - Disse Solano rindo.
- Rebecca! - Disse com a intenção dela calar o amigo.
- Eu também ouvi Vince. Vocês exageraram um pouco, nosso pai podia ter chegado. Talvez seja melhor vocês terem um lugarzinho pra ficarem mais a vontade, não acha? Ou então acalmar um pouco esse fogo. – Falou quase rindo.
- Bem, pra mim a gente não chamou tanta atenção assim. -Respondi.
- Por curiosidade Vince, quem é o ativo e quem é o passivo? – Perguntou Solano.
- Vai caçar quem te come! - Disse voltando para a sala.
Aquela conversa com a Rebecca e Solano tinha chamado minha atenção, nós estávamos nos arriscando demais, eu ia ter que arrumar um lugar pra gente, porque em casa é perigoso, o meu pai poderia descobrir, e tem a Margarida, nossa empregada. Pensando bem, como vai ser a partir de agora na faculdade com meus amigos, eu estou namorando um cara agora.
O meu pai pediu a pizza, comemos e depois assistimos uma série que meu pai adora. O Andrew pareceu gostar também. Meu pai simpatizou com ele tão rápido, pareciam amigos há tempos. Logo depois, fomos dormir. O Andrew foi dormir no meu quarto, coloquei o colchão ao lado da minha cama, mas é claro que ele dormiu comigo agarradinho, pude passar aquela noite sentindo seu cheiro e sendo aquecido pelo calor do seu corpo.
No outro dia, o Andrew acordou cedo, ele precisava passar em sua casa antes de ir para faculdade, combinamos de nos encontrarmos no intervalo. Tomei um banho, me vesti, passei um cheiroso perfume e "#partiufacul".
Na sala de aula, o professor tava passando uma matéria tão chata e cansativa, o tempo parecia que não passava. A Lexi tava na sala também, numa cadeira ao lado da minha, resolvi começar a puxar assunto com ela, afinal ela era a melhor amiga do meu namorado, e eu tinha que fazer uma média.
- Oi... Le-xi, feliz aniversário atrasado - Falei um pouco tímido.
- Como sabia que era meu aniversario?
- Ah... bem, a Rebecca me disse – Falei.
- Claro. Obrigada Vincent - Disse ela friamente.
Essa garota me odeia desde o primeiro dia de aula. Mas também eu mereço, teve uma vez, que ela me "cantou” e eu meio que a "joguei pra escanteio", de maneira grosseira.
- Lexi, eu sei que você não gosta muito de mim, mas eu estava num momento difícil e acabei descontando em você, me desculpa?
- Olha garoto, eu não tenho nada contra você, mas você...
Ela não terminou a frase. Fixou o olhar em mim, meio assustada. Depois percebi que ela olhava atentamente para a minha medalhinha.
- Onde conseguiu essa medalhinha?
- Ah... isso? Eu achei legal e comprei na mão de um amigo. - Disse, suando de nervoso.
- Uma medalhinha de São Miguel Arcanjo? Achei que você fosse ateu. - Disse ela ironicamente.
- Eu sou, mas achei os detalhes legais, e tem muitos ateus que curtem usar esse tipo...
Fui interrompido pelo sinal, que dizer, fui salvo. Sai apressado dali, entrei dentro do banheiro. Quando sai, fui surpreendido:
- Foi o Andrew neh!?
- O que? Quem é Andrew garota?
- A medalhinha é dele! Então era com você que ele estava ontem? - Perguntou ela.
- Claro que não!
- Incrível... o playboy metido a garanhão na verdade é gay. - Debochou a Lexi.
- O que? Tá maluca?
- O que diriam os seus amigos se descobrissem que o maior "pegador" da faculdade é na verdade a "muiezinha" de um caipira? Debochou.
- E o que diriam se soubessem que a sua aranha anda brigando com a da Suzan, "Joãozinho"? - Perguntou Solano, de repente.
- Solano!? Disse Lexi assustada.
- O que pensa que está fazendo Lexi? - Perguntou Solano.
- Solano você acredita que o garanhão ali é...
- Namorado do Andrew, sim eu sei.
- O que!? - Gritou ela.
- Você está surpresa? Não se faça de ridícula garota. Nós dois sabemos o motivo desse "showzin" seu aqui. Quem é você para julgar o Vincent ou o Andrew?
- Solano, a questão não é essa. Estamos falando de Vincent Tomaz, esse garoto é tudo que representa a homofobia e o machismo nessa faculdade.
- Não Lexi, ele só estava com medo, como eu e como você. - Disse Solano.
- Acha mesmo que eu vou aceitar isso? É só uma questão de tempo para o Andrew perceber que esse cara é na verdade um completo idiota, mimado e preconceituoso.
- Querida! Você já viu a medalhinha que ele está usando? Soletra comigo o que representa: COM-PRO-MIS-SO. Então você tem duas alternativas, fofa: ficar do lado do time "#VinDrew", apoiando a felicidade do seu melhor amigo, inclusive ou se preparar, porque, no que depender de mim, você não vai conseguir nem mesmo arranhar a pintura do amor entre esses dois.
- Amor? Acha mesmo que isso vai durar?- Disse Lexi rindo.
-Está avisada garota. Vamos Vincent, deixa essa louca aí. - Disse Solano me puxando.
Estava nervoso e preocupado, era uma questão de tempo até a Lexi divulgar para toda a faculdade sobre mim e o Andrew, ou pior, até meu pai ficar sabendo. Viver um sonho, um desejo proibido e egoísta, no que estava pensando, a vergonha que serei para minha família, para a memória da minha mãe!
Quando dei por mim, estava chorando, com medo. Solano percebeu. Ele me parou, segurando meus ombros, disse:
- Pode ir parando! Não deixe que comentários idiotas, derrubem você Vincent.
- Solano, não aja como se soubesse o que estou sentindo. Eu não sou igual você, eu não quero ser igual você! - Disse aos berros.
- Quem disse que você é igual a mim, Vincent!?
Ele agora olhava para mim sério, lágrimas desciam dos seus olhos. Vê-lo daquele jeito, me deu um aperto, um arrependimento, não devia ter falado com ele daquele jeito.
- Vincent... Não me olhe como seu exemplo, porque eu não sou! Você e o Andrew não são movidos pelo desejo, pelo prazer egoísta ou pelo dinheiro. Sabe o que vejo quando olho para vocês juntos? O verdadeiro sentido do amor, a esperança que um dia terei algo assim para mim. Acredite, o que vocês estão vivendo é único, verdadeiro e raro, não somente para um homossexual, mas para qualquer pessoa. Muitas pessoas vão criticar, tentar derrubar, sabe por que? Porque desejam a mesma coisa, e não encontram. Sabe o que é acordar todos os dias com aquela sensação de vazio, aquela saudade de alguém? A Lexi... Ela não está te julgando Vincent, não dirá uma só palavra para prejudicar vocês, apenas está confusa com ela mesma. Ela acredita que o Andrew vai preencher seu vazio, mas logo vai perceber que o Andrew é seu e de mais ninguém. E eu não sou diferente dela, já cometi muitos erros nessa vida. Então meu amigo, você nunca foi igual a mim, pois eu ainda não vivi um amor como esse de vocês. Não precisa ficar com medo, você não está sozinho pode sempre contar comigo, com a Rebecca, até com a Lexi, e principalmente com o Andrew. Lute Vince com todas as suas forças, te garanto que vai valer à pena, mesmo que você não tenha o apoio de seu pai, de sua família, das pessoas. Tenha sempre a certeza que o time "#VinDrew" não vai abandonar vocês. - Desabafou Solano, me dando um forte abraço.
- O-bri-ga-do, Sol - Disse, abraçando-o com força, sem me importar com as pessoas em volta.
Ah... já ia me esquecendo, o Andrew pediu para te avisar que precisou resolver umas coisas do pai, aqui na cidade. Deixa o telefone ligado que depois da aula ele irá te ligar.
Voltei para sala de cabeça erguida e confiante. Aquele discurso do Solano, me renovou, deu forças, me fez lembrar das palavras da minha mãe:
"Viva o que tem para viver. A vida é curta demais para viver o mesmo dia duas vezes"
Continua...