Capitulo VIII - A Dúvida de Andrew
Parte da série O Anjo & O Ateu
Eu estava sem reação em um infinito silêncio, mergulhado nos meus pensamentos. Não sabia o que dizer para a Lexi, na verdade não sabia o que eu exatamente estava sentindo. A Lexi me olhava atentamente, parecia esperar uma resposta minha. Para minha sorte, o interfone chama, eram os pais da Lexi. Precisava de tempo para colocar as ideias no lugar e a chegada do senhor Lourenço e Dona Fátima caiu como uma luva.
Os pais da Lexi são pessoas humildes e conservadoras, como a maioria dos habitantes de Capelinha; eles nunca souberam do relacionamento da Lexi com a Susan. Eu os conheço desde meus 4 anos de idade, tive até o costume de chamá-los de tios.
- Nossa Drew! Você está cada dia mais bonito e forte, um "rapagão" - disse Dona Fátima.
- Impressão sua, Tia Fátima, mas obrigado - falei envergonhado.
- Olá Drew! como anda meu genro favorito? Perguntou o senhor Lourenço.
- Tudo ótimo, tio Lourenço - falei olhando meio sem graça para Lexi.
-É-e..., Andrew!? Será que tem como você buscar o bolo que encomendei pra gente? É naquela Confeitaria italiana que eu adoro. - disse a Lexi.
-Tem sim! Eu aproveito e busco a Rebecca e o Solano - falei.
- As chaves do carro estão na "estantinha" da sala - disse a Lexi.
Tirei o carro da garagem do prédio, liguei para Rebecca e depois para Solano avisando que estava indo buscá-los. Olhei no meu celular, e havia duas chamadas não atendidas do Vincent, mas preferi não retornar, ainda. Chegando na rua da casa do Solano, percebi que ele já estava na porta me aguardando. Parei em frente sua casa.
- Um Deus Grego desse me buscando em casa? A "pireguetada" vizinha deve estar morrendo de inveja - gritou Solano apontando para suas vizinhas que estavam observando, me matando de vergonha.
- Entra logo Sol - falei rindo.
- Essas desocupadas adoram fofocar da minha vida, Drew, se meu carro não tivesse na oficina, passava com ele em cima delas - resmungou Solano.
- Vejo que está de bom humor hoje néh Sol? - falei.
- Estou péssimo, Drew.Eu bati o carro do meu pai, ontem e ele está me caçando feito um coiote atrás de uma ovelha. Mas vamos deixar de falar de mim, quero saber de você, o que me conta de novo? -disse ele com um olhar de desconfiado.
- Eu!? - falei.
- Sim meu galã, me fala como foi sua noite ontem, dormiu bem? Assistiu o filme? Beijou muito... no seu encontro com o Vincent? - Perguntou Solano, parecendo que estava jogando uma bomba em cima de mim, eu cheguei até a parar o carro.
- O que?! Do que você está falando?! - disse espantando.
- Pára neh! Acha mesmo que a gente não sabia? Qualquer criatura da face da Terra perceberia o "clima" entre vocês. E... meio que a Rebecca deixou escapulir ontem - justificou ele.
- Até a Rebecca está sabendo disso? Quem mais está sabendo, suas vizinhas? - falei irônico.
- Calma, neh bonitão! Eu não pareço, mas sou uma pessoa super discreta! - -disse ele.
- Ah sim, você é um poço de discrição, a Hannah Montana quando vem ao Brasil se esconde na sua casa - disse ironicamente.
- Nossa, você está bastante irônico hoje, o que aconteceu!? Não foi o encontro, porque eu e Becca fizemos questão de esperar o Vincent chegar ontem, ele tava tão feliz, até chegou cantando Mozão de Lucas Lucco.
- Sério? - falei rindo.
- Eu estava assistindo TV com a Becca, quando ele chegou. Faz tempo que não via o Vincent assim: sorrindo pelos cantos, cantando. Desde a morte de Patrícia, ele parou de cantar e dançar. - disse ele.
- Patrícia? -falei.
- É... A mãe de Vincent e Rebecca. Ela morreu de Leucemia há quase dois anos. Vincent sofreu muito, ficou doente, depressivo, ele a amava muito. A mãe deles foi uma mulher linda e muito religiosa, o Vincent e a Rebecca também, e, por sinal, a gente se conheceu na igreja, fizemos a Primeira Comunhão juntos. O Vincent até cantava no coral da igreja, a voz dele é linda, Andrew! Mas, por algum motivo, depois da morte da Patrícia, Vincent parou de frequentar as missas e de ir ao grupo de jovens- disse Solano.
- É claro, é por isso que Vincent é Ateu, ele perdeu a fé - falei.
Essa era a vantagem de se conversar com o Solano, ele sempre deixava escapar alguma coisa... Eu mesmo, tive muito cuidado com as coisas que contava pra ele, pois Solano falava demais.
- Mas.., fala Drew. Por que você está assim, meio incomodado?
- Tá Bom, irei te contar: é a Lexi ! - falei.
- O que aconteceu? Vocês discutiram? É assim mesmo Drew, eu a Becca brigamos direto também .
- Ela me beijou - disse.
- O que!? Mas ela não sabe que você é...?Perai, o que você é de Lexi?!
- Nós namoramos antes da Lexi vir para cá, depois a gente refez a amizade, hoje somos apenas amigos. - falei.
- Incrível você! - gritou ele.
- Por que!?
- Sabe, desde a primeira vez que te vi, eu nunca consegui encaixar você, sabe!- disse ele me assustando com esse papo.
- Como assim!? - falei.
- Vou te explicar: Desde que "sai do armário", acho que dos meus 13 à 14 anos, eu tive várias experiências com homens e hoje posso encaixá-los em grupos sabe! É meio que um "radar gay". Resumindo, existem vários tipos de homens , existem aqueles que são gays, sejam eles ativos ou passivos, afeminados ou discretos,como eu; também existem os "heteros" com apenas aquela pontinha de curiosidade; os falsos bissexuais ou falsos "heteros", como achar melhor, eles alegam ser machos e preferir mulheres, mas no fundo, que dizer, no raso, eles preferem ficar com outros homens, como o Vincent; mas você Andrew é diferente, eu acredito que você seja um bissexual verdadeiro ,sabe! Você realmente pode amar pessoas de sexos diferentes, isso é raro. - explicou Solano.
- Eu gosto muito do Vincent, mas a Lexi foi minha primeira e única namorada, eu acho que estou...
- Com Medo! - interrompeu Solano.
- Eu não sei - falei.
- Drew, eu já passei por isso, esse medo, ou melhor dizendo, essa dúvida é normal, será seu primeiro relacionamento gay -disse ele.
- Mas a Lexi, o beijo dela hoje, me fez relembrar o passado, eu a amava muito.- disse.
- Na minha opinião, é claro. Você precisa seguir em frente, viver esse novo amor, para descobrir o que realmente você quer. Andrew eu vi amor, desejo e paixão no seu encontro com Vincent, vocês merecem uma chance. - disse ele.
-Tem razão Sol, eu não paro de pensar no Vincent, me sinto tão bem perto dele, seguro; preciso saber o porque?! - falei animado.
- Isso aeh, Bonitão ! - disse ele me encorajando.
Depois de conversar com Solano, eu não tinha mais dúvidas. Peguei o carro, passei na confeitaria italiana e segui para a casa de Rebecca. Já fui chegando ansioso e aflito ,chamando pela Rebecca.
- Rebecca, preciso de um grande favor seu!
- Oi neh Drew, porque você está assim tão aflito ? Perguntou ela.
-O Vince está aí? - falei.
- Tá sim, está dormindo ainda, mas não adianta acordá-lo, ele realmente não vai - disse Rebecca.
- Eu sei, eu também não vou nesse almoço.
- Como é!? gritou os dois.
- Preciso que vocês vão nesse almoço e levem esses salgados para a Lexi , eu vou ficar, preciso falar com o Vincent! - falei.
- Ele está sozinho lá no quarto, imagino que você saiba o caminho - disse Rebecca rindo.
- Sei sim! Obrigado gente, vou ficar devendo essa! falei entrando na casa.
Subi as escadas e fui em direção ao quarto do Vincent, a porta estava semi-aberta e eu podia ouvir o barulho do chuveiro, o Vincent tinha acordado e estava no banho. Entrei no quarto e fiquei ali observando as coisas do Vincent, deitei sobre sua cama, tirei meu tênis e continuei olhando todo seu quarto, foi quando vi que no criado da cama tinha uma foto de uma linda mulher com Vincent provavelmente era a Patrícia, ela era realmente linda, Vince teve a quem puxar.
COntinua...