Capitulo V - O abraço

Conto de Lopesmoc como (Seguir)

Parte da série O Anjo & O Ateu

Foquei meu olhar num ponto da parede do meu quarto, pensava na minha mãe, Patrícia , no dia em que conversou comigo sobre minha falsa bissexualidade. Logo depois do acontecido com o Carlos, minha mãe me notou triste e desanimado, isolado dentro do meu quarto, então veio ao meu quarto, sentou em minha cama e conversou comigo. Ela sabia de tudo, era como se tivesse acabado de assistir a um filme sobre a minha vida, ela sabia o que eu sentia, o que dizer, me apoiou incondicionalmente. A princípio eu neguei, não poderia assumir que gostava de homens, mas a nossa conversa me deixou mais tranquilo, minha mãe tinha esse dom, sua presença me deixava mais disposto e confiante.

Minha mãe faleceu a dois anos atrás, ela tinha leucemia. Lembro que na época eu orava a deus todos dias, mas mesmo assim ela se foi, ele não teve tempo ou não se importou em me ouvir. Minha mãe orava todos os dias pedindo a Deus que quando ela partisse, se fosse de sua vontade, que desse conforto a nós, que não nos deixasse morrer com ela; e eu orava para que Deus não a levasse naquele momento, pois ainda precisávamos muito dela. Ela sempre nos ensinou a orar a Deus e a agradecer pelos nossos acertos e pedir perdão pelos erros, mas depois de tanto orar e não ser ouvido, no dia da morte da minha mãe, decidi não mais tentar falar com deus, decidi que deus seria enterrado junto às lembranças de minha mãe.

Estava triste em lembrar do dia em que a perdi, mas ao mesmo tempo lembrava do Andrew, sentia-me feliz, mas não sabia exatamente o porquê. Escutei minha irmã Rebecca me chamando da sala:

- Vincent, chegou a pizza!

Suspirei longamente, coloquei uma blusa preta, que adorava, passei um perfume e desci para a sala. Chegando, olhei para o Andrew, fui até a mesa de jantar e me sentei ao seu lado, mas ele evitava meu olhar. E antes de falar qualquer coisa que seja, fui interrompido por Solano:

- Então, fiquei sabendo que o bonitão está solteiro de novo. - Perguntou ele com um sorriso malicioso, enquanto servia refrigerante a todos.

- Engano seu, eu acabei de falar com a maior"gata" ao celular, marcamos de sair daqui a algumas horas - respondi sem pensar.

- Maior gata?! Sei ..., Perguntou ele ironizando o que disse.

- Sim. Uma das meninas mais "gatas" da Universidade, a Bianca.

Solano olhou pra mim como se desconfiasse do que tinha dito, mas antes dele ter qualquer chance, Rebecca encerrou o assunto.

- Vince, Sabia que o Andrew também adora música eletrônica? Podia convidá-lo para uma dessas baladas que você costuma ir, um dias desses.

- Sério? O que você mais gosta de ouvir, Andrew?

- Na verdade, gosto de tudo um pouco, mas gosto de ouvir as músicas de Afrojack, Avicci, David Guetta - respondeu ele.

Como seus olhos estavam verdes, radiantes. Reparei que a cor mudava de acordo com a claridade; no meu quarto com pouca luz, estavam com uma cor mais escura, agora estavam mais claros e brilhantes.

- Curto demais. As músicas de Avicci são as melhores - falei.

Rebecca e Solano se ofereceram para lavar os copos que sujamos e organizar a mesa do trabalho. Eu e o Andrew ficamos alguns minutos conversando, o Andrew é muito simpático e divertido. Mais tarde, percebi que ele usava no pescoço uma correntinha com uma medalha de ouro. Chamou minha atenção que era uma medalhinha daquelas que dizem dar proteção.

- Você é religioso, Andrew? Apontando para a medalhinha.

Aaah, isso...? É uma medalha de São Miguel Arcanjo, é a única lembrança que tenho dos meus pais biológicos. Foi entregue comigo quando fui deixado na fazenda dos meus pais adotivos, tenho muito carinho por ela. Mas depois conto com mais detalhes, pois já está na minha hora, preciso ir, minha casa fica a muitas quadras daqui - falou Andrew.

- Eu te levo, meu galã - Falou Solano se jogando pra cima de Andrew, aquilo me deu uma raiva.

- Então vamos!, até mais Vincent - Falou ele se aproximando de mim, me olhando novamente de maneira penetrante. Eu ofereci a mão, mas ao invés disso ele me abraçou. Eu estava corado, mas sem pensar duas vezes o abracei de volta. Andrew era um pouco mais baixo que eu, seus braços longos e fortes envolviam por completo meu corpo, seu abraço me fez sentir protegido. Ficamos abraçados por alguns segundos.

Na manhã que se seguiu, a claridade machucava minha vista, estava minha irmã Rebecca, sentada sobre a cama, acredito que ela estava ali a algum tempo esperando que eu acordasse.

- Vincent, preciso falar com você! - falou Rebecca.

- Eu ainda estou dormindo - falei.

- O que você sente pelo Andrew?

- O que?! Do que você esta falando?- Perguntei assustado.

- Eu o vi todo sorridente para ele, o admirando, retribuindo o abraço, além disso, você morreu de ciúmes, quando o Solano se jogou em cima dele, confessa. - acusou ela.

-Você está maluca Rebecca, me respeita, eu sou homem - falei.

- Não precisa esconder de mim, eu já sei de tudo, nossa mãe me contou - confessou ela.

- Não acredito que ela falou desse assunto com você, ela não podi...

- Tudo bem Vince! ela precisava me contar, você precisa de alguém para conversar, te apoiar, eu estou do seu lado, maninho. Achava estranho a princípio, mas depois eu aceitei, nunca comentei nada, porque estava esperando você se abrir comigo. Mas depois que te vi observando o Andrew na faculdade, percebi que precisava te ajudar. - falou ela me interrompendo.

- Rebecca, eu não sei, não quero fala sobre isso.

- Acho que ele também gosta de você, Vince. O jeito que ele olha pra você... É como se ele tivesse te esperando.

- Você acha?

- Tá vendo, você gosta dele! vai fundo Vince, chama ele pra sair.

-Claro que não, eu ainda não tenho certeza de nada e se nosso pai escuta você falando isso?

- Vince, já esta passando da hora de você tirar essa dúvida, e se for realmente o que você quer, vai em frente, viva, ame, o que vier depois é lucro, e esqueça o papai, com ele eu me entendo. Então, faz um favor para sua irmã, chame ele pra sair, não perca essa oportunidade. A felicidade bate somente uma vez na nossa porta. - falou ela saindo do quarto.

Depois de nossa conversa, fui tomar banho. Não fui à faculdade naquele dia, fiquei um bom tempo me molhando, pensando em tudo que Rebecca me disse. Decidi que pelo menos ia conversar com o Andrew, ia chamá-lo para sair. Liguei o computador e acessei o facebook, procurei pelo Andrew na página de amigos da Rebecca, o adicionei. Em menos de dois minutos ele me aceitou, ele também estava online. Começamos a conversar no bate-papo:

- Oi Drew, você esta aí? - o chamei pelo apelido.

- Oi Vince, to sim, tudo bem? - respondeu ele também pelo apelido.

- Tudo bom. É que está estreando um ótimo filme no cinema, gostaria de saber se você está livre sábado a noite? -Fui direto ao ponto, ansioso pela resposta.

- Claro que sim, que horas? - respondeu ele.

- Posso te pegar ás 20:00 na sua casa, pode ser?

- Pode ser.

- Combinado então!até sábado então, abraços.

- Não vejo a hora, abraços - respondeu ele.

Fiquei bastante ansioso pelo sábado, não sabia o que dizer ao Andrew no cinema, se agiria como amigo, se assumiria meus sentimentos. Essa era minha grande oportunidade de revelar a ele o que sentia, mas meus medos colocavam um abismo entre nós, a reação do meu pai era o pior deles.

Naquela sexta, fui dormir muito nervoso pensando em tudo que poderia acontecer e no que talvez não acontecesse.

No sábado, passei a manhã bem ansioso, esperando que a hora chegasse. Adiantei algumas coisas: escolhi uma roupa bem bonita, uma calça jeans azul e uma blusa rosa com branco e separei meu melhor perfume. Saí de casa às 19:20, saí um pouco mais cedo, porque o Andrew morava distante da minha casa. No caminho, fui pensando nas coisas que poderiam acontecer no cinema, ao mesmo tempo pensei na reação das pessoas em ver dois homens indo assistir um filme juntos, sem as namoradas, tudo isso me deixava muito aflito.

Chegando à casa do Andrew, ele já estava me esperando em frente ao prédio, estava todo arrumado. Abaixei o vidro do carro e buzinei para que ele viesse. Estava tão bonito e cheiroso; dei um aperto de mão simples e fomos em direção ao Shopping. No caminho, conversamos bastante, falamos sobre coisas em comuns, filmes que gostávamos e sobre que filme assistiríamos no cinema. Havia três filmes em cartaz: Hoje eu quero voltar sozinho, A culpa é das estrelas e De pernas pro ar, não conhecíamos a história de nenhum deles, nem vimos o resumo dos filmes, mas pelo nome, escolhemos Hoje eu quero voltar sozinho.

No cinema, imediatamente fomos comprar os ingressos e a pipoca, fomos um dos primeiros da sessão a chegar, ficamos nas fileiras do canto,porque são mais ventiladas e dão mais visibilidade. Na verdade, eu disse isso ao Andrew para convencê-lo a sentar no canto, mas a verdade é que lá ficaríamos mais a vontade e a claridade da tela não ia nos alcançar.

A sensação de estar a seu lado era tão boa. Eu apenas observava o momento, via o sorriso do Andrew e a felicidade em seu rosto, seus olhos brilhantes quase que me faziam beijá-lo ali mesmo. Eu estava tão concentrado em observar o Andrew que não vi que ele me chamava.

- Vince...?

- Vince?

- Oiiii, Andrew.

- Tudo bem com você?

- Tudo. É que estava observando aquele trailler que estava passando. O que queria me perguntar?

- É que me esqueci de comprar uma pipoca para mim e o filme já vai começar, você se importa de dividir essa aí comigo?

- Claro que não! Fique a vontade.

O filme estava começando... Todos no cinema se calaram e as luzes se apagaram. Nós não sabíamos que o filme que escolhemos era um filme gay, até que um dos personagens se masturbou pensando no outro colega e depois acontecesse o beijo.

Era o momento perfeito para saber se o Andrew sentia o mesmo que sinto por ele.

Continua...

Comentários

Há 3 comentários.

Por Flôôr em 2015-03-12 19:27:46
Eeiita rsrsrs
Por carwel em 2015-02-22 22:18:33
Nossa muito bom. .. continua prfvr...
Por raasilva em 2015-01-31 17:03:37
Muito legal seu conto, continua por favor.