Capitulo I - Lembrança de um amigo

Conto de Lopesmoc como (Seguir)

Parte da série Eu sou MAIS MADEIRA

Sempre me senti meio deslocado. Sabe aquela sensação de não pertencer àquele lugar, àquele grupo de pessoas, seja na família, na escola, nas festas, no grupo de jovens da igreja, todos pareciam ser tão diferentes de mim. Não que eu fosse do tipo antissocial, minha infância e adolescência foram bem aproveitadas, mas mesmo assim me sentia diferente.

Esta história aconteceu há algum tempo, eu estava com o perfil totalmente diferente do de agora, não só fisicamente, mas também com pensamentos e opiniões diferentes. E hoje digo a vocês que existem pessoas especiais que aparecem na nossa vida como uma luz no fim do túnel, mostrando o caminho que você deseja e espera, seja ele certo ou errado na opinião das outras pessoas. Essas pessoas têm o poder de, com simples ações, nos ajudar a mudar totalmente nossos conceitos e destruir alguns preconceitos.

Eu me chamo Felipe, hoje tenho 25 anos, moro em Minas Gerias e estou cursando Engenharia Civil. Irei contar para vocês uma história real, de amor, de aceitação, de superação e preconceito.

Meus pais formam um casal com costumes bem diferentes um do outro. A caçula de meu avô, minha mãe Helen foi a única dentre os sete filhos que teve condição de estudar. Meu avô materno era guarda noturno e minha avó era dona de um pequeno hortifruti da cidade. Apesar de todas as dificuldades meus avós nunca deixaram faltar nada para seus filhos, que cresceram aprendendo a dar valor à vida, à família, ao verdadeiro amor. Já a família de meu pai, Willian, possui costumes bem convencionais, isto é, religiosa, daqueles que fazem questão da presença de todos da família na igreja, bem vestidos, mostrando suas conquistas materiais, como carros e roupas caras. Em relação à outras religiões, ateus ou a homossexualidade eram bem preconceituosos e indiferentes. Fui criado ouvindo e acreditando que abraçar, beijar ou até mesmo pensar em outra pessoa do mesmo sexo é errado, é pecado.

A princípio, minha infância foi bem confusa, sempre fui bem diferente dos meus primos, nunca consegui me socializar totalmente com eles, brincava como qualquer outra criança normal, mas nunca criei aquele laço com meus primos, exceto com um: o Gabriel. Gabriel era meu primo mais velho, filho da minha tia Suzana, irmã da minha mãe. Nossa amizade era notável, sincera e invejada por muitos, tínhamos uma enorme diferença de idade, na época eu tinha dez anos, o Gabriel tinha lá seus dezoito anos. Fisicamente, ele era lindo, olhos e cabelos castanhos, corpo bem definido, sorriso incrivelmente atraente. Como pessoa era o orgulho da família, sua demonstração de caráter, afeto e compaixão ao próximo eram suas principais qualidades. O Gabriel era meio que uma babá, um protetor, cuidava de mim enquanto meus pais estavam trabalhando, a gente era realmente muito unido, dormia junto, comia junto, tomava banho junto. Na presença dele eu era “eu mesmo”, vivia sorrindo, brincando, me sentia mais à vontade, bem diferente de quando eu estava na casa de meus avôs paternos, era tímido e fechado. Meu pai Wiliam não gostava muito do meu relacionamento com meu primo, mas minha mãe fazia questão. Minha Mãe e Gabriel também eram muito próximos, tinham até um apelido em comum: Manano (mana + mano). Minha mãe era como uma irmã mais velha, era um protegendo o outro. Minha tia Suzana, porém, não gostava muito da proximidade dos dois, acho que tinha ciúmes, tentava separar os dois, mas enfim, eram inseparáveis.

Meu pai gostava muito de bebida, era comum chegar em casa alcoolizado e iniciar uma discussão com minha mãe. Gabriel sempre entrava no meio, enfrentava meu pai frente a frente, protegia minha mãe a todo o custo. Uma vez, na escola, aguardava meu pai me buscar, ele demorava muito e eu estava cansado e com fome, então decidi ir embora sozinho, andando. No caminho, um grupo de moleques de bicicleta me cercou, estava de olho numa pulseirinha de ouro que eu tinha, de muito valor sentimental, presente de Gabriel. Um dos moleques me empurrou e eu caí no chão, já gritando, chorando e com medo, quando aparece do nada um cara de moto empinando em direção aos moleques, ele desceu da moto e tirou o capacete, era Gabriel, ele encarava os meninos, sua expressão no rosto era séria e ao mesmo tempo confiante, apesar de em maior número, os moleques não enfrentaram Gabriel, apenas saíram. Ele percebeu que eu tava assustado e chorando, chegou perto de mim e disse:

- Vai ficar tudo bem, Lipe, eu estou aqui agora! Eu sou mais Madeira... Lembra?

Logo parei de chorar e abrir um sorriso. Nunca entendia essa frase que ele costumava dizer: "Eu sou Mais Madeira", mas achava um máximo. Com o passar dos anos, nossa amizade estava cada vez mais forte.

Aos meus 16 anos, eu já estava com um corpo legal, acredito que por causa das atividades físicas, costumava muito jogar peteca e pedalar com o Gabriel.

Era feriado, semana de "saco cheio", meus pais foram viajar, não lembro pra onde, o Gabriel ficou comigo em casa. Jogamos vídeo game e assistimos filme. Tive a ideia de mostrar um filme que comprei do meu colega de escola. Era um filme pornográfico, na época, principalmente naquela idade, era tão atrativo, talvez pelo fato de ser proibido, para maiores de 18 anos. Quando coloquei o filme, percebi que o Gabriel ficou surpreso, mas mesmo assim assistiu comigo. Eu assistia àquelas cenas de sexo explícito com tanta atenção, era novidade para mim. Confesso que no filme prestava mais atenção no pau do cara, as mulheres também me chamavam a atenção, algumas tinham enormes seios. Olhei pro Gabriel, ele estava me olhando também, percebi que tinha um enorme volume sobre sua calça, ele estava suando, sua respiração estava um pouco ofegante. Resolvi perguntar se estava tudo bem, ele reagiu de maneira meio agressiva, não respondeu, desligou o vídeo, e quebrou a fita, na época, era fita cassete. Lembro que me deu uma raiva dele, o trabalho que foi para conseguir aquela fita, sem falar, da oportunidade de meus pais saírem para assistir.

- Por que você fez isso, Gabriel? – Perguntei.

- Você não tem idade pra ficar assistindo esse tipo de filme não - Disse Gabriel.

- E você é meu pai agora para controlar o que assisto? - Perguntei nervoso.

- Sou não, mas se fosse meu filho te colocava na linha moleque! - Disse ele.

Quando ele me chamou de moleque, a raiva subiu à cabeça, fui pra cima dele para dar um soco. Gabriel era mais rápido, me segurou por trás, me prendendo, pressionando seu corpo contra o meu. Sentia seu pau ainda duro na minha bunda. Eu tentava sair, mas ele era bem mais forte.

- Olha, eu vou te soltar, mas promete que vai fica quietinho? - Disse ele, balancei a cabeça confirmando que sim.

- Palhaço! Não conversa mais comigo - Falei saindo.

Ele agarrou meu braço e disse:

- Espera Lipe, desculpa, estava brincando com você!

- Quero nem saber me solta agora! – Gritei.

- Para de gritar - Disse ele.

- Se não o que? Vai me bater agora também? – Perguntei.

Ele me puxou, fixou seu olhar em mim, parecia que estava querendo algo, se aproximou, estava praticamente colado em meu rosto, me beijou. Não sabia o que fazer, apenas deixei acontecer.

Foi meu primeiro beijo, sentia um inexplicável frio na barriga, ao mesmo tempo estava envergonhado. Depois que ele me beijou, disse:

- Eu... eu acho que amo você, Lipe. - Disse ele, meio envergonhado.

Aquilo me deixou com uma sensação estranha. Nenhuma palavra saia da minha boca, estava paralisado. A única reação que tive foi abraçá-lo. Era jovem, e tudo era muito novo para mim. Ele percebeu e voltou a me beijar, calmo e sereno.

Gabriel começou a tirar toda a roupa, ficando nu na minha frente, logo depois tirou minha roupa também e deitamos na cama, ele beijava meu pescoço, me deixando arrepiado. Eu era jovem, mas não era tolo, sabia o que ele queria, eu o queria também. Me entreguei totalmente, estava um pouco nervoso, era minha primeira vez. Gabriel foi tão carinhoso comigo, continuou a me beijar e aquilo me acalmava de alguma forma. Sentir seu toque sobre meu corpo despertava algo que nunca tinha sentido, a cada toque dele sentia um arrepio, um desejo de ser dele dali pra frente.

Gabriel começou a forçar a cabeça do seu pau contra a entrada, soltei um alto gemido... Ainda não estava acostumado com aquela sensação. Mas o Gabriel me passava tanta segurança, me deixava tão à vontade.

- Relaxa! Eu vou bem devagar, está doendo agora, mas depois passa - Sussurrou ele no meu ouvido.

Senti um arrepio quando ele, quase que mordendo minha orelha falou aquilo. Era a primeira vez que um homem demonstrava me desejar.

Depois de colocar a cabeça, ele deixou alguns segundos para me acostumar, e aos poucos, com calma, começou aquele movimento de vai e vem. Eu ainda sentia algum incômodo, mas a sensação de senti-lo dentro de mim era sem igual. Depois de um tempo, intensificou o ritmo, eu já não sentia dor, e sim uma sensação maravilhosa, eu delirava de prazer.

Gabriel começou a colocar e tirar a cabeça de seu pau de dentro de mim, ia abrindo espaço para sua passagem, me dominava por completo. Foi quando Agarrou minha cintura e em um só movimento penetrou todo o seu pau em mim, segundos depois senti como que uns jatos sendo jogados dentro do meu corpo, era uma sensação incrível, Gabriel tinha gozado dentro de mim.

Saímos da cama e nos vestimos, ficamos por alguns instantes nos olhando...

Foi então que Gabriel disse:

- Será um segredo nosso. Olhei sorrindo.

Fizemos amor outras vezes durante todo o feriado, até que meus pais chegaram. Essa nossa nova “experiência", deixou a gente ainda mais próximo.

Havia se passado quase um mês desde que ficamos pela primeira vez, era tarde, eu estava dormindo, acordei gritando e chorando, tive um pesadelo, não lembrava o que era. Os meus pais ficaram assustados, porque eu estava suando muito. O telefone tocou, minha mãe atendeu, parecia nervosa, mas ela nunca demonstrava fraqueza perto de mim. Não dizia nada, apenas pegou minhas coisas, me deixou na casa de minha avó e saiu às pressas com meu pai. Naquele dia eu lembro que não voltei a dormir, estava preocupado, ainda suava muito, tentando me lembrar do pesadelo, mas não conseguia. Fiquei a noite toda sem noticias de meus pais e de Gabriel, que não apareceu pra me levar dali. No outro dia, minha mãe chegou e me levou embora. Em casa ela não falava nada, estava triste pelos cantos, não me encarava nos olhos, simplesmente me ignorava. Só à tarde, quando estava deitada na cama chorando muito, eu me aproximei, ela olhou pra mim e falou:

- Filho!

Deu uma longa pausa, como se tentasse juntar forças.

-Seus olhos me lembram os olhos do Gabriel.

Eu sorri.

- Felipe, tenho que te contar uma coisa, mas seja forte filho. Balancei a cabeça, afirmando que sim.

- Houve uma confusão com seu primo Mateus (irmão de Gabriel), os policiais até levaram ele preso. Gabriel ficou sabendo da confusão, foi correndo ajudar, no caminho houve um acidente, ele estava sem o capacete...

Minha mãe não conseguiu terminar de contar, começou a chorar antes. Mas foi o suficiente para eu ficar totalmente sem chão, antes de sair do quarto, meu pai me agarrou, nem tinha visto ele ali, eu chorei, gritava o nome de Gabriel. Depois de um tempo, fiquei quieto, não falava uma só palavra.

No enterro estavam todos da família. Eu observava as pessoas que estavam presentes, todos com a cabeça baixa. Minha mãe não deixou vê-lo. Gabriel faleceu, deixando uma filha de um ano, seu nome é Amanda. Minha tia Suzana estava arrasada, na verdade, ninguém estava preparado para isso, foi tudo muito rápido e sofrido. Gabriel era muito amado, não somente pela família, como também pelos amigos.

Como dizia no início da história, existem pessoas especiais que aparecem na nossa vida como uma luz no fim do túnel. Gabriel foi essa pessoa pra mim, talvez não naquele exato momento, só mais tarde que percebi que ele foi um anjo na minha vida, mais tarde percebi que “Eu sou mais madeira” significava sua força, seu caráter e sua fé nas pessoas. Gabriel foi e sempre será meu primeiro amigo, meu primeiro heroi, meu primeiro beijo, minha primeira vez, meu primeiro amor.

Continua....

Comentários

Há 2 comentários.

Por Léo Allen em 2015-02-08 23:25:06
A-M-E-I, simplesmente perfeita, toda a questao amorosa é realmente envolvente e sem igual. Ansioso aqui. Bjo.
Por Andrê Louis C. em 2015-02-08 22:47:49
Adorei!!! Gostei muito dessa mensagem sobre amor verdadeiro que você quer passar. Muito cativante!!! Parabéns😍