Ligados Ao Passado - Capítulo VII

Conto de Lohan como (Seguir)

Parte da série Ligados ao Passado

Aviso: Esse é o capítulo mais curto eu creio, então postei logo. Mas o próximo é beeemmmmm extenso, então possa ser que demore um pouco. E também estou bem sobrecarregado com tarefas esses próximos dias, então... Não sei se conseguirei postar o cap. VIII até domingo. Mas enfim... Vamos a história neh non?

Ligados Ao Passado

Capítulo VII

Confissões

Nuno não conseguiu manter a pose por um longo tempo, o olhar de desespero que Ender estava lançando para ele era engraçado demais.

- Hahahahahaha! Acho que vou morrer... Hahahahahahaha... Socorro Deus! A cara que você fez foi engraçada demais... Hahahaha.

- Não estou entendendo onde está a graça nisso tudo – Ender franziu a testa, mostrando que estava irritado.

- Irei explicar! Não ou fazer uma troca de sonda, isso foi só pra rir da sua cara mesmo. Na verdade, vou retirar a que você está usando. Já que está acordado, consciente e com tudo funcionando bem, não necessita continuar com a sonda.

- Somente isso? Não sei por que, mas tenho a leve sensação que deve ter pelo menos mais um motivo – Ender já estava cético quanto às boas ações de Nuno.

- Digamos que será divertido para mim, ver você se esforçando para levantar dessa cama e ir ao banheiro. Com certeza irei rir bastante – Nuno sorriu de forma maliciosa enquanto começava a retirar os materiais que havia trazido e deixando somente os que iria utilizar.

- Quando você se tornou tão perverso? – Ender suspirou enquanto perguntava em voz baixa e abaixava a cabeça, ele ainda estava sentado. Quando ergueu novamente a cabeça um brilho diferente estava em seus olhos – Você já tinha orquestrado isso desde o inicio, han? Definitivamente, você é cruel!

- Não tanto quanto você é pelo que vejo – Nuno respondeu em um sussurro.

- O que disse? – Ender ouviu alguma coisa com relação a ele, mas não entendeu o que tinha sido pronunciado.

- Eu disse que você demorou pra perceber – Nuno começou a retirar o lençol que cobria o corpo de Ender da cintura para baixo.

Como ele não tinha roupas consigo desde o acidente, e a única que tinha, havia sido rasgada quando ele deu entrada, Ender ainda usava as roupas do hospital, aquelas típicas calças e camisas de tecido simples e de cor verde ou azul. Nuno começou a desatar o nó do elástico que deixava a calça de Ender justa a sua cintura, quando colocou as suas mãos nas laterais de sua cintura ele foi impedido.

- Espera! – Ender colocou suas mãos sobre as de Nuno enquanto respirava rapidamente. Era evidente que estava nervoso com essa situação.

- O que? Alguma coisa errada? Se sente mal, ou algo do tipo? – Nuno estava trajado no seu lado profissional, logo, qualquer outra coisa para ele se tornava irrelevante, excitação, desejo, vergonha, medo, ansiedade, tudo isso, se tornavam sentimentos subjetivos para ele. Pode-se dizer que quando seu lado profissional entrava em ação, seu lado emocional era desligado e só restava a sua racionalidade para coordenar suas decisões. Essa era na verdade, seu maior talento, e o que o fez chegar tão longe em tão pouco tempo.

- Não, não há nada errado... É só... Que... Bem... É estranho ter outro homem olhando e pegando em algo seu... É desconfortável... Ainda por cima quando é um antigo amigo e... – Ele foi interrompido por um olhar severo.

- Ender preste atenção no que irei dizer! Não estamos aqui como dois homens. Neste momento, estou como seu Médico e você como meu Paciente, o procedimento se faz necessário e, portanto, irei realiza-lo para garantir a sua saúde, se não quiser é uma escolha sua. Quanto a nós dois termos nos conhecido antes, não altera em nada o que é preciso fazer. Quando éramos criança e adolescente chegamos até a tomar banho juntos e nunca houve vergonha alguma da sua parte. Então qual o problema agora? – Nuno estava com raiva, muita raiva. Ele suspeitava do que realmente Ender estava com receio, mas queria ouvir da boca dele, finalmente, 10 anos de acúmulo estavam prestes a ser despejados de uma única vez.

- É que bem... Quando passamos por isso, de tomar banho juntos e etc. até então eu não sabia sobre você... Tipo, não sabia que gostava... Gostava de caras, mas agora que sei... É diferente e fico com certo desconforto em mostrar... – Ender estava vermelho de tanto segurar sua risada, o que ele via, era Nuno ficando com raiva por estar tendo que ceder às ações dele e isso o divertia, pois de certo modo, fazia com que eles agissem da mesma forma que agiam no passado um com o outro, sempre competindo para ver quem ficava por cima. Mas isso era somente o que ele via.

Já o que Nuno via, era alguém que foi moldado em um berço de hipocrisia, recheado com pensamentos tradicionalistas e preconceitos por parte de uma família com pensamentos extremamente limitados e que acabou por deturpar a mente de seus descendentes levando a um retrocesso na evolução humana. Dentre todos, Ender era o que mais era “mente aberta” e isso não era lá muita coisa, e isso estava deixando Nuno extremamente irritado. Ter passado toda sua adolescência em conflito entre revelar seus sentimentos ou perder uma amizade teve sempre um peso muito grande em seu coração, um peso que até então, ainda não havia sido aliviado.

Nuno não pode conter a sua risada, mesmo estando explodindo de raiva por estar ouvindo essas palavras, ele fechou os olhos por um momento enquanto ainda ria e quando os abriu e olhou diretamente nos olhos de Ender, ele viu, pela primeira vez, Ender demonstrar medo e arrependimento pelas palavras que pronunciou, contudo, sua raiva estava forte demais para ele prestar muita atenção a esse detalhe.

- Por favor! Não seja hipócrita de usar isso como justificativa. O que acha que sou? Que não posso ver um pênis que já acabo colocando minha boca? Acha que me tornei médico para me aproveitar dos meus pacientes? Que ao invés de socorrer a vida deles e dar uma nova oportunidade deles continuarem vivendo, eu vou simplesmente abaixar a calça deles e ficar olhando ou pegando no pênis deles? – A veia jugular de Nuno estava tão aparente em seu pescoço que era possível vê-la pulsando a cada batida que o seu coração dava.

Ender olhava incrédulo para a reação que tinha causado em Nuno, não era essa a sua intenção quando começou a brincadeira, ele simplesmente ainda estava no “espírito de provocações” que estavam tendo até certo momento atrás. Ele pensou que ao brincar dessa forma, Nuno começaria a brincar insinuando que ele estava tímido ou algo nesse sentido.

- Desculpe! Eu me expressei mal, não foi isso o que eu quis dizer... – Suas palavras saiam de forma atrapalhada e sua voz quase falhou no final, seu coração batia rápido e ele não entendia como a reação de Nuno pôde ter um peso tão grande nele próprio a ponto de deixar seu coração acelerado.

- O que porra você quis dizer então, caralho? – Nuno estava ofegante e seu olhar estava fixo nos olhos de Ender. Com as luzes dos abajures acesas os olhos castanhos com um forte tom de vinho ficavam mais vívidos, dando um toque ameaçador.

Olhando aqueles olhos os pensamentos de Ender se tornaram ainda mais desalinhados, sendo assim ele só conseguia balbuciar “Eu... Eu... Eu...” até que se forçando a se concentrar ele conseguiu formar uma frase.

- Eu... Quer dizer... Não quis dizer isso, nem falei nesse sentido, desculpe. Achei que ainda estávamos brincando e estava tentando te provocar, não imaginei que isso ofenderia você dessa forma, eu peço descul...

- Não quero mais ouvir suas desculpas! Simplesmente, esqueça! – Nuno estabilizou sua respiração e desviou o olhar de Ender, enquanto mais uma vez colocava suas mãos no cós da calça e a deslizava pelas coxas de Ender em um movimento rápido e sem aviso prévio pegando certo alguém de surpresa, que a única coisa que fez foi arregalar os olhos e abrir a boca.

“Não quero ouvir suas desculpas! Não quero ouvir suas desculpas! Não quero ouvir suas desculpas!”

Nuno repetiu isso em sua mente constantemente enquanto retirava a calça de Ender e começava o processo de remoção da sonda, sendo assim, ele acabou se distraindo e devido ao seu hábito, mordeu o lábio inferior. Para ele era algo natural do seu corpo, contudo, para a outra pessoa naquele ambiente que presenciava tudo, trouxe pensamentos diferentes e sentimentos confusos.

“O que tem de errado brincar sobre isso? Não é como se eu estivesse dizendo que não respeito ele, nem que não o vejo como um tremendo profissional. Não tem sentido ficar com tanta raiva por uma simples brincadeira, ele está sendo tão... infantil. Quando éramos criança, ele não teria tido essa reação, pelo contrário, ele começaria a tentar dar a volta por cima, até me constranger, ele está tão diferente, tão mudado, quase não o reconheço, ele está... Ele está... Mordendo os lábios?”.

Quando Nuno começou a morder os lábios não tinha ideia da força que estava colocando, quando os soltou, um forte tom de vermelho se formou, realçando sua boca, ele levantou os olhos rapidamente para olhar para Ender que estava com uma expressão que Nuno não conseguiu identificar. Mas não pensou sobre isso e voltou sua atenção para o que estava fazendo.

- Vou começar a fazer a higienização agora, okay? Portanto, terei que tocar no seu pênis. Algum problema com isso? – Ele falou de forma fria e distante.

- Tudo bem.

Ender começou a observar a precisão dos métodos de Nuno. A habilidade que tinha em suas mãos era incrível. Tinha mãos ágeis, precisas e leves, ele nem sentiu quando Nuno retirou a sonda. Quando ergueu seus olhos das mãos para os lábios de Nuno, ele viu que estavam bastante vermelhos, depois o viu passar a língua sobre eles e olhar rapidamente para ele, isso o pegou de surpresa, mas foi um olhar rápido e antes que percebesse Nuno já havia voltado ao que estava fazendo, lambeu os lábios mais uma vez e então avisou que iria tocar no seu pau. Essa informação trouxe a ele um leve calor, antes que ele respondesse.

Quando Nuno começou a higienizar o seu pênis, inúmeras sensações chegaram percorrendo todo o seu corpo o fazendo estremecer. Ele olhou assustado para Nuno, tentando ver se ele havia percebido seu tremor, mas o “seu médico” estava alheio as suas reações. Ender olhou novamente para os lábios de Nuno e o viu morder novamente, isso de alguma forma o atraia. Nesse momento, Nuno acabou por derrubar um pouco da solução usada para assepsia no colchão, então ele rapidamente foi até um armário no canto da parede que tinha várias toalhas, panos e cobertas em invólucros de plástico. A toalha que ele pegou estava na parte mais baixa, dessa forma ele teve que se abaixar para poder retirar a toalha sem derrubar os outros panos, quando ele fez isso, sua bunda ficou claramente dividida na calça de moletom e seu cofrinho ficou visível, mostrando onde sua tatuagem terminava. Tudo isso fazia com que um forte calor começasse a brotar no peito de Ender. Que encarava tudo de uma perspectiva que lhe trazia desejo e confusão ao mesmo tempo.

Nuno voltou e continuou o processo de higienização, porém, para sua surpresa e para a surpresa de Ender, um “terceiro membro” resolveu se apresentar, acordando de seu estado de dormência assim como seu dono. O pau de Ender foi crescendo aos poucos, na mesma proporção em que sua vergonha e excitação pelo momento também crescia.

- Eu... Me desculpa... Eu não consegui controlar... Não sei o porquê de ter acontecido, realmente sinto muito! – Ender falava enquanto ficava cada vez mais vermelho.

Nuno o olhou rapidamente com o canto do olho.

- Tudo bem. Não é raro isso acontecer quando se está realizando esse processo. Pode ficar tranquilo – Nuno olhou para ele e sorriu, tentando tranquilizá-lo.

O pau de Ender pulsou quando Nuno sorriu para ele, por sorte, Nuno não percebeu isso. Ender já estava com sua respiração ofegante e seus pensamentos enevoados com a sensação que lhe era proporcionada toda vez que a gaze fazia contato com a sua glande, não foi algo que demorou muito, mas foi o bastante para que ele atingisse o orgasmo. Seu corpo estremeceu, um calor tomou conta de seu corpo e imagens aleatórias das costas com a tatuagem, dos lábios e da bunda de Nuno se alternavam em sua mente. Quando isso atingiu o ápice, ele simplesmente gemeu e expeliu seis jatos para o alto que caíram sobre ele, sobre a cama e a mão de Nuno que olhava para ele sem reação, somente com uma cara de descrença pelo que estava acontecendo.

- Puta que pariu... Eu... Hmmm... Cara, sério. Me desculpa! Mas eu não consegui controlar, estou há certo tempo sem... Nada... Então, de alguma forma isso acabou acontecendo. – Ender falava enquanto sentia as ondas de prazer ainda se espalhar pelo seu corpo, misturadas com um pouco de dor por ter tensionado o músculo da perna e ter arqueado um pouco as costas.

- Ender! Realmente, está tudo bem. Okay? Não precisa se desculpar. Isso não altera sua sexualidade. Foi apenas uma reação a um estímulo, nada mais, porém agora você terá que tomar um banho e não sei como vou fazer para leva-lo sem que você tenha que se esforçar bastante, apesar do banheiro não ser longe... – Nuno estava se esforçando para parecer frio e distante por fora, mas em seu interior, desde o momento que começou a sentir o pau de Ender crescer ao seu toque que estava nervoso. Ele temia que pudesse acabar vacilando e seus instintos assumissem o controle de seu corpo. Nunca antes, ele teve dúvidas quanto a sua capacidade profissional de lidar com os casos, mas quando esse caso em específico era o homem que ele foi apaixonado e desejou por tanto tempo em segredo durante sua adolescência, o deixava inseguro, pois, mesmo se dizendo que tudo já havia passado, ele não tinha garantias concretas que algo pudesse ressurgir. Como acabou ressurgindo em vários momentos desde que se encontraram novamente.

- Nuno, olha... Para falar a verdade, não, não está tudo bem. Eu preciso me desculpar por que não foi só por causa de estímulo... Eu sempre fui muito aberto com você e pretendo ser agora... Isso está tão confuso pra mim... Mas, eu tenho que dizer que... Quando você começou a me... Tocar... Comecei a imaginar algumas coisas com você e... – Ender falava enquanto olhava de um lado para o outro sem encarar Nuno e estalava os dedos um por um, até ser interrompido.

- Acho que já falou demais, não quero saber o que estava pensando! – Nuno começou a retirar as luvas, começando pela que estava coberta pelo esperma de Ender. A situação tinha chegado a um ponto extremo e ele já não tinha capacidades de continuar lidando com aquilo, ele estava prestes a entrar em colapso.

“O que ele está pensando que está fazendo? Brincando comigo? Como ele pode estar dizendo que ficou excitado por imaginar seja lá o que porra ele tenha imaginado comigo? Simplesmente não tenho mais saco pra isso hoje, já deu o que tinha de dar. Para mim já chega, vou tomar um banho. Ele que se foda”.

Após jogar as luvas no lixeiro ao lado da cama ele estava prestes a sair, mas uma mão segurou a sua, ele olhou e viu Ender o olhando com uma expressão séria.

- Não vá! Eu tenho que dizer algo a você – Ender apertou a mão de Nuno que olhava para ele com indiferença e desprezo, isso fez um nó se formar em seu estômago. Colocou um pouco mais de pressão no aperto para que Nuno se sentasse ao seu lado na cama, mas foi em vão, Nuno permaneceu em pé igual uma estátua.

- O que você tem para me dizer não me importa Aiyra – Nuno já não sabia o que dizer, ele temia confiar nas palavras de Ender. Em sua cabeça a única coisa que se passava era “E se essas palavras me ferirem novamente ou pior, se elas fizerem com que eu o perdoe? O que vou fazer caso isso aconteça? Ter que jogar fora 10 anos de mágoa e sentir um amor platônico pelo meu melhor amigo de infância de novo?”.

- Ouça! Por favor – Ender ainda segurava a mão de Nuno com força, temendo soltar e ver Nuno sair pela porta, perdendo aquele momento.

Por fim, Nuno sentou-se ao seu lado, com uma expressão vazia. Soltou sua mão da de Ender e o encarou, enquanto esperava pelo que ouviria dele.

- Você tem 1 minuto para me convencer a lhe ouvir, essa será a única oportunidade que terá – A sua postura demonstrava uma confiança que seu coração não tinha.

- Eu nunca esperei acabar reencontrando você... Vim até aqui com vários objetivos e nenhum estava relacionado a isso, assim como você cortou contato comigo, sem que até hoje eu saiba o motivo... – Isso fez o maxilar de Nuno travar, então ele falou com os dentes trincados.

- 30 segundos!

- Eu também cortei minhas lembranças e experiências que tive com você no passado, eu estou atolado em vários problemas, mas... Pelo menos esse acidente me trouxe até você. Para que assim, eu talvez possa me reparar do erro que cometi que acabou por nos afastar. E cara! Eu realmente não sei como abordar esse assunto, mas sempre que estava com você eu me sentia diferente, e isso foi algo que sempre me incomodou, por que era algo que não era natural em mim, nem na minha família, e eu nunca tive certeza sobre se isso era algo da minha imaginação ou se era real, mas... – Ele começou a falar cada vez mais rápido – Depois desses 10 anos, você reaparece assim... Ao meu lado, dessa forma... E tudo volta e não sei ainda o que realmente é isso, mas o que quero dizer é que...

- Acabou o tempo Ender. E você não me convenceu a continuar ouvindo. Vou preparar o banheiro para que possa tomar um banho e separar uma roupa minha que sirva em você... – Nuno começou a levantar-se. Da forma como havia se sentado de frente para Ender, ele colocou sua perna direita por baixo da esquerda, desse modo, quando foi levantar-se teve que inclinar um pouco para frente enquanto se apoiava em suas mãos, nesse momento, duas mãos se moveram rápido para as laterais de sua cabeça e o puxou, antes de seus lábios colidirem com outros lábios ouviu palavras soltas no ar.

- Só posso te convencer assim então... – Em seu pensamento Ender dizia “Por favor, me entenda! Nunca fui bom com palavras, você sempre me deixa nervoso, mas sempre conseguia me entender. Então, me entenda agora!”.

Não durou nem 5 segundos o contato que tiveram. Ender afastou-se lentamente e abriu os olhos de forma esperançosa e com um sorriso se formando nos lábios, mas ao olhar para Nuno seu sorriso morreu antes mesmo de se formar por completo.

- Como estava dizendo antes de ser interrompido por isso... Enquanto toma banho, o que espero que possa fazer sozinho. Irei buscar a TV e a deixarei aqui para que possa se distrair, certamente após dormir por tanto tempo, não terá sono tão cedo. – Nuno se endireitou, e seguiu para o banheiro.

Ao ver Nuno sair desse jeito, várias toneladas de sentimentos reprimidos vieram à tona para Ender. Um amor que nunca soube expressar. Uma confusão entre o que lhe foi ensinado que era correto e o que sentia. Medo por entrar em um mundo cheio de desafios e de ser descoberto em uma família como a sua. Ciúmes quando alguém passou a querer competir com ele pela atenção daquela pessoa. Tristeza quando brigou com aquela. Dor quando ouviu um “Não quero ver você nunca mais em minha vida”. Arrependimento por algo que fez ou não aquela pessoa. Insegurança em saber se fez algo ou não para aquela pessoa. Raiva quando viu aquela pessoa com outra. Saudades de simplesmente estar com aquela pessoa. Surpresa por rever essa pessoa ao seu lado. E por fim, um abismo por agora ser rejeitado por essa pessoa. Reunindo tudo isso, ele falou com olhos marejados.

- Isso realmente não significa nada para você?

Nuno parou antes de entrar no banheiro e ainda de costas para Ender ele por fim trouxe a tona uma confissão que da única vez que havia sido pronunciada, foi extremamente dolorosa, e trouxe para ele dores, que ele recorda até então.

- Significaria no passado. Ouvir isso seria o ápice da minha felicidade, mas hoje... Isso não tem mais peso... Palavras não curam ações Ender. Arrependimentos não desfazem um passado já construído e solidificado. Sinto muito se isso não é o que deseja ouvir, já passei por isso uma vez... Mas você supera.

- Simplesmente não posso superá-lo mais Rey, somente isso. Mesmo após esse tempo não consegui superar você, ou melhor, nunca superei o fato de ter deixado você ir – Antes que percebesse, pela primeira vez, Ender deixou cair lágrimas por alguém – Eu realmente, nunca esqueci você... Pode perguntar a Lyan se quiser ter certeza, eu sempre quis entrar em contato com você, tentar restaurar esse abismo que se formou entre nós dois, principalmente, após ouvir da Lyan que você gostava de mim quando éramos adolescentes, mas nunca soube como. E agora que estou tendo a chance, eu simplesmente não posso esquecê-lo e superá-lo.

Nuno subitamente foi dominado por sua raiva de novo, mais uma vez aquela “encenação de inocente e de desentendido” começava a lhe enfurecer terrivelmente. Ele girou novamente na direção de Ender, enquanto o olhava como se mil lâminas atravessassem o corpo que ele via a sua frente.

- Qual é a brincadeira aqui, han? Por favor, não se faça de desentendido. Você não é estúpido, você sabe o que fez – Sem perceber Nuno havia começado a gritar, enquanto apontava para Ender – Cansei das suas brincadeiras Ender! Da última vez que confiei em você. Você me traiu. Machucou-me. Deixou-me a sangrar, enquanto dizia as palavras mais imundas que poderia ter me dito, e agora vem com essa de “Você que sumiu sem dar motivos e eu nunca soube o que eu fiz pra você fazer isso comigo”. Sabia que desde o momento em que vi a porra do seu nome naquela desgraçada daquela prancheta minha vida seria levada para um inferno novamente, não sei onde estava com a cabeça quando aceitei essa ideia estúpida da Lyandryan de trazê-lo para minha casa – Agora Nuno também chorava, mesmo que não percebesse.

Ouvindo Nuno dizer essas coisas, Ender também começou a ficar com raiva, logo, ele também explodiu e estava gritando.

- Mas do que caralho você está falando porra? Quando trai você? Quando machuquei você? Quando te fiz sangrar? Nunca em toda minha vida eu o insultei. E se a minha presença é tão nociva assim para você, por que simplesmente não deu cabo a porra da minha vida? Não seria bem mais fácil para você assim? Saber que de fato estou morto e que assim nunca poderá me ver novamente?

- Não me venha com essa de “chantagem emocional” seu filho da puta. Não coloque meu lado profissional em comparação com meus desejos pessoais, até por que para mim, você morreu há 10 anos. Você! Para mim! Não passa de um monte de aglomerado orgânico que fala.

- Só me diga como, quando e o que falei para você me odiar tanto e sairei da sua casa agora mesmo, nem que eu tenha que me arrastar para isso.

- Já que é assim...

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