Ligados Ao Passado - Capitulo III

Conto de Lohan como (Seguir)

Parte da série Ligados ao Passado

Olá, antes de começar a história gostaria de dar duas informações que me perguntaram.

1 - Ligados ao Passado é uma Novel, não necessariamente um conto, então as "partes quentes" demoram um pouquinho pra acontecerem. Sem contar que é uma história real, então não dá pra pular certos acontecimentos ^-^

2 - A história é bem comprida, se for pra colocar em capítulos, daria uns 200, no mínimo.

Então, se tiverem alguma critica com relação a escrita, diálogo ou descrição do cenário e personagens, deixem nos comentários que tentarei melhorar.

Ligados Ao Passado

Capítulo III

Em casa.

Nuno entrou de forma abrupta a sala do Coordenador do Hospital, não ouve batida ou chamada prévia de sua parte, assustando assim, a pessoa que estava dentro da sala, que parou imediatamente de preencher os papéis que estavam sobre sua mesa.

- Por qual motivo não posso estar me ausentando cerca de cinco... Não... Seis dias do hospital? Com o trabalho que a equipe que me acompanha desenvolve, acredito que seja possível que eu possa me ausentar esses dias, por justamente esta equipe ser extremamente capaz de lidar com qualquer entrada, principalmente, quando a enfermeira chefe é Nívea, sendo ela que me ensinou e orientou em diversas práticas – Nuno era uma pessoa que prezava a compostura e elegância, sempre foi taxado como “soberbo” devido ao seu ar de indiferença com relação às pessoas que se mostravam ter comportamento negligente ou mal educado, contudo, ele se tornava exatamente o que odiava quando perdia sua paciência (NT: Ele é barraqueiro quando fica com raiva). Ele cruzou os braços diante de seu peito, tensionando seus músculos nas mangas do seu jaleco, fazendo com que a costura quase alcançasse seu limite.

- Reynard... – O Coordenador entrelaçou seus dedos sobre os papeis que estava assinando e olhou Nuno diretamente nos olhos, adotando uma expressão tão feroz quanto a que via. Ele era um homem velho, já havia lidado com quase todo tipo de gente em sua vida, um rapaz mimado como Nuno não poderia colocar medo nele – Simplesmente não há a possibilidade de decidir de uma hora para a outra que irá se ausentar notificando a coordenação 1 hora antes de fazê-lo. Hoje, pelo que sei, é seu dia de plantão, começando ás 12 horas e terminando ás 12 horas do dia seguinte, totalizando, 24 horas. Sabe muito bem que teria que ter informado muito tempo antes que iria se ausentar no meio do seu plantão para que o hospital pudesse realocar alguém para substitui-lo. Além de que, a menos que tenha algum outro médico plantonista para trocar o plantão com você, não poderá se ausentar até concluir sua carga horária e passar seu plantão ao próximo. Acredito que tenha visto isso quando estudou o Código de Ética!?

Por um momento o Coordenador acreditou que tinha conseguido uma vitória e que esse assunto estava encerrado, principalmente quando ele viu a expressão de desanimo que Nuno havia expressado em seu rosto. Não era a primeira vez que os dois batiam de frente, mas essa foi a que ele mais se sentiu seguro de poder quebrar esse “pequeno espinho”. Quando estava prestes a pegar sua caneta e voltar a assinar seus documentos novamente, ele ouviu uma leve risada e soube que o inferno estava apenas começando a pegar fogo.

- Hahaha! Engraçado mencionar o Código de Ética para mim. Sabe? Realmente eu o estudei, tenho-o quase que memorizado em minha mente. Mas o ponto em questão é que, em nenhum dos parágrafos e incisos me dizem que o desvio de verba seja autorizado, que aparelhos e medicamentos tenham suas notas fiscais alteradas. Mas claro! Isso não seria de grande relevância, já que este é um hospital privativo¹. – Nuno descruzou seus braços e colocou suas duas mãos sobre a mesa olhando profundamente nos olhos daquele grande buldogue (NT: Referência a aparência do Coordenador ^-^ ) – Mas a história seria diferente se seu “amado” irmão soubesse que o está roubando, não? Me diga!? É realmente difícil ver que seu irmão, que é 20 anos mais novo, se deu tão bem na vida, enquanto que a única coisa em que você engrandeceu foi nos quilogramas? – Enquanto dizia essas palavras, Nuno não piscou os olhos um único segundo, queria aproveitar ao máximo a sensação de poder subjugar alguém tão facilmente, então ele continuou – Acho que sim, até por que se você não fosse tão... Fracassado? Mau administrador? Ruim em todos os sentidos? Não sei como usar um adjetivo que se encaixe em você, mas, enfim, se assim não fosse, seu pai não teria deixado mais de 80% dos bens para seu irmão mais novo, não é?... “Besteira, não sabe do que está falando”, isso é algo provável que esteja pensando, mas e se eu dissesse que tenho provas? Que tenho testemunhas? Claro, poderia ser um blefe, mas estaria disposto a arriscar todo o esquema que armou para roubar seu próprio irmão? Não que eu considere relações de sangue lá muito importantes, eu mesmo, não me dou lá muito bem com o meu, mas nunca o roubei.

Nuno viu que todo seu discurso não havia surgido efeito no homem a sua frente, durante toda sua vida ele sempre foi muito bom em fazer com que os outros se convencessem de que o “modo certo” era o dele. Todos tem certa “parte podre” em seus corações, essa era uma das suas, ser meticulosamente manipulador quando lhe interessava. Para que o Coordenador finalmente sentisse suas palavras e o quanto Nuno o tinha em suas mãos, ele decidiu proferir um único nome, então movimentou seus lábios, formando sílaba por sílaba o temido nome, mas sem produzir um único som – Bar-to-lo-meu.

O Coordenador ouviu cada palavra em silêncio, ele estava estagnado, não conseguia acreditar que um moleque cerca de 30 anos mais novo que ele, estava tentando o encurralar. Era cômico demais para que ele assimilasse a ferocidade que Nuno depositou em cada palavra. Contudo, com essa palavra formada por lábios silenciosos, ele arregalou seus olhos e começou a suar frio, enquanto um enorme embrulho se formava em seu estômago.

Quando viu a reação que o causou, ele se controlou ao máximo para ainda manter um ar sério, contudo, não conseguiu manter o rosto inexpressivo por um longo tempo e permitiu que um sorriso se formasse em seus lábios, mal sabia ele, que foi justamente esse sorriso que fez com que o Coordenador desistisse de qualquer saída que pudesse pensar para não se humilhar a ter que aceitar as vontades de um pirralho.

- Muito bem! Peço que fique por mais 4 horas, que estarei conseguindo um substituto para você e... – O Coordenador falava enquanto folgava a gravata em seu pescoço com uma mão e com a outra estendia para alcançar o telefone, antes que alcançasse, Nuno pôs sua mão em cima do telefone.

- 1 hora, é tudo que tem, já são 20h19min. Estou terrivelmente cansado e anseio por um banho o quanto antes, portanto, você tem 1 hora – Sem mais nada a falar, ele se endireitou e caminhou até a porta do escritório com um ar triunfante, antes de girar a maçaneta, ele olhou para trás e disse – Você não perdeu para mim hoje, você perdeu para si próprio, aliás, você perderia para qualquer um desde que sua autoconfiança foi destruída após ver que seu irmão o superou sem dificuldades onde você falhou miseravelmente. – Sem dizer mais nada, Nuno girou a maçaneta, abriu a porta e saiu, deixando no velho homem, um grande buraco, não de medo, não de raiva, somente um buraco, que somente podia ser preenchido com inveja e rancor que ele alimentaria por um longo tempo, até poder revidar.

“Preferiria que ele tivesse me subordinado ao invés de jogar isso na minha cara, um homem de 60 anos sendo repreendido por um tão jovem chega a ser mais repugnante que ceder a uma chantagem”.

Enquanto o Coordenador pensava nisso e discava o número de um médico que conhecia, Nuno já estava indo em direção onde Nívea estava. A julgar pela hora e pela calmaria que estava no ambiente da emergência, ela só poderia estar em um local. Cafeteria. Não demorou muito para que ele chegasse e a encontrasse. Seus cabelos curtos e grisalhos eram inconfundíveis. Ele acalmou sua respiração e caminhou lentamente na direção dela, ela ainda não o tinha visto, então ele tentou se aproximar por trás dela, a fim de dar a ela um pouco do “próprio remédio” (NT: Referência ao hábito que ela tem de andar sem fazer barulho sempre o assustando). Ele se aproximou calmamente, e quanto mais perto chegava, mais lento seus movimentos ficavam, quando estava perto o suficiente, ao ponto de esticar seu braço e alcançar as costas dela, ele parou de repente.

- Você ainda vai precisar de mais uns seis anos pra conseguir me assustar usando uma prática que é minha, meu garoto! – Nuno abaixou o braço que havia levantado, expressando sua derrota, com isso, deu a volta e sentou-se na cadeira da mesa em que ela estava tomando um café e comendo uma torta de limão.

- Achei que quanto mais velho ficássemos, mais surdos estaríamos, parece que eu estava errado – Nuno esticou seu corpo, deixando sua bunda quase na beira da cadeira, fazendo seus pés aparecerem do outro lado da mesa, cutucando os pés de Nívea.

- Tirando os métodos de salvar vidas, você está sempre errado! – Nívea falou de forma convencida (NT: ela o ensinou quase tudo que ele sabe), enquanto enfiava um pedaço de torta na boca.

- Há! Há! Há! Muito engraçado de sua parte, muito humilde também, parabéns para você! – Ele falou de forma irônica.

- Parece que o humor de alguém está instável, não conseguiu a dispensa? Beatriz mencionou algo quando a encontrei antes dela ir embora.

Nuno arregalou seus olhos e levantou suas sobrancelhas, mostrando seu espanto – Uau! As habilidades de Beatriz em receber e passar notícias é surpreendente. Cada vez me convenço mais da ideia de que ela espalhou vários pontos eletrônicos pelos corredores do hospital, não é possível alguém tão pequena possa saber da vida de tanta gente assim.

Nívea não conseguiu se conter, ela começou a rir, sua risada era incrivelmente serena, daquelas que o leva a rir também, até mesmo Nuno, em seu pior estado de humor, não conseguia resistir a risada dela, e portanto, quando terminou de dizer isso, começou a rir também.

- Realmente! Hahahaha... Acho que ela Hahahaha... Seria bem capaz disso Hahahahaha... Ela sempre foi assim desde que era pequena, quer dizer, bem mais... Pequena – Nívea era tia de Beatriz, poucas pessoas sabiam disso, Nívea era do tipo que não falava de trabalho em casa e nem de casa no trabalho, somente um grupo seleto sabia da relação sanguínea das duas, Nuno estava entre essas pessoas.

- Nuno! Gostaria de um café hoje? – Nuno e Nívea olharam de forma sincronizada para uma jovem garçonete, com um sorriso tímido, mas sensual, dirigido somente a Nuno.

“Coitada, caiu nos encantos dele” – Nívea pensou, assim que viu aquele sorriso bobo e aqueles olhos cheios de desejo – Bem, eu vou me retirar e voltar ao meu posto, nunca se sabe quando vai acontecer alguma coisa. Ponha o café e a torta na minha conta Clarice – Nívea levantou-se e sorriu para os dois.

- Obrigado Clarice! Mas não quero nada hoje, já vou para casa, só vim aqui para dar algumas instruções a minha antiga instrutora – Nuno sorriu de forma maliciosa com a piada que vez com Nívea de forma a mostrar que o jogo virou e que agora ele estava no comando.

- Ohh, tudo bem... Então... Achei que hoje era seu plantão, acho que me enganei...

- Não, você esta certa, mas surgiram uns imprevistos e terei que me ausentar – Ele se levantou e se espreguiçou, elevando seus braços, como estava com uma roupa normal, blusa polo e calça jeans, sem o jaleco o cobrindo, sua blusa subiu, mostrando um pouco de sua barriga definida e seu “pacote” marcado na calça, o que deixou a garçonete corada – Então vou indo. Vamos Nívea? Depois passo aqui para comer uma de suas tortas Clarice – Nuno sorriu e saiu ao lado de Nívea.

Quando estavam a uma distancia segura, Nívea o olhou com o canto do olho e disse.

- Você deveria se envergonhar de estar fazendo isso com ela. Será apenas mais uma na sua teia, se não quer nada sério com ela, porque ficar flertando?

- Gosto de me sentir desejado – Nuno sorriu.

Nívea balançou a cabeça de forma negativa, para ela, Nuno era alguém extremamente gentil, mas ele em alguns momentos mostrava traços que não agradavam a todos que estavam ao seu lado. Esses traços apareciam principalmente, quando era algo relacionado à sua beleza, habilidades e inteligência. Esses traços ela chamava de ego, orgulho e arrogância.

- Nuno Reynard, você já tem 27 anos, não está em idade de ser tão infantil, faça-me um favor e cresça! – Nuno inspirou rapidamente e parou de sorrir, ele sabia muito bem o que seu nome chamado daquela forma significava, ela estava “puta da vida” com ele.

- Desculpe, era só uma brincadeira, não farei novamente – Ele falou, expressando uma pureza em suas palavras que não eram verdadeiras.

- Tenho esperanças que sim! Agora, sobre o que iria “instruir-me” – Ela fez as aspas no ar, quando falou instruir.

- Ahh! Sim! Sobre o paciente... – Nuno passou cerca de 20 minutos falando sobre os pacientes que necessitavam de algum cuidado extra.

Após ter repassado para Nívea todas as recomendações que ele tinha, Nuno se dirigiu para o estacionamento para pegar Hagrid (NT: Nome da sua moto, também é uma referência a Rubeos Hagrid, de Harry Potter, ele ama os livros de Harry Potter, esperem até ver o resto ¬-¬”). Ele era apaixonado pela sensação de liberdade que uma moto podia lhe proporcionar, ainda por cima, se essa moto, fosse de modelo esportivo com detalhes em preto e prata e que pudesse chegar facilmente a 200 km/h, não que ele fosse corajoso o suficiente para alcançar essa velocidade em seu estado de calma e sobriedade. Hagrid, de todos os seus bens materiais era o que estava no topo da lista em seu coração, ele havia investido muito para deixar do jeito que ele queria, e isso, tornava a moto praticamente um filho para ele. Após checar se estava tudo bem, ele subiu, ligou e se dirigiu até a portaria para esperar pela ambulância que levaria Ender para sua casa. Antes mesmo de ir até a coordenação “conversar” para liberarem sua ausência, ele já havia informado o número de sua conta bancária para que Lyandriam fizesse a transferência das despesas que o hospital teve com Ender, já havia pagado, já havia aprovado a transferência de Ender para seu domicílio, já havia solicitado o transporte e já havia se assegurado de comprar todos os medicamentos que não tinha em seu depósito caseiro e já havia solicitado a sua Tia, Yoshie (NT: Ela aparecerá mais na frente na história, ela é responsável por cuidar da casa de Nuno enquanto ele não esta, uma espécie de governanta), para que pudesse estender seu horário mais um pouco para que reforçasse a limpeza, especialmente no seu quarto, colocando forros, travesseiros e lençóis que por alguma razão, eram sempre mantidos lacrados em invólucro de plástico, os mantendo quase que estéreis, quando ele pediu essa troca, a empregada pensou “Finalmente vou usar essas coisas, nunca entendi pra que gastar tanto em coisas que nunca são usadas, e o porquê de limpar tanto algo que sempre está limpo”.

Assim que viu a ambulância ele ligou sua moto, baixou a viseira de seu capacete, que por sinal, também era preto, e se dirigiu para sua casa, sua casa de verdade. Ele tinha um apartamento que ficava próximo ao hospital, cerca de 30 minutos no máximo, contudo, já que era para se ausentar do trabalho por seis dias, ele quis ir para um local onde pudesse realmente relaxar, e esse lugar ficava cerca de 1h20min da cidade onde trabalhava. Ele ia para lá somente em quatro ocasiões distintas, a primeira quando era questão de doença, a segunda quando tinha férias, a terceira quando algum de seus primos o visitava e armavam festas e a quarta era para visitar seus “melhores amigos”. O caminho era inspirador, as luzes emitidas pela cidade contrastavam com o azul-escuro do céu e o barulho que o mar produzia a cada onda que banhava a praia, não que ele pudesse ouvir muita coisa devido ao barulho da cidade, mas sua imaginação era boa o suficiente para criar luzes em lugares escuros, criar sons em meio ao completo silencio e criar sensações, mesmo tendo um coração estilhaçado. Por um tempo, se estabeleceu um padrão, anda, sinal vermelho, para, sinal verde, anda, sinal vermelho, para... A cada parada, virava a cabeça para ver se a ambulância ainda estava lá, carregando aquela preciosa carga. No fim desse padrão, na última vez que olhou para trás e verificar se a ambulância estava lá, sentiu uma leve coceira em algum local de sua mente. Não era uma coceira do tipo que você passa as unhas sobre a pele no exato local e a coceira passa, era uma coceira que quanto mais ele tentava saciar, mais ela crescia.

Já deixando a cidade, começando somente um caminho que beirava a praia de um lado e planícies com uma casa aqui ou ali do outro lado, Nuno percebeu, que essa coceira ainda cresceria mais nos próximos seis dias, ele sabia que essa coceira era algo familiar, algo que estava despertando depois de um longo tempo adormecido. Porém, ele evitou ficar pensando nisso por muito tempo, na realidade, ele estava com receio de pensar demais sobre isso e se deparar com uma verdade que não queria lidar no momento.

Algum tempo depois, ele abandonou o caminho ao lado da praia, pegando um desvio, onde só se podia ver uma planície coberta de vegetação da mais variada com árvores, arbustos, gramíneas e como sempre, uma casa aqui, outra ali. Um pouco ao longe, se podia ver um tom mais escuro, mais denso, ele não podia ver muita coisa, mas ele sabia exatamente como era aquela imagem. Uma floresta que se estendia até alcançar montanhas, começando a se erguer gradualmente até fazer parecer que as montanhas eram grandes árvores. Aos poucos, Nuno foi se aproximando de seu destino, adentrando naquela floresta, como se estivesse entrando em outro mundo.

Quando chegou de frente a um portão negro feito de ferro, ele parou a moto e desceu com um pouco de dificuldade, apesar de a parte superior de seu corpo estar protegida do frio com uma jaqueta e um par de luvas, suas pernas não tinham a mesma proteção, sendo somente a calça jeans para impedir que o frio se agarrasse em seus ossos. Ele caminhou de forma dura, até o portão enquanto procurava pela chave em seu bolso. Demorou cerca de um minuto até que a ambulância o alcançasse, quando ela chegou onde ele estava, os portões estavam abertos e ele esperava do lado. Após a ambulância passar ele encostou os portões, mas sem fechá-los. Não estava a fim de ter que voltar para trancar, optando por deixa-los abertos até a equipe que estava na ambulância retornar.

Ainda tinha cerca de 100 metros para ser percorrido do portão até chegar à sua casa, esses foram os 100 metros mais longos de sua vida, no momento em que ligou a Hagrid, seu mundo parou.

“Não acredito que vou estar cuidando dele por seis dias na minha própria casa, no meu próprio quarto, nem que Lyan estará aqui, nem que os três irão se reunir... Não sou muito religioso, mas, Deus ou o que quer que seja! Não deixe ele acordar antes dela chegar, lidar com ela já será difícil o suficiente. Ter que olhar nos olhos e ouvir a voz dele novamente será a pior situação da minha vida depois de tanto tempo, não terei forças para manter-me nos eixos, então, por favor, por favor... Não deixe que ele acorde antes de seis dias!”.

Nuno seguiu em piloto automático até chegar à garagem de sua casa guardar sua moto, cobri-la com uma capa e ir ajudar com a maca para levar Ender para dentro de casa. Na porta, uma figura branca e pálida estava à espera, quando Nuno a viu, demorou um pouco para reconhecê-la, quando finalmente a reconheceu, falou em espanto.

- Sra. Amaya! Quanto tempo não te vejo! – Ele subiu os degraus que levavam a varanda da casa, ao chegar próximo a ela, ele a cumprimentou no típico modo japonês, colocando as mãos ao lado do corpo e curvando-se para frente.

Ela sorriu ao ver o gesto – Nuno-Kun¹! Estou muito feliz em vê-lo, ansiei em vir visitar minha filha e não o encontrar, agora posso ver que minha ânsia foi saciada – Ela retribuiu o gesto e logo após o puxou para um abraço. Sayo Amaya, era uma típica senhora japonesa que desde muito tempo, era presente na vida de Nuno, ela tinha longos cabelos prateados e uma estatura pequena, magra e curvada que deixava claro sua idade avançada, ela trabalhou por muito tempo na casa de seus pais, e cuidou dele enquanto eles trabalhavam, ela era para ele uma avó ou Ditian como ela o havia ensinado a chama-la. Eram praticamente, família, e mesmo após ela ter se aposentado e retornado ao Japão por um tempo, sua filha Yoshie, deu continuidade ao trabalho, sendo desta vez, na casa de Nuno.

Nuno estava profundamente feliz em ver Amaya novamente, depois de tanto tempo, contudo, havia alguém que precisava ainda mais de sua atenção, sendo assim, ele deu um beijo na testa enrugada de Amaya e afastou-se um pouco do seu abraço – Ditian, preciso ajudá-los com a maca, estarei com um convidado por alguns dias, assim que o acomodar e deixa-lo confortável, conversamos melhor – Ele pegou nas mãos magras dela – Por que não vai preparando um daqueles seus chás? Assim que terminar chego na cozinha e conversamos enquanto tomamos e comemos torradas igual a antigamente, o que acha?

Amaya apertou as mãos de Nuno e sorriu – Sim Sim Nuno-Kun, estou indo e vou espera-lo na cozinha, não demore – Após dizer isso ela apoiou-se na sua bengala e saiu a passos lentos entrando na casa de Nuno e indo em direção a cozinha.

Nuno a viu caminhar com um aperto no peito, pensando se logo, logo, esta seria mais uma de suas perdas. Sem pensar mais sobre isso para não reviver pessoas mortas em sua mente, ele desceu as escadas e ajudou a checar se Ender estava bem fixado na maca, seu colar cervical, soro e etc. Após star tudo certo, ele, o motorista e mais dois enfermeiros o levaram escada acima, em direção ao começo do momento em que a vida de Nuno, mais uma vez, sairia de seu controle.

Informações;

¹ O sufixo 君(kun) é bastante utilizado na relação "superior falando com um inferior" para se referir ao inferior. Também é utilizado entre jovens quando existe alguma intimidade.

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