Capítulo 03 - Primeiro Ano Parte 3: O Presente

Conto de LittleJo2 como (Seguir)

Parte da série Poderia Ser

"Júlio, espera." Ele gritava atrás de mim, mas eu fingia não ouvir.

Andava o mais rápido que podia, não queria vê-lo, não queria falar com ele. Dias haviam se passado desde o aniversário da Ana e eu tinha conseguido ignorá-lo até aquele momento, mas podia senti-lo ofegante atrás de mim, se aproximando correndo, e logo ele me alcançar.

"Que aconteceu? Está fugindo de mim?" Ele perguntou com aquele mesmo sorriso de sempre. Naquele momento, aquele sorriso estava apenas me irritando.

"Não. Apenas não te vi."

"Por que você sumiu na festa? Eu te procurei lá e a gente te procurou pra ir embora, mas disseram que você já tinha ido."

"Eu fui com o Caio e a Jéssica."

"Ah." Ele parecia meio decepcionado, mas eu não liguei para aquilo. Na verdade, tinha me decido a parar de ser burro e tentar esquecê-lo de vez. "Bom, você esqueceu sua mochila no carro."

"Verdade, nem me lembrava mais. Você trouxe?"

"Não, esses dias todos não conseguia te encontrar aqui. Está lá casa. Passa lá em casa hoje pra pegar."

"Não posso, tenho umas coisas para fazer hoje." Era mentira, mas eu definitivamente não queria ir na casa dele. "Traz amanhã, pode ser?"

"Não, eu quero que você vá lá."

Sinceramente, eu não entendia toda aquela insistência. Eu tentei negar, mas ele continuava insistindo. E eu tive que ceder. Combinamos um horário e ele foi me dizer onde ficava, mas eu já sabia. Tinha passado na porta com a Ana algumas vezes voltando do colégio. Ele sorriu, satisfeito, e se virou.

Aquele não era o melhor dia para isso. Na verdade, era o pior de todos: o meu aniversário. Eu imaginava que ele não soubesse disso e por isso até tivesse me dito para ir na casa dele, mas não haveria nada para comemorar, poucos eram os que sabiam. Apenas o Caio, a Jéssica e a Ana me deram parabéns, além de algumas outras pessoas apenas por educação. Havia muito tempo que eu não esperava nada para o meu aniversário, as únicas comemorações que tive foram quando eu era pequeno. Esse dia tinha se tornado um rito, ganhando os mesmos presentes todo ano dos meus pais, recebendo felicitações das mesmas pessoas e tendo que sempre responder aos que me perguntava como estava sendo até o momento, quando na verdade era sempre a mesma coisa: nada acontecia.

Mentalmente, levantei as mãos aos céus quando as aulas terminaram. Estava sem paciência. Fui para casa o mais rápido possível e nem esperei pela Ana, que sempre ia comigo. Na verdade, a vi apenas uma vez durante todo aquele dia e muito rápido, o que chegava a ser um pouco estranho. O céu estava nublado desde cedo, mas ainda não havia chovido. Era impressionante como aquele cidade, mesmo em um dia como aquele, fazia calor. Parecia uma eterna sauna gigante. Odiava aquele lugar com todas as minhas forças e não via a hora de ir embora, sair dali, ir pra qualquer lugar, desde que fosse o mais longe possível.

Fui até o trabalho da minha mãe, onde meu pai me buscaria para almoçarmos. Como sempre, ela continuaria lá e comeria o que meu pai levasse para ela, que não seria muita coisa, ela comia pouco. Ele queria me levar em algum lugar, mas eu preferi ficar em casa e comer o que já tinha pronto mesmo. Terminei de almocei e me enfiei no meu quarto, ligando o computador. Logo que abri o MSN (sim, essa era a época de MSN e Orkut), a Ana veio falar comigo.

"Oi, Ju."

"E aí, Ninha. Desculpa não ter te esperado hoje, mas você sumiu também."

"Ah é. Foi mal. Eu acabei me ocupando com umas coisas com o Di."

"Tudo bem."

"E aí? O que vai rolar hoje pro seu aniversário?"

"Ah, você sabe que nada, né?" Eu ri.

"Ah não, temos que fazer alguma coisa."

"Não tem nada pra fazer nessa cidade, Ana."

"Isso é. Ah, mas sei lá, pensa em algo."

"Não estou muito a fim de nada, não. Fiquei apenas de pegar minha mochila na casa do Daniel, só por isso mesmo que vou sair de casa."

"Ah, ele te chamou pra alguma coisa?"

"Não, ele nem deve saber que é meu aniversário. É só pra pegar a mochila que esqueci no carro no dia da sua festa."

"Eu vou estar lá hoje também. Por que não ficamos e fazemos algo todos juntos? Pedimos algo pra comer."

"Ah, não quero não, Ana. Fora que não vou ficar de vela pra você e o Diego lá."

"Mas o Daniel vai estar lá."

"Pior ainda."

"Vem cá, vocês tiveram algum problema? Nunca mais vi vocês conversando?"

"Não."

"Certeza? Não tem nada que você queira me contar, Júlio?"

Parei um momento. Eu sabia o que ela queria dizer, sentia que ela sabia de tudo sobre mim, mas mesmo não queria falar nada, muito menos dizer que eu gostava do irmão do namorado dela. Ela apenas me diria o quanto eu era idiota por gostar dele, o que eu já sabia.

"Não, nada." Respondi.

"Tudo bem. Enfim, vou sair aqui, Ju. Qualquer coisa te vejo lá."

"Tá certo, meu bem. Beijo."

Eu resolvi sair do computador também, não havia nada pra fazer, na verdade. Acabei me enrolando na minha cama e dormindo à tarde toda, deixando apenas o celular para despertar para o caso de não conseguir acordar sozinho. Novamente, tive aquele mesmo sonho que havia já um tempo que eu não tinha. O Daniel me olhava fixamente nos olhos e sorria para mim, acalmando todo o nervosismo que eu sentia por estar pela primeira vez com alguém. Estávamos nus e o calor dos nossos corpos completamente unidos parecia incendiar tudo ao nosso redor. Ele descia a mão pelas minhas costas e, dessa vez, quando chegava na minha bunda, o sonho continuou. Eu podia senti-lo apertando minha bunda enquanto eu passava minhas mãos pelo seu peitoral e barriga definidos. Ali, eu conhecia cada detalhe do seu corpo, talvez mais do que ele mesmo. Quando fui descendo mais a mão e me aproximava da base do seu pênis, acordei enfim, percebendo a minha própria ereção. Eu também estava um pouco suado e só depois percebi o despertador tocando alto, já há alguns segundos. Aquilo me perturbava. Eu tinha me esforçado durante esses dias para esquecê-lo, superar o que sentia, mas simplesmente não conseguia. Para piorar, tinha concordado em ir na casa dele.

Levantei da cama e tomei um banho bem demorado. Mesmo fazendo calor, tomei um banho bem quente - detestava banho frio -, ficando ali parado debaixo do chuveiro por um bom tempo, tentando lavar a alma e o coração junto com o corpo. Ao terminar, vesti uma roupa qualquer e desci para a rua, indo andando para a casa do Daniel. Não era tão perto da minha, mas eu preferia andar. Durante todo o caminho, eu tentava me controlar, tentava me projetar agindo de outra forma ao vê-lo, mais frio. Eu tinha me decidido a me afastar dele e era o que eu pretendia fazer.

Cheguei no portão do prédio e toquei o interfone do apartamento dele.

"Quem é?" Uma vez perguntou, parecendo ser ele.

"Oi, sou eu, Júlio."

"Oi, Júlio, espera que já vou abrir pra você. Sobe aí."

O portão se abriu e ele desligou antes que eu pudesse pedir para ele apenas descer e me entregar a mochila. Então entrei, mesmo à contra gosto. Eu tive a impressão de ouvir algum barulho quando ele atendeu, acho que devia ser a Ana com o Diego.

Não havia elevador, mas também o prédio só ia até o terceiro andar e ele morava no segundo. Era um prédio pequeno, com poucos apartamentos também. Logo cheguei no andar dele e bati na porta. Esperei por alguns minutos, então bati novamente. Ouvia algumas vozes lá dentro, então não entendi a demora. Mas logo a porta se abriu e o Daniel apareceu sorrindo.

"Oi, entra aí." Ele se afastou da porta, deixando espaço para que eu passasse.

"Não precisa, só vim pegar a mochila mesmo."

"Larga disso, entra logo." Ele me puxou pelo braço e não tive muita escolha.

Havia um pequeno corredor ali na porta que não permitia ver o interior logo de cara. Quando chegamos na sala, estão a Ana com o Diego, o irmão deles, Lucas, o Caio e a Jéssica, todos olhando para nós, olhando para mim, na verdade. Eles gritaram e logo eu percebi uma mesa com uns refrigerantes e mais algumas coisas. Por um momento fiquei sem entender, até que a Ana veio até mim e me desejou "feliz aniversário" novamente.

"Gente, mas como vocês fizeram isso assim do nada? Por quê?" Perguntei. "Eu falei com você hoje de tarde, como deu tempo?"

"Ah, meu querido, foi tudo bem planejado." A Ana disse. "Ideia do Daniel, na verdade."

Eu olhei para ele, perplexo.

"Você sabia do meu aniversário?" Perguntei. "Como?"

"Apenas sei." Ele sorriu.

"Vem, vamos comer que estamos todos morrendo de fome." A Ana me puxou para a sala.

O Diego, com quem eu falava pouco, apenas por causa dela, veio, me abraçou e me deu os parabéns, assim como o Lucas e em seguida o Caio e a Jéssica ao mesmo tempo. A Ana foi pegando uns pratinhos e colocando os salgados e doces que estavam ali. Quando a vi na mesa, percebi que havia também um bolo.

"Como assim tem até bolo?" Eu repreendi.

"Claro." Ela me olhou. "Aqui não é qualquer coisa, não."

"E todo aquele teatrinho quando a gente se falou de 'ah o que você vai fazer?Eu vou estar lá, vamos fazer alguma coisa'?"

"Eu sou uma ótima atriz, Ju." Ela riu.

"Você não presta."

Eu fui ajudá-la a servir todo mundo, mas ela me proibiu dizendo que eu só entregaria depois, na hora do bolo, e cada um foi pegar o seu prato com os salgados. Sentamos todos nos sofás na sala e nas poltronas. O apartamento era bem maior do que eu imaginava, impressão que se dava também por não haver divisões entre a sala de estar, a de jantar, e a cozinha só era separada por uma divisória baixa que servia como uma espécie de bancada.

Eu perguntei da minha mochila para o Daniel e ele disse que estava no quarto dele e que só depois ele me levaria pra pegar, porque senão eu tentaria ir embora. Ele se sentou do meu lado e eu queria evitar conversar com ele, concentrando-me no meu prato apenas, mas tive que agradecer por aquilo, dizer que não esperava e que também ele não precisava ter organizado aquilo.

"Você merece." Foi o que ele me disse.

Pela primeira vez desde a festa, sorri para ele. Eu não conseguia me impedir de voltar a acreditar que ele queria dizer algo com aquilo e isso só me confundia ainda mais. Acabou sendo uma noite bem divertida e todos rimos bastante. Quase nos esquecemos do bolo e a televisão ligada na nossa frente quase não nos prendia a atenção. Eu me senti até bastante à vontade e me soltei bastante. Estava quase me esquecendo onde estava e quem estava do meu lado, até que tomei um susto com a respiração dele no meu ouvindo.

"Vem, tenho que te dar uma coisa." Ele sussurrou.

Ele se levantou e eu o segui, um pouco tenso, mas imaginei que fosse só a mochila. Seguimos um corredor e entramos em uma das últimas portas, onde parecia ser o quarto dele. Eu olhei ao redor. Havia uma cama, o guarda-roupa, uma mesa com o computador, uma outra com alguns livros ao lado, uma prancha de surf perto do guarda-roupa, um violão sobre a cama e, ali perto, vi a minha mochila. Fui até ela, mas ele foi em outro direção. Ele abriu uma gaveta e tirou algo de dentro, depois veio até mim.

"Toma. Pra você." Ele me entregou um saquinho de presente.

"O que é isso?"

"Seu presente, ué." Ele riu.

"Não, não precisa disso."

"Ah, para com isso. Não é nada demais também. É só pra mostrar que eu lembrei de você e pra te fazer lembrar de mim também. Abre logo."

Eu queria dizer alguma coisa, queria recusar, mas não sabia o que dizer depois daquilo. Apenas abri o embrulho e vi uma corrente dentro.

"É um pentagrama." Ele falou, quando peguei o pingente na mão.

"Eu sei. Como você sabia que eu gosto dessas coisas?"

"Perguntei pra Ana, na verdade." Ele riu.

"Não precisava mesmo disso, sério mesmo."

"Bom, não se recusa presentes."

Nós dois rimos. Eu parei e fiquei olhando. Ele tomou da minha mão e disse que colocaria pra mim. Deu a volta, ficou atrás de mim e foi colocando a corrente. Eu o podia sentir, sentir o calor do seu corpo, mais próximo do que o necessário e o toque das mãos dele no meu pescoço me fez sentir um arrepio por todo o corpo. Eu não conseguia mais me controlar perto dele. Eu não entendia o que ele estava fazendo. Eu queria tentar me fazer acreditar que aquilo não era nada demais, mas eu não conseguia. A cada dia, a cada coisa que ele fazia, cada olhar, cada sorriso, eu me apaixonava mais e acreditava ainda mais que ele sentia o mesmo, mas eu simplesmente não sabia o que fazer. Não tinha coragem de revelar os meus sentimentos por ele.

Assim que ele colocou a corrente, agradeci novamente evitando olhá-lo nos olhos e fui saindo, mas ele me abraçou antes que eu pudesse me mover. Eu nunca imaginei que um dia estaria mesmo ali, nos braços dele e eu não quis sair mais nunca de lá. Mas, mesmo que o meu desejo fosse outro, afastei-me, sorri fracamente, peguei minha mochila e fui para a sala.

"Ué, você não está indo embora agora, né?" A Jéssica perguntou.

"Não, não. Só peguei a minha mochila logo para não esquecer." Respondi. Em seguida, me aproximei da Ana e falei eu seu ouvido. "Preciso falar algo contigo."

Ela me olhou e acenou com a cabeça, então deu um selinho no Diego, se levantou e me levou até a varanda, que era um pouco afastada da sala, suficiente para que os outros não nos ouvissem. Eu precisava falar com alguém, precisava desabafar. Estava mais que na hora de contar toda a verdade.

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Gente, agradeço aos comentários. Espero que tenham gostado desse capítulo e, por favor, continuem comentando. Ainda há muito história pela frente. Talvez eu fique uns dias sem postar, porque tenho que estudar pra uma prova, mas talvez eu escreva algo e poste, porque estou gostando de escrever essa história. Enfim, continuem acompanhando. Até o próximo capítulo. ;)

Comentários

Há 2 comentários.

Por Ryan Benson em 2014-05-14 23:11:36
Pode deixar cara... Vou ler tdos os capitulos dessa historia linda :) Ansioso pelo prox. capitulo!!!
Por LipEmanuel em 2014-05-14 19:59:41
:) Fã numero 1 aqui