Episódio 6 - Suborno

Conto de Leandro Oliveira como (Seguir)

Parte da série Bandido

A manhã logo estava pairando no apartamento de Caio, sonolento Henrique colocou os chinelos dele e foi até a cozinha preparar algo para o café da manhã ao ser surpreendido por Márcia.

- Bom dia. – saudou Henrique.

- Bom dia. – respondeu Márcia extremamente seca.

- Onde tem pó de café? Gostaria de fazer um bem forte.

- No armário, eu pego para você. - ela se aproximou de um armário de madeira velho que ficava acima da geladeira e o entregou para Henrique.

- Obrigado.

- Henrique é o seu nome não é?

- Sim, você deve ser a Márcia.

- Exatamente. E onde está Alice? – questionou Márcia observando o rapaz.

- Acho que ela não quis vir.

- Não? Engraçado, encontrei com ela ontem à noite e ela me disse que o Caio não estaria em casa, então, chego na minha casa com meu namorado e dou de cara com vocês dormindo na sala.

- Olha Márcia, me desculpe... Mas é...

- Tem alguma coisa que você quer me esclarecer, na minha cabeça está ficando meio confusa. – ela o interrompeu.

- É que...

- Vocês são o que? – ela novamente o interrompia. – Namorados?

- Não! Somos amigos.

- Amigos? – ela deu uma risada irônica e se levantou. – Amigos que dormem agarrados feito casal? Desculpe meu rapaz, mas algo está mal contado nessa história.

- Márcia, eu posso explicar.

- Não você não pode explicar, acho que já entendi o suficiente. O Caio é gay não é? Meu Deus, quando que eu iria imaginar esse tipo de coisa.

- Ele não, nós não...

- Olha Henrique, eu preciso que você vá embora. Estamos passando por um momento delicado aqui dentro e precisamos de descanso, você pode nos dar licença?

- Vou pegar minhas coisas.

- Ótimo.

Henrique entristecido foi até a sala onde Caio ainda estava deitado no colchão, ele rapidamente juntou suas coisas e foi se ajeitando para sair, até que Caio acordou.

- Tudo bem? – disse Caio, ainda sonolento. – Aconteceu alguma coisa, aonde você vai?

- Sua tia, depois nos falamos.

Henrique abriu a porta do apartamento de Caio e saiu o rapaz ainda tentou evitar a saída de Henrique, mas foi em vão, incomodado Caio foi até a cozinha tirar satisfações com sua tia.

- O que você disse a ele? – indagou Caio ao entrar na cozinha.

- E desde quando você é veado?

- Eu? Eu não sou veado.

- Acho super engraçado vocês dois, primeiro encontro sua atual namorada e ela me diz que você estava fora da cidade a trabalho, combino com meu namorado de ter uma noite romântica aqui em casa e encontro vocês dormindo abraçados? Você quer que eu pense o que Caio? Nossa, são apenas amigos.

- Tia, eu posso explicar.

- Me dê essa explicação, pois estou procurando ela.

- Eu e o Henrique somos amigos eu e ele nunca aconteceu nada, nós dormimos abraçados sei lá o por que.

- Caio você realmente me deve achar com cara de otária não é? Eu quero saber desde quando você virou veado, acha mesmo que eu vou te condenar mais do que você já esta condenado?

- Menos Tia, por favor.

- Caio olha para esse garoto, olha para gente, nós não somos da mesma laia. Ele é rico, tem grana, você já imaginou se o pai dele descobre que vocês estão ficando ou namorando? Caio o pai dele é da pesada, você acha que Lúcio Bruzo brinca em serviço, se ele vê que seu nome está envolvido em um escândalo ele vai até os confins da Terra para apagar todas as notícias. Eu sou a advogada dele, eu sei quantos pepinos eu tenho que resolver desse homem e dessa família por conta de bandidagem, de máfia da pesada, meu filho se você imagina algo nesse rapaz que seja apenas a amizade mesmo, você não pode se envolver com um Bruzo sem ter segurança, sem saber aonde realmente quer ir ao lado deles.

- Patético.

- Se afaste dele Caio, ainda há tempo, olha sua namorada, olha o seu e o nosso futuro. Prometa que vai se afastar dele.

- Tia...

- Prometa. – ela insistiu.

- Eu prometo.

Os dias foram passando e Caio ficou totalmente seco com Henrique, ele não atendia suas ligações e não respondia suas mensagens, ele parecia ter pensado no que sua tia disse e avaliado a situação em que ambos se encontrão. Júlia Beatriz ainda tentava rastrear Caio para saber mais do garçom, ela havia descoberto muitas coisas sobre seu passado, como a estádia na fundação CASA por roubo e tráfico de drogas, sem falar nas dívidas atrasadas de aluguel e entre outras, mas era pouco, Júlia precisava de algo que pudesse fazer com que o rapaz se afastasse de seu filho de uma vez por todas. Enquanto Júlia se preocupava com Henrique, Lúcio comemorava com sua amante em um Motel de Luxo, o recebimento de propina por conta de uma obra hiperfaturada em que a Joalheria era uma das patrocinadoras.

- Parabéns meu amor. – disse sua amante, ao tirar seu roupão e ficar inteiramente nua.

- Foi melhor que a encomenda, vinte e cinco milhões de dólares, tudo para o meu bolso, é bom demais para ser verdade. – se gabava Lúcio.

- Adoro seu jeito sabia?

- Gosta é? – ele puxou a moça para junto de seu corpo. – Eu adoro seu cheiro.

- Você não tem medo de te pegarem não?

- Claro que não, tudo isso é muito bem feito, mas se um dia a casa cair, a Júlia assume o posto.

- Como assim?

- Você acha que eu estou casado com ela porque? Júlia e eu temos muitas coisas juntos, muitos bens e a Empresa. Se um dia eu cair, ela assumiria o posto. Claro que eu sei que há anos ela está tentando de derrubar, ainda não conseguiu, nos últimos meses ela está mais calma, parece que o a notícia do casamento deixou ela ocupada. Mas sei que quando eu relaxar ela tentará dar o bote mais uma vez e eu preciso estar preparado.

- Entendi.

Os dois voltaram a transar no Motel. No escritório, Henrique lia novamente alguns contratos hiperfaturados e gostaria de entender porque tem a assinatura de Júlia Beatriz, mas ao se aprofundar, ele foi interrompido por Soraia a secretária dizendo que havia uma moça na recepção querendo falar com seu pai.

- Mande-a entrar Soaria. – ele arrumou todos os papéis e esperou a moça entrar.

- Aqui está ela senhor.

- Pois não? – disse Henrique observando a moça.

- Meu nome ser Kenya, o Lúcio encontra aqui?

Com um sotaque que misturava um inglês e um português recém-aprendido, Kenya trazia uma bolsinha de lado e sua vestimenta era simples.

- O que você quer com meu pai?

- Quero saber sobre Zimba, onde esta meu irmão, sumido, desaparecido.

- Como assim?

- Seu pai ter garimpo pra fabrica joia luxo, ele usa escravos, escravos africanos que ilegalmente chegam aqui, aqui em Brasile.

- Senhora Kenya, você deve estar confundindo, meu pai não é um aliciador de escravos.

- Sim ele é matador, assassino, matou Zimba.

- A senhora tem provas?

- Sim. – ela abriu sua bolsinha e tirou uma foto de uma caixa com o nome Bruzo numa mesa de madeira.

- Mas isso não prova nada Kenya, tantas caixas nós temos.

- Tenho outra.

Ela mostrou a foto e espinha de Henrique lhe deu um cala frio, a foto estava um junção de negros, alguns amarrados em volta de uma casinha bem simples, os únicos homens brancos que tinham na foto sorriam com o uniforme da Empresa.

- Isso não pode ser.

- Você pode ajudar Kenya, Kenya merece ser ajudada.

- Kenya, você não pode ficar com isso aqui. Vamos fazer o seguinte, vá até minha casa amanhã a noite e vou te ajudar a encontrar seu irmão. – Henrique anotou o endereço e entregou para Kenya.

- Obrigada meu senhor, obrigada.

Henrique estava sem chão, o Garimpo que sempre achou que fosse de funcionários da Empresa era na verdade um Covil de escravos que chegam da África, seu pai havia montado esse esquema fazia uns quinze anos, quando a Bruzo ainda patinava no mercado, seu maior inspirador foi Bóris que deu a dica para o empresário, os dois grupos Bruzo e Alcântara alcançaram seu status através de suor de pessoas negras, humilhadas pelo homem branco, isso era inadmissível e Henrique tinha que tomar providências rápidas, o destino da Empresa estava na mãos do rapaz. Atordoado, Henrique saiu e foi até o apartamento de Caio, ele abriu a porta assim que campainha tocou.

- Oi. – disse Henrique.

- Oi.

- Posso entrar?

- Não, podemos conversar aqui.

- O que está acontecendo, você não me liga não me responde as mensagens.

- Voltei com a Alice.

- O quê? – Henrique respirou fundo. – Achei que ela passado.

- Ela não sabe da traição e eu estou convivendo bem com isso.

- E nós?

- Nós nunca existiu Henrique, agora vai embora.

- Era de imaginar, você é como os outros, um hétero babaca que esconde seus sentimentos por conta da sociedade.

- Você até ontem era controlado pelos seus pais Henrique, só porque agora virou um justiceiro com as próprias mãos não quer dizer que todo mundo vá ser igual.

- Não estou pedindo isso Caio, nós dormimos juntos, abraçados.

- E isso tem alguma representação para você? – ele deu uma risada irônica – Dormi com tantas assim, você foi apenas o primeiro homem e será o último vide que não foi entrar nessa vida.

- Seu ridículo. – Henrique deu um tapa na cara de Caio. – Desejo que você seja feliz com essa sua vida medíocre.

Henrique saiu andando, mas foi impedido por Caio que o jogou contra parede o prendeu.

- Você é um filho da puta mimado, gosta de todos a sua volta contemplando a sua beleza e o seu dinheiro, mas não passa de um moleque depressivo que precisa de remédio para ser controlado e criar coragem para dizer as coisas para os outros.

- Pelo o menos eu não escondo meus sentimentos, eu gosto de você e pronto. – Caio o olhou durante um tempo e os dois se beijaram.

Era a primeira vez que os lábios dos dois se tocaram, para ambos era uma realização. Caio tomou Henrique em seus braços tatuados e o guiou até a escadaria de emergência do prédio ainda aos beijos. O clima esquentou e os dois rapidamente estavam inteiramente nus, Henrique fez um oral em Caio que gemia de prazer e puxava o cabelo do rapaz com força pedindo mais, na penetração Caio virou Henrique contra a parede gelada e o penetrou arrancando suspiro de prazer de ambos, após várias trocas de posições, Caio gozou e Henrique também, ainda ofegantes os dois se beijaram mais uma vez.

- Eu... Eu gosto de você – disse Caio, ofegante.

- Fica comigo. – pediu Henrique.

- Fico, quero ser inteiramente seu.

Os rapazes colocaram suas roupas e entraram no apartamento de Caio, após um tempo a campainha tocou.

- Caio? – disse a voz feminina.

- Sim, a senhora quem seria?

- Júlia Beatriz Bruzo.

Henrique deu um pulo do sofá e foi para o quarto sem fazer muito barulho, assustado o rapaz ficou atrás da porta tentando ouvir o que os dois falavam.

- Entra. – pediu o rapaz, fazendo com que a socialite entrasse no seu modesto apartamento.

- Ajeitadinho aqui. – disse Júlia observando cada cômodo para ser se Henrique estaria ali.

- Obrigado. O que a senhora veio fazer aqui?

- Vamos com calma, essa é a primeira vez que estamos nos vendo Caio a primeira de muitas.

- A senhora quer um café? - ofereceu Caio.

- Aceito.

- Venha até aqui, por favor. – Caio a guiou até a cozinha e ele se sentou numa cadeira que pertencia à pequena mesa.

- Você tem isqueiro?

- Sim. – Caio entregou o seu a ela que acendeu um cigarro.

- Ah! Como isso é bom. Obrigada – Júlia deixou o isqueiro em cima da mesa.

- E então? – Caio serviu o café para Júlia que o observava.

- Vim aqui saber seu preço.

- Preço?

- Isso preço Caio, quanto que você quer para se afastar da vida do meu filho pra sempre.

- O que? – Caio não conteve o riso e deixou Júlia incomodada.

- Costumo ser bem generosa com quem atravessa meu caminho meu filho, é só me dizer, quanto.

- A senhora acha que o sentimento de uma pessoa se compra através de dinheiro?

- O sentimento eu não sei, mas o dinheiro que eu estou para te oferecer irá te ajudar e muito a melhorar sua vidinha medíocre.

- Senhora Júlia, a senhora deve bater em outra porta, pagar para uma pessoa se afastar do seu filho é ridículo.

- Ah então você faz de graça? – Júlia respirou aliviada.

- Não. Eu não vou me afastar do Henrique só porque a senhora quer, eu gosto dele, existe sentimento.

- E você quer enganar quem com essa cara de bom moço Caio? Meu filho, eu não nasci ontem, está na cara que você esta interessado no nosso dinheiro, olha sua situação, olha situação dele. Não existe sentimento entre homens isso são coisas da cabeça de vocês, na verdade na cabeça do Henrique que pobre coitado, sendo enganado por você.

- Certo a senhora está me ofendendo agora, aonde você quer chegar?

- Valores meu filho, eu quero valores. Me diz, um milhão? Dois? Cinco? Eu faço um cheque e você some da nossa vida, de preferência de São Paulo.

- Eu já disse que não vou aceitar nada que venha da senhora.

- Há não? – Júlia abriu sua bolsa e tirou fotos reveladas do restaurante, da sua tia Márcia, do namorado dela e de Alice. – E essas pessoas? São importantes para você? O que vai me dizer se acontecer algo de ruim com elas? Uma sumir e aparecer morta? A outra ser atropelada acidentalmente? Bala perdida? Parece roteiro de série não? Mas não é, ou você aceita a minha generosidade ou muitas pessoas aqui vão sofrer as consequências dos erros de vocês.

- Não seria capaz de machucar alguém. – a voz de Caio quase não saiu.

- Meu nome é Júlia Beatriz, não brinco em serviço. Me diz os valores.

- Me da licença vou ao banheiro.

Caio atordoado foi para o quarto onde estava Henrique, os dois se abraçaram.

- Calma. – disse Henrique acariciando Caio.

- E agora?

- Aceita um milhão, esse dinheiro irá te ajudar, conversamos depois, vá lá e aceita Caio.

Caio voltou para cozinha, onde Júlia fumava outro cigarro.

- Um milhão esse é meu preço.

- Ótimo, vou fazer um cheque e acompanhar sua saída de São Paulo.

- Agora vai embora. – disse Caio expulsando Júlia.

- Busque o cheque amanhã comigo, no Life.

- Tudo bem.

Júlia Beatriz foi embora e Henrique saiu do quarto, os dois se beijaram novamente e começaram a bolar um plano de fugir de São Paulo com o dinheiro que receberão de Júlia amanhã, mas antes de ir Henrique tinha que ajudar Kenya a encontrar seu irmão e acabar com o Garimpo de escravos de seu pai, ele sabia que o futuro da sua família ficaria em jogo por causa disso, mas não podia deixar ver pessoas sendo escravizadas, trabalhando num sol forte caçando peças de diamante, e assim chegou a hora da grande Turbulência.

(Música do episódio, Love The You Lie - Parte II, Eminem feat. Rihanna).

Comentários

Há 1 comentários.

Por diegocampos em 2015-07-01 23:55:07
Gostei muito esperando muito o proximo henrique e caio muito fofos