Episódio 4 - Passado

Conto de Leandro Oliveira como (Seguir)

Parte da série Bandido

- Como vai amiga de longa data? – disse Laura se aproximando de Júlia.

- Estou ótima, que surpresa agradável. – Júlia se levanta e as duas se abraçam.

- Que bom te ver e nossa que apartamento lindo.

- Obrigada minha querida, sempre um bom gosto. Venha, vou pedir para Alma preparar algumas coisinhas para a gente.

- Vamos.

Júlia Beatriz e Laura Pimentel. Parecia que o destino novamente estava dando o ar da sua graça em São Paulo, as duas são amigas de longa data. Laura conheceu Júlia numa demonstração de joias no início da Joalheria Bruzo, formada pela USP em Jornalismo, a Sra. Pimentel tem em sua currículo inúmeros processos de famosos, por publicar tudo num blog onde tem vários seguidores, as duas pararam de se falar devido à rotina, mas gora Laura estava de volta e pronta para colocar tudo a ferver na cidade.

- Creio que há um motivo bastante especial para que você esteja aqui minha amiga. – dizia Júlia ao saborear uma salada de frutas.

- Na verdade não, eu voltei para o Brasil porque minha vida estava muito sem graça no exterior, você sabe como é minha amiga, sempre nos enjoamos de algo quando se torna muito repetitivo.

- Achei que você estava fazendo aquilo que sempre quis fazer Laura, gastar a fortuna de um velho babão – e Júlia caiu na gargalhada.

- Diferentemente de você querida Júlia, eu faço aquilo que me dá vontade, não vivo atolada de baixo da asa do meu marido achando que sou a Michelle Obama no quesito Mulher Bondosa.

- Finalmente a verdadeira Laura Pimentel está de volta, anda, me diz o que você quer?

- O Casamento do seu filho está próximo, eu gostaria de saber se eu posso cobrir o grande fiasco do ano.

- Não, não pode. Era isso, agora vai, obrigada.

- Nossa, mas quanta sutileza.

- Alma, liga para o segurança, tire essa moça daqui.

Alma não precisou chamar os seguranças pois Laura já estava de saída. Júlia ficou impaciente com a possível ameaça de ter sua inimiga em suas terras novamente, se ela cobrir o casamento de Henrique e perceber que tudo aquilo não passa de uma farsa muita coisa poderia mudar, era tempo de se pensar. Henrique estava no escritório de seu pai trabalhando como seu assistente, havia gostado de trabalhar com seu pai, apesar de saber que muitas coisas ali são erradas, como contratos hiper faturados, desvio de dinheiro entre outros. O dia estava cansativo e Henrique decidiu descer para fumar escondido, num beco próximo ao escritório.

- Parece que vou enlouquecer – sussurrou.

- Henrique? – disse uma voz feminina.

- Alexia? – Quanto tempo!

Os dois também eram melhores amigos no passado assim como Júlia e Laura, mas diferentemente das duas, os dois não se tornaram inimigos íntimos com o passar dos anos, Henrique havia conhecido Alexia numa das clínicas da qual foi internado.

- E você trabalhando? – questionou Alexia.

- Sim, eu estou trabalhando aqui no Joalheria, na verdade no escritório e você?

- Passeando apenas, estou aqui de férias, logo volto para Austrália, lá é meu lugar.

- Que bom! Me passa seu telefone, vamos marcar o jantar na minha casa.

- E enfrentar sua mãe? – ela riu. – Não mesmo.

- Que nada boba, agora estou morando na Avenida Paulista, sozinho, livre, leve e solto.

- ÓTIMO! Vou passar lá para gente tomar umas cervejas.

- Beleza.

Henrique voltou para o seu ambiente de trabalho, ao sentar em sua mas ele encontrou uma notificação da polícia, rapidamente ele guardou no bolso para verificar depois. Caio estava fumando um cigarro na varanda enquanto sua Tia abria a porta de casa.

- O dinheiro do aluguel, você já tem? – questionou Márcia ao abrir a porta.

- Não.

- Caio qual é cara, o que está acontecendo com você? Mais um mês e eu estou cuidando de tudo aqui dentro e não vejo você colocar um centavo.

- Tia eu vou te pagar, tudo mesmo, mas agora não posso.

- O que está acontecendo? – ela chegou perto dele e virou seu rosto, com olhos marejados Caio a abraçou.

- Sinto tanto a falta deles Tia, tanto.

- Eu sei meu amor, eu também sinto.

- Me sinto culpado por estar preso quando eles mais precisaram de mim.

- Caio não fique se culpando por isso, tá? Isso já faz tanto tempo, tenho certeza que você está sendo um orgulho para eles.

- Eu sei, mas eu sinto que eles precisavam de mim naquele momento e eu não pude ajudar.

- Eu sei meu amor, vai ficar tudo bem.

- Obrigado por estar comigo tia.

Na vida de Caio tudo vivia entre altos e baixos. Seus pais morreram quando ainda era novo e quando ele estava num reformatório, sua mãe se matou por depressão, logo na sequência seu pai veio a falecer após descobrir um câncer de próstata. Ele tinha Márcia, mas sabia que às vezes ele era um peso na vida dela pois ela precisava viver também, assim como Caio, Márcia logo cedo conviveu com as perdas, seu filho Victor foi assassinado por envolvimento no tráfico de drogas e ela havia sido mãe solteira. Histórias parecidas, compartilhando depressões em comum, assim definia-se Caio e Márcia. Logo após que sua Tia saiu, ele acendeu um cigarro e ligou para Alice que não atendeu, chateado, ele pegou um casaco e saiu sem destino. Lúcio entrou em sua sala e se deparou com Henrique lendo alguns contratos.

- Vejo que você está se ambientando bem.

- Quem é Zimba? E que intimação é essa?

- O quê? – Lúcio gelou. – Onde achou isso?

- Estava junto com os contratos que você colocou na minha mesa pai. Você vai depor?

- Henrique disso aqui quem deve cuidar é a Márcia, são questões jurídicas e isso já está sendo resolvido.

Henrique ficou desconfiado mas decidiu deixar para lá, o dia já estava acabando e ele precisava ir.

- Jantar em casa hoje? – perguntou seu pai.

- Sim, Bianca e eu.

- Vejo que os pombinhos estão bem.

- Sim, melhorando, ela quer falar algo para vocês.

- Que bom! Então vamos.

Lúcio e Henrique buscaram Bianca em sua casa e foram para o apartamento, logo na entrada Júlia Beatriz ficou surpresa ao ver Henrique e Bianca juntos.

- Que surpresa maravilhosa.

- Precisamos conversar, todos nós. – disse Bianca em um tom rápido, indo em direção ao escritório. Júlia e Henrique se olharam.

- Vamos. – disse Lúcio puxando os dois.

No Escritório do Apartamento.

- Eu preciso contar uma coisa para vocês, eu estou doente e precisamos adiar o casamento.

- O que? Doente? – questionou Henrique, preocupado.

- Sim, doente amor. Estou com uma espécie rara de uma doença que afeta o útero, vou operar e o prazo é de um a dois meses de recuperação.

- Que tipo de doença é essa? –questionou Júlia, nervosa.

- Vou retirar o útero Dona Júlia.

- Isso significa que...

- Não vou poder ter filhos Sr. Lúcio.

A notícia pegou todos de surpresa, principalmente Lúcio que sempre almejou netos, Júlia estava estarrecida e mal podia acreditar que aquilo tudo era real, Henrique se sentou e emocionado abraçou sua noiva, era de fato uma catástrofe. O jantar se seguiu estranho, com um silêncio perturbador. Caio entrou numa boate gay na região da Estação Faria Lima, tocava uma música eletrônica bem alta, ele parado no bar, tomava um drinque tranquilamente, até que um rapaz sorriu para ele, logo os dois começaram a conversar.

- Vem sempre aqui? – disse o rapaz.

- Primeira vez, acho bacana e tal. Eu sou hétero. – respondeu Caio, o rapaz riu.

- O que faz aqui então?

- Procuro desafios.

Os dois se olharam e logo estavam se pegando no banheiro, o rapaz de nome Diego logo levou Caio para um motel onde transaram, era a primeira vez de Caio e tudo parecia estar dentro dos desejos do rapaz. A campainha do apartamento de Henrique toca, era Bianca.

- Posso entrar?

- Sim. – respondeu Henrique, dando espaço para Bianca entrar.

Os dois caminharam até a sacada.

- Está tudo feito como você me pediu – disse Bianca, com um olhar perdido para cidade.

- Tenho muito há te agradecer. Você foi incrível, espero que entenda que isso é o melhor para gente.

- Sim, eu vou entender.

- Você vai para onde? – questionou Henrique.

- Londres, estudar lá. Acho que a sem útero aqui precisa de férias – os dois riram. – Aonde conseguiu esse exame?

- Ah, por aí.

Henrique lembrou que no encontro com Alexia, ele arquitetava um plano para tirar o casamento do seu caminho e lembrou que Alexia era boa com edições e tudo mais, rapidamente ela conseguiu um exame falso em nome de Bianca com a então doença que afeta o útero dela, fazendo assim, que seu pai se desgostasse do casamento por não poder ter netos.

- Me senti uma atriz.

- Você foi a mais linda de todas. – ele se virou para ela e pegou em suas mãos – Bia, nunca que eu conseguiria fazer você sofrer, por isso foi o melhor pra gente, um dia você vai me perdoar.

- Eu te entendo Henri, você foi incrível comigo me contando a verdade, mesmo eu sendo enganada, eu sabia que não iria pra frente mas decidi arriscar. Você é incrível, eu espero que encontre um homem que te ame de verdade. – os dois sorriram e ela foi embora.

Logo após a saída de Bianca, Henrique foi descansar, havia sido um dia longe, ele adormeceu no sofá e seu celular tocou várias vezes.

- Preciso de você. – disse uma voz e logo a campainha tocou.

- O que você está fazendo aqui essas horas Caio?

- Eu... Preciso de você Henrique.

(Música de encerramento do episódio, For You – Angus e Julia Stone)

Comentários

Há 1 comentários.

Por diegocampos em 2015-06-27 10:37:45
Adorei bem ansioso