Episódio 3 - Confissões

Conto de Leandro Oliveira como (Seguir)

Parte da série Bandido

Júlia Beatriz não havia dormido direito na noite anterior, imaginando onde Henrique estaria um lado do seu coração acreditava que seu filho estaria com Bianca, mas um lado gritante imaginou que ele estaria metido em meio a obscenidades.

- Onde você estava? – questionou Júlia, de braços cruzados fuzilando Henrique com o olhar.

- Por aí. – ele respondeu passando por ela.

- Eu quero saber onde Henrique. – ela o puxou pelo braço e os dois ficaram frente a frente.

- Eu já disse que eu estava por aí.

- Isso não é resposta que se dê a sua mãe meu filho, por favor, me diga onde você estava. Com a Bianca, acredito eu. Não é isso? – Júlia ainda o segurava e o encarava pedindo a resposta que ela queria pelo olhar.

- Não.

- Céus...

- Eu estava me libertando de toda aquela sujeira da Noite de Gelo.

- Sujeira? Mas que sujeira?

- Sujeira que você e meu pai estão tramando para minha vida. Um casamento forçado com uma boa moça, com uma menina que não tem nem a vida iniciada completamente.

- Ah meu Deus, esse papo de novo, esse papinho ridículo que a Bianca não é uma mulher de verdade.

- Não é isso que eu estou falando.

- Então é o que me fala, me diz que hoje eu estou toda a ouvido. – ela o soltou.

- Vocês andam controlando a minha vida faz tanto anos que eu nem sei quando foi a última vez que eu tomei uma decisão sozinho, por conta da pressão que você e meu pai faz em mim.

- Nós não temos culpa se você só faz merda, você quer que a gente faça o que? Fique olhando você se ferrar sozinho meu filho? Não! Nós vamos intervir o quanto for necessário pelo seu bem.

- Pelo meu bem? Pode tirar essa sua pose de boa moça Mãe, todo mundo aqui sabe que você é a pior de todas que existe. A Dona Júlia Beatriz Bruzo, que preza ela família tradicional, que preza pelos pobres, pelos os humildes, uma farsa, uma mentira, a pior pessoa, da pior espécie.

- O QUÊ? – Júlia gritou – Você está me acusando de ser a pior pessoa do mundo? INGRATO, INGRATO é isso que você é. Planejei com toda a minha paciência para você ter um bom casamento, com uma moça de família, de bem e você vem com essa? Me chamando de pior mãe do mundo, você é um INGRATO Henrique, sempre fiz pelo seu bem e...

- VOCÊ PERGUNTAVA SE EU ESTAVA BEM? SE ERA AQUILO QUE EU REALMENTE QUERIA? – Henrique a interrompeu aos berros. – Você nunca se preocupou em saber se eu estava feliz, sempre dizia que tudo isso era pelo bem da família, mas na verdade era para manter a boa imagem de mãe que você na mídia, a ingrata aqui nessa sala é você.

- Que blasfêmia! Que blasfêmia meu Deus. Você tem tudo na mão, mãe, pai, uma noiva linda...

- EU NÃO VOU ME CASAR! – Henrique novamente gritava e Júlia o observava perplexa.

- VAI SE CASAR SIM! EU NÃO PERDI MEU TEMPO ME DEDICANDO A VOCÊ PARA CHEGAR À CARA DO GOL E VOCÊ DAR PRA TRÁS, VAI SE CASAR SIM!

- EU SOU GAY, EU SOU GAY PORRA!

- Você é o que Henrique? – Júlia o questionava com a mão no coração.

- GAY, EU SOU GAY MAMÃEZINHA – ele a encarava com um sorriso irônico.

- Meu deus, meu deus do céu – Júlia andava de um lado para o outro com as mãos no rosto – EU VOU MATAR VOCÊ HENRIQUE, EU VOU TE MATAR – ela partiu pra cima dele dando tapas, mas ele a conteve a empurrando para trás em autodefesa.

- Sabe onde eu estava ontem? – dizia Henrique se aproximando. – Na Rua Augusta meu amor, procurando uma pica, uma piroca, pra me satisfazer e quando eu encontrei mamãe, nossa, foi parar nas estrelas.

- DOENTE! VOCÊ É UM DOENTE, DÉBIO MENTAL, DOENTE. – Júlia gritava e empurrava Henrique.

- E sabe o que vou fazer, vou publicar na internet Por Trás de uma Prada: A Farsa de Júlia Beatriz Bruzo, uma mulher rica, fina, cheia de gente influente por perto, que não passa de uma ex-prostituta, a propósito estamos vendo aqui pela gritaria que você esta fazendo que a prostituta saí do prostíbulo, mas o prostíbulo não saí da prostituta, está no sangue.

Júlia dá uma bofetada na cara de Henrique.

- Cala essa sua boca imunda para falar da minha vida, seu moleque asqueroso. Agora saí da minha frente, suma antes que eu mande matar você.

-Ainda não terminei, vou colocar em inúmeras páginas que você abandonou a família pobre, com pais doentes para viver um grande amor, mas na verdade um grande golpe. – Júlia tenta dar outra bofetada, mas Henrique segura sua mão. – CHEGA! Isso acaba aqui.

- Vai pro seu quarto, suma da minha frente.

Calmamente Henrique subia as escadas em direção ao seu quarto, Júlia entrava num estado nervoso e chorava aos berros, Alma vinha ao seu encontro para tentar acalmar sua patroa. Na memória de Júlia, trazida aos berros por Henrique, ela se lembrava da infância humilde que teve e dos problemas financeiros que passou quando menina, a passagem de tempo se inicia quando ela se lembra de quando se prostituía e quando conheceu Lúcio no prostíbulo. Ela pegava Henrique ainda bebê no colo e percebia um jeito diferente nele, mais feminino, do que os outros garotos. Numa determinada passagem, ela se recorda de quando eles discutiram por causa que Henrique pintou o cabelo de loiro e de como ela decidiu intervir na vida do filho para ele se tornar um homem de verdade, agora ela via tudo isso indo por água baixo e seu filho se assumindo gay em meio ao triste embate, para Júlia era como se uma Guerra estivesse instalada, porque não era só a sexualidade de Henrique que estava em jogo e sim o nome da família, sem falar de Lúcio, que mataria o filho se descobrisse isso, agora ela tinha uma missão, fazer Henrique desistir dessa loucura de ser gay e se casar com Bianca, isso doa a quem doer.

No Escritório.

- Lúcio? Posso entrar? – disse Márcia observando o chefe no computador.

- Sim, entre Márcia.

- Lúcio, você recebeu uma intimação da polícia sobre o desaparecimento de Zimba Magaya, um africano que adentrou no país de forma ilegal.

- E se ele adentrou no país de forma ilegal, como podem me acusar disso?

- Foi uma denúncia anônima, conversei com uma das moças da delegacia e ela disse que uma mulher, que dizia ser irmã dele te denunciou, o nome dela é Kenya. Ela alega que ele foi trabalhar para você como escravo num Garimpo em Mato Grosso do Sul, a polícia de lá também está vindo para ouvir você.

- Aquela preta safada. – sussurrou Lúcio – Tudo bem, monte uma defesa baseada em fatos sobre minha vida dedicada as ONGS e tudo mais, aquela mesma baboseira de sempre. Chame Orlando aqui, por favor.

Lúcio se levanta e vai até a janela da sua sala.

- Me chamou chefe?

- Encontre a garota que esteve aqui, coloque-a no esconderijo, está na hora de acabar com algumas pistas.

Orlando havia seguido Kenya até em casa da última vez que ela esteve na empresa, seria fácil para Lúcio dar um fim da moça quando quisesse. No restaurante, Caio pensava na noite anterior e da tentativa do beijo de Henrique, ele sabia que havia sido grosso com o rapaz, mas não queria dar o braço a torcer. Os dias foram passando e o relacionamento de Júlia e Henrique piorava a cada dia, ela temia que ele contasse tudo para o seu pai e aí sim tudo estava perdido. A data do casamento se aproximava e Henrique se afastava cada vez mais de Bianca, até que num jantar ele decidiu revelar algo a seu pai.

- O jantar está pronto Senhora Júlia – dizia Alma à sua patroa que estava na sala.

- Obrigado Alminha. – Júlia se levantava e Henrique descia a escada, os dois se encaravam.

- Boa noite. – saudou ele.

- Vê se não me apronta nada hoje.

- Hoje? Logo hoje que vai ser uma data que você nunca vai esquecer?

- Por favor, Henrique olhe seus irmãos, seu pai vai estar conosco, menos.

- Aprecie.

Lúcio chegava em casa depois de um dia exaustivo de trabalho e como sempre fazia, lavava suas mãos e se juntava a todos na sala de jantar.

- Pai preciso te contar uma coisa. – disse Henrique enquanto todos comiam, Júlia ficou paralisada.

- Diga meu garoto.

- É que. – Henrique encarou Júlia – Acho que estou mudando e nessa mudança sinto que preciso de algo novo, tipo um apartamento sabe? Como vocês querem que eu case sendo que nem casa eu tenho.

Júlia soltou o ar bem fundo.

- Concordo com você meu filho, tem algo em vista?

- Tem uma cobertura na Avenida Paulista, custa dois milhões.

- Nossa – disse Lúcio.

- UAU hein riquinho. – brincou Edgar.

- Quero ir junto – disse Anna Maria.

- Bem, é lindo lá. Gostaria muito pai, será importante para minha independência.

- Tudo bem meu filho, mas com uma condição, você ter que trabalhar conosco na Bruzo.

- Ah – Henrique olhou para Júlia que estava com um sorriso de deboche. – Tudo bem, eu irei.

- Acho que isso é uma bobagem – dizia Júlia ao soltar o garfo – Você tem tudo aqui meu filho, não precisa se mudar.

- Eu preciso, aqui está muito cheio com tantas coisas que vocês tem feito, está na minha hora de mudar, afinal todo passarinho tem que voar.

- Mesmo assim, está tão próximo do casamento que você tem que ficar mais tempo conosco.

- Não, quero ficar sozinho, refletir, logo serei um cara casado e não vou ter tempo para isso. Virão muitos netos pai.

- Assim que eu gosto meu filho. Então está decidido, amanhã iremos resolver isso.

- Obrigado pai, vou ir dormir.

Henrique levantou-se e foi cumprimentando todos na mesa, quando chegou em Júlia ele sussurrou: Quem está no controle agora?

O apartamento era uma das coberturas mais luxuosas da Avenida Paulista, Lúcio e Henrique logo fecharam o negócio com o corretor, o apartamento vinha mobiliado e Henrique não precisaria se preocupar com mais nada. Quando realmente efetuou a mudança, uma mensagem no celular o fez ficar super feliz, era Caio, que logo ligou.

- Oi Caio.

- Oi Henrique, tudo bem?

- Tudo ótimo.

- Cara, eu estou ligando pra te pedir desculpa daquela noite do gelo. Você pode me encontrar?

- Vem até mim, eu moro na Paulista agora, te passo o endereço.

Henrique passou o endereço e logo Caio estava na sua porta.

- Oi – disse Caio.

- Oi, entra.

Caio sentou-se num puff na sala.

- E aí, tudo bem? – perguntou Henrique.

- Tudo. Cara sobre aquela noite, eu gostaria de pedir desculpas, eu tenho vários amigos gays que deram em cima de mim, não reagi como eu sempre faço, desculpa mesmo.

- Relaxa. Está tudo bem, eu te entendo.

Os dois continuaram a conversar até altas horas quando Caio estava querendo ir embora.

- Vou indo.

- Tudo bem. – eles se levantaram e chegaram à porta.

- Vamos jantar qualquer dia? Convidou Caio.

- Sim, só me ligar ou eu te ligo.

- Firmeza. – Henrique abriu a porta.

- Tchau Caio.

- Tchau. – os dois se abraçaram e se olharam.

- O seu elevador. – disse Henrique.

- Ah, tchau.

Caio saiu novamente estranho, ele sabia que algo estava acontecendo mas estava se negando, ele ligou para Alice e a encontrou no apartamento dela, eles transaram a noite inteira, mas Caio só tinha Henrique na cabeça e por nada nesse mundo conseguia tirar ele da sua cabeça. Júlia estava sentada no escritório tomando um vinho quando a porta se abre.

- Oi Júlia – disse uma voz.

- Você! – gritou Júlia ao se virar.

Comentários

Há 1 comentários.

Por diegocampos em 2015-06-26 23:19:57
Gostei esperando o episódio 4