Episódio 2 - A Noite de Gelo

Conto de Leandro Oliveira como (Seguir)

Parte da série Bandido

A Noite e Gelo iria começar como todas começam, uma trupe circense faz um show com um tom de obscuro e felicidade, espalhados por um grande palco rodeado de esculturas de gelo representando as joias lançadas anteriormente pela Joalheria Bruzo. Júlia Beatriz, vestindo um finíssimo vestido, se olhava no espelho e retocava o batom pela enésima vez, ao lado dela Henrique mostrava impaciência.

- Aconteceu alguma coisa meu filho? – perguntou Júlia sem tirar os olhos do espelho.

- Não mãe, só essas pessoas e esses jornalistas. Tantas pessoas vazias e cheias de dinheiro.

- Ah meu filho não venha com sentimentalismo essas horas, precisamos de você por cima hoje, afinal é a apresentação oficial do seu casamento com a Bianca.

- Mãe, sobre isso...

- Meu filho agora não – Júlia o interrompe – Adiamos todas as vezes que você me pediu e eu gentilmente pedi aos meus amigos jornalistas que você precisava de um tempo para confirmação, que você precisaria de um tempo, mas agora não, agora é a sua chance – Ela se aproximou de Henrique e olhou no fundo dos olhos dele – Não me decepcione.

Henrique sabia que isso tudo que estava fazendo era importante para os seus pais, mesmo que eles não tenham sido os melhores na sua vida, devido às internações devido à depressão, mas no fundo ele ainda se sentia confuso por tudo isso estar acontecendo ainda mais por poder magoar Bianca que realmente gostava dele. Caio estava do lado do Castelo servindo o magnata Bóris Casadevall, dono de um dos bancos mais ricos do país, eles conversavam com Lúcio Bruzo sobre uns assuntos pendentes que tinham na época de escola, ambos riam bastante e Caio sorria ao servi-los, Henrique ainda no palco olhava para o seu pai e de repente seu olhar se encontrou com o de Caio, que sorriu.

- Vá chamar seu pai Edgar, diga a ele que Rita está nos chamando para abertura triunfal.

Edgar cochichou no ouvido do seu ai que estava na hora deles se apresentarem e ele se levantou e se juntou aos outros no palco, Lúcio vinha na frente ao lado direito vinha Júlia, ao esquerdo Henrique, Edgar e Anna Maria completavam e a cortina vermelho sangue subiu, anunciando as apresentações. Rita, assessora de Júlia comandava a apresentação da história da família tradicional Bruzo, Caio fitava novamente Henrique que ficava sem graça, logo após toda a apresentação, um segurança veio trazendo a joia que Júlia Beatriz usaria na ocasião, ela foi encontrada na África e trazida ao Brasil, Lúcio havia efetuado essa compra no final do último ano, há frente de Bóris, trazendo a tona uma velha rivalidade entre os dois. A joia estava perdida desde final do século XX, foi usada por uma espécie de Deusa Africana que lhe deu seu nome: Alika, que quer dizer a mais bela. A festa deu sequência, Júlia Beatriz portava a joia em seu pescoço e todos a admiravam. Bianca se aproximou de Henrique e isso causou um alvoroço nos jornalistas presentes que solicitaram uma entrevista.

- Estamos aqui no Hall do Castelo, na nossa frente está o casal sensação do ano, Henrique e Bianca, que vão se casar em breve. E aí quando será o casório? – questionou a moça que segurava um microfone na direção de Henrique, enquanto Bianca o abraçava.

- Bem, eu... Eu... – Henrique se perdia nas palavras e olhava para todos os lados, até que novamente seu olhar se encontrou com o de Caio, Júlia Beatriz observava tudo e ficava aflita ao ver que seu filho não estava respondendo, Bianca percebendo o nervosismo de Henrique tomou a palavra.

- Mês que vem no final do mês que vem, nós vamos nos casar.

- UAU! Espero que a imprensa toda possa comparecer.

- Vocês vão. – finalizou Bianca tirando Henrique de perto dos jornalistas.

Henrique estava em êxtase, não sabia para onde olhar, Bianca tentou acalma-lo, mas não conseguiu, ele saiu as pressas para o fundo do Castelo, chegando numa sacada Henrique caiu no choro. Júlia percebendo a tristeza de Bianca se aproximou.

- O que houve? – perguntou Júlia.

- Ele está nervoso só isso, daqui a pouco ele volta.

- Os jornalistas perceberam isso?

- Claro Dona Júlia, quem não perceberia, o Henrique estava nervoso.

- Bianca minha querida, você precisa ser mais firme. Eu quando era mulher do então herdeiro disso aqui ficava do mesmo, mas sempre me virava, olha aonde eu cheguei você pode chegar muito mais longe, você precisa agarrar meu filho com todas as garras se você o quer.

- Dona Júlia, esse casamento está pirando o Henrique, estou pensando em desistir.

- O quê? – Júlia ficou assustada – Desistir? JAMAIS! Você não está com meu filho à toa minha querida, você está na cara do gol e vai dar pra trás? Que tipo de mulher é você? Uma sem sal como as outras que eu dispensei? Você deve muito a mim e seu pai também, você não enxerga que isso será benéfico para as duas famílias? Vá lá e faça o Henrique agir como um homem e você tem que agir como mulher.

- A senhora... É um monstro.

Júlia se aproximou da face de Bianca e deu um sorriso.

- Ótimo.

Henrique se acalmava quando percebeu a presença de alguém.

- Ei cara, está tudo bem? – perguntou Caio se aproximando.

- Quem é você?

- Um dos garçons da noite, você quer uma água?

- Não, obrigado.

- Vou acender um cigarro e vou ficar aqui, se quiser conversar. – Caio puxou um maço de cigarros do seu bolso tirou um da cartela e acendeu. Você quer?

- Quero. – Henrique pegou um cigarro e acendeu.

- O que aconteceu? O Dono da Festa desse jeito?

- Minha vida, ela é uma bagunça se você quer saber. Meus pais não me ouvem, estou para me casar com uma menina que eu não gosto e não sei me livrar disso tudo.

- Primeiro de tudo, termine seu noivado o quanto antes.

- Como?

- Falando a verdade, que você não gosta dela, que você sei lá, arrumou outra.

- Sou gay – disse Henrique e Caio arregalou os olhos.

- Gay? Cara desculpa, mas porque você está sofrendo com UMA MULHER DO SEU LADO?

- Eu sei, bem confuso, não é?

- Você deveria falar a verdade para todos.

- Como isso? Meus pais nunca me perdoariam, você não vê o jeito deles de família tradicional? Seria morto e vocês nunca saberiam o motivo, capaz deles dizer a todos que eu sumi.

- Não parecem que fazem esse tipo de coisa.

- Toda família tem sua laranja podre, na minha são duas, meus pais fazem tanto mal as pessoas que as vezes eu sinto que vim para Terra apenas para fazê-los pagarem por tudo, mas não tenho coragem, eu sou um merda.

- Não fale assim de si mesmo – Caio se aproximou e os dois ficaram apreciando a noite da sacada.

- Qual o seu nome?

- Caio – ele estendeu a mão.

- Henrique – que retribuiu.

- Você quer dar um role?

- Role?

- Isso dar uma saída, vamos para Augusta, hoje está com Double tequila num bar bem legal.

- Que horas?

- Me encontra as 03h na garagem do Castelo e a gente vai andando.

- Andando? Não, vamos no meu carro.

- Sim Sr. Bruzo, deseja algo mais?

- Double Tequila.

Henrique e Caio saíram de uma das sacadas observados por Júlia Beatriz, Henrique foi em direção da festa e Caio para cozinha, sendo fuzilado pelo olhar de Júlia. A festa seguia normalmente, Henrique bebia e se aproximava de Bianca, Lúcio conversava com seus investidores e Júlia fazia as honras da casa conversando com todos os convidados. Henrique contava no relógio as horas para das 03h, quando deu o rapaz deu um sumiço junto com Caio, os dois se encontraram e foram para Rua Augusta.

- Anos que não vou naquele lugar, ainda está a mesma coisa?

- Sim, putas, gays e a gente.

- E você?

- Eu namoro a seis anos cara, o nome dela é Alice, quero casar com ela, mas tá foda.

- Imagino.

Eles chegaram num beco aonde Henrique deixou o seu carro e foram em direção a um bar, logo Caio encontrou os amigos e apresentou Henrique, a noite começava com um rock pesado e cheio de gente pulando, Henrique aproveitou bem para se embebedar e Caio na mesma situação que ele. Os dois dançavam, cantavam, fumavam e bebiam.

- Vou ali fora – disse Caio.

- Vou com você – retrucou Henrique.

- Vou cheirar pó – Caio cochichou no ouvido de Henrique.

- Também quero.

Os dois cheiraram cocaína e logo depois perderam a noção de si, tiravam inúmeras selfies e quando amanheceu, Henrique estava jogado na cama de Caio, com ele o observando tomando uma xícara imensa de café. Henrique acordou aos poucos e observou Caio.

- Bom dia flor do dia – disse Caio.

- Bom dia Jardineiro.

- Acho que você tem que ir não é?

- Sim, preciso. Daqui a pouco o BOPE invade isso aqui.

- Sim, quer tomar banho?

- Quero.

Henrique se levantou e foi ao banheiro tomar um banho, logo ao imaginar-se dormindo com Caio se masturbou rapidamente, saiu com uma toalha na cintura e foi para sala.

- Quer um café? – questionou Caio.

- Por favor.

Ele o serviu e sentou-se num pequeno sofá. Henrique se trocou rapidamente e pegou sua xícara.

- Lugar bacana aqui. – disse ele tomando o café.

- Pequeno e barato, mas tá bom, logo eu me mudo.

- Entendi. Acho que decidi.

- O que?

- Vou terminar com a Bianca e me assumir.

- Isso aí cara. Parabéns – Caio deu uns tapinhas nas costas de Henrique.

- Valeu pela noite Caio, valeu mesmo. – Henrique se levantou, pegou suas coisas e foi até a porta.

- Por nada mano, gravei meu telefone no seu celular, quando quiser me liga que a gente marca um role.

Henrique foi abraçar Caio para se despedir, os dois se olharam.

- Mano, não sou viado.

- Desculpa , eu só.

Henrique tentou beijar Caio, que se esquivou.

- Vai embora! – gritou Caio.

Henrique saiu do apartamento de Caio e foi até Augusta pegar seu carro, no caminho ele novamente se imaginou dormindo com Caio, imaginando aqueles braços tatuados o pegando e colocando na cama. Ao chegar em casa, Henrique tirou os sapatos para não fazer barulho e ligo viu que sua mãe estava na entrada, de braços cruzados, com um olhar matador.

Comentários

Há 1 comentários.

Por diegocampos em 2015-06-25 23:45:51
Estou gostando da historia esperando o proximo capitulo