Episódio 1 - Destinos

Conto de Leandro Oliveira como (Seguir)

Parte da série Bandido

Em meio a uma São Paulo agitada, Caio corria para não perder mais um dia de trabalho no restaurante Life, do senhor Aristóteles, seria a terceira vez naquela semana que ele iria se atrasar por conta de um trânsito, ao chegar ao estabelecimento ele joga sua bolsa no armário e saí correndo para colocar seu uniforme.

- Bom dia Sr. Aristóteles – disse Caio ao colocar uma touca para proteção na cabeça.

- Está atrasado novamente Santos, você deveria ficar em casa hoje.

- Eu preciso do trabalho Sr. Aristóteles, o trânsito hoje não estava cooperando comigo.

- E ontem e anteontem? Eu preciso de responsabilidade Santos, estou te quebrando um galho e você anda pisando na bola comigo, novamente. – ele puxou uma cadeira e acendeu um charuto.

- Eu sei, mas acredite, eu estou aqui para te ajudar, acredito que o senhor deve estar pensando em me registrar na próxima semana, não é?

- Eu estou pensando, mas ainda não tenho a resposta definida, bem vá trabalhar.

Caio o encarou durante algum tempo, mas foi saindo da sala.

- Ei Santos – gritou Aristóteles.

- Sim?

- Amanhã é a Noite do Gelo, preciso que você esteja no Salão na Frei às 20h, será que pode chegar esse horário?

- Sim senhor, obrigado senhor, eu estarei lá, obrigado senhor, sim eu estarei lá – agradecia Caio apertando a mão de Aristóteles.

- Vá trabalhar, temos muito que fazer hoje.

Caio foi para ao balcão com um sorriso largo no rosto, afinal a Noite do Gelo significaria muito para ele porque a comissão é extra, e uma festa cheia de ricaços com certeza ele ganharia um extra se servisse todos com excelência, então naquele dia só havia comemoração dentro de si. No outro lado da cidade, um helicóptero pousava num prédio de luxo nos Jardins, dentro dele Júlia Beatriz e Henrique, um de seus empregados abria a porta e os dois contemplavam a vista.

- Bem-vindos a São Paulo – disse o empregado.

- Muito obrigado George – agradeceu Júlia – Vamos meu filho, vamos que hoje é um dia cheio.

Henrique ainda olhava a paisagem e se lembrava da noite anterior, onde estava nos braços de um cara qualquer em seu apartamento no Rio de Janeiro, os dois haviam transado na noite passada e em flashbacks, Henrique se lembrava dos momentos quentes que tiveram, mas descuidado como é esqueceu-se de anotar o nome do rapaz e o telefone. Ao descer para o apartamento, o rapaz se deparava com a decoração extremamente luxuosa que sua mãe providenciou, fazia uns anos que eles não ficavam no apartamento principal, sempre estavam na Mansão. Com flores espalhadas por algumas partes da sala, Henrique tirou seu celular do bolso e começou a ler as mensagens.

No Escritório.

- Precisamos dobrar os novos investimentos para conseguir o que queremos no próximo semestre – dizia Lúcio aos investidores entusiasmados.

- A Noite de Gelo, como será? – indagou um deles.

- Mais uma vez, esplêndida – afirmava Lúcio enquanto tomava um gole de água – Vamos apresentar a nova joia para vocês, um diamante raríssimo que encontramos perdido em nossas terras, acredito que pertencia a primeira geração da família Bruzo.

- Senhor Lúcio – chamou Sara, interrompendo a reunião.

- Sim?

- Tem uma moça que quer conversar com o senhor na sua sala, ela disse que o assunto é urgente.

- Sara, por favor, diga que eu estou em reunião, que eu não posso atender.

- Acredito que o senhor deverá atender, ela está um pouco nervosa, está xingando todo mundo e nem os seguranças conseguiram conte-la.

Os dois se olharem e Lúcio foi em direção à sua secretaria.

- Com licença senhores.

Lúcio foi caminhando até sua sala e quando chegou lá deu de cara com uma moça negra, com um cabelo enrolado, com trajes de segunda mão, portanto uma bolsa.

- Em que posso ajudar senhora? – questionou Lúcio ao entrar na sala.

- VOCÊ – ela se aproximou dele com fúria – ONDE ESTÁ ZIMBA? SEU DESGRAÇADO, FILHO DA PUTA?

- Você só pode estar louca, quem é Zimba?

- É meu irmão – ela gritou – Meu irmão Zimba, ele está desaparecido faz três meses, ele me disse que veio procurar um emprego na sua Empresa, mas vocês o levaram embora, eu quero saber onde ele ESTÁ me fale.

- Você deve estar enganada, aqui não tem nenhum Zimba e não estamos contratando, saia da minha sala antes que eu chame o segurança.

- Você o sequestrou você fez mal a ele, seu desgraçado.

- Pare com isso moça, olha saia daqui! – pediu Lúcio abrindo a porta de sua sala, a moça ainda o encarou e foi caminhando até a saída.

- Eu vou te matar!

A moça sacou uma faca de sua cintura e foi para cima de Lúcio, o empurrando na parede e gritando em outra língua, os seguranças logo entraram e seguraram a moça para Lúcio pudesse sair, eles a levaram para fora do Prédio.

- Isso foi uma falha imperdoável Orlando, como que uma mulher portando uma faca passa pelo seu pessoal como se fosse da imprensa? – disse Lúcio ao colocar um pedaço de papel na boca para conter o sangramento de um machucado.

- Peço perdão senhor, eu sei que foi um erro grave, mas vamos achar essa moça.

- É melhor que ache mesmo, quero ela viva até eu chegar, depois eu decido o que fazer com ela, meus inimigos estão tão próximos de mim que eu nem posso imaginar, ela deve ter sido enviada por algum deles só pode – Lúcio gemeu de dor – Vá procure-a, quero ela no nosso esconderijo até às 23h.

O dia passava normalmente, Júlia Beatriz andava de um lado para outro falando com seu assessor sobre a Noite de Gelo no dia seguinte, era um dos eventos mais esperados pela alta sociedade paulistana e ela sabia que tudo tinha que sair perfeito na capa dos Jornais. A campainha do apartamento tocou e Alma atendeu, era Bianca a noiva de Henrique, Júlia tinha um grande interesse para que o casamento do filho primogênito acontecesse com essa garota, ela era a herdeira do grupo Alcântara, uma das empresas mais ricas de toda a capital, realizando assim o sonho do seu filho ter um casamento do século, isso seria excelente para família, para a visão que todo o país tem deles e muito bom para o bolso dela e de Lúcio, vide que Antenor, pai de Bianca que fechar um negócio e expandir os negócios de ambos até a Europa e Estados Unidos.

- Toc toc – disse Bianca entrando no quarto de Henrique.

- Ah, oi.

- Oi amor, tudo bem? – ela o cumprimentou e sentou em sua cama.

- Cansado.

- Imagino, essas provas finais te matarão não é? Enfim, já comprei meu vestido para amanhã.

- Amanhã?

- Sim amor, amanhã é a Noite do Gelo bobinho, esquece? Temos que vestir para impressionar já que somos o futuro donos de todo aquele Império.

- Ah.

- Bem, vou deixar você descansar, sua mãe precisa falar comigo, depois eu volto.

- Tudo bem.

Henrique estava distante e não era para menos, todos os jornais colocavam ele e Bianca como donos do futuro Império, o que era um casamento virou um jogo de interesse de duas famílias influentes São Paulo a fora, só de pensar que no dia do casamento tudo isso vai se intensificar ele tem enjoos. Nunca ele imaginou que estaria forçando uma situação para beneficiar sua família em questões financeiras, não que eles precisassem, mas como todo bom Bruzo a ambição fala mais alto, por um momento Henrique chegou a lembrar do cara da noite anterior, lembrava-se de outros momentos onde eles transaram e isso o animava, mas ao voltar para realidade, ele se sentia triste por enganar Bianca, mas não só a ela como a todos a sua volta. Sua família, já havia percebido seu jeito estranho e por isso decidiram mandar ele para estudar na Alemanha aos 12 anos, mas logo retornou por conta do mau comportamento, seus pais fizeram de tudo para apagar todo o indício de homossexualidade nele, até que surgiu Bianca e foi ela que fez Henrique “voltar ao normal”, mas depois de um tempo ele voltou a sair com rapazes escondidos, num determinado período ele saia com os mais variados caras do campus onde estudava tudo isso porque esses rapazes eram interessados na única coisa que Henrique tem, dinheiro. Na maioria das vezes, Henrique se sentia usado, mas com o passar do tempo ele aprendeu a utilizar dessa artimanha a seu favor, fazendo com o que as pessoas se aproximassem dele por conta de seu sobrenome, ou pelo que ele tem.

- Viajando? – questionou Edgar ao entrar no quarto de Henrique.

- Sim.

- Viu a Bianca?

- Sim, ela passou aqui.

- E quando você vai terminar com ela?

- Terminar? – indagou Henrique, surpreso.

- Sim, terminar – Edgar se levantou para fechar a porta e depois sentou na cama novamente – Qual é Henri, eu sei a verdade cara.

- Que verdade?

- Sua sexualidade...

- Como?

- Henri sem rodeios cara, eu sei que você não ama a Bianca e que está fazendo isso por ajudar nossos pais a fechar um contrato milionário que nos traria muito mais estabilidade do que já temos. Dá para perceber no seu olhar que você não a ama do jeito que ela te ama, na verdade, eu tenho a plena certeza de que você nunca a amou de verdade, eu sinto isso. Descobri há um tempo, através da conversa dos nossos pais que você foi mandado para Alemanha por conta que você tinha um comportamento estranho e então passei a te observar, sair com você, vi como você fica sem jeito quando estamos perto de mulheres e eu te vi beijando um barman na última Noite do Gelo.

- Você o quê? – Henrique estava sem reação.

- Gostaria que você pudesse se abrir comigo, eu sou seu irmão e não quero ver você sendo o que não é apenas para agradar os nossos pais.

- Você não entende Edgar, eu não escolha.

- Talvez você tenha, mas não quer aceitar por medo.

- Não é bem assim.

- Você sabe que é Henri, apesar de estarmos vivendo tempos de intolerância, é necessário que você não vista uma capa por medo de você ser quem você realmente é.

Do outro lado da cidade, em um apartamento pequeno, Caio lavava a louça do jantar enquanto sua ti Márcia acendia um cigarro.

- O aluguel vence essa semana, você já tem o dinheiro – questionou Márcia ao tragar o cigarro.

- Ainda não. – respondeu Caio ainda lavando a louça.

- Caio preciso que você se comprometa a me dar esse dinheiro, a situação está complicada para nós dois e preciso de responsabilidade.

- Tia, você acha que eu não tenho responsabilidade? Eu estou me esforçando, tá legal? Não tenho culpa se o mercado está ruim lá fora, eu estou trabalhando no Life do senhor Aristóteles e vou ganhar um dinheiro para gente pagar esse aluguel.

- E a Noite do Gelo? Você irá participar?

- Sim, amanhã eu estarei lá.

- Ótimo, tenho certeza que você pode conseguir algo grande lá, pelo visto todos da high society vão estar presentes.

- Eu quero distância desse povo.

Henrique sentava num banco na sacada do seu quarto, enquanto Caio descia para a portaria do seu prédio, os dois admiravam a Lua e imaginariam como seriam as coisas daqui pra frente, os destinos dos dois estavam para ser ligados de uma forma inesperada...

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