Aprofundando Relações
Parte da série Pelos caminhos de Vênus
Apesar de ter me sentido um pouco frustrado com a sexualidade de Lucas eu me sentia muito bem tendo ele como amigo. Ele era aquele tipo de amigo que parece só existir em séries norte-americanas, estava sempre lá e não se importava muito com a opinião alheia no que dizia respeito a nossa proximidade.
Eu tive certeza disso em uma tarde de sexta-feira, onde ele defendeu a mim e o restante do grupo de uma forma que chegou a ser heroica. Em media uma vez no mês nós temos aula de biologia durante a tarde, isso porque a aula não cabe no horário normal da manha. Pode parecer terrível ter que perder uma tarde de sexta na escola todo mês (para falar a verdade é terrível), mas às vezes a aula é divertida.
Essa era uma dessas raras aulas interessantes. Não fazíamos praticamente nada, o professor passava uma matéria que ninguém copiava e permitíamos que conversássemos enquanto ele escrevia. Às vezes ele reclamava e pedia silencio, mas nada de mais.
Nesse dia minhas inimigas juradas (acho que todo gay tem as suas) estavam cantando. Elas estavam cantando uma musica ridícula, que ficava ainda pior com aquelas vozes de dromedário arrombado. Por sorte o professor teve piedade e disse:
- Vocês gostam de cantar?
- Sim!
- Então aprendam!
Eu não consegui me controlar e ri assustadoramente. Para ser sincero a praticamente a sala toda riu, afinal elas não são lá muito queridas. Mas como toda boa inimiga adivinhe só quem elas escolheram pra culpar?
Se a sua resposta foi a mim e meu grupo de amigos parabéns, resposta correta! Em questão de segundos elas conseguiram fazer uma cena de drama digna de uma premiação europeia, talvez até o Oscar. De meros risonhos descontrolados passamos a carrascos praticantes de bullying.
Como não tinham bons argumentos vieram com o clássico “façam melhor”. E bem, nós fizemos. Por acaso a Esther é uma cantora quase profissional (não é pra tanto, ela só canta bem). Ela cantou a musica “Pra não dizer que não falei das flores”, e ficou ótimo.
A Esther terminou a musica e todos, inclusive o professor, aplaudiram. Logo elas voltaram a reclamar, dizendo que aquela musica as impedia de aprender. Antes que o professor pudesse dar uma resposta Lucas disse que eram elas que não tinham talento, e deviam aceitar isso caladas. Um silêncio macabro pairou sobre a sala por alguns instantes, aquele não era o tipo de coisa que elas estavam acostumadas a ouvir. Estavam acostumadas a falsos elogios e um mundo banhado por uma falsa perfeição, onde a verdade era categoricamente proibida.
Finalmente a líder do bando (Marina) se pronunciou:
- Você é quem sabe, mas se escolher defender esse “povinho” não venha mais falar comigo.
- No momento não falar com você é um dos meu maiores sonhos.
O clima ficou um pouco tenso, afinal ninguém sabia ao certo o que os dois tinham. Já tinha dado pra perceber a existência de alguma antiga treta, mas ninguém tinha certeza de nada. A aula continuou sem mais delongas e ele não tinha se explicado.
Final de tarde ele convidou todos nós pra irmos ao shopping e disse que precisava se explicar. No final das contas apenas eu e a Lya fomos, a Esther foi fazer alguma coisa com a mãe e o cachorro dela.
Chegamos lá pedimos uma porção de batatas fritas e ele já foi logo começando a história. Disse que quando chegou à cidade ele conheceu a Marina, e no começo ela era sua única amiga aqui. Eles ficaram bastante próximos e acabaram tendo um caso, porém ela o traiu e eles terminaram logo no primeiro mês. Ele finalizou dizendo que estava um tanto quanto contente por estar solteiro, e que assim poderia pensar mais na própria felicidade. Vale ressaltar que ele disse isso dando uma olhada um incrivelmente forte pra Lya.
Terminado nosso lanche fomos dividir a conta. Começamos a separar e contar o dinheiro quando Lucas disse á Lya que ela não precisava pagar. Além de ficar um tanto quanto chocado senti um pouco de inveja (na verdade senti uma inveja descomunal). Tá, eu queria que ela fosse feliz, mas sei lá, era um pouco difícil assistir aquilo, ver que o cara mal tinha chegado e já estava afim dela, e ao mesmo tempo saber que as chances de algo do tipo acontecer comigo eram infinitamente menores, e ela tinha tudo isso sem esforço algum, simplesmente por ser uma garota. Não que eu quisesse me tornar uma, eu queria apenas um pouco daquela facilidade natural para atrair pretendentes.
Mas saindo dessa reflexão cansativa, a tola não quis aceitar e quase fez um barraco pra poder pagar a própria conta. Cheguei em casa mega cansado por tantas aulas e revelações de passados obscuros, tão cansado que nem percebi um pequeno detalhe...
Bem, por hoje é só espero que gostem.
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XoXo