Capítulo 5: Anatomia de Oliver

Conto de Junior_742 como (Seguir)

Parte da série Verão Em Vermont

É engraçado como funciona o nosso corpo. A dor, apesar de ser um fardo é algo de que nosso corpo necessita. Imagina se não existisse dor? Você nunca iria ao médico ao sentir uma dor que te incomoda tanto. A dor é uma forma do nosso corpo nos avisar que algo está errado. Se não sentimos dor, nós nunca vamos nos prevenir, nos medicar. Isso nos leva a morte.

Meu pai era a dor que sentia todos os dias. Sempre que pensava em fazer algo ele era a dor que me lembrava que essa escolha não estava em meu poder.

Ao chegar ao hospital me levaram para a emergência. Tobias me acompanhou de dentro da ambulância. Eu vi que ele já não era o mesmo. Ele parecia pensativo. Acho que foi porque ele viu as cicatrizes nas minhas costas. Ele deve ter ficado imaginando o que tinha causado aquilo.

Chegamos ao hospital e fui atendido na emergência. Os enfermeiros e médicos também ficaram horrorizados ao ver todas aquelas marcas. Por sorte, minha perna não havia quebrado e apenas levado um forte golpe.

Ficava em silêncio em meio a todos que me atendiam. Parecia uma cobaia. Ninguém falava diretamente comigo a não ser quando me faziam perguntas estranhas. Achava aquilo tudo engraçado porque era a primeira vez que ia a um hospital. Minhas doenças e ferimentos sempre foram tratadas em casa. Mesmo os mais graves.

Tobias estava ao longe pensativo. A todo momento alguém aparecia fazendo perguntas. Não sei bem o que ele estava respondendo e eu também pouco me importava. Senti meu coração acelerar ao pensar que nunca mais veria meu pai, mas ao mesmo tempo estava nervoso porque lembrei de minha mãe e de Jake.

Depois de todo aquele alvoroço me levaram até um quarto. Fiquei lá por um bom tempo. Nunca tinha sido tão bem tratado em toda a minha vida. Estava em uma cama quente, em um quarto só pra mim e a todo momento alguém aparecia e me perguntava o que tinha acontecido. Eu me recusava a falar. Por mais que eu estivesse longe dele eu ainda estava sob seu controle.

- como você está? – perguntou Tobias entrando no quarto.

- estou bem.

- você tem visitas.

- quem?

- sua família.

- meu pai também?

- sim – falou Tobias se aproximando – quer que eu os mande embora?

- não. Digam para entrarem. Só meu irmão e minha mãe.

- tudo bem.

Tobias saiu do quarto e eu respirei fundo. Minha mãe e Jake entraram e fecharam a porta.

- você está bem meu filho? – perguntou minha mãe se aproximando para um abraço.

- estou sim.

- o que aconteceu? Eles dizem que você não quer ver seu pai?

- eu não quero mãe.

- você vai ter o que merece em casa – falou Jake.

- Eu não vou voltar. Sinto muito, mas meu lugar não é mais lá. Eu me cansei de ter que pagar pelos pecados que eu não cometi.

Eu vi que Jake ficou transtornado ao me ver dizer aquilo.

- vocês também não precisam voltar. Vamos ficar juntos.

- eu não posso fazer isso – falou minha mãe com os olhos vermelhos.

- porque mãe?

Antes que ela pudesse responder nossa conversa foi interrompida quando a porta se abriu e meu pai entrou.

- o que está fazendo aqui? Eu disse que não quero te ver.

- o que você fez? Você não me respeitou.

- você não tem me respeitado desde que nasci. Nem ao Jake e nem a mamãe.

- Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá – falou meu pai se aproximando de mim.

- me perdoa pai – falei apertando o botão que chamava as enfermeiras. Ele não percebeu.

- você vai voltar para casa e terá sua punição meu filho – falou meu pai me abraçando.

Alguns segundos depois as portas se abriram.

- tirem ele daqui – falei para as enfermeiras – por favor.

Elas saíram e chamaras os seguranças. Tobias veio com eles.

- por favor senhor. Queria se retirar – falou um dos seguranças. Ele era amigo de meu pai. Como eu disse: meu pai era um homem conhecido e influente na cidade. Todo esse tempo ele havia cultivado amizades. Meu pai então se retirou.

- Stella, Jake venham.

Jake saiu sem pestanejar e minha mãe deu um beijo no meu rosto antes de sair as pressas.

- você está bem? – perguntou Tobias.

- estou sim – falei mais calmo.

- me desculpe – falou Tobias – ele não devia ter entrado.

- tudo bem – falei sorrindo.

- porque está sorrindo?

- não sei. Nunca imaginei que as pessoas fossem tão bem tratadas quando iam ao hospital.

- você nunca veio antes?

- não – falei coçando o nariz.

Eu vi que ele hesitou. Ele tinha uma pergunta na ponta da língua, mas tinha vergonha de perguntar.

- com licença – falou um homem batendo na porta. Era o detetive Holloway, o que tinha ido até minha casa noutro dia.

- pode entrar – falou Tobias.

- o que está fazendo aqui?

- com licença Sr. Maxfield, mas eu preciso fazer algumas perguntas.

- quais?

- vou deixar vocês a vontade – falou Tobias saindo da sala.

O detetive fechou a porta do quarto e se aproximou.

- o que aconteceu na sua casa? Porque pulou a janela do seu quarto? – ele estava com um bloco para anotar o que eu dizia.

- meu pai é um homem muito rígido Detetive Holloway, os seus métodos para a criação dos filhos são medievais. Eu sei porque eu aprendi isso no colégio. Mesmo assim eu aguentei tudo o que ele me fez, mas hoje decidi pensar por mim mesmo. Eu pulei aquela janela porque não queria mais sofrer seus abusos.

- OK, pode me dizer que tipos de abusos? O relatório médico diz que você tem ferimentos nas costas e nas nádegas. Marcas parecidas com as que os prisioneiros na Malásia tem. Feridas feitas por vários golpes com…

- bambu – falei completando a frase – meu pai tem vários guardados no sótão. Ele sempre nos bate quando nos desrespeitamos. Ele faz o mesmo com minha mãe.

O Detetive parecia interessado no que eu dizia, mas não anotou nada.

- você não devia estar tomando nota?

O detetive guardou a caneta e o bloco.

- sabe o que eu acho? Acho que está inventando. Está fazendo acusações levianas. Eu conheço seu pai a quinze anos.

- acho que não existe lugar nessa cidade para onde possa correr não é mesmo? Em todo lugar haverá alguém que acreditará em meu pai e não em mim.

- seu pai é um homem exemplar. David apresentou minha esposa. Se não fosse por ele eu não teria família. É difícil de acreditar que ele tenha feito isso com você. Duvido que ele bata na esposa. Ele sempre foi um homem bom desde que se mudou para Vermont.

- eu vivo com meu pai desde que nasci e nem eu o conheço, como você pode dizer que o conhece só pelo o que ele fazem público?

- quer saber? Não vou mais gastar meu tempo. Você deve ser um garoto mimado que se cansou de ficar na casa do papai e agora quer chamar a atenção. Vai por mim. É melhor parar com esse teatrinho agora. Ninguém vai acreditar em você.

O detetive saiu do quarto e eu fiquei lá sem palavras. O que eu deveria fazer? Estaria eu encurralado? Para onde iria?

Deitei-me um pouco para descansar. Minha perna ainda doía. Pouco depois que o detetive se foi Tobias voltou a entrar no quarto.

- contou tudo o que sabia?

- contei.

- que bom – falou ele colocando a mão no meu braço. Eu levei um susto e me movi para o lado.

- desculpa – falou ele se afastando – não queria… esquece.

- Não quero voltar para casa. Tenho medo dele.

- do seu pai?

- sim – falei sentindo um frio na barriga – e se ele não acreditasse e me tratasse do mesmo jeito que o detetive?

- foi ele quem te machucou desse jeito?

Não respondi nada.

- pode me dizer. Não vou dizer a ninguém.

- meu medo é que você não acredite.

- porque eu não acreditaria? Porque mentiria sobre isso?

- o detetive não acreditou. Ele disse que conhece meu pai.

- como é que é? – Tobias pareceu irritado – bem típico de Vermont. Quando você precisa da ajuda a policia não faz nada.

- o que vou fazer?

- primeiro vai me contar. Foi ele que te machucou assim?

- foi.

- porque?

- ele é um pai rígido.

- isso não é ser pai. Isso é ser monstro. Isso é um abuso. Você sofre isso desde quando?

- desde os oito.

- não acredito que existam pessoas como ele.

- tenho medo que ele faça algo a meu irmão e a minha mãe.

- não se preocupe com eles. Preocupe-se com você. Você sofreu um trauma muito grande em sua vida. Nenhuma criança deve passar pelo o que você passou. Isso não é amor. Isso não é amar. Isso é ser autoritário. Ele não tinha e não tem o direito de fazer o que fez a você.

- o que posso fazer? A policia não acredita em mim e eu não tenho para onde ir. Vivi a vida toda com um pai que odeia negros e gays. Um pai que tentou enfiar um cabo de vassoura em mim. Tudo em nome de deus.

Tobias ficou pensativo por alguns minutos.

- posso te fazer uma pergunta pessoal?

- pode.

- por acaso você… você gosta de homens?

- não – respondi curto e grosso Sabia muito bem como os homossexuais eram tratados – meu pai em contou como os gays são tratados. Todo mundo acha nojento.

- você precisa saber que o mundo mudou. O mundo não pensa como ele. É claro que infelizmente existem pessoas como ele, mas são poucas.

- difícil de acreditar. Tudo o que sei é que depois que sair daqui não tenho lugar para onde ir.

- você pode ir para minha casa.

Aquilo foi uma surpresa.

- você me levaria?

- claro. Afinal você está precisando de uma reeducação.

- nossa… Estou surpreso com isso.

- não precisa se preocupar com seu emprego. Ele estará te esperando quando melhorar.

- obrigado – falei agradecendo-o muito.

- por nada – falou ele com um sorriso.

É claro que estava nervoso. Estava longe da minha família. Pode parecer bobo, mas era estranho estar longe deles, mas eu estava pronto para minha reeducação.

De alguma forma sentia que minha anatomia era diferente das dos demais. Onde devia estar meu coração estava uma pedra de gelo. A única parte real minha era onde estava machucado, porque era o s únicos lugares onde conseguia sentir algo. Eu estava vinte e quatro horas por dia anestesiado. A única coisa que conseguia sentir era medo. E eu sentia a todo momento. Afinal deus estava comigo o tempo todo e segundo meu pai ele me odeia nesse momento. Espero que ele esteja errado.

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Haverá mais um capítulo hoje. Abraços.

Comentários

Há 6 comentários.

Por AnônimoFf_FFf em 2014-11-07 00:15:42
Porcaria. Sinceramente não sei porque você ainda insiste em continuar. Ninguém gostava de paixão secreta, um personagem que tranza com vários homens é sempre odiado. Em paixão secreta todo era gay. sua cavbeça é de gente doente e precisa de tratamento. Esse conto de verão em vermont tá tão chato. o personagem se faz de vitima o tempo todo. quer meu conselho? pare de escrever. chega dessa bosta, chega dessas histórias flopadas e ruins. Não sou só eu. Todo mundo aqui do site ta comentando que ta ruim e TODO MUNDO DO SEU GRUPO também. Isso mesmo, eu estou no grupo do whatsapp. Estou lá de olho em tudo. Sinceramente, pare de passar vergonha, pare de escrever e publicar assim todo mundo fica mais feliz. exclui logo esse grupo no whats que tá uma tristeza só. você é patético
Por dfc em 2014-10-22 10:28:10
Bommmmmmmm d±
Por Nicksme em 2014-10-22 00:29:52
Detetive idiota. O Ollie precisa se mudar dessa cidade.
Por indieboy em 2014-10-21 20:21:08
👏👏 muito bom! parabéns 👏👏
Por BielRock em 2014-10-21 19:47:19
Amei o de hoje . Espero por mais e mais .
Por fran em 2014-10-21 19:27:00
mmau posso esperar pelo proximo. também sou chamado de frio por alguns amigos, pelo simples fato de não me emocionar dramaticamente com algo. o medo pode nos conduzir a lugares que pedem escolhas rápidas. encara-lo é difícil e até mesmo impossível dependendo do que alimenta o medo. bjão até o proximo.