Capítulo 32: Melancolia

Conto de Junior_742 como (Seguir)

Parte da série Verão Em Vermont

Era sexta-feira. Faltava um dia para a festa. Os acontecimentos da noite passada me fizeram duvidar da minha sanidade e eu tenho certeza que as pessoas a minha volta também. Senti uma dor na perna assim que acordei ainda de olhos fechados.

Abri os olhos de vez e olhei para o teto. Algumas coisas que aconteceram na noite passada agora erma um borrão. A maioria das coisas estavam desordenadas em minha cabeça. Foi pensando nisso que me lembrei de Kurt e tudo o que tinha acontecido. Olhei para o lado na cama e ele não estava, me sentei rapidamente e pensei que talvez tudo aquilo tivesse sido um sonho, mas meu nariz doía e eu vi o boné dele em cima do criado mudo ao lado da cama.

Ouvi alguém rindo e me levantei devagar e fui até a porta e vi Amy e Kurt sentados conversando enquanto tomavam café da manhã. Era ele. O homem que tinha me ajudado ontem.

Voltei para a cama e me deitei. Decidi ficar lá deitado por mais um tempo. Estava envergonhado por tudo o que tinha acontecido e as perguntas começariam. Uma boa noite de sono era tudo o que precisava.

Fechei os olhos e mais uma vez aquelas imagens vieram a minha cabeça. Tobias me batendo, David me mandando tirar a roupa para me bater e Marshall perguntando se o gosto de seu néctar era bom. Todas as coisas que tinham acontecido por decisões erradas. Algumas decisões tinham sido minhas e outras não, mas estava arrependido das que tinha tomado em relação a Marshall em especial.

Continuei lá deitado pensando na vida e no que faria quando alguém abriu a porta. Senti um calafrio na espinha e vi o homem parado na porta junto com Amy.

- bom dia – falou Amy. Ela parecia assustada e preocupada imaginando se eu ainda estava em estado de choque devido aos acontecimentos ou se eu estava melhor.

Hesitei antes de responder. Fiquei encarando ela e Kurt.

- bom dia – respondi de uma vez sem demonstrar expressão facial. Eu sabia que eles me bombardeariam com perguntas.

- você está bem? – perguntou Amy.

- estou sim – falei me sentando na cama.

Ela ficou me encarando junto com Kurt. Eu coloquei a mão no rosto.

- eu estou muito feio? – perguntei tocando meu rosto que agora estava desinchado, mas com certeza roxo.

- não claro que não – respondeu Kurt se aproximando e se sentando na cama.

- o que aconteceu com você? – perguntou Amy.

Respirei fundo, mas não respondi.

- não precisa responder – falou Kurt – seja lá o que tiver acontecido você não precisa falar sobre. Não agora.

- eu posso falar.

- tem certeza? – perguntou Amy.

- tenho.

- quem te machucou desse jeito? Foi o seu pai?

- não, foi o Tobias.

- Tobias? – perguntou Amy surpresa.

- você sabia que ele era alcoólatra? – perguntei olhando direto para Amy – não minta pra mim porque ele estava bêbado quando fez isso em mim.

- não Ollie. Eu não sabia. Eu nunca imaginaria que ele…

- então não tinha jeito de impedir isso.

- você quer que eu chame a policia? – perguntou Kurt.

- não precisa.

- tem certeza? Você não pode ficar com medo de denunciá-lo.

- eu não tenho medo. Não sinto medo a muito tempo em minha vida. Eu só não quero denunciá-lo.

- tudo bem então – falou ele ainda sentado na cama.

- o que você ainda faz aqui?

- eu… - falou Kurt olhando para Amy e depois para mim – eu só achei que você gostaria de ter companhia quando acordasse. Se você quiser eu posso ir embora afinal parece que você está bem.

- se você quiser ir pode ir.

- então eu vou – falou ele se levantando.

- obrigado por ter me ajudado ontem.

- não foi nada – falou ele estendendo a mão para que eu apertasse e eu vi a marca de unha que eu fiz no pulso dele. Eu levei minha mão até a dele e apertei e em seguida eu levei minha outra mão e segurei o braço dele alisando a ferida.

- me desculpa por isso.

- não foi nada – falou ele sem graça – essas coisas acontecem e pra falar a verdade não doeu.

- me desculpa mesmo assim.

- tudo bem – falou ele puxando de leve o braço.

Kurt e Amy saíram do quarto e eu continuei lá, mas eu voltei a me deitar. Não estava com ânimo de sair da cama.

Depois de vários minutos Amy entrou no quarto novamente.

- como você está de verdade?

- ele já se foi? – perguntei quando ela entrou.

- foi sim – falou ela se sentando na cama – não mude de assunto, eu quero saber como você está.

- estou péssimo. Cansei de dizer que estou bem sendo que na verdade não estou.

- sabe Ollie, eu realmente sinto muito eu nunca pensei que Tobias pudesse fazer isso com você.

- ao que parece eu nasci para apanhar de homens.

- não diga isso.

- é a pura verdade. Todo homem que entra na minha vida me bate e me machuca de maneira inimagináveis.

- você vai ficar bem. todo mundo passa por fases sombrias em suas vidas.

- parece que minha vida é sombria por inteiro.

- sei que vai parecer clichê, mas tudo vai ficar melhor. Você só precisa acreditar nisso.

- eu gostaria muito de dizer que acredito, mas eu estaria mentindo.

- por acaso aconteceu algo entre você e seu pai biológico?

- não.

- tem certeza?

- tenho, não se preocupe com isso.

- tudo bem – falou ela ainda sentada na cama

- eu gostaria de ficar sozinho – falei ainda deitado.

- tem certeza Ollie? Você passou por tanta coisa, acho que o melhor é você ficar rodeado de pessoas.

- parece que todo mundo sabe o que é melhor pra mim, exceto eu mesmo.

- você ainda vai na festa amanhã?

- nem se eu quisesse eu poderia. Minha cara está toda machucada. Todo mundo vai ficar me encarando e além do que eu não fui feito para ir a festas. Parece que meu destino é ficar deitado nessa cama pra sempre.

- se você não vai eu também não vou. Eu vou ficar aqui.

- você precisa ir Amy. Não precisa ficar aqui comigo. Eu vou ficar melhor se você for. Eu vou só ficar deitado.

- tudo bem, se você prefere que eu vá.

- eu prefiro – falei ainda deitado.

- vou dar uma saída, você vai ficar bem sozinho?

- vou sim.

- tudo bem então, vou deixar você em paz – falou ela saindo do quarto me deixando.

Amy se foi e eu fiquei lá deitado em uma profunda depressão pensando em tudo o que tinha dado errado na minha vida. Aquele sentimento de mal estar foi me possuindo cada vez mais e eu senti um aperto no peito. meus lábios tremeram e eu fechei forte os olhos. O relógio no criado mudo marcava quase uma hora da tarde e Amy não tinha voltado. Na verdade não me importava com nada naquele momento e em tudo o que pensava era a vontade de acabar com minha própria vida eu sei que não doeria nada que eu passasse uma lâmina afiada no pulso.

Fechei os olhos e acabei dormindo pouco pensando nisso. Pelo menos dessa forma eu não me sentiria um lixo tão grande.

Estava dormindo e tendo um pesadelo horrível. Quem me dera fosse apenas um pesadelo era mais como uma lembrança reprimida de David me batendo. Acordei suado e ofegante. O quarto estava escuro. Me sentei na cama e olhei em volta. O relógio agora marcava pouco mais das cinco da tarde.

Ouvi um barulho vindo do lado de fora e fiquei tentando adivinhar o que era, mas não consegui.

- Amy é você? – perguntei curioso e amedrontado ao mesmo tempo. Nesse mesmo instante eu me lembrei da invasão na casa de Dr. Marshall. Seria possível que a pessoa que tinha me enviado aqueles recados na pedra estivesse lá dentro?

Me levantei bem devagar da cama e fui andando até a porta e eu a abri bem devagarinho e olhei pela fresta e não vi nada de anormal. Isso me deu mais medo ainda. Abri a porta de uma vez e percebi que não tinha ninguém. Sai do quarto dando passos leves e foi quando levei um susto.

- Jake? – perguntei vendo ele pendurando um quadro.

- Ollie! – falou ele vindo até mim e me abraçando.

- o que está fazendo aqui?

- Amy me ligou e me contou o que aconteceu com você.

- ela te contou?

- sim. Espero que não se importe.

- na verdade… - falei respirando fundo – você me assustou.

- me desculpa, mas é que Amy me pediu para colocar um prego nessa parede para pendurar um quadro.

- onde Amy está?

- ela foi ao mercado. Nós vamos fazer um jantar.

- porque você está aqui? Porque Amy te ligou?

- ela não te contou?

- contou o que?

- nós estamos saindo.

- você e Amy?

- sim.

- você era o encontro que ela tinha ontem a noite?

- sim era eu mesmo.

- porque ela não me contou?

- ela não te contou?

- pelo menos eu não me lembro dela dizer que era você. Acho que me lembraria se ela dissesse que tinha um encontro com meu irmão.

- você está com raiva por ela não ter te contado sobre nós?

- tudo o que posso sentir desde que acordei é raiva de todos e de todo mundo inclusive de mim mesmo.

- não se sinta dessa forma – falou ele olhando para meu rosto.

- porque você está me encarando?

- porque Amy não me contou quem fez isso com você.

- ela fez bem. eu não quero que ninguém saiba que isso aconteceu. Nem você nem ninguém.

- OK – falou ele respirando fundo – se eu puder fazer qualquer coisa por você…

- não, eu estou bem.

- você vai na festa amanhã?

- não.

- OK.

- acho que vou me deitar outra vez.

- tem certeza? Não quer ficar aqui e conversar?

- eu não quero que ninguém mais me veja desse jeito. Nem você, nem Amy e nem outra pessoa.

- OK – falou Jake me vendo entrar no quarto e fechar a porta. Eu me deitei novamente e mais uma vez fechei meus olhos. Me sentia desanimado como se nada mais pudesse me fazer feliz. A Melancolia preencheu meu corpo e me levou mais uma vez para um pesadelo onde David me batia.

--------------------

Até o próximo capítulo!

Comentários

Há 1 comentários.

Por guto ferreira em 2015-01-03 03:19:39
Cada dia melhor 😊 to ansioso pelo prox capítulo. Uma pergunta vc pretende continuar paixão secreta? (eu n terminei de ler ainda)