Capítulo 29: Coração de Vidro

Conto de Junior_742 como (Seguir)

Parte da série Verão Em Vermont

No dicionário a palavra Êxodo é usada para definir uma farsa. Geralmente na tragédia grega. O uso dessa palavra é empregado dessa forma a anos. Nos tempos modernos os adolescentes cheios de hormônios e apaixonados dos Estados Unidos começaram a usar a expressão “Sexodus”. A junção da palavra ‘Sexo’ (sex) com ‘Êxodo’ (exodus).

Essa expressão define basicamente quando o parceiro, após o sexo, muda a personalidade. Todo o amor e paixão que aconteceu antes do ato sexual desaparece e o outro parceiro ou parceira descobre que tudo não passou de uma farsa apenas para conseguir sexo. Todos os “eu te amo” não valeram de nada.

É difícil você gostar de uma pessoa, se entregar a ela e descobrir que ela estava tocando, amando e se enroscando com outra. Nunca pensei que chegaria a esse ponto em minha vida. Nunca pensei que um dia poderia sentir tal coisa, sentir tal sentimento. A alguns meses atrás pensei que as únicas coisas que poderia sentir era dor e arrependimento, mas muitas coisas mudaram de lá para cá e decisões foram tomadas. Decisões das quais me arrependo profundamente.

Havia chegado a noite. O relógio marcava pouco mais dás sete. O neurocirurgião Dr. Victor Reveley estava na casa da Amy conversando com ela na sala enquanto eu me arrumava. Ele tinha ido me buscar. Eu não disse a ele que não morava mais com meu pai, eu apenas disse que tinha ido me arrumar na casa de uma amiga, no caso, Amy.

- e então Amy? Como Oliver está? – perguntou Victor para Amy quase cochichando. Ele aproveitou que estava no quarto se arrumando para poder fazer perguntas.

- ele está bem – falou Amy se sentindo um pouco incomodada com a pergunta afinal ela mal conhecia aquele homem.

- não me entenda mal – falou Victor – não estou perguntando no intuito de me intrometer na vida de Oliver. Só quero saber se ele está bem fisicamente e mentalmente. Incluindo o sequestro e a cirurgia.

- OK – falou ela respirando fundo – ele está bem. Eu conheço Oliver a muito tempo e se ele estivesse mal eu saberia.

- que bom, fico feliz por ele.

- ele anda meio estranho sabe, depois que ele brigou com o pai dele. Fiquei surpresa. Ele nunca me disse ao certo o que aconteceu, mas ele está morando comigo agora, então deve ser algo sério.

- espera… - falou Victor se arrumando no sofá – Oliver e o Dr. Marshall brigaram?

- sim – falou Amy parecendo preocupada – você não sabia? Meu deus… eu não devia ter dito. Por favor não conte para ninguém e não comente com Ollie. Ele vai me matar se descobrir que eu comentei isso com você.

- não se preocupe, não vou comentar com ninguém.

- obrigada – falou Amy – acho melhor eu ficar calada de agora em diante porque se não vou acabar falando mais do que eu devo.

Victor concordou com a cabeça e eles continuaram a me esperar.

Assim que terminei de me arrumar sai do quarto. Victor tinha me trazido um terno. Era a primeira na vida que usava um.

- e então? Vesti certo? – perguntei quando cheguei a sala. Estava vestido com o terno e com os sapatos. Eu segurava a gravata em minha mão porque não sabia dar nó.

- ficou perfeito – falou Victor se levantando – só falta a gravata.

- você vai dar o nó?

- sim – falou ele pegando e passando em volta do meu pescoço e em seguida dando um nó – eu também sempre tive dificuldade em dar o nó em gravatas, mas minha esposa sabe cinquenta maneiras diferentes.

- você está um gatão – falou Amy para mim.

- vai me deixar vermelho – falei envergonhado – me sinto estranho usando essa roupa.

- vamos indo? – perguntou Victor.

- vamos – falei apalpando o bolso para ter certeza de que o papel do discurso estava em meu bolso.

- tem certeza de que não quer ir Amy? Você vai ficar bem sozinha?

- vou sim. Na verdade eu estou esperando companhia.

- sério? De quem?

- na verdade eu preciso…

- vamos indo – falou Victor – falta só trinta minutos.

- então vamos.

- boa festa pra você – falou Amy.

- pra você também – falei me despedindo outra vez e saindo com Victor.

Estava muito nervoso e a cada minuto que passava mais nervoso eu ficava. Entramos no carro e seguimos viagem para o hospital.

- preparou seu discurso – perguntou Victor.

- preparei sim. Acho que ficou bom.

- tenho que certeza que ficou.

- bom, na verdade nem fui eu que escrevi. Foi uma amiga. Eu estava meio que sem inspiração.

- sem inspiração? Você foi sequestrado, torturado e fez uma cirurgia cerebral. Quando você pensou que tudo estava acabado, sue pai aparece e te salva. Como você ficou sem inspiração?

Eu olhei para fora do carro e respirei fundo.

- é verdade. Ele me salvou. Eu devo minhas vida a ele – falei cabisbaixo.

- me desculpa Ollie, eu não devia ter dito isso.

- não, tudo bem. Afinal ele salvou minha vida.

- me desculpa é que Amy me disse…

- o que a Amy te disse?

- ela não teve a intenção, ela pensou que eu sabia.

- sabia sobre o que?

- sobre o fato de você e seu pai estarem brigados e você morar com ela.

- não era pra você saber eu só…

- o que aconteceu Ollie? Ele te fez alguma coisa?

- por favor Victor, não leve isso para o lado pessoal, mas não é da sua conta.

- é sim. É da minha conta. Você se calou por tantos anos e sofreu muito. Talvez se houvesse alguém para se intrometer você não tivesse sofrido tato. Todo mundo estava tão confortável com sua vida que nem notou o que você sofria então não, não é da minha conta, mas eu vou me intrometer do mesmo jeito. Ou você me conta ou eu vou perguntar direto para o Dr. Marshall.

- me desculpa, não quis ser mal educado.

- não se desculpe, apenas me conte.

- sim, aconteceu algo entre meu pai e eu, mas agora está resolvido.

- tem certeza?

- não precisa se preocupar. Afinal eu já não moro mais com ele.

- tem certeza?

- tenho sim. O que aconteceu não é tão grave e além do mais nós continuamos sendo pai e filho, certo? Eu sei que apesar do que aconteceu nós dois ainda nos amamos.

- OK – falou Victor – vou confiar em você.

- obrigado.

Nós seguimos o resto da viagem em silêncio. Nós saímos do carro e entramos no hospital.

- onde está Dr. Marshall? – perguntou Victor para o enfermeiro na recepção.

- está em uma reunião falsa na sala dele. Estamos arrumando todo o andar. Ele só sai da reunião ás oito da noite.

- você precisa ficar escondido – falou Victor para mim – vamos para o quarto andar.

Victor e eu entramos no elevador e ao chegarmos no quarto andar vimos que o local estava preparado. Uma faixa dando os parabéns ao Dr. Marshall e vários balões pretos e prateados e alguns em azul claro.

Nós seguimos até uma sala.

- fique aqui dentro a quando te chamarmos OK?

- OK – falei nervoso.

- até daqui a pouco – falou ele saindo e fechando a porta.

Eu fiquei lá lendo mil vezes o poema que Helena tinha escrito para mim. Estava muito nervoso, mas senti que estava pronto. Agora era só esperar eles me chamarem.

A sala onde estava ficava logo atrás. Dava para ver todo o local. Decidi abrir um pouquinho a porta para ver quando ele chegasse.

Alguns minutos se passaram e logo em seguida eu vi meu pai saindo do elevador.

- SURPRESA! – gritaram todos no andar.

Meu pai saiu de lá com um enorme sorriso no rosto. Todos o cumprimentavam dando os parabéns. Alguém entregou uma taça para ele e em seguida encheu com um champanhe.

Em seguida todos começaram a cantar os parabéns para ele. Todos bateram palmas e no final todos assoviaram e em seguida começaram a gritar por discurso.

Meu pai deu um sorriso e em seguida ficou na frente da multidão, subindo três degraus da escada.

- obrigado a todos por isso – falou meu pai com a taça de champanhe na mão – eu realmente não esperava por isso, mas… isso não importa. Eu estou muito feliz com isso. Muita coisa aconteceu nesse último ano que passou. Coisas boas e coisas ruins. A morte da minha esposa é uma dessas coisas ruins.

Todos ficaram em silêncio por um bom tempo.

- Bethany era uma mulher esplêndida e me apoiou acima de tudo. Ela era o tipo de pessoa que você gostava de estar porque ela deixava bem, mesmo quando tudo ao seu redor fosse péssimo.

Algumas pessoas se emocionaram com essas palavras.

- como todos sabem coisas boas aconteceram comigo.

- deixa eu adivinhar – falou Victor – você conheceu uma pessoa especial.

- exato – falou meu pai – uma pessoa especial que tem um lugar reservado no meu coração, mas infelizmente não está aqui hoje – falou meu pai.

- ele está aqui hoje – falou Victor.

- está? – perguntou meu pai.

- sim – falou Victor se virando e andando até onde eu estava. Ele deu passos vagarosos enquanto meu pai olhava por todos os lados procurando alguém.

- ali está ele – falou meu pai.

Antes de abrir a porta onde eu estava Victor olhou para trás e percebeu que a pessoa especial que meu pai falava não era eu e sim Matteo.

Victor ficou na minha frente, mas eu abri a porta do por completo ficando ao lado de Victor. Matteo subiu os degraus também com uma taça de champanhe e ao chegar perto do meu pai ele deu um beijo na boca dele. Três selinhos e todos aplaudiram.

- Matteo me ajudou muito nesses dois últimos anos.

- o que? – perguntei confuso. Meu pai continuou fazendo o discurso sem perceber que eu estava lá ao lado de Victor vendo tudo.

- você não sabia? – perguntou Victor para mim.

Por alguns segundos eu não respondi nada. Fiquei em silêncio.

- sabia – falei mentindo.

- Dr. Marshall, a pessoa especial a qual me referia é Oliver – falou Victor alto. Nesse momento todos olharam para trás para me ver. Mau pai olhou para mim e o sorriso do seu rosto desapareceu.

Agora eu entendia o porque dele ter tanta raiva ao saber que eu fui ao hospital. Ele não queria que eu soubesse que ele e Matteo namoravam. Ele me fez acreditar que era um homossexual preso no armário quando na verdade ele é assumido em um relacionamento de dois anos.

Todos começaram a bater palmas, mas ao invés de me verem ir até meu pai eles me viram sair pelas escadas de incêndio.

Estava chocado. Era pior do que eu podia imaginar. Meu pai tinha me usado como um boneco de pano. Ele sabia que eu era um garoto vulnerável que tinha tido uma infância traumatizante, mas ao invés de me ver com um filho que ele podia me amar ele viu uma foda fácil.

- Oliver! – gritou meu pai nas escadas descendo atrás de mim.

Nesse momento desci as escadas muito mais rápido do que ele. Eu pulava os degraus contando os segundos para que chegasse no térreo.

Quando finalmente cheguei eu sai pelo saguão do hospital em passos rápidos. Nesse momento ouvi o barulho do elevador chegando no andar e de lá saiu Victor.

- Oliver você está bem?

Eu então corri para fora. Para a minha sorte tinha um taxi passando na mesma hora e eu levantei o braço e ele parou. Eu abri a porta rapidamente e entrei. Olhei para o lado e vi meu pai e Victor correndo para fora do hospital.

Respirei fundo e dei o endereço de Tobias para taxista que saiu rapidamente. Minhas mãos tremiam. Respirei fundo e pensei no que Dr. Marshall tinha feito. Ao meu ver ele tinha sido tão cruel quanto David. Pelo menos David não me enganava. Ele era verdadeiro. Dr. Marshall tinha me feito de idiota.

Não sabia bem o que fazer depois daquilo, mas precisava conversar com alguém. Tobias era a pessoa mais íntima que tinha naquele momento. Amy estava em um encontro nesse momento e eu não queria atrapalhar ela.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Léo Allen em 2014-12-29 15:26:30
Poxa, sacanagem do Dr. Marshall, como ele pode usar o Ollie assim. As coisas estai ficando piores do que eu achei que ficaria. Adorei, beijos.