Capítulo 22: Eu Sou Deus

Conto de Junior_742 como (Seguir)

Parte da série Verão Em Vermont

Abri os olhos devagar. A noite passada eu tinha sido bem tratado pelo Doutor Marshall, que também é meu pai. Minha mão continuava repousada em seu peito. Respirei fundo me lembrando da noite passada. Tentei sentir o cheiro do homem que tinha cuidado de mim na noite passada, e dessa vez senti. Ao contrário do dia anterior, dessa vez meu pai estava deitado comigo. Era muito bom tê-lo junto comigo.

Olhei no relógio e ele marcava quase dez da manhã. Meu pai geralmente trabalhava ás oito.

- pai! – falei passando a mão na barriga dele tentando acordá-lo.

- o que foi? – perguntou ele acordando assustado.

- o senhor está atrasado para o trabalho.

Ele olhou para o relógio.

- não tem problema – falou ele com um sorriso – eu sou o cirurgião-chefe, isso me traz alguns benefícios.

- não tem cirurgias hoje de manhã?

- não – falou ele beijando meu rosto – hoje só vou trabalhar depois que fizer um almoço bem gostoso pra você.

- o senhor não precisa fazer isso. Eu mesmo faço meu almoço todos os dias.

- porque? Não quer almoçar com o pai?

- claro que quero. Só não quero te atrapalhar.

- não atrapalha – falou ele se sentando na cama.

Me sentei junto com ele e deitei minha cabeça em seu ombro.

- no que está pensando – perguntou meu pai.

- não é nada.

- pode dizer. Não esconda nada de mim.

- será que as pessoas nos aceitariam?

- como assim? – perguntou meu pai surpreso.

- será que as pessoas aceitariam se soubessem o que fazemos?

- você pensa em contar? – perguntou meu pai parecendo desesperado e muito surpreso.

- Não, é só que se por acaso eu comentar com a Amy, que é uma amiga muito próxima…

- Oliver – falou meu pai segurando meu rosto entre suas mãos – você não pode contar pra ninguém. É sério. As pessoas nunca nos aceitariam. Você não pode contar para ninguém. Nem para sua melhor amiga.

- tudo bem, eu não conto.

- Ok – falou ele parecendo mais tranquilo.

- o senhor nunca pensou mesmo nisso? Quer dizer, eu gosto muito do senhor e não teria problema em contar para ninguém.

- eu nunca pensei nisso. Ninguém pode saber. Eu sou médico, isso pode destruir toda a minha carreira e acabar com a minha reputação e além do mais ninguém nos aceitaria.

- desculpa insistir nesse assunto, é apenas uma hipótese, se o senhor não fosse médico o senhor pensaria em assumir?

- talvez – falou ele se levantando – não vamos falar sobre isso – falou ele se levantando – eu vou tomar um banho – falou ele se dirigindo pelado para fora do quarto.

Achei estranho aquela conversa. Eu sei que existe tabu em torno disso e que deveria ficar em segredo. Eu não tenho problema que fio que me segredo, mas por algum motivo achei estranho o modo que meu pai tratou esse assunto.

Me levantei e também tomei um banho. Quando sai do banheiro, vesti minha roupa e meu pai estava na cozinha fazendo o almoço.

- o cheiro está bom – falei me sentando a mesa.

- finalmente você vai comer minha comida já que na noite passada tive que jogar tudo fora.

- pois é – falei respirando fundo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Meu pai foi até a geladeira e pegou alguns tomates, cebolas e pimentão amarelo. Ele colocou o avental e pegou uma faca.

- sabe Oliver – falou meu pai cortando tomates – eu estava pensando… quando estivermos na cama…

- pode falar pai.

- OK – falou ele respirando fundo – não se sinta ofendido com o que vou dizer.

- não vou. Pode dizer.

- estava pensando que… quando estivermos na cama, talvez fosse melhor você não me chamar de pai ou papai. Me chame apenas pelo nome. Do mesmo jeito eu não vou te chamar de filho eu te chamo de Oliver. Pode ser?

- OK. Pode ser.

Aquela conversa na cama com meu pai tinha me perturbado um pouco. Sei que pode parecer bobeira, mas eu conhecia um pouco o amor. Uma pessoa deve estar sempre disposta a fazer algo pela outra. Um homem que não quer ter filhos, deve estar disposto a mudar de idéia caso se case com uma mulher que queria ter filhos.

Uma mulher que não quer se casar deve mudar de idéia caso encontre um homem que proponha casamento. Um casal deve estar sempre cedendo. Mesmo que nunca aconteça.

Eu estaria disposto a assumir meu romance com meu pai. Mesmo que aquilo significasse ter que mudar de cidade e começar a vida em outro lugar, mas meu pai não estava disposto a fazer o mesmo. Pelo o que meu pai disse, assumir para alguém nosso romance era como o fim do mundo.

Eu estaria disposto a contar para Amy sobre meu romance com meu pai, mas meu pai não queria que ninguém soubesse. Era como se ele mesmo não aceitasse o que estava acontecendo entre nós. Era como se ele tivesse vergonha. É como se ele me quisesse, mas ao mesmo tempo ele estava relutante.

É como se ele me quisesse mais como homem do que como filho. Aquilo me perturbava um pouco porque eu precisava mais de um pai do que de um homem. Sei que nós não tivemos a relação entre pai e filho, mas nós poderíamos ter no futuro. Como meu pai é também meu amante eu pensei que o nosso amor se completasse, mas ele estava escolhendo um dos dois. Agora ele me diz que quer um filho fora do quarto e um amante na cama. Quanto tempo vai levar para que ele queira um amante fora da cama também?

Apesar de tudo eu estava disposto a ceder um pouco. Quem sabe ele não mude de idéia no futuro.

Durante o almoço nós comemos em silêncio.

- está gostoso?

- muito – falei sem olhar para ele.

- que bom. Eu sei que não sou um ótimo cozinheiro, mas fiz o meu melhor.

- não precisa se preocupar, está muito saboroso.

- você ficou com raiva pelo o que eu disse?

- não senhor.

- tem certeza? Estou te achando muito distante desde a hora em que comentei sobre…

- eu estou bem – falei forçando um sorriso – não estou bom raiva.

- que bom. Não quero que faça nada que não queira. Você é meu filho além de tudo. Só não quero que seja meu filho no quarto.

- tudo bem – falei continuando a comer sem olhar para ele.

Percebi que meu pai queria dizer mais alguma coisa, mas ele desistiu e continuou a comer.

Eu realmente não estava com raiva dele eu só estava pensativo. Pensando sobre tudo o que tinha acontecido desde o dia em que cheguei naquela casa.

Depois que nós comemos eu me levantei e lavei as louças. Meu pai ficou sentado na cadeira me observando por um tempo e depois ele se levantou e foi se arrumar para ir ao trabalho.

Depois de alguns tempo ele desceu as escadas.

- estou indo para o trabalho – falou ele olhando para mim ainda na pia.

- até mais – falei olhando para ele e forçando um sorriso.

Ele não respondeu e se foi. Terminei de lavar as louças e decidi ir novamente ao lago. Talvez o “Troy” tivesse deixado outro recado para mim. Dessa vez peguei uma caneta, um pedaço de papel e me fui.

O lago estava mais cheio ainda. O sol estava forte e isso foi um convite para os turistas e os estudantes da cidade que aproveitavam suas férias. Passei por uma área gramada e por algumas folhas no chão e finalmente cheguei ao meu local de encontro com Jake.

Fui até a pedra e olhei atrás. Havia um papel embolado. Talvez fosse o meu, mas só saberia quando eu respondesse. Peguei o papel e o abri.

MEU NOME É OLIVER, QUEM É VOCÊ?

Era o papel que eu tinha escrito.

- que droga – falei jogando o papel no chão e me sentando na pedra. Talvez aquele papel nem fosse para mim. Respirei fundo e pensei em Jake. Olhei para o papel no chão e percebi que tinha algo escrito do outro lado. Peguei ele rapidamente e li.

EU SOU DEUS

- “eu sou deus” – li alto – que tipo de resposta é essa? Olhei para o papel por completo e mais embaixo Havia mais.

TENHA CUIDADO NA FESTA

Aquela mensagem foi mais estranha que a primeira. “Tenha cuidado na festa”. Qual festa? Não entendi nada. Peguei minha caneta e um novo pedaço de papel e comecei a escrever.

DO QUE EU PRECISO TER MEDO?

Coloquei o papel de volta no lugar e decidi ir embora. Achei estranho aquela mensagem. Troy havia se identificado sendo um Deus e ainda tinha me dado um aviso. Me mandou ter cuidado na festa, mas em qual festa?

Estava indo embora e passando próximo ao lago e senti uma tontura. Alguém havia atirado uma bola bem na minha direção. Eu cai tonto.

- meu deus – falou uma voz feminina vindo até mim – me desculpa.

- você está bem? – perguntou um homem vindo até nós.

A mulher estava de biquíni e o homem apenas de bermuda.

- eu estou bem – falei me levantando.

- me desculpa – falou a garota de cabelos loiros.

- ela tem pontaria ruim – falou o homem.

- para de graça – falou a mulher – me desculpa.

- sem problema, eu estou bem. De verdade.

- eu me sinto mal – falou a mulher preocupada.

- eu estou bem. não precisa ficar preocupada.

- talvez você devesse ir ao hospital.

- não precisa. Meu pai é médico.

- ok – falou ela com um sorriso – sinto muito mesmo.

- OK – falei sorrindo.

- espera só um pouco – falou o homem correndo de volta aos amigos e voltando com um papel – venha na festa – falou ele me entregando um panfleto. Era sobre uma festa anual que sempre tinha no lago.

- é verdade! – falei alto. Me lembrei que sempre tinha essa festa nas férias de verão. Um monte de adolescentes juntos para dançar, beber, tranzar e o mais importante: se divertir.

- eu venho sim – falei guardando no bolso.

- vem mesmo – falou a garota tirando os cabelos de frente do rosto. O vento assoprava.

- prometo que eu venho – falei pensando no recado que tinha lido a poucos minutos.

- a propósito – falou ela estendendo a mão – eu sou Helena. Helena Pearlman.

- eu sou Oliver Marshall.

- muito prazer Oliver – falou ela – vamos esperar você na festa.

- eu venho sim.

- se você não vier vamos ficar chateados – falou o garoto estendendo a mão.

- eu venho sim…

- Troy McMallory – falou ele apertando minha mão.

Senti um calafrio ao ouvir que o nome dele era Troy. Seria aquilo coincidência ou ele era o mesmo Troy que vinha me deixando recados.

- eu prometo que venho – falei me afastando e acenando.

Fui me distanciando e alisando minha testa que doía um pouco por causa da pancada da bola, mas minha cabeça doía mesmo de tanta informação. Seria o Troy dos recados o mesmo Troy que havia acabado de acontecer ou seria apenas uma coincidência? O mais incrível de tudo é que o Troy disse para que tomasse cuidado em uma festa ao qual eu nem sabia existir.

Estava nervoso e encabulado por tanta informação. Fui para casa pensando em tudo isso.

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Um abraço e até o próximo capítulo

Comentários

Há 4 comentários.

Por em 2014-12-14 11:30:06
Melhor conto que já li aqui até agora. É aquele tipo de conto que você não enjoa, e quer que nunca acabe sabe? A sua forma de escrever é excelente, seu conto é mais que perfeita, fica aqui minha admiração a esse conto "Destruidor". -Manu
Por Ryan Benson em 2014-12-14 02:05:57
Isso foi coincidencia até demais rsrs, pq será que esse Troy não quer o Olli na tal festa? Vai ver algum serial killer vai matar ele e o Troy só quer salcar a vida dele ou... Ah sei lá, será que ele vai ter coragem de ir? Ansioso para saber... Um abraço!
Por fran em 2014-12-13 20:14:59
ficou perfeito. nossa. cada cena mais real que a outra, pelo menos pra mim. fofo não vou comentar muito pq to meio q com dor de cabeça. bjão fofo. ate o proximo.
Por luizphilip em 2014-12-13 18:05:43
Adorei, quero ver logo o proximo capitulo. 👏👏👏