Capítulo 17: O Engano Perfeito

Conto de Junior_742 como (Seguir)

Parte da série Verão Em Vermont

Estava tendo um pesadelo. Era aquele tipo de pesadelo em que você sabe que está dormindo, mas não consegue acordar. Estava debaixo da terra e quanto mais me mexia tentando me sair de lá, mais terra caia em mim e dentro da minha boca.

- Oliver! Oliver Acorde! – falou meu pai conseguindo me acordar.

Sentei na coma todo suado tentando relaxar, minha respiração estava ofegante.

- você teve um pesadelo – falou meu pai se sentando na cama.

- já está em casa? Quantas horas?

- são quase onze horas da noite.

- nossa – falei passando a mão na testa – eu só me deitei para pensar e então…

- não tem problema – falou ele com um sorriso – você foi ao lago?

- fui sim – falei tentando retribuir o sorriso.

- você se divertiu?

- sim, eu inclusive encontrei um amigo da escola onde trabalho… trabalhava… um amigo da escola.

- viu só? Eu disse que seria bom você sair.

- e no hospital? Como foi o trabalho?

- foi bem. salvei algumas vidas. Perdi outra, mas é parte da vida.

- que bom – falei coçando a garganta tentando não estender esse assunto de morte.

- você quer jantar? Podemos pedir comida, deve ter algum lugar aberto e se não tive eu posso fazer.

- não estou com fome.

- há... OK – falou meu pai parecendo decepcionado e se levantando da cama – tudo bem então.

Só agora tinha percebido que ele queria passar um tempo comigo. Ele havia ficado todo o tempo no hospital.

- quer saber? Acho que vou aceitar comer algo – falei movendo minhas pernas rapidamente e me sentando na beirada da cama.

- AI! – falei alto reclamando de uma dor.

- você está bem?

- minha perna está doendo muito – falei passando a mão nelas.

- será que é por causa da fratura que você teve? – perguntou meu pai se abaixando e colocando minha perna no seu colo.

- talvez – falei respirando fundo – ou talvez seja por causa do esforço que fiz hoje.

- que esforço?

- a casa. Eu limpei ela toda. Talvez seja por isso. Fiquei muito tempo agachado.

- foi você que limpou? – perguntou meu pai.

- foi.

- pensei que a diarista tinha vindo uma dia mais cedo – falou ele esfregando as duas mãos em minha perna tentando acabar com a câimbra.

- não. Fui eu mesmo que limpei. Foi antes de ir pro lago.

- você limpou ela toda?

- foi sim senhor.

- não precisava Oliver. Ela vem toda a semana e limpa.

- desculpa.

- não tem problema. Devia ter te avisado.

- desculpa dizer isso, mas é que estava muito bagunçado. Estava me incomodando.

- você que precisa me desculpar – falou meu pai finalmente se levantando – vivo sozinho a tanto tempo e sou mesmo um pouco desleixado, mas prometo que vou tentar cuidar mais de mim e da casa agora que está aqui.

- sem problema.

- tenta se levantar agora.

Agora tinha conseguido me levantar. Eu tive câimbra nas duas pernas por isso doeu tanto quando eu as movi bruscamente.

- vamos descer. Vou preparar algo para comermos – falou meu pai.

Nós descemos as escadas e eu fui até a cozinha e sentei-me próximo ao balcão enquanto meu pai pegava algumas coisas na panela e alguns ingredientes.

- como foi no lago? – perguntou meu pai.

Pensei em falar sobre Jake, mas decidi esperar até depois do jantar afinal Marshall poderia reagir de forma inesperada. Eu sabia que ele reagiria de uma forma negativa. Tinha certeza.

- sim. É como disse antes. Encontrei aquele amigo e dei uma volta no lago. Havia tanta gente lá. Alguns nos barcos e outros bebendo a beirada. Fiquei até com vontade de dar um mergulho, mas acho que ficaria meio sem graça sem amigos.

- se você quiser nadar a piscina é toda sua – falou meu pai apontando para fora – se quiser nadar agora não tem problema.

- acho que devia ter mencionado o fato de que eu não sei nadar.

- eu te ensino – falou meu pai.

- OK. Eu aceito aulas.

- agora. vamos?

- não vai fazer a comida?

- deixa ai no fogo – falou ele colocando o fogo no mais baixo – no seu quarto tem roupa de banho. Bermuda e sunga.

- vou lá vestir – falei indo até meu quarto.

Ao descer as escadas e chegar lá fora vi que meu pai já estava na piscina.

- pula – falou ele ao longe.

- vou me afogar.

- você fez uma cirurgia no cérebro e sobreviveu. Você acha que vou deixar você morrer afogado? Pula logo.

- ok – falei tirando o roupão e jogando no chão revelando que eu estava com uma sunga verde no estilo samba canção. Em seguida eu fechei os olhos corri e dei um pulo dentro da piscina.

No inicio fiquei assustado e procurando um lugar para dar pé, mas não encontrei. Pensei que estava afogando quando meu pai segurou nos meus cabelos e me puxou de volta para cima.

- você está bem? – perguntou ele assustado.

- estou – falei ofegante.

- você me deu um susto – falou ele com um sorriso – fica tranquilo. Fica de pé – falou ele.

Segurei no braço dele e tentei ficar de pé e consegui. A água chegava até na metade do meu pescoço.

- essa piscina dá pé pra você –falou ele ficando em pé também – você tem que ficar calmo – falou ele andando para trás e segurando minha mão. Ele me mandou balançar as pernas e respirar pela boca. Em seguida ele soltou minha mão e eu afundei. Mais uma vez ele me salvou e me fez ficar de pé.

- você é um ótimo médico – falei respirando ofegante – mas é um péssimo professor de natação – falei rindo e tremendo com o frio. Os pelos da barba do meu pai estavam arrepiado por causa da brisa.

- eu também não sei nadar – falou ele rindo – eu só queria que você entrasse na piscina.

- mas você é médico!

- exato. Nunca tive aulas quando criança e não tive tempo depois de mais velho.

- obrigado por ter me feito entrar na água.

- por nada – falou ele sentindo cheiro de queimado – tá sentindo esse cheiro?

- a comida está queimando.

- vamos sair. Está muito frio falou ele saindo pela beirada da piscina, se secando rapidamente e enrolando a toalha. Em seguida ele foi para a cozinha. Fui até a escada e subi me enrolando no roupão. Fui até a cozinha e meu pai estava jogando algo dentro da panela.

- vou me trocar.

- vai lá – falou ele.

Fui até meu quarto e tomei um banho. Aproveitei já que não tinha tomado meu banho desde que tinha chegado do passeio.

Depois que tomei meu banho e desci as escadas percebi que meu pai também havia subido então dei uma olhada no que estava no fogão até que ele voltasse. Não demorou para que ouvisse passos na escada.

- você já está aqui – falou meu pai.

- estou – falei olhando para ele. Levei um susto quando o vi. Ele estava secando os cabelos com a toalha apenas de cueca. Ele era um homem alto e corpulento com alguns pelos no peito, mas o que me chamou a atenção foi a cueca que usava. Era branca e tinha um enorme volume nela.

Olhei rapidamente e em seguida fiquei sem graça e não soube mais o que dizer. Não tinha o costume de ver homens daquele jeito. Era a primeira vez.

- me desculpa – falou ele vestindo o roupão – desci rápido pensando que a comida estava queimando.

- não, tudo bem – falei tentando esquecer.

- deixa que eu cuido. Vai se sentar.

Não houve muita conversa depois daquilo. Tinha ficado sem graça e o piro de tudo: com aquela imagem gravada na cabeça. Tentava pensar em outra coisa, mas não conseguia.

Os minutos se passaram e o silêncio continuou até que meu pai quebrou o gelo.

- me desculpa Oliver – falou ele se sentando no balcão – eu me esqueci que você… quer dizer… eu não pretendia…

- não se preocupa com isso. A culpa não é toda sua. Sou um puritano comparado as outras pessoas. Não porque eu quis. Meu pai me tratou assim a vida toda. Eu já tinha visto… homens como você antes, em revistas ou filmes… mas nunca ao vivo.

- homens como eu? – perguntou ele.

- sabe… homens… de cueca… como você.

- tudo bem – falou ele rindo.

Meu pai voltou a cuidar da comida e não demorou para que tudo ficasse pronto. Meu pai arrumou tudo em cima da mesa de jantar e nós nos sentamos um do lado do outro para comer.

Nós nos servimos e quando eu ia dar a primeira garfada eu desisti.

- espera – falei impedindo que meu pai começasse a comer.

- o que foi? Está com o cheiro ruim?

- não é que… estou com algo na cabeça e não consigo tirar.

- o que foi? – perguntou meu pai. Com certeza ele pensou que falava do fato de tê-lo visto de cueca.

- quando dei entrada no hospital. Antes de saber que o senhor era meu pai e a Bethany minha mãe.

- sim o que que tem? – perguntou ele curioso.

- eu vi uns enfermeiros e médicas conversando sobre você e minha mãe não viverem mais juntos. É verdade?

- é – falou ele respirando fundo – nós não éramos mais um casal – falou ele olhando para mim – porque pensou nisso agora?

- porque eles me disseram que a culpa de vocês não morarem mais juntos era de algo que tinha acontecido. Eu quero saber o seguinte: vocês se separaram quando eu desapareci? Eu separei vocês?

- não. Não foi você.

- então porque?

- você quer a verdade?

- ela é assim tão ruim?

- você vai me achar um canalha depois que eu contar.

- pode dizer. Eu aguento a verdade. Sempre aguentei.

- você desapareceu, mas nós continuamos juntos. De fato algo aconteceu, mas não foi por isso. A culpa foi minha. A mais ou menos dois anos atrás sua mãe me pegou na cama traindo ela.

- você traiu ela?

- sim. Não me orgulho do que fiz. Não foi justo com sua mãe.

- OK – falei tentando entender.

- então você traiu ela e vocês se separaram.

- sim, mas o pior não é isso.

- o que pode ser pior do que você trair ela?

- foi justamente no dia em que ela tinha descoberto ter um câncer inoperável no cérebro. Ela estava arrasada e veio para casa mais cedo para me contar e acabou me pegando na cama – falou ele suspirando – espero que continue pensando o mesmo sobre mim. espero que continue me admirando. Eu me arrependi muito e prometi ficar ao lado dela até o fim.

- vocês não eram um casal, mas ficaram juntos para que o senhor cuidasse dela?

- sim.

- não se preocupe – falei – não vou mudar minha opinião. Todo mundo comete erros.

- OK – falou ele sorrindo – mas não acaba por ai – falou ele se contorcendo na cadeira.

- o que? Tem mais?

- ela me pegou na cama com um homem.

- um… um homem?

- sim.

Fiquei calado por alguns segundos.

- e agora? Aposto que está me odiando.

- não, só estou… chocado.

- você tem o direito de ficar.

- espero que não se importe de ter um pai homossexual. Eu sei que você também é, mas espero que não te incomode.

- quer dizer que você se arrepende de ter me tido? Quer dizer…

- não. Em nenhum momento eu me arrependo de ter te tido. Você é a maior benção e o maior presente eu tive na vida. Não me arrependo de ter conhecido sua mãe, de ter me casado com ela e principalmente: não me arrependo de você. Eu me descobri um pouco mais tarde do que você, mas não significa que tudo o que veio antes disso não tem valor. Tem e muito.

- ok – falei respirando fundo.

Meu pai me abraçou e deu um beijo no meu rosto. Sua barba roçou e me fez cócegas. Achei que aquele seria o momento perfeito para falar sobre Jake. Com certeza ele não iria me atrapalhar ou tentar dizer que Jake era culpado. Não depois do que ele me revelou.

- pai, preciso te falar uma coisa – falei soltando-o e olhando para ele.

- o que foi?

- o senhor me ama?

- claro.

- faria qualquer coisa por mim?

- qualquer coisa – falou ele completando.

- Qual-quer Coi-sa? – falei enfatizando.

- sim – falou ele sorrindo - Qual-quer Coi-sa.

Antes que pudesse pedir o que queria meu pai colocou a mão na minha nuca e aproximou seu rosto ao meu e deu um solo na minha boca.

- qual-quer coisa – falou ele deixando sua respiração quente no meu rosto – o que você quiser – falou ele beijando minha boca novamente.

Meu pai tinha achado que eu estava dando em cima dele, mas eu queria falar sobre Jake. Realmente era estranho estar naquela situação. Estava beijando meu pai na boca. Meu pai beijava a minha boca pra dizer a verdade, mas eu não podia colocar tudo em cima dele afinal minha língua também estava na boca dele.

- o que você quer? – perguntou meu pai dando um último selinho e voltando a posição original, mas dessa seu polegar alisava meu rosto.

Eu não tinha percebi que meu pai estava se sentindo excitado comigo. Realmente estava sendo novidade. Talvez eu tivesse dado alguns sinais, mas não tinha sido minha intenção. Era estranho para mim ter beijado meu pai. Não tão estranho na verdade. Aquele homem me amava e tinha feito tudo por mim. ele me amava como filho e pelo o que parece existe algo a mais.

- o que você quer? – perguntou ele novamente com um meio sorriso no rosto.

- sejam eu primeiro – falei esquecendo totalmente Jake.

- o que?

- sejam eu primeiro – falei novamente com um frio na barriga – seja o meu primeiro.

- você quer? – perguntou ele alisando minha perna – você entende que sou seu pai? Eu sei que você sofreu muito na mão do homem que te sequestrou então não quero que faça nada que não queira. Sei que é errado o que eu fiz. O que estou fazendo…

- não é errado. O que David fez era errado porque eu tinha medo de pensar no que ele fazia. Em todas as vezes que ele me bateu. Ele nunca abusou de mim, mas mesmo assim era errado ele me bater. Eu quero isso. Eu não sabia que queria até me beijar, mas eu quero. Você fez tudo por mim. Você me obrigou a lutar pela minha vida. Você me deu uma casa, um lar.

- Fiz isso tudo porque você é meu filho. Eu sou seu pai e te obriguei a lutar por sua vida. Eu sou seu pai e te dei um lar. O beijo não é porque você é meu filho. Eu poderia beijar qualquer um. O beijo é porque eu te amo. Desde a primeira vez que te vi no hospital eu senti algo diferente. Eu trai sua mãe com um homem e me arrependi. Depois do que aconteceu eu fiquei me martirizando e me culpando por saber que ela tinha câncer e por ela ter descoberto o que descobriu me vendo na cama com outro. Algo dentro de mim não me deixava sentir vontade ou atração por outro homem, mas quando eu te vi pela primeira vez no hospital foi diferente. Eu sabia que precisava de mim. Sabia que você precisava que alguém cuidasse de você.

- e quando descobriu que eu era seu filho?

- eu fiquei arrasado. Não conseguia nem dormir porque o que eu sentia não desapareceu. Continuou na minha cabeça. Eu prometi a mim mesmo que seria apenas seu pai e o resto que eu sentisse eu deixaria para lá, mas hoje quando você começou a dar sinais de que sentia o mesmo por mim… você estava me dando sinais certo?

- certo – falei ouvindo com atenção o que ele dizia.

- Agora eu te pergunto outra vez. Você tem certeza que me quer como seu primeiro? Porque apesar de tudo eu ainda serei seu pai naquele quarto e você ainda será meu filho.

- tenho certeza – falei levando minha mão até seu rosto - Seja meu primeiro, seja meu pai e seja meu homem naquele quarto – falei me aproximando e dando um selo na boca dele. Depois de um segundo selo nos beijamos outra vez.

O mundo pode dizer que isso é errado, mas eu não me sinto desse jeito.

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Obrigado a todos e até o próximo.

Comentários

Há 9 comentários.

Por escritor da noite em 2014-11-21 22:36:11
Wow. Deixa eu remoer isso tudo e no próximo eu comento kkkkk.
Por Natanael em 2014-11-21 13:37:46
obrigado pelo comentário Angellix
Por Angellix em 2014-11-21 11:59:01
uau... nao esperava por essa... mas muitoooo bom.
Por Natanael em 2014-11-21 11:49:44
ell meu nome verdadeiro é Max e moro em Goiânia ;)
Por Natanael em 2014-11-21 11:48:57
obrigado pelo comentário ell !! ;)
Por ell em 2014-11-21 02:09:52
Pelo menos, mate minha curiosidade kk por favor qual o seu verdadeiro nome e em que cidade você mora? ficarei muito honrado se voce responder Abraço
Por ell em 2014-11-21 01:37:53
Adoreei esse capitulo.... surpreendente como sempre!!! continuaa beijos querido.
Por luizphilip em 2014-11-20 20:23:19
Parabéns, como sempre você arrasou. Adorei esse capitulo muito fofo 👌top 😘😘
Por BielRock em 2014-11-20 19:50:56
Aí . Fofo