Capítulo 14: A Promessa

Conto de Junior_742 como (Seguir)

Parte da série Verão Em Vermont

Seria mentira se eu dissesse que não estava nervoso com a cirurgia. É obvio que estava. Estava nervoso, mas não estava com medo de morrer. Acho que levando em consideração tudo o que sofri na vida a morte seria a saída mais fácil, mas acho que estou sendo muito pessimista. Tobias tentava me deixar mais tranquilo em relação a tudo.

Minha cirurgia estava marcada para ás três horas da tarde. Faltava uma hora. Dr. Victor veio ver como eu estava e acompanhado dele vieram Matteo, Emilly, Dr. Marshall e Dra. Bethany.

- e então Oliver – falou Dr. Victor vindo até mim no quarto – preparado para a cirurgia?

- se eu disser que não, significa que eu posso viajar o mundo todo até que o câncer finalmente me mate?

- você via fazer essa cirurgia – falou Dr. Marshall na porta.

Olhei para ele por alguns segundos e depois volte ia olhar para o Dr. Victor.

- você precisa tomar essa decisão sozinho, ninguém deve influenciar você – falou Dr. Victor.

- estou pronto sim, era só brincadeira – falei respirando fundo.

- OK – falou ele com um meio sorriso, em seguida ele olhou para os dois médicos e alunos que estavam no meu caso – apresentem o caso.

Dr. Matteo D'anniballe foi o primeiro.

- Oliver Bowler Maxfield, vinte e dois anos, veio para o hospital devido a um desmaio após uma queda. Varias radiografias foram feitas e mostram que Oliver tem várias fraturas na costela, no braços e especialmente nas costas.

Dr. Marshall e Dra. Bethany ficaram incomodados ao ouvirem essas palavras. Essas fraturas representavam as surras de David. Ele sempre me machucava e eu acabava me curando em casa mesmo, dessa maneira os ossos acabavam ficando calcificados e marcados.

Agora era a vez de Dra. Emilly.

- O eletroencefalograma mostrou uma massa se desenvolvendo no lobo frontal do paciente. Felizmente a massa aparenta estar apenas no estágio inicial, isso deixa uma grande chance de uma recuperação completa do paciente.

Dr. Victor agradeceu aos médicos e em seguida olhou para mim.

- gostaria de ressaltar os riscos dessa cirurgia. Preciso que você entenda que uma cirurgia como essa pode ser cem por cento sucedida, mas pode também ser desastrosa já que seu cérebro estará exposto.

- ele já se decidiu – falou Dr. Marshall – ele fará a cirurgia.

Dr. Victor olhou direto para Dr. Marshall.

- eu preciso ser claro com o paciente – falou Dr. Victor.

- ele já se decidiu, não tem sentido assustá-lo.

- com todo o respeito Dr. Marshall, mas sou eu quem fará a cirurgia no paciente.

- eu sou o chefe das cirurgias e estou dizendo que o paciente já se decidiu então pare de assustar o paciente.

- Dr. Marshall – falou Dr. Victor alterado – com todo o respeito, mas eu estou me fudendo se você é o chefe do hospital, esse é meu paciente e se algo acontecer de errado é a minha carreira que estará machada e não a sua. O paciente precisa que eu esteja cem por cento envolvido na cirurgia nas horas em que passarei salvando a vida dele, tudo o que preciso é que o paciente também esteja cem por cento certo de que quer a cirurgia.

- sinto muito Dr. Victor – falou Dra. Bethany tentando defender o marido – você entende que esse caso em particular é diferente de todos os outros, afinal esse rapaz… Oliver, pode ser nosso filho.

- sim – falou Dr. Victor – eu entendo e é por esse motivo que eu decidi que nenhum de vocês dois estarão na sala de cirurgia.

- como é que é? – perguntou Dr. Marshall – eu estarei na sala durante a cirurgia.

- Dr. Marshall o senhor, assim como sua esposa, estão envolvidos emocionalmente com esse paciente. As emoções podem interferir nas decisões e eu não permitirei que o pai e a mãe do paciente estejam dentro da sala.

Os segundos que se seguiram forma silenciosos.

- eu entendo completamente os riscos que estarei correndo – falei tentando ignorar tudo o que tinha sido dito. Dr. Marshall e Dra. Bethany agiam como se fossem maus pais e todos em volta agiam do mesmo jeito. Alimentando essa fantasia.

- sendo assim, o Dr. Matteo e a Dra. Emilly irão te preparar a cirurgia.

- muito obrigado – falei respirando fundo.

Dr. Victor saiu da sala e com ele foi Dra. Bethany. Por algum motivo que eu não entendia, Dr. Marshall parecia mais ligado a idéia de eu ser seu filho.

- tudo vai ficar bem – falou Tobias.

- espero que sim.

Dr. Matteo e Dra. Emilly começaram a me preparar para a cirurgia e Dr. Marshall se manteve na porta. Ele não dizia nada, não se movia, mas olhava atentamente a tudo o que os médicos faziam.

Fui até o banheiro e vesti a roupa da cirurgia. Nada por baixo, nem a cueca. Quando sai do banheiro e voltei para a cama vi que Dr. Marshall continuava lá.

- estou com muita sede – falei para Tobias.

- eles vão te manter hidratado pelo soro, mas você sabe que não pode beber água.

- não custa nada tentar.

- Oliver – falou dra. Emilly trazendo alguns papéis até mim – preciso que você assine alguns papéis.

- tudo bem – falei pegando a caneta.

Antes que pudesse ler o que estava escrito alguém chegou na porta do meu quarto.

- Oliver! – falou a voz tremida.

Olhei para a porta e vi minha mãe, Stella.

- o que está fazendo aqui? – perguntou Tobias.

- quem é essa mulher? – perguntou Dr. Marshall.

- é minha mãe – falei me sentindo tonto.

Dr. Marshall foi para cima dela e Tobias rapidamente o segurou impedindo que ele fizesse uma besteira.

- tirem essa mulher daqui – falou Dr. Marshall.

- eu quero falar com ela – falei olhando para Stella.

- tem certeza? – perguntou Tobias.

- talvez essa seja a última chance de saber a verdade. Eu ouvi várias teorias loucas sobre minha existência, mas não ou acreditar até que ela diga que é verdade.

- OK – falou Dr. Marshall se recompondo e sumindo da minha visão.

- eu estarei aqui fora – falou Tobias.

Dr. Matteo e Dra. Emilly também saíram. Minha mãe, Stella entrou no quarto e veio até mim.

- você está bem? – perguntou ela vindo até mim. seu olho agora tinha um curativo.

- estou – falei segurando a mão dela – mãe, eu sei que quer saber o que estou fazendo aqui, mas eu preciso saber a verdade?

- qual verdade? – perguntou ela confusa.

- estão dizendo que não sou seu filho.

- o que? – perguntou ela começando a chorar – isso é loucura. É claro que é meu filho.

- eu sei! É loucura. É claro que meu pai fez muitas coisas erradas, mas eu sei que a senhor e Jake são pessoas boas.

- obrigado por confiar em mim meu filho – falou ela limpando á lágrima que escorria por seu olho – eu nem sabia o que estava acontecendo exatamente. O hospital me ligou porque foi o número que você colocou para contato.

- exato – falei respirando fundo – quando tudo isso acabar mãe nós vamos começar uma nova vida. Você, Jake e eu. Podemos não ser a família perfeita, mas nós somos uma família.

- tudo bem meu filho – falou ela com um meio sorriso. Seu belo rosto estava vermelho devido ao choro – essas pessoas estão tentando nos separar, inventando mentiras, mas você acabou de mostrar que é o filho que eu criei.

- mãe, antes da cirurgia eles precisam saber de alguns detalhes, caso precise de doação de sangue.

- claro, o que você precisar.

- preciso saber o tipo sanguíneo dos meus pais – falei pegando os papéis que Emilly deixou ao meu lado e fingindo que estava escrevendo algo.

- claro – falou ela limpando o rosto – seu pai é “O+”.

- OK – falei fingindo escrever – e a senhora?

- AB- - quando ela disse isso senti um frio na barriga.

- a senhor tem certeza?

- claro.

Agora eu sabia que era tudo mentira. Ela não poderia ser minha mãe.

- o que foi meu filho? – perguntou ela preocupada.

- então é verdade – falei querendo rir.

- o que é verdade?

- é verdade que meu pai não tem pênis?

Ela arregalou os olhos quando eu disse isso e por alguns segundos ela pensou n oque dizer, mas nada saiu de seus lábios.

- vocês podiam ter adotado, podiam ter uma família feliz.

- o que está dizendo Oliver?

- estou dizendo que MEU PAI NÃO TEM PÊNIS – falei gritando e em seguida eu comecei a rir – não existe ironia melhor – falei dando gargalhada.

- meu filho…

- eu não seu filho. Eu nem sei quem sou.

- você é meu filho – falou ela chorado.

- não.

- por favor, me perdoa – falou ela vindo para um abraço

- fica longe de mim – falei cortando a vinda dela – só me responde uma coisa, Jake é filho de quem?

Stella não disse nada por alguns longos minutos, mas acho que ela percebeu que não tinha mais saída. O segredo havia vazado. Era questão de tempo até que ela fosse para atrás das grades.

- Jake não foi roubado, como você – falou ela limpando os olhos – Jake é meu irmão mais novo.

- irmão mais novo?

- sim.

- eu já vi você e Jake tranzando. Eu vi você e David abusando de Jake quando ele ainda era garoto. Você é pior do que David. Você abusou sexualmente do seu próprio irmão e criou ele como filho.

- não se atreva a defender o David.

- não! Não se engane! Eu não estou defendendo ninguém. Só estou dizendo que você é pior, sabe porque? Porque você colocou seu irmão nessa situação. Sempre achei que Jake fosse meu “irmão”, mas ele é meu “tio”, só que na verdade ele não é nada meu porque eu fui sequestrado por um casal de pedófilos.

Ela não respondeu nada.

- vai embora, junte suas roupas e o resto de dinheiro que te sobrou e fuja. Aproveite sua liberdade enquanto você pode.

Stella olhou para mim uma última vez antes de finalmente sair.

- você está bem? – perguntou Tobias entrando novamente no quarto.

- não.

- como é? – perguntou Tobias.

- você perguntou se eu estou bem. Eu estou respondendo: não. Eu não estou bem. Canse ide mentir e dizer que estou bem, mas a verdade é eu estou sem rumo. Essa cirurgia é minha última saída.

- como assim, “última saída” ? – perguntou Tobias.

Não precisei dizer nada. Ele obteve a resposta sozinho.

- você acha que a cirurgia vai te matar? – perguntou Tobias.

- eu espero que me mate – falei vendo Emilly e Matteo retornarem a sala. Dr. Marshall mais uma vez ficou parado na porta.

- preciso que você assine esses papéis – falou Emilly.

A medida que ela me dava os papéis ela me explicava o que eu estava assinando. Eu nem ligava mais para o que assinava. Tobias tinha uma expressão em seu rosto. Ele estava chocado por eu achar que não sairia vivo dessa.

Finalmente chegamos ao último papel.

- esse é o último – falou Emilly.

Eu vi que nesse último havia um carimbo com as siglas “NR”.

- o que significa esse “NR”?

- “Ordem de não reanimar” – falou Emilly – se você assinar esse papel significa que se você tiver uma parada cardiorrespiratória durante a cirurgia ou durante a recuperação, as medidas para ressuscitação não serão tomadas.

- ou seja, se eu tiver uma parada você serão obrigados a me deixar morrer?

- exato – falou Emilly.

Levei a caneta ao papel para assinar, mas fui impedido.

- você não vai assinar – falou Dr. Marshall da porta?

- o que? – perguntei olhando para ele.

- você não vai assinar – falou novamente Dr. Marshall.

- eu pensei que essa decisão fosse do paciente e não do médico.

- eu não vou deixar você assinar isso – falou ele dando dois passos para dentro da sala.

- porque não? Me dê apenas um motivo para não assinar?

Dr. Marshall não respondeu nada e apenas veio até mim, pegou papel e o rasgou na minha frente em seguida ele jogou na lixeira. E em seguida olhou para Matteo e Emilly

- Se algum de vocês dois pegarem outra cópia, podem se considerar fora do programa de ensino de Vermont.

Tanto Emilly quanto Matteo concordaram. Eu achei aquilo ultrajante. Ele não tinha direito de fazer aquilo comigo. Era meu direito.

- Tobias, será que você pode conseguir me transferir para outro hospital?

- e por qual motivo? – perguntou Dr. Marshall.

- eu estou falando com…

- eu só quero saber porque? – falou Dr. Marshall próximo a mim com os braços cruzados – esse é o melhor hospital de Vermont e o Dr. Victor é um dos melhores neurocirurgiões do país.

- você não tem o direito de decidir por mim – falei encarando-o.

- você não será transferido – falou Dr. Marshall saindo do quarto.

O relógio marcou a hora e eu precisava ir. Dr. Matteo e Dra. Emilly estavam pronto para me levar ao centro cirúrgico quando Dr. Marshall e Dra. Bethany apareceram na porta.

- viemos nos despedir – falou Dra. Bethany chorando. Não entendia porque ela chorava tanto. Dr. Marshall parecia mais ligado a mim, mas Dra. Bethany parecia mais emocionada. Ela não parava de chorar e seu rosto parecia sempre vermelho. Aquilo me irritava. Não sei se irritava a mim ou ao câncer. Olhei para Tobias e ele se aproximou de mim.

- eu sei que você não está pronto para esse encontro, mas você precisar pensar por eles. Eles podem ser os seus pais verdadeiros, eles tinham um filho e de repente não tinham mais. Force um pouquinho. Não faça isso por você ou por mim. Faça isso por eles.

Tobias se afastou e eu olhei para os dois e sinalizei positivamente com a cabeça. Dra. Bethany foi a primeira. Ela me deu um abraço e um beijo no rosto.

- vai ocorrer tudo bem. Você vai sair dessa.

- espero que sim.

Ela me abraçou por mais alguns segundos e em seguida foi a vez do Dr. Marshall. Ele me abraçou e não me soltou.

- me desculpa por estar sendo tão babaca – falou ele deixando ás lágrimas caírem em mim – só quero garantir que você saia vivo dessa.

- tudo bem – falei sentindo a barba dele fazer cócegas em mim.

Em seguida ele segurou meu rosto entre suas mãos e me encarou um pouco.

- me prometa que quando sair dessa você vai vir morar comigo.

- só com você?

- desculpa… comigo e com sua mãe.

Fiquei em silêncio. Não estava pronto para dizer que sim, mas me lembrei do que Tobias tinha me dito. Em nem sabia se esses dois eram meus pais verdadeiros, mas se Tobias acha que devo forçar, tudo bem.

- OK.

- tem certeza? – perguntou Dr. Marshall.

- tenho.

- não prometa algo que não vai cumprir. Só diga que sim se estiver dizendo a verdade porque eu vou cobrar.

- tudo bem. eu prometo.

- ok – falou ele me dando um último abraço antes de me soltar.

Olhei para Tobias antes que eles me levassem para a cirurgia. Estávamos nos últimos dias de inverno em Vermont. A neve já não caia lá fora tão intensamente e o sol começava a derreter. Não sei o que vai acontecer nessa cirurgia, mas espero que ocorra tudo bem.

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Obrigado a todos que estão lendo, a todos que estão comentando. Fico realmente feliz. eu tenho um blog, se quiserem visitá-lo o link é esse: http://casadoscontoseroticosgay.blogspot.com/

Um abraço a todos!!!

Comentários

Há 4 comentários.

Por dfc em 2014-11-21 09:42:25
Nossa otimoooooo
Por ell em 2014-11-17 00:16:29
Acho incrível como em certo momento do conto, o titulo se encaixa de forma tao inesperada.. depois de todo esse sofrimento, esse frio.. vem o verao chegando para espairecer tudo (ou não) heuheuhue Assim como tambem no conto Paixão secreta, só fomos entender o porquê do título no capitulo 100.. ^^ Mais um capitulo ótimo.. to adorando voce responder os comentários meu lindo.. voce podia postar uma foto sua no seu blog pra nós matarmos a curiosidade.. como sera o rosto do nosso escritir favorito..... beeijos
Por Ryan Benson em 2014-11-16 17:12:09
Está chegando o Verão em Vermont... hehehe. Espero que o Olli se saia bem nessa cirurgia. Cara, na hora que eu li a parte que a "mãe" dele transou com o Jake, que ajudou o David a estuprar o Jake... veeeeiii que nojo dessa mulher Ò.Ó eu nem sei quem é pior, ela ou o David. Ótima história meu amigo. Um abraço.
Por Fleur em 2014-11-16 00:03:54
Oi meu divo, vc foi o primeiro autor que li no cdc quando estava publicando Paixão Secreta me apaixonei pela história envolvente do Mike e honestamente vc é um dos autores que me inspiram eu amo, amo, amo os seus contos. Desculpe por ser uma leitora anônima, mas eu tenho que declarar o meu respeito e admiração pela sua obra. Vou te acompanhar nessa nova história.