Capítulo 13: EX-POS-TO

Conto de Junior_742 como (Seguir)

Parte da série Verão Em Vermont

Memórias são como quebra cabeças. Nosso cérebro consegue criar memórias falsas quando não nos lembramos exatamente de uma coisa do passado. É inteligente, mas também perigoso. Nosso cérebro detecta que parte de uma memória está faltando e para não deixa-la incompleta ele adiciona alguma parte semelhante.

Algumas pessoas tem memória fotográfica. Se lembram de cada detalhe de cada dia. Uma benção, mas também uma maldição. Todo o ser humano tem um ponto ou algo que deseja esquecer. Imagina se nosso piores dias não pudessem ser esquecidos? Imagina ter que reviver para sempre aquele dia embaraçoso ou ter que se lembrar sempre da pessoa amada que você perdeu. Eu com certeza não ia querer me lembrar desse dia.

O psicólogo do hospital, Dr. Adams e a Dra. Bethany me fizeram esperar várias horas no meu quarto. Era quase dezoito horas. Eles soltaram uma bomba, mas não me contaram por completo o que tinha acontecido com meu pai. Dr. Adams conversou com Tobias depois que conversou comigo. Ele pediu alguns detalhes sobre minha vida. Ele focou especialmente em quando eu era criança.

Estava cansado de esperar e decidi me levantar e ir até a porta do quarto saber o que acontecia lá fora. Levantei-me da minha cama com cuidado e fui para a porta, apesar deles terem me recomendado não em mover por causa da perna quebrada e da falta de equilíbrio que eu estava tendo ultimamente.

Ao longe eu vi Dr. Marshall e Dra. Bethany conversando. Eles pareciam nervosos enquanto conversavam. Em um certo ponto eles gritaram um pouco alto e em outro momento eles se abraçaram. Dois médicos chegaram até a recepção do andar. Duas enfermeiras faziam prontuários e a conversa entre eles começou. Fiquei bem escondido tentando ouvir.

- você sabe o que aconteceu a eles? – perguntou um dos médicos para a enfermeira.

- dizem que aconteceu algo entre os dois, mas eu nunca soube ao certo. Os funcionários que trabalham aqui a mais tempo não falam sobre o que aconteceu e se recusam a compartilhar. Tudo o que eu sei é que eles estão casados apenas por conveniência. Dizem que eles vivem separados a muito tempo.

- eu daria tudo para saber o que aconteceu entre os dois – falou o outro médico.

Antes que eles continuassem a conversar e eu continuasse a ser um abelhudo Dr. Marshall veio andando pelo corredor e ao passar por um pequeno armário ele deu um chute derrubando ele e todos os remédios que estavam em cima dele. Dra. Bethany ficou lá parada e parecia estar chorando. Dr. Marshall passou pela recepção e eu me escondi no quarto. Ele passou sem dizer nada. Depois dessa cena decidi voltar para minha cama e esperar pela volta de Dra. Bethany e de Dr. Adams que continuava a conversar com Tobias.

Minhas costas doeram de tanto esperar. Eu me revirava naquela cama e tentava encontrar algo para me distrair, mas eu sinceramente não conseguia, mas mesmo assim eu esperei. Fiquei pensando no que diria a Amy. Fiquei pensando em como pedir perdão pelo o que eu tinha dito a ela. E o mais importante, fiquei pensando em mim. Será que eu tinha me tornado não nojento e tão repulsivo quanto ele? Um misógino pedófilo racista homofóbico? Espero eu que não.

Não sei quanto tempo passou, mas agora o hospital estava trinta por cento mais calmo e mais vazio. Eu sabia que era noite, mas não sabia exatamente quantas horas porque eu não quis perguntar na ninguém.

- olá – falou Dr. Adams vindo até meu quarto. Dra. Bethany estava com ele. Ela tinha em suas mãos um exame. Os olhos delas ainda estavam inchados por ter chorado.

- então Dr. Adams? Será que pode acabar com meu sofrimento e me contar o que diabos aconteceu com meu pai?

- sim, mas não posso simplesmente te contar o que aconteceu.

- porque não?

- confie em mim Oliver.

- eu tenho outra escolha?

- não – falou Dr. Adams.

- tudo bem então – falei preparado para o que ele e Dra. Bethany que tinha saído sem avisar.

Dr. Adams me levou até uma sala de reuniões no terceiro andar. Eu estava preocupado? Sim. Eu me sentia culpado por ainda me preocupar com ele? Sim. Eu me sentia culpado. Me sentia mais culpado ainda por ter tratado Amy mal.

A mesa parecia enorme do meu ponto de vista. O grande relógio branco na parede marcava pouco mais das oito da noite. Estava ansioso e minha perna sacudia de cima em baixo. Esperei por mais alguns minutos e pela parede de vidro eu vi que finalmente Dr. Adams estava vindo.

A porta se abriu e ele entrou, mas não foi apenas ele. Tobias estava com ele. Tobias e Dr. Adams se sentaram a mesa.

- podemos começar? – perguntei ansioso.

- ainda não, estamos esperando… - antes que Dr. Adams terminasse sua frase, Dr. Broderick Marshall e sua esposa Dra. Bethany Creswick entraram na sala. Dr. Marshall tinha uma sacola no braço direito.

- o que eles estão fazendo aqui? – perguntei nervoso – Dr. Marshall já se mostrou bem desinteressado em meus problemas. Eu gostaria que ele saísse por favor.

- Oliver, por favor – falou Dr. Adams – ele precisa estar aqui.

- porque?

- confie em mim – falou Dr. Adams.

- tudo bem – falei tentando relevar o que ele tinha dito mais cedo sobre meus problemas – desde que você diga logo o que está acontecendo.

Tobias tinha aquele olhar. Era o mesmo olhar que todos tinham sobre mim quando descobriam o que tinha acontecido na minha infância.

- Oliver – falou Dr. Adams se arrumando na cadeira – seu pai não morreu, ele está de fato bem, mas um dos presos que dividindo a cela com seu pai notou algo de diferente nele e imediatamente chamou um dos policiais.

- o que tem meu pai?

- Oliver a Dra. Bethany me disse que você pisou em um hospital pela primeira vez aos vinte e dois anos.

- certo.

- seu pai não gostava de trazer você a hospitais.

- sim Dr. Adams. Você só está repetindo o que eu disse. Pare de enrolar e diga logo o que aconteceu com meu pai.

- seu pai tem algo chamado afalia congênita.

- o que é isso?

- é uma anomalia onde a criança nasce sem o canal da uretra.

- sem a uretra – perguntei perturbado. Senti vontade de rir – você quer dizer sem o…

- pênis – falou Dr. Adams.

- o meu pai não têm pênis? – perguntei em tom de brincadeira, mas logo que fiz a pergunta eu vi a expressão que todos fizeram. Eles não estavam brincando – meu pai, o meu pai, não tem pênis?

- é uma condição que pode ser concertada com a reconstrução do pênis. Geralmente essa condição é tratada logo nos primeiros meses de vida, mas seu pai provavelmente não teve essa chance. Ele pode ter o pênis reconstruído hoje em dia se ele quiser, mas não é isso que viemos discutir.

- espera… meu pai têm pênis! Eu vi ele abusar do meu irmão quando eu tinha oito anos eu acho.

- você disse que seu pai abusou de seu irmão com um pedaço de pau e só em seguida ele abusou com o pênis, certo?

- certo.

- eu acho que seu cérebro criou falsas lembranças Oliver. Seu pai nunca abusou do seu irmão com o pênis. Apenas com o pedaço de pau. A falta do órgão pode ter causado um certo trauma no seu pai. Não estou dizendo que existe desculpa pelo o que ele fez seu irmão e a você, mas digo que o temperamento dele pode ser perfeitamente explicado, afinal não posso afirmar o quanto essa condição o afetou.

- eu não entendo – falei começando a ficar nervoso – meu pai não tem pênis?

- não – respondeu Dr. Adams.

- então, como ele teve dois filhos? Como ele teve Jake… como ele teve a MIM? – perguntei um pouco alterado – vocês devem estar enganados.

- eu não posso afirmar como ele teve seu irmão Jake, não posso dizer como sua mãe, Stella, se encaixa nessa história toda, mas eu posso apresentar os fatos – falou ele pegando o exame que mais cedo estava na mão de dra. Bethany.

- que fatos?

- hoje mais cedo você me disse que tem um sonho recorrente com um elefante de pelúcia azul. Você disse que não se lembra exatamente de onde veio esse elefante, mas sabe que teve ele quando criança.

- sim. Eu já procurei por esse elefante e nunca o encontrei. – falei sentindo meu coração acelerar.

Nesse momento, Dr. Marshall colocou a sacola que trazia consigo em cima da mesa e tirou de lá o elefante que eu via em meus sonhos.

- é esse? – perguntou Dr. Marshall. Eu vi que suas mãos tremiam. Dra. Bethany começou a limpar ás lágrimas n os seus olhos.

- é esse – falei olhando estupefato para a materialização perfeita de meu sonho – como vocês… é esse… co-como…

- Oliver eu tenho aqui comigo um dos exames que você fez hoje – falou ele abrindo – aqui não tem nenhum exame de DNA, mas o laboratório fez a identificação do seu tipo sanguíneo que é “O+”.

- OK – falei tentando me acalmar e entender.

- Se o seu tipo sanguíneo é “O” significa que seus pais devem ter o tipo sanguíneo “O”.

- e?

Dr. Adams respirou fundo antes de continuar.

- tanto o Dr. Marshall quanto a Dra. Bethany também tem o tipo sanguíneo “O”, ou seja, pais que tem o tipo sanguíneo “O” só podem resultar em indivíduos do tipo “O”.

- você está dizendo que eles são meus pais? – falei olhando para eles.

- estou dizendo que Dr. Marshall e Dra. Bethany tiveram um filho a muitos anos e quando ele tinha cinco anos desapareceu no parque próximo a esse hospital. Esse pode ser o motivo do seu pai não te levar a hospitais.

- não é possível – falei limpando meu rosto. Era muita informação.

- Existe aqui duas possibilidades: você é filho deles ou é uma tremenda coincidência. Nós podemos fazer um exame para confirmar, mas ao que tudo indica…

- espera – falei chorando – você está dizendo que esses dois sãos meus pais?

- como eu disse, um exame de DNA pode confirmar…

- quero ir para o meu quarto – falei cansado. Minha cabeça doía como nunca.

- filho… – falou Bethany.

- eu não sou seu filho. O filho de vocês está desaparecido ou morto – e não devia ter dito aquilo, mas não queria mais ficar ali ouvindo tudo aquilo.

- Oliver… – falou Tobias.

- ME LEVE PRO MEU QUARTO TOBIAS, LEVANTA O TRASEIRO E FAÇA ALGO QUE PRESTE – falei gritando nervoso.

- leve-o – falou dr. Marshall se levantando – pode leva-lo.

Tobias se levantou e guiou a cadeira de rodas que eu estava sentado para a saída. Não queria mais ouvir nada daquilo.

Quando saímos da sala de reunião eu vi que os dois internos designados para meu caso e um outro médico de barba preta estavam parados de fora da sala. Esse último segurava um exame em sua mão. Assim que Tobias me levou ele entrou na sala para conversar com os médicos, que aparentemente eram meus pais verdadeiros.

Tobias me levou até meu quarto e no caminho eu percebi que as enfermeiras e alguns médicos comentavam algo enquanto eu passava. Eu me sentia exposto naquele hospital.

Ao chegar no meu quarto Tobias me ajudou a levantar e a sentar na minha cama. Meus olhos ainda estavam húmidos. Toda aquela informação havia sido demais para mim. tudo o que eu queria era descansar. Era o máximo que eu conseguiria, porque não acho que conseguiria dormir depois de tudo o que tinha acontecido.

- você está bem? – perguntou Tobias.

- porque? Você pensou que eu fosse amolecer o meu coração e abraçar aquele casal infeliz que perdeu o filho? Eu não sou o filho deles – falei me deitando.

- vou ficar aqui até você dormir.

- vai embora Tobias você tem casa, não preciso da droga da sua companhia – falei com raiva.

- porque você está tratando todo mundo dessa forma? – perguntou Tobias.

Antes que eu pudesse responder os médicos chegaram ao meu quarto.

- pelo amor de deus, será que um ser humano não pode ter um pouco de paz – falei ainda nervoso.

- desculpa te incomodar – falou o médico de barba preta vindo até mim – sou Dr. Victor Reveley, neurocirurgião.

- o que quer de mim? – falei me sentando outra vez.

Olhei para a porta e meus possíveis pais estavam lá parados. Dr. Marshall tinha em suas mãos o elefante dos meus sonhos.

- o seu eletroencefalograma mostrou que você tem uma massa no cérebro.

- um tumor? – perguntou Tobias.

- sim – responder. Dr. Victor.

- eu tenho um tumor? – perguntei colocando a mão na testa. Ela estava suada.

- sim – falou dr. Victor – o tumor está no córtex pré-frontal que é a parte anterior do lobo frontal do cérebro.

- o que isso significa?

- o lobo frontal é a região cerebral que está relacionada ao planejamento de comportamentos e pensamentos complexos, expressão da personalidade, tomadas de decisões e modulação de comportamento social.

- então é por isso que eu tenho gritado com as pessoas ou tomando decisões sem pensar nelas primeiro?

- sim.

- é operável? – perguntei de uma vez.

- felizmente sim – falou dr. Victor – o tumor não é muito grande, descobrimos ele na fase inicial e é por isso que eu quis vir falar o mais rápido com você. Quanto mais rápido fizermos a cirurgia melhor. Se você concordar eu posso fazer a cirurgia ainda amanhã.

- claro que eu concordo.

- Oliver, eu preciso dizer que existe um considerável risco na cirurgia. Os tumores intracranianos, independentemente da sua natureza, são todos considerados uma doença potencialmente grave e constituem na segunda principal causa neurológica de morte. Se você precisar de tempo para pensar na decisão…

- eu não preciso de tempo doutor. Eu já me decidi. Eu quero a cirurgia.

- tem certeza? – perguntou dra. Bethany na porta.

- essa decisão é minha – falei olhando para ela e para o Dr. Marshall – não se metam.

Eles ficaram em silêncio.

- OK – falou Dr. Victor – podemos marcar a cirurgia para amanhã a tarde.

- obrigado Dr. Victor.

- por nada – falou ele pedindo licença e saindo do quarto.

- você quer que eu ligue para sua mãe e seu irmão? – perguntou Tobias.

- Stella não é minha mãe e Jake não é meu irmão.

- tudo bem – falou Tobias.

Eu olhei para a porta e Dra. Bethany e Dr. Marshall continuavam lá parados.

- VÃO FICAR AI A NOITE TODA? – perguntei gritando. No momento que fiz aquilo eu me arrependi, mas agora eu sabia que não era culpa minha. Era o câncer tomando as decisões por mim.

Dra. Bethany saiu do quarto finalmente e Dr. Marshall veio na minha direção. Ele colocou o elefante de pelúcia em cima do criado mudo ao lado da minha cama e saiu sem dizer nada.

- você está bem?

- tão bem quanto uma pessoa que acabou de descobrir que tem um tumor.

- tem certeza que quer a cirurgia?

- nunca tive tanta certeza – falei começando a chorar outra vez – eu sabia que não era eu ultimamente. Eu não costumo gritar com as pessoas e nem chamar minha melhor amida de “vadia estúpida”. Eu preciso disso fora de mim para que eu volte a ser eu mesmo. Eu quero tomar as decisões por mim mesmo.

- esse tumor tem um lado bom – falou Tobias – já parou para pensar que talvez tenha sido o tumor que tenha te dado a coragem para tomar as decisões que você tomou? como por exemplo ter enfrentado seu pai, ter aceitado morar comigo… eu sei que é cruel pensar isso, mas eu estou tentando tirar algo bom disso tudo.

- talvez – falei limpando meus olhos.

- porque você não dá uma chance á Dra. Bethany e ao Dr. Marshall? Eles podem ser pessoas legais.

- eu não posso, não hoje, não agora. Não depois de descobrir tudo o que descobri.

- acho que agora você finalmente pode descansar. Você deve descansar, afinal terá um grande dia amanhã;

- pode ir embora se quiser. Harold deve estar te esperando – falei me virando para o lado.

- não vou sair daqui. Você não pode passar por isso sozinho;

- obrigado – falei fechando os olhos. Tobias apagou a luz do quarto e se sentou em uma poltrona. Não deixei Tobias ver, mas eu coloquei o elefante embaixo das cobertas e senti o cheiro dele antes de fechar os olhos. Tive uma ótima sensação ao fazer isso. Era a sensação de nostalgia. Era com certeza o elefante que eu via em meus sonhos.

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Obrigado a todos que estão acompanhando e comentando! Um grande abraço e uma ótima noite.

Comentários

Há 4 comentários.

Por dfc em 2014-11-17 11:16:43
Uauuuu MT bom
Por Ryan Benson em 2014-11-15 17:11:52
Muito bom cara, muito bom mesmo. Fiquei super surpreso com a atitude do Olli, fiquei até com pena dos médicos (menino, que carinha mais grosso, eu hein)... mas entendi depois que li a parte do tumor. E caso vc consiga lançar um livro de fato (e vai conseguir, sem dúvida), eu terei o enorme prazer de comprar e reler a série Paixão secreta. Tenho uma pergunta para vc (se vc puder responder): vc pretende fazer das suas outras séries (Caso de Família, e também aquela outra história do Jay e seu antigo namorado) livros? Seria ótimo, de verdade. Um abraço!
Por ell em 2014-11-15 02:33:01
Como sempre perfeito... fiquei muito feliz que você retornou pra nós.. heuheu e não sei se é perdir muito, apesar das críticas que na maioria das vezes nao tem a intenção de serem construtivas, mas sim de apenas querer rebaixar os outros, nunca desista dos seus contos. Voce tem um dom como ninguem!!! Gostaria de saber, se você ja pensou em fazer do paixao secreta um livro? Com certeza faria muito sucesso, e nem tanto pelo sucesso, mas fazer com que seja possível que mais pessoas apreciam esse teu dom tao especial. um beijo pra você querido. Esperando a continuação!
Por fran em 2014-11-14 10:17:09
Minha nossa. Realmente eu errei no que pensei. Tinha imaginado que o pai de Olli havia matado sua mae ou seu irmao. Menino e uma bomba atras da outra he. Mau posso esperar o próximo. Tobias&Olli o/