Capítulo 12: A Maçã Não Caiu Muito Longe da Árvore

Conto de Junior_742 como (Seguir)

Parte da série Verão Em Vermont

Decisões são difíceis de serem tomadas. Não porque precisamos pensar sobre elas, não porque são difíceis. As decisões nos trazem responsabilidades. Infelizmente precisamos conviver com as decisões que tomamos todos os dias a todos os momentos. Por menor que possa parecer uma decisão, como “o que almoçar” ou “qual roupa usar”, isso pode afetar nosso dia-a-dia.

Se essas pequenas decisões nos afetam de uma proporção gigantesca, imagine o que não vai acontecer comigo por ter criado coragem de ter denunciado meu pai. O homem que deveria me amar, mas que me tratava como lixo, como cachorro e que ainda tentou me matar. O homem que abusou do filho mais velho e que bateu na esposa. O homem que me machucava, mas que não tinha coragem de me levar ao hospital depois.

Ainda não sei bem o motivo dele não me levar ao hospital. Eu sei que não é o medo de ser pego ou de ser preso, afinal se ele tivesse esse medo não teria invadido o meu quarto e tentando me matar. Agora só me resta saber o porque.

Os internos, Emilly e Matteo haviam feito todos os exames em mim. O relógio marcava quase quatro da tarde. Estava cansado de ser carregado por todo o hospital. Eletrocardiograma, encefalograma, raio-x, exames de sangue… não consigo pensar em um exame existente que eu não tenha feito.

- você está bem? – perguntou Dr. Matteo D'anniballe o residente de olhos azuis e cabelos loiros.

- estou tão bem quanto poderia estar. Acho que pior do que estou não fica.

- isso é ser otimista - falou Dra. Emilly MacMilan.

- estou tentando – falei respirando fundo – minha vida não tem sido a das melhores, mas não posso reclamar afinal meus problemas parecem mínimos em um hospital.

- você não precisa se sentir culpado por reclamar dos seus problemas – falou Dr. Matteo D'anniballe.

- A três horas atrás dividi fila do almoço com um uma garota de dezenove anos que tem câncer nos ovários. E sabe porque ela estava aqui? Não porque veio se curar, mas para morrer. Ela veio para o hospital para morrer porque em casa ela sentia muita dor. O câncer dela é tão avançado que ela não tinha escolha. O câncer esta literalmente destruindo seu interior e ela me contou tudo isso com um sorriso no rosto. – nesse momento senti um mal estar, meu coração apertou ao me lembrar daquela garota, Dr. Matteo tentava colocar o soro intravenoso em minha veia, mas por algum motivo ele não conseguia. – Então não. Eu não tenho direito de reclamar dos meus problemas porque eu tenho uma escolha, eu fiz a minha escolha. E aquela garota não teve essa chance e mesmo assim ela me contou piadas durante o almoço.

- o que está acontecendo aqui? – perguntou Dr. Marshall, o médico chefe do hospital chegando ao quarto – vocês estão estressando o paciente – falou ele vindo até mim.

- não estou conseguindo colocar a intravenosa – falou Dr. Matteo.

- deixa que eu mesmo coloco – falou ele pegando a agulha – vocês dois podem ir procurar o que fazer.

Dra. Emilly e Dr. Matteo saíram do quarto.

- não precisava ter sido tão duro com eles – falei respirando fundo. Dr. Marshall conseguiu colocar a agulha na primeira tentativa.

- sim eu precisava. Eles são alunos e estão aqui para aprender.

- Ok – falei tentando não estender a conversa, estava cansado e só queria dormir um pouco - obrigado por finalmente ter colocado a agulha, mas eu quero descansar.

- me desculpe – falou ele apertando os lábios, exatamente como meu pai fazia – mas o detetive está aqui para pegar seu depoimento. Sei que está cansado e que a última coisa que você quer é reviver o que aconteceu hoje de manhã, mas…

- vai além – falei olhando para ele.

- o que? – perguntou Dr. Marshall.

- não é só pelo oque aconteceu hoje cedo. O meu pai… ele…

- olha, não quero ser rude, mas eu tenho um hospital para cuidar. Não quero ser insensível, mas não tenho tempo para ouvir seus problemas, os meus já são o suficiente. O único problema que me interessava era o problema que já se resolveu, afinal você já assinou um consentimento abrindo mão de um processo. Então… Será que poderia guardar a história para o detetive?

- OK – falei respirando fundo. Dr. Marshall era só mais um canalha.

Dr. Marshall saiu do quarto sinalizou com a cabeça para algum lugar e em seguida apareceram dois policiais e o detetive Leon. O mesmo que não tinha acreditado na minha história antes. Porque agora seria diferente?

- com licença – falou detetive Leon entrando no quarto.

- veio perder seu tempo mais uma vez Detetive Leon?

- olha Oliver eu…

- “Você deve ser um garoto mimado que se cansou de ficar na casa do papai e agora quer chamar a atenção. Vai por mim. É melhor parar com esse teatrinho agora. Ninguém vai acreditar em você.” – falei olhando para ele. Leon não disse nada – essa foi a última coisa que disse na última vez que nos vimos.

- feche a porta por favor – falou Leon para um dos policiais que o acompanhavam.

- eu não vou dizer nada para você.

- olha – falou Leon se aproximando – eu também não gosto nenhum pouco dessa situação, via por mim. eu tentei conseguir um outro detetive para seu caso, mas infelizmente essa merda de cidade não tem outro detetive disponível no momento.

- faça um favor a nós dois e vá embora. – falei apontando para a porta.

- você acha que é fácil para mim? você denunciou seu pai. Você perdeu um pai. Eu perdi um amigo. Meu melhor amigo e sabe porque eu me sinto mal?

- não. Por favor detetive Leon, me diga: porque se sente tão mal?

- porque hoje eu interroguei meu melhor amigo. Eu fiz perguntas a ele. Perguntei sobre você, sobre Jake e sobre Stella e sabe o que ele disse?

- o que?

- confirmou. Ele simplesmente confessou tudo.

Quando Leon disse aquelas palavras foi como sentir uma faca sentir tirada de mim.

- ele confirmou?

- sim. Agora eu sei de tudo o que você passou. Ele confirmou tudo o que você disse na última vez que nos vimos. Os abusos de poder. Os abusos físicos, psicológicos e sexuais… - falou Leon com os olhos vermelhos – eu sei que posso soar egoísta agora, eu sei que foi cem vezes pior para você, sua mãe e seu irmão, mas eu perdi um amigo. Eu entrei naquela sala esperando que ele dissesse que tudo era mentira, mas ele confirmou e me disse coisas que você não me disse.

- então porque veio aqui hoje?

- apenas formalidade. A última coisa que eu quero é que você reviva tudo o que passou apenas leia – falou ele me entregando um enorme relatório – leia tudo o que está aqui. Se tudo for verdade assine. Se estiver faltando alguma coisa você escreve. Não precisa me contar. Quero te poupar disso tudo.

- você não devia fazer isso.

- não. Não posso, mas estou fazendo por você. É a minha forma de pedir desculpas.

- não quero suas desculpas.

- apenas leia.

- não preciso ler – falei pegando a caneta e assinando – eu sei que meu pai não omitiu nada.

- tem certeza?

- tenho – falei assinando – como você disse, eu não quero e não preciso reviver tudo de novo – falei entregando o relatório de volta.

- sinto muito – falou Leon – pelo o que disse a você no outro dia.

- eu sei. Todo mundo está se desculpando comigo hoje, mas infelizmente desculpas não apagam o que foi feito. Ao invés de ficar me pedindo desculpas leve isso como uma lição de vida. A próxima vez que alguém te contar alguma coisa durante o depoimento, tente deixar sua vida pessoal de fora e tente ouvir a vitima.

- OK – falou Leon se virando para sair. Ele abriu a porta e os dois policiais saíram primeiro. Antes de sair ele olhou para mim.

- o que foi?

- sua amiga Amy está aqui.

- tudo bem, pode deixar ela entrar.

Leon saiu e não demorou para que Amy entrasse no quarto. Ao fazer isso ela fechou a porta e em seguida veio até mim.

- como você está Amy?

- estou bem e você?

- procurando melhorar.

- que bom… – falou ela se aproximando – fico feliz por finalmente ter criado a coragem de enfrentar seu pai.

- eu não criei coragem. Pelo contrário. Se eu fosse corajoso eu teria denunciado ele a muito tempo. O que aconteceu foi simplesmente a pressão do momento. Se fosse em outro lugar e em outra situação eu nunca teria contado. Eu simplesmente teria ficado calado, assim coo fiz toda minha vida afinal as pessoas ao meu redor não ligam para mim. Primeiro tem um médico que me tratou bem até o momento em que eu assinei um papel dizendo que não ia processar o hospital, do outro lado tenho um detetive com orgulho ferido ou seja, ninguém liga realmente para mim ou para o que aconteceu comigo.

- pare de pensar isso.

- eu não criei essa idéia do nada Amy. As pessoas estão muito ocupadas resolvendo seus próprios problemas. Elas não ligam para o problema dos outros.

- pare de colocar tanta pressão em si mesmo Oliver. Você é humano existem pessoas que se importam com você.

- quem? Minha mãe ou mau irmão? Que eu saiba nenhum deles deram a cara por aqui hoje.

- eu estou falando do Tobias.

- por favor Amy, Tobias é um homem casado.

- eu vi vocês dois se beijando.

- não significa nada. Especialmente depois do que ele falou sobre mim. Depois do que Frank fez e depois do que Tobias fez acho que vou desistir de procurar.

- você não pode basear toda sua experiência nesses dois homens. Você só precisa encontrar um homem que reacenda essa chama.

- entenda uma coisa Amy: meu pai me bateu, meu pai me maltratou, mas por algum motivo ele nunca abusou sexualmente de mim. Me sinto nojento por dizer isso, mas eu agradeço por ele ter feito isso apenas com meu irmão. Meu pai me possuía. Ele me tinha na palma da minha mão, mas sabe o que me mantinha nos trilhos? O fato de que eu acreditava em contos de fadas apesar da vida miserável que eu tive. Eu sempre acreditei na mágica do amor: o primeiro encontro, o primeiro beijo a primeira tranza. Frank e Tobias não só me decepcionaram, mas me fizeram não acreditar mais em contos de fadas inúteis. Eles me fizeram perceber que a vida é uma porcaria em casa e será pior ainda agora que eu não tenho ninguém.

- você tem – falou ela segurando minha mão – você tem a mim. Eu sou sua amiga e não vou te abandonar. Prometo ficar ao seu lado independente d oque aconteça. Você pode ir para a minha casa, você pode ficar o tempo que quiser.

- obrigado – falei tentando me acalmar. Minha cabeça doía um pouco.

- toc toc – falou um homem batendo na porta e entrando – desculpe atrapalhar, mas eu tenho uma consulta com o Oliver.

- consulta? – perguntei intrigado.

- eu sou o Dr. Luke Adams, seu psicólogo.

- psicólogo? Eu não sou maluco – falei desconfortável.

- essa é uma visão generalizada. Você não precisa ser maluco para ter um psicólogo ou psiquiatra. Na verdade muitos psicólogos acredita quem todo adolescente necessite visitar um psicólogo durante a puberdade.

- eu não estou na puberdade. Não preciso de psicólogo.

- depois de tudo o que passou eu só queria…

- sai do meu quarto – falei sem olhar para ele.

- eu só gostaria de…

- SAIA DO MEU QUARTO! – gritei fazendo com que todo o quarto andar olhasse direto para meu quarto. Eu vi a expressão que Amy fez. Ela estava horrorizada.

- OK – falou o psicólogo saindo do meu quarto.

- o que aconteceu com você? – perguntou Amy ainda chocada com minha reação – você não era assim Oliver. Você não é o rapaz educado que eu conheci.

- bom, aparentemente você não me conhecia muito bem sua vaca estúpida.

Quando disse isso Amy cerrou os lábios e como todos os outros, não cumpriu sua promessa. Ela saiu do quarto batendo a porta.

- Amy me desculpa – falei me arrependendo.

O engraçado é que eu não queria dizer aquilo. Saiu sem que eu quisesse. Ou talvez eu seja mais parecido com meu pai do que eu pensava. Ter ficado todos esses anos perto dele pode ter me intoxicado com todo seu preconceito e misoginia, mas eu estava arrependido do que disse. Profundamente. Era como se as palavras tivessem saído sem que eu quisesse. Em contra partida minha cabeça continuava a doer um pouco.

Quando eu finalmente pensei que teria um pouco de paz, novamente o psicólogo retornou ao quarto, mas dessa vez ele estava com a doutora Bethany.

- o que estão fazendo aqui – perguntei sem dar muita importância aos dois. Era a segunda vez que tentava dormir e descansar. Estava começando a me encher a paciência.

- está tudo bem com você Oliver? O Dr. Adams disse que você expulsou ele do quarto aos gritos.

- o que foi Dra. Bethany Creswick? – falei olhando para ela – vai me dizer se importa comigo? Porque o seu marido, que aparentemente é a droga do chefe da cirurgia, não liga pra mim ou para meus problemas.

Dra. Bethany e Dr. Adams se entreolharam.

- porque está agindo dessa forma? Por acaso alguém te tratou mal?

- eu sei. Vocês devem estar decepcionados. Sou o cara que foi maltratado a vida toda e agora estou aqui finalmente “a salvo” e vocês esperam que eu seja um doce de pessoa, mas eu não sou. Pelo menos não sou mais.

- eu entendo que tem passado por muita coisa, mas eu gostaria de conversar com você sobre o seu pai.

- meu pai? – falei olhando para ela.

- sim.

- o que tem meu pai?

- eles pediram que um médico fosse até a delegacia onde seu pai está detido.

- porque? O que aconteceu com ele?

Dra. Bethany e Dr. Adams novamente se entreolharam.

- DROGA! – falei tentando me levantar da cama. No momento e quem fiz isso eu cai no chão. Não sei porque tinha feito isso. Eu sabia que minha perna estava quebrada, mas mesmo assim eu me virei e dei um pulo da cama.

Dra. Bethany pediu ajuda e Dr. Adams conseguiu me levantar e me colocar de volta na maca.

- você precisa ser forte – falou Dr. Adams.

- o que aconteceu com meu pai? O desgraçado finalmente morreu? – perguntei já na cama ofegante.

- não – respondeu Dr. Adams.

- então porque preciso ser forte?

Eles não responderam nada e toda a vez que eles faziam isso me irritavam um pouco mais.

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Obrigado a todos que acompanham e comentam. vocês me motivam a continuar. Um beijo a todos vocês!

Comentários

Há 1 comentários.

Por fran em 2014-11-14 01:24:51
Passada. não acredito que...? serio isso? não é o que estou pensando? menino que babado... minha nossa senhora do chuveiro elétrico... menino que isso não seja o que estou pensando... parece que sou louco né? mais sou mesmo. kkkkk as reticências são para não estragar o conto. vai que eu acertei. iria estragar tudo. mais espero que a familia de Olli esteja bem. continua...GRGA2014. em breve. bjão quero ver seus comentarios lá hem.