O funeral
Parte da série Segredos Profundos
"O lado sombrio da vida, pode ser gostoso, emocionante, engrandecedor, poderoso, prazeroso, etc... mas nunca deixará de ser o fundo do poço e jamais terá um final feliz."
De Farias, A. C. M. B.
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Quando o caixão chegou, gelei, estava suando frio, minhas pernas tremiam e eu achava que ia desmaiar de tanta fraqueza que me dava, ao fundo uma moça começava a gritar, andando pra lá e pra cá, implorando para que Deus devolvesse a vida aquele pobre homem, assim, logo que colocaram o caixão no lugar, no meio do salão, ela já estava debruçada sobre ele. Porém olhando em volta percebi que todos olhavam estranhamente para ela, alguns até mesmo lhe apontavam o dedo e cochichavam.
- Teddy!
- Ahh! Gritei - Ai mãe que susto! Nem vi a senhora chegando!
- Calma filho, só vim para te chamar para irmos embora, não acho que este ambiente seja adequado para nós.
- Por que mãe? O que aconteceu?
- Aquela menina veio causar um estrago! Vamos embora antes que tudo isso vire uma baixaria!
- Por quê? Como Assim? Quem é aquela menina? Todo mundo está olhando para ela, apontando.... que feio!
- Não sei quem é, mas sei que a família está chegando e acho que vão ter uma surpresa desagradável ao chegar!
- Mãe, não estou entendendo nada, quem é a menina? Você sabe de alguma coisa? Ouviu alguma coisa?
- Não sei de nada, mas ouvi uns comentários que ela é uma filha bastarda.
Olhando para fora, pela janela de vidro que dava para o jardim e o estacionamento, vimos que a família estava chegando.
- Mãe! Olhe, eles chegaram!
- Vamos embora! Agora! Disse minha mãe, em um tom áspero e rude, algo bem atípico, já que era tão doce e sempre educada.
Saímos andando, ao chegar a porta do salão, passamos pela família, mas saímos tão afoitos que nem os cumprimentamos.
Quando já estávamos no carro, começamos a ouvir gritos vindos do salão, parecia que estava tendo uma discussão feia lá dentro.
- O que será que está acontecendo mãe? Perguntei, enquanto entravamos no carro.
- Não sei filho, mas acho melhor não nos metermos!
- Mãe você está tão estranha, parece que está escondendo alguma coisa.
- Eu não tenho nada a esconder, só não quero ficar no meio de um barraco! E vamos embora! Dizendo isso ela ligou o carro e começou a manobrar para irmos embora, os gritos lá dentro ficavam cada vez mais altos, dava para ouvir algo do tipo: " O que você está fazendo aqui?", "Você não é nada nessa família". Quando minha mãe terminou de manobrar e foi passar em frente ao salão, ela brecou com tudo, pois a menina misteriosa tinha sido expulsa a pontapés pelos seguranças da família, que a arremessaram salão a fora, bem na frente do carro.
- MEU DEUS! Gritei.
Eu tremia, minha mãe tremia, estávamos estarrecidos. Minha mãe abriu a porta do carro, e chorando foi ver se menina estava bem. Eu fiquei paralisado, nem desci do carro, mas vi minha mãe abaixando e conversando com a menina, parecia dar uma bronca nela. Não estava entendendo nada daquela situação, estava tudo muito estranho, e ficou ainda mais, quando a menina que também chorava abraçou minha mãe e as duas vieram para dentro do carro.
- Ninguém pode saber que eu ajudei você, Lana. Abaixe- se, vou te levar para um lugar seguro! E você, Teddy, Não conte isso a ninguém, nem faça perguntas. Disse ela, já ligando o carro e saindo do cemitério.
- Isso é impossível, eu não estou entendendo nada, me explica pelo amor de Deus! Falei já num tom elevado.
- Não tenho que te explicar nada, apenas não pergunte.
- Mãe, por favor, quem é ela?
- MÃE? Você disse mãe? Falou a menina estranha, que estava sentada no banco de trás. Não tô acreditando!
- Mãe? Quem é ela?
- VOCÊS, CALEM A BOCA, ESTOU CANSADA E ESTRESSADA, NÃO FALAREI NADA, NÃO PRECISO DAR EXPLICAÇÕES A NINGUÉM! Disse minha mãe aos berros.
- EU PENSEI QUE VOCÊ NÃO ESCONDESSE NADA DE MIM, QUE ERA MINHA AMIGA E QUE ME AJUDARIA! E AGORA? QUEM É VOCÊ? EU NÃO TE RECONHEÇO! QUE HISTÓRIA É ESSA DE FILHO? Gritou a menina no caro. O que me estranhou muito, pois parecia que tinham uma intimidade fora do normal.
- Eu tenho uma vida, Lana, eu escolhi seguir em frente, eu escolhi viver em paz, sinto muito por tudo que te aconteceu, mas eu já tenho uma família e não vou botar tudo a perder por causa da sua cabeça dura. Disse minha mãe, um pouco mais calma, porém ainda áspera.
- Você sabe quem é sua mãe rapaz? Disse a menina.
Olhando para minha mãe, no meio daquela confusão, senti que ela era uma estranha, então disse:
- Não! Não sei quem ela é, eu a desconheço!
- ELA É UMA ASSASSINA! Gritou a menina.
- CALA A BOCA LANA! Gritou minha mãe.
Não conseguia pensar, senti o mundo girando, senti ânsia, aquilo não era possível, de repente uma estranha chegara na minha vida e fizera um estrago, colocara dúvidas na minha cabeça sobre minha mãe, estava mudando os rumos da minha existência e eu apenas pensava. “Quem é essa garota? E o que ela quer? No que minha mãe está envolvida?”