Primeiro Dia de Aula

Conto de JoaoLucas como (Seguir)

Parte da série Amor de Ensino Médio

Não sou o primeiro e nem o último garoto a mudar de escola durante a adolescência. E geralmente o motivo é o mesmo: transferência de trabalho do pai (ou da mãe). E comigo não foi diferente.

Eu não tenho experiência com mudanças, a única coisa que sei é que não é fácil e a fase de adaptação é sempre a pior de todas. Cidade nova, vizinhos novos, escola diferente, criar amizade... tudo isso assusta uma pessoa que tem dificuldade de interagir com os outros assim como eu. Sim, eu sou bastante tímido.

Bom, ainda não me apresentei, meu nome é João Lucas (ou só João como todos costumam dizer), tenho 17 anos e sou de São Paulo. Não sou um garoto tão baixo, tenho 1,82 m. Meu corpo também nunca foi muito gordo, peso 71kg. Minha pele é branca. Tenho os lábios exagerados rosados. Minhas bochechas são fundas e bem marcadas. Olhos normais castanhos. Sobrancelhas grossas (porem desenhadas) negras e cabelo da mesma cor da sobrancelha modelado para trás. (Eu tinha cabelo liso comprido tipo emo até os meus 15 anos quando me deixei levar pela moda do undercut e raspei as laterais do meu cabelo e moldei num topete a parte de cima que ainda restou do meu cabelão. Foi nesse momento que notaram a beleza que eu tinha escondida na minha timidez e na antiga e assombrosa aparência emo que tinha).

Modéstia parta me acho bonito. Sou aquele tipo de garoto padrão estilo blogueiro, tumblr. E sempre recebi elogios, cantadas (tanto de garotos quanto de meninas), inclusive incentivavam meus pais a investirem em um carreira de modelo pra mim. Eu não me sentia confortável com a ideia devido ao foto de ser tímido demais pra me expor em público.

Minha família e eu (meus pais (Daniela e Fabrício), meu irmão mais velho (Matheus) e minha irmãzinha (Eduarda)) somos de Sorocaba (SP), mas desde os meus 5 anos morávamos em Bauru quando meu pai começou a trabalhar para uma rede de fábricas têxteis. No final do ano passado, a empresa transferiu meu pai para uma filial em Nova Friburgo (RJ). Foi uma mudança inesperada, corrida e drástica. Outro estado, outros modos, não era outro país mas seria um modelo de vida muito diferente, começando pela própria estrutura da cidade. Enfim... eu não queria. Mas eu não tive escolha. Só tive tempo de concluir às pressas as últimas provas do ano (eu cursava o 1º ano do Ensino Médio) e dar início a mudança. Viemos todos: eu, meus pais e meus irmãos. Deixei em São Paulo primos, tias e até mesmo bisavô e avós.

Eu amo a cidade do Rio de Janeiro (fui poucas vezes mas sempre tive encanto pela formosa identidade carioca) mas jamais pensei em morar numa cidade no interior do estado do RJ. Principalmente nessas circunstâncias. Ou seja, logo de cara já criei antipatia por Nova Friburgo e tudo e todos ali. Chegamos na casa nova no último final de semana de novembro. Passei as minhas férias inteira trancado dentro do meu quarto lendo livros, rabiscando casas (sonho em ser arquiteto), assistindo vídeos e mais vídeos no YouTube e lendo alguns contos e romances em alguns endereços virtuais. Eu não curto redes sociais, principalmente as vinculadas à fotografia. Tenho apenas o essencial: Facebook e WhatsApp e, mesmo assim só uso quando necessário. Eu queria tanto voltar pra São Paulo que comecei a me comportar de maneira imatura e pirracenta (e burra, porque no fundo eu sabia que me comportar daquele jeito não iriar adiantar em nada), me isolava dentro do meu quarto, evitava falar com meus pais e fingia não me alimentar direito na frente deles. Nem a escola onde eu estudaria esse ano me preocupei em escolher e ir conhecer.

Quando dei conta, já era final de janeiro, numa sexta à tarde, eu tinha ido com o meu irmão num salão unissex para cortar o cabelo dele e ver se ia gostar do ambiente e se confiaria em deixar essa cabeleira que ainda não conhecia cortar o meu cabelo de agora em diante, afinal eu morava ali agora e precisava de um profissional do local. Quando chegamos em casa, deparei com minha mãe no sofá da sala com a minha Irma e fui direto para o meu quarto sem dirigir se quer uma palavra a alguém. Tranquei a porta do quarto, e sentei na poltrona para retirar os tênis, quando olhei pra cama avistei as minhas novas camisas e jaqueta de uniforme, que já estavam no cabide, em cima da cama, ao lado de algumas sacolas de material escolar e uma nova mochila da Element (sim eu sempre uso o mesmo modelo de mochila, só compro cor diferente e atual daquele ano). Foi naquele momento olhando paralisado para tudo aquilo em cima da minha cama que caiu a ficha de tudo o que estava acontecendo. Me levantei ainda em choque, fui até a cama lentamente (ainda incrédulo e surpreso) e comecei a mexer e ver tudo. Imediatamente liguei o computador e procurei a escola na internet para ver fotos e outras coisas.

Faltavam 9 dias para as aulas começarem. Pra minha sorte encontrei no site da escola as fotos das turmas do ano anterior e vi o rostinho de cada um que estudaria comigo. A escola era grande, tinham 3 andares com corredores compridos e janelas que iam praticamente do chão ao teto e no meio um pátio consideravelmente enorme , as turmas também eram grandes, cerca de 50 alunos. E os professores? Ah, os professores, sempre assustadores. Principalmente os de exatas.

Olhando pra minha turma, não tive simpatia de cara com nenhum rosto daquela foto. As meninas pareciam nojentas e cheias de "não me toque" e os garotos com rosto de moleques metidos a pegador. Affs! Queria minha antiga escola. Meus amigos Anderson, Giovana e também a Gabi. Eu ia sentir falta desse nosso quarteto.

Desde os meus 14 anos eu sempre tive certeza da minha orientação sexual. Garotas nunca me despertaram prazer e atração. E os garotos? Bom, os garotos eu quase nunca me envolvia devido à minha timidez. Ninguém tinha coragem de chegar em mim, diziam que eu era nojento e antipático, na verdade era apenas tímido. Por isso só me envolvi com 4 rapazes até hoje. Meus pais e minha família também sempre souberam que eu era gay. E diferentemente do comum, quando resolvi sentar pra conversar e me assumir, não me recriminaram, pelo comentário, me abraçaram e disseram que pra eles nada importava e que o amor deles por mim permaneceria o mesmo. Poucos pais tomam essa atitude. Quanto a isso tenho muita sorte.

Enfim... a véspera do primeiro dia de aula foi uma tortura pra mim. Eu estava no 2º ano do ensino médio. Adolescentes são chatos, irritantes, implicantes e principalmente zoeiros quando a gente não os conhece. Eu não queria acordar no dia seguinte e ir pra aquela escola que não conhecia ninguém, eu sabia que não faria amigos facilmente e que seria motivo de chacota, principalmente quando soubessem que sou gay. Não que eu seja afeminado. (Se fosse também não me importaria).

Naquele dia eu passei a noite em claro.

No dia seguinte, as 6:00 minha mãe bateu na porta do quarto e me chamou pra levantar:

-Filho!? Já tá acordado? Já tá na hora de levantar, tomar banho, café e ir pra escola.

Tirei os fones do ouvido um pouco assustado:

-Mas já? Que horas são? Nossa! Ainda nem dormi!

-Filho, porque? - disse minha mãe com uma expressão preocupada, sentou-se na cama ao meu lado e fez carinho na minha perna esperando aflita uma resposta minha.

-Sei lá. Não consegui dormir. Não quero ir à aula. Estou com medo deles não gostarem de mim. - respondi.

-aaaaah meu filho. Larga de bobeira. Olha pra você, um rapaz bonito, atraente, simpático. Vai fazer amizade rápido, você vai ver.

-Menos mãe, você sabe que não é assim.- disse num tom desanimado e revirando os olhos.

-Só sei que você vai levantar dessa cama, arrumar esse cabelo e chegar na escola bem bonito. Anda, vem, o café já está na mesa.

Minha mãe levantou e foi para a cozinha.

Respirei fundo, passei a mão no cabelo, calcei meu chinelo e fui até o banheiro. Lavei minhas mãos, escovei os dentes, fiz minhas necessidades e sentei na mesa pra tomar café, sozinho. Parecia que ninguém naquela casa havia acordado ainda.

Quando terminei fui pro banheiro e tive o banho mais demorado da minha vida.

-Joao Lucas, olha a hora! Você vai se atrasar! - disse minha mãe após bater 3 vezes na porta do banheiro.

Affsssss. Me vesti, arrumei o cabelo, tomei outro banho, dessa vez de perfume. CK Black, meu preferido. Até que aquele uniforme ficou bom em mim. Valorizou meu corpo e combinou com meu visual. Peguei minha mochila e fui até o quarto dos meus pais despedir da minha mãe. Meu pai já estava sentado no sofá da sala mexendo no celular me esperando pra irmos embora.

-Fui. Beijos.

-Vai com Deus meu filho. Boa sorte viu!? A mãe te ama. Pegou dinheiro pro lanche? Qualquer coisa você liga...

-Tá bom, mãe! Também te amo!

Mães são sempre assim. Mil e uma recomendações na hora de sair.

No carro eu nada dizia, apenas estalava todos os dedos da mão. Meu pai ficava com um olho na rua e outro em mim, percebendo o meu desassossego, perguntou:

-O que foi Joao Lucas, está nervoso?

-Um pouco!

-Você vai tirar essa de letra, meu filho. Apenas sorria e seja simpático.

Eu nada respondi, apenas olhei pra ele, revirei os olhos e pensei "Affs. Ótimo conselho. Até parece que você não conhece seu filho."

Ele estacionou bem na porta da escola, desci do carro tentando agir o mais natural possível e evitando olhar pro chão pra não transparecer tanto a minha timidez. Tinha a missão de achar minha sala no meio de tanta gente. Eu só sabia que era no terceiro andar. Por início, as pessoas que estavam na calçada e no corredor de entrada da escola não repararam em mim. Segui meu caminho, atravessei todo aquele pátio e subi as escadas bastante desconfortável. Os grupinhos transpareciam anos e anos de amizade devido à maneira que se interagiam, pareciam íntimos e felizes com o retorno das aulas.

"Será que sou o único novato nessa merda de colégio? Não é possível!"

Quando cheguei no 3º andar as pessoas começaram a olhar pra mim. Obviamente nunca viram meu rosto naquele colégio, e como de costume, estavam curiosos e doidos pra me encherem de perguntas: "qual o seu nome?" "De onde você veio?" blá blá blá...

Tentei não pensar nessas coisas pra não ficar mais nervoso. Aaaah graças a Deus, 3º andar, sala 306. Meu nome estava na listagem de alunos daquela turma: 2º ano A.

Encostei ao lado da porta e aguardava sozinho o sinal soar para que eu pudesse adentrar à sala.

Só conseguia olhar pra um grupo de rapazes e moças que obviamente eram do 3º ano e demonstravam ser bastante descolados. No meio deles, tinha um rapaz que chegou junto comigo na escola, e logo de cara tinha achado-o atraente. Mas ele simplesmente não deu bola pra mim, trocamos olhares logo que saí do carro e agora naquele momento. Depois disso ele fingiu não me notar, começou a gesticular enquanto conversava e a ignorar meus olhares e a minha presença. Abaixei a cabeça e continuei na minha. Afinal, qual a moral que eu, um novato e do 2º ano, tinha pra estar flertando com um garoto super lindo e super descolado do 3º ano?? Nenhuma. E outra, provavelmente ele era hétero.

Isso também não me abalou; eu não estava ali pra arranjar namorado, simplesmente queria estudar e por acaso vi esse menino e achei bonito. Nada além disso. Continuei na minha, mexendo no zíper do meu casaco.

Segundos depois, avistei de longe um grupinho de 3 garotas e 2 meninos. Eles estavam falando de mim, eu tinha certeza. Não souberam disfarçar. Comentavam olhando pra mim e sorriam. Abaixei a cabeça e voltei a mexer no zíper da jaqueta. Segundos depois duas das três garotas levantaram e vieram até mim.

-Olá! Tudo bem?

-Ei!

-oi. Tudo! - respondi baixo e bastante tímido.

-Novato né!? Turma A?

-Sim! - minha voz soou num tom demonstrando não muito interesse em fazer amizade, pelo menos não agora.

-Legal! A gente também.

Apenas sorri. Elas continuaram:

-Qual é seu nome?

-Joao! João Lucas!

-Só João mesmo kk nome muito grande.

-Kkkk eu sou a Thais, e essa é a....

-Laura. Prazer!

-Rsrs Prazer meninas. - Respondi um pouco sem graça.

-Mas você é daqui mesmo?

Não tive tempo de responder, graças a Deus o sinal tocou na hora, aliviado arrumei minha mochila nas costas e entrei na sala ao lado de Thais e Laura, logo após um grupo de meninas que aparentemente eram nerds.

Me ajeitei na fileira do canto numa das últimas cadeiras. Laura sentou na minha frente e Thais ao meu lado. As garotas acomodaram-se na cadeira e viraram para mim numa expressam que estavam aguardando minha resposta e dando continuidade à conversa:

-Eu sou de São Paulo. Me mudei pra cá no final do ano passado por causa do emprego do meu pai.

-Caracaaaaa. Paulista! Kkkk

-Fala "Porta" pra gente kkkkk

Apenas sorri tímido mais uma vez. Não queria ser zoado pela minha cidade natal, e principalmente pelo meu sotaque.

Nesse momento os outros alunos também entravam na sala e se acomodavam em suas carteiras. Uma bagunça, gargalhadas, vozes e mais vozes, barulho de carteiras sendo arrastadas. Pessoal se cumprimentando. Enfim...

Os dois garotos e a outra menina amigos da Thais e Laura vieram em nossa direção. A menina sorriu pra mim tentando ser simpática, e sentou-se na frente da Thais. Laura logo disse:

-Julia, esse é o Joao Lucas, vai ser nosso amigo.

-aaah! Oi. Tudo bem contigo? Prazer!

-E aí. Prazer.

Trocamos sorrisos mas ela logo abriu sua mochila e começou a retirar seus cadernos. Não demonstrou interesse em conversar também. Gostei dela! Haha Logo em seguida os dois meninos numa maior conversa chegaram perto da gente. Um deles passou por mim, olhou nos meus olhos, nada disse, ele parecia tímido também, deu apenas um leve sorriso envergonhado de canto de boca e sentou-se na carteira atras da mim. O outro mais comunicativo e hiperativo começou a gargalhar e falar alto com uma garota que estava sentada na frente da Laura. Thais deu um grito, chamando-o:

-Gabrieeel. Vem cá!

-Fala minha flor.

-Esse aqui é o Joao Lucas....

-Faaaaala mano. Suave? - falou ele esticando as mãos pra me cumprimentar. Ele era engraçado kkk parecia elétrico. Falava com todo mundo e parecia estar ligado no 220v.

-Se precisar de alguma coisa, meu nome é Gabriel. Tamo junto e é isso aí.

Dei uma risada achando o jeito dele bastante divertido.

O garoto que estava atras de mim apenas me observava e observava a maneira como o Gabriel interagia comigo.

Thais logo interviu:

-Nossa Caio. Fala com o garoto também...

Nessa hora olhei pra trás, ele olhou pra mim por 1 segundo e logo olhou pra Thais:

-Ué. Mas eu nem conheço ele. Vou falar o que?

-Sei lá. Se vira. Mas seja simpático.

Eu abaixei a cabeça e virei pra frente de novo. Gabriel sentou atras da Thaís e os dois começaram a conversar, junto com Laura e Julia.

Eu comecei a mexer no meu estojo, coloquei algumas canetas e lápis em cima da mesa. Senti uma mão tocar meu ombro. Olhei pra Trás era o Caio me chamando.

-Desculpa, nem me apresentei, meu nome é Caio. E o seu qual é?

-Joao.... Joao Lucas.

-Legal.- falou ele enquanto estendia a mão pra me cumprimentar.

Aquele garoto me fazia suar frio. Ele era dono de uma beleza inacreditável. Apertei suas mãos mas meus olhos focaram os dentes brancos e alinhados enquanto ele sorria.

Ficamos constrangidos e envergonhados quando nossas mãos se tocaram. A pele dele era branquinha e lisa. Ele também deveria ter sentido a textura da minha afinal ele ficou tão sem graça quanto eu.

Depois disso, virei pra frente e abri meu caderno na primeira folha.

Caio disfarçou e começou a mexer também em seu material. E pra minha surpresa, pela primeira vez eu queria conversar, queria fazer amizade, fazer um monte de perguntas e descobrir mais sobre o Caio. Eu comecei a pensar nele. Percebi que Gabriel e Thais cochichavam enquanto olhavam pra mim e pro Caio. Ignorei e fiquei na minha.

Pra minha sorte a professora logo chegou. Tive simpatia por ela no primeiro contato. Ele era nova, seu nome era Roberta e daria aula de biologia (ecologia). Ela já conhecia a turma porém não os novatos. Por conta disso pediu para que cada um levantasse e dissesse seu nome, se apresentando pro restante da turma.

"Aaaaaaah não! Tudo menos isso!"

Assim foi feito, alguns levantavam timidamente enquanto outros não despertaram dificuldade em lidar com público. Queria eu ser assim. Quando chegou minha vez, a professora:

-E o rapaz lindo de cabelo preto, rostinho novo, nunca te vi por aqui. Como se chamava e de onde veio?

-Meu nome é João Lucas e eu vim de uma escola de Bauru, São Paulo!- respondi sentado na cadeira.

-Seja bem vindo Joao Lucas mas ninguém conseguiu ver seu rosto, levante e se apresente pra turma!

Levantei de forma desastrada, deixando cair meu estojo e tudo que tinha dentro dele no chão o que despertou a graça e o deboche de meia dúzia de alunos. Mas logo envergonhado, com as bochechas coradas, sentei-me novamente.

Caio logo em seguida levantou-se e disse:

-Eu sou o Leôncio e eu vim diretamente dos estúdios do Pica Pau.

Pronto! A sala inteira foi ao delírio, gargalhando e achando super engraçada a piadinha do Caio. Depois dessa cheguei à conclusão que provavelmente ele era o bobo da corte da turma. Até eu não aguentei e soltei um sorriso frouxo. A professora também.

-Ok senhor Caio. Não podia deixar de lado as piadinhas né!?

-Sabe como é né professora, a gente perde os amigos mas não perde a piada.

-Agora pode se sentar, por favor.

Pronto. Já tinha percebido que Caio não era como eu pensava que era, tímido. Isso também não era da minha conta.

A professora antes de começar a falar sobre o ano letivo e todas essas coisas, escreveu o cabeçalho e alguns tópicos que seriam trabalhados ao longo do bimestre e do ano. Automaticamente, a turma abriu seus cadernos e começou a escrever. Caio novamente toca o meu ombro. Olho de rabo de olho pra trás, ele aproxima seu corpo do meu ouvido e diz:

-Não liga pros garotos ok? Eles zoam todo mundo e por conta disso não tem nenhum amigo aqui na sala além deles mesmo! (Disse isso devido ao deboche no momento em que me apresentei).

Apenas gesticulei com a cabeça ensinuando que "sim. Tá tudo bem". E ele continuou:

-Ah! E a minha piadinha... não tava te zoando não tá!? Mas eu sou assim mesmo...

-Tudo bem. Não pensei nada disso.

-Então tá bom.

Ele sorriu. Eu também. E voltamos a copiar o que estava no quadro.

Thais não perdeu a oportunidade de intervir:

-Hmmmmmmm. Vocês dois no cochicho aí!!

A fala da Thaís despertou a atenção do Gabriel, Laura e Julia que olharam pra mim e pro Caio sorrindo. Caio logo disse:

-Cala a boca Thais. Não fode vocês. Tão pensando merda já, nem viaja.

-Mano, eu nem tô falando nada- justificou Gabriel.

-Nem eu! - Laura

-E eu To voltando pro meu caderno agora porque tá mais interessante. - Julia, sempre evitando papo e focada no material.

Percebi que Caio não ficou confortável com a situação. Demonstrou um pouco de estress. Continuei na minha.

A professora começou a falar, falar, falar... tivemos os 3 primeiros horários que antecediam o recreio com a Roberta. Quando dei conta, já era 10:00 e o sinal havia soado, era hora do intervalo. A turma abriu a porta e saiu de maneira eufórica. Caio passou por mim com Gabriel e saiu da sala. Peguei uma banana no bolso da minha mochila e sai da sala logo atrás das meninas.

Laura logo vira pra trás e diz:

-Gente!! A gente esqueceu do Joao Lucas, ele tá sozinho.

-Vem com a gente, João! - Julia.

Me juntei as três e descemos as escadas até o pátio. Enquanto andávamos elas comentavam dos meninos do 3º ano que havia passado por nós. Eu apenas ouvia, não tinha o que comentar.

Chegamos lá em baixo, elas não quiseram comprar lanche porque a fila da cantina estava imensa e resolvemos sentar num banco próximo a um canteiro de flores. Caio e Gabriel passaram na nossa frente com um outro garoto (também da Turma, Marcio Júnior). Foi nessa hora que Julia inocentemente virou pra mim e perguntou:

-Porque você não anda junto com os meninos?

Não tive resposta. Sem saber o que responder apenas balancei os ombros dizendo que "sei lá".

Thais logo interviu:

-Aaaah! Porque ele e o Caio já tão se crushando. Aí não tem clima pra ficarem um do outro - e as três riram do comentário audacioso da Thaís.

-Ah? Que? Claro que não! - argumentei.

Laura então olhou ao redor pra checar que não havia ninguém por perto e disse:

-Mas Gente, cá entre nós, que tá muito na cara do Caio que ele curtiu o Joao Lucas, isso tá!

-Nada a ver, gente! - disse eu.

-Ele não tá conseguindo disfarçar. - Thais

Julia então diz: - Em falar nele, olha quem está ali olhando pra cá!

Nos 4 olhamos pra nossa diagonal na direção do outro canteiro, e lá estava Caio sentado no banco no meio de um bolinho de mais de 10 garotos. As meninas sorriram pra ele, ele retribuiu com outro sorriso. Obviamente ele sacou que estávamos falando dele.

Mas realmente Caio era lindo. Ele era mais ou menos da minha altura, pele branca e lisa, sem nenhum pelo pelo corpo. Cabelo liso curto com uma franja jogada pro lado num tom castanho bem claro, quase loiro. Ele era magro e seu corpinho era definido. Típico de jogador de futebol (mas ele não jogava futebol, praticava vôlei e malhava). Caio tinha olhos castanhos não muito escuros e seus cílios eram literalmente grandes e volumosos, o que dava um charme ao seus olhos. Sua boca rosada era normal porém desenhada. Mas o seu sorriso, meu Deus. Ele tinha dentes brancos e alinhados e covinhas. O famoso colírio capricho.

As meninas deram continuidade ao assunto:

-Até que eu Shippo. Tadinho do Caio, ele merece alguém. Tá nessa aí desde que o Bruno foi embora. - Julia

-Ah! É verdade! - Laura

Thais sempre inconveniente:

-Joao Lucas eu acho que ele tá super a fim de você. Dá uma chance pro garoto!

-Que isso gente! Tão doidas? -eu.

-Ué! Você não é gay? - Julia.

As três paralisaram aguardando ansiosamente a minha resposta:

-A questão não é essa, O Caio é gay? - Perguntei literalmente surpreso. Independente da maneira como ele falou comigo na sala, não tinha pensado na possibilidade dele ser gay. Afinal ele tinha toda pinta de hétero. Mesmo eu achando-o um gatinho.

As três olharam uma pra outra e riram.

-Vai. Falam...

-Então.... - Laura

-Então, ele... - Julia

-Ele é gay. Pronto, falei! - Thais sendo direta sempre.

-Ok. Mas quem é Bruno? - perguntei.

-Um ex namoradinho dele. - Julia

Thais: - Um garoto que estudou com a gente do 9º ano até o meio do ano passado. Mas ele saiu porque ia repetir de ano, acabou que no final das contas mudou de cidade e Caio nunca mais teve contato com ele. Ele beberam muito na festa de 15 anos da Laura e por fim se beijaram num canto lá, só que a gente viu. E depois disso ele começaram a ficar sério, escondido óbvio. Até que o menino nunca mais deu as caras.

Laura: - Aham! Pra gente foi um maior auê. A gente nunca tinha visto o Caio com nenhuma menina e quase nunca ele tocava nesse assunto mas sei lá, nunca passou pela cabeça de ninguém que ele curtia garotos.

Julia: - Mentira! Ele já tinha pegado algumas meninas na nossa frente sim. Só que era muito raro, aí a gente achava que ele que era fresco e seletivo só porque era bonitinho. Mas jamais pensamos que ele era gay.

Thais: - Mas a questão é que ele é gay mesmo, viadão, parem de enrolar, só que não gosta de se expor. Por isso preserva a identidade bem masculina dele.

Laura: - Verdade, parece que ele não se sente confortável com a ideia e aí tem medo do que as pessoas vão achar dele e como vão tratar ele depois que souberem que ele fica com garotos.

"Agora eu entendi a maneira incomodada e estressada como ele se comportou na sala quando a Thaís me zoou com ele" - pensei quieto na minha.

Julia: -Garotos não, ele só pegou o Bruno de menino até hoje.

-É! - Laura.

Thais: - Que seja. Deixando o Caio de lado, fala de você Joao Lucas...

-Eu? O que tem eu?

Julia: - você é gay ou não é?

Todas levantaram a sobrancelha esperando eu dizer "sim".

-Sou gente! - falei num tom de desabafo.

-Eu já sabia. - Thais

-Eu também. - Laura

-Sei lá, no fundo fiquei com dúvida - Julia

-Aí gente, adoro operação cupido! Kkk - brincou Laura.

Na mesma hora, Thais gritou o Caio:

-Caaaio.

Ele olhou pro nosso grupinho. E Thais gesticulou, chamando-o pra vir até onde a gente estava.

-Ah não cara. Eu não acredito! - resmunguei.

-Relaxa- Thais.

Ele levantou meio sem graça mas com um sorriso no rosto e veio até a gente.

-Oi?

-Faz companhia pro Joao Lucas porque a gente vai no banheiro e ele ficou sem graça de ir até o grupinho de vocês. Só pra ele não ficar sozinho.

As meninas levantaram do banco, ele olhou pra mim com um sorriso mais bobo do mundo e respondeu enquanto sentava ao meu lado:

-ah! Claro! Vão lá.

Eu só queria enfiar a minha cara num buraco de tanto vergonha que eu estava. Minha bochecha nessa hora já estava corada e eu só conseguia olhar pro banco.

Ele não sabia como agir e nem qual assunto puxar. Em meio ao silêncio entre nós dois, ele comenta:

-Essas meninas são meio porra louca, já percebeu né!? Tem horas que viajam, falam umas coisas nada a ver e são bem loucas, mas no fundo elas são bem legais...

Pensei comigo "até agora só disseram verdades. Verdades essas bem interessantes. Mas tudo bem."

Eu apenas sorri e disse:

-Uhum. Gostei delas!

O sinal tocou logo na hora. O intervalo havia acabado. Levantei do banco e fui caminhando até a lixeira pra jogar a casca da banana fora. Quando vi que ele continuou no banco, arremessei a casca no lixo e virei pra falar com o Caio:

-Você não vem?

Ele estava paralisado olhando pra mim, apenas respondeu:

-Ah sim. Estou indo! - Caio levantou e foi andando ao meu lado. E arriscou a puxar algum assunto:

-Na sua antiga escola vocês tinham aula de educação física?

-Sim. Só que eu não participava.

-Sério? Porque?

-Sei lá, eu não tinha muita habilidade com bola.

-Eita!! Kkkkkk

-Naaaaaao. To falando de de de esportes. - gaguejei tentando me justificar. Mas já havia ficado muito sem graça pelo fato dele ter maldado meu comentário.

-kkkkkkk eu sei. Só tava te zoando. Desculpa a brincadeira. - Ele desculpou-se após perceber o meu constrangimento.

-Tudo bem.

Quando olhei pra trás vi Gabriel com Julia, Laura e Thais bem lá atras da gente, nos observando com uma expressão de entusiasmo.

-Mas então, como tava dizendo, aqui a gente não tem educação física mas tem escolinhas depois da aula. Tem vôlei, basquete, handebol... Eu jogo vôlei. Se um dia você quiser ficar pra me assistir. Quero dizer, pra ver o treino, sei lá, às vezes você acaba gostando.

-Tudo bem, eu fico um dia desses pra te assistir! Mas não vou jogar!

-Sério?

-Sério!

-Legal!

Ele deu um sorrisão e eu me entreguei ao sorriso dele e viajei em pensamento. Eu já estava apaixonado pelo Caio. A questão era quebrar o tabu da minha timidez, deixar o Caio mais próximo e a vontade comigo e, me entregar à paixão. Ele também, claro.

Entramos pra sala, caio estava na minha frente e foi direto pra sua carteira. Eu fui logo atrás dele e sentei na minha carteira.

Teríamos dois horários de história, e seríamos liberado mais cedo, sendo suspendidos do último horário porque era primeiro dia de aula.

As meninas logo entraram na sala com Gabriel e cada um sentou-se em sua carteira. Logo em seguida o professor também entrou na sala e numa expressão não muito humorada bateu na mesa três vezes:

-Silêncio! O recreio já acabou. Vamos sentar, nos acalmar e ficar quietos porque quero começar minha aula.

Pronto. Curto e grosso. Sempre tem que ter esse professor rédia grossa pra acabar com a nossa felicidade.

-Meu nome é Narcísio e como todos já sabem estarei trabalhando a disciplina de história com vocês de novo.

Narcísio não quis saber nem o nome dos novatos. Fiquei feliz com isso, pra ser sincero. Ele já foi logo ligando o projetor, apagando a luz da sala e projetando um vídeo introdutório imenso sobre Dom Pedro- e Brasil colônia. Seria a matéria que estaríamos estudando ao longo do bimestre.

A sala toda ficou em silenciou, prestando atenção embora alguns tenham tirado o tempo pra cochilar- o caso de Thais e Gabriel. O vídeo era cansativo e muito longo, quando demos conta o segundo sinal soou e já era hora de irmos embora para nossas casas. E o vídeo ainda não havia acabado.

-Vocês podem ir e na próxima aula demos continuidade ao vídeo.

Todos saíram da sala apressados. Doidos pra ir pra casa. Meus pais não sabiam que eu iria sair nesse horário. Portanto teria que ir pra casa sozinho. A questão é que eu não sabia andar de ônibus naquela cidade.

Todos descemos juntos: eu, Caio, Gabriel e as meninas. Quando chegamos na calçada despedimos um dos outros. O pai da Laura tinha ido buscá-la de carro. E Gabriel aproveitou e foi de carona pois moravam perto. Caio e Julia moravam perto um do outro também. E Thais morava no outro lado da cidade, então ela despediu da gente

e seguiu para o ponto de ônibus. Julia a Caio iam pra casa a pé. Julia me deu 2 beijinhos e despediu de mim. Caio estendeu a mão pra despedir de mim e perguntou:

-Seus pais vem te buscar?

-Na verdade, não sei.

-Como assim?

-Eles não sabiam que eu iria sair nesse horário, aí tenho que ligar pra saber quem vai poder vir me buscar.

-Que merda ein cara. Mas você mora aonde?

-Então kkkk não conheço nada aqui. Só sei que é na Avenida conselheiro Julius Arp. Acho que é isso!

-Ah cara eu sei onde é. A gente mora no São Clemente.... (pausa), você não deve ser onde é né!? Kkkk

Balancei a cabeça rindo ensinuando que não fazia ideia de onde era esse tal São Clemente.

-Rsrsrs Mas enfim... a gente pode passar por ali pra te deixar em casa, se você quiser.

Ajeitei minha mochila nas costas e segui caminhando com eles. Julia foi no meio entre eu e Caio. Ele tentava ao máximo ignorar a presença de Julia entre a gente. E em todos os assuntos ele falava diretamente comigo, hora e outra que ele interagia com a Julia. Falamos sobre as aulas que tivemos, sobre alguns professores que ainda não conhecia e sobre assuntos cotidianos como a política do país, nossa família, o que tinha de legal pra fazer na cidade e blá blá blá. Caio no meio dos assuntos soltava algumas piadinha super otárias mas que acabavam despertando nossa graça.

Depois de uns 25 minutos caminhando chegamos na porta do prédio onde eu morava.

-Chegamos, é aqui.

Caio e Julia olharam pro prédio do térreo até o último andar, provavelmente pra marcar onde eu morava caso queiram me visitar ou qualquer outra coisa do tipo. Caio então disse:

-Esta entregue então, moço.

Eu passei a mão na cabeça dando um sorriso frouxo bobo enquanto olhava timidamente pro chão. Julia chegou perto de mim, me deu um abraço forte, dois beijos no rosto e se despediu:

-Até amanhã então! ... (pausa) Ah! Me passa seu número pra eu te colocar no grupo da sala.

-Ok. Mas meu número ainda é o de São Paulo. Tenho que comprar um chip daqui...

-Não tem problema não!

-Então anota aí... 14 998...

-Calma. Pera aí! .... (pausa). Vai, fala...

-14 9985...

Enquanto ela anotava, eu interfonei pra portaria e eles logo abriram o portão.

-Beleza. A gente se fala.

Caio então veio despedir de mim:

-Valeu irmão, até amanhã.

"irmão? Fala sério, IRMÃO??" - pensei

Ele estendeu a mão pra me cumprimentar. Não sei o que deu em mim, mas pela primeira vez na vida eu resolvi ser um pouco mais abusado e deixar a timidez de lado. Segurei-o pela jaqueta e disse:

-Meninos também se abraçam, sabia!?

Caio ficou vermelho de vergonha na hora, deu um sorriso muito sem graça. Ele não tinha onde enfiar a cara dele. Coitado! O jeitão extrovertido dele

Sumiu na hora haha. Mas ele abraçou-me de maneira muito desajeitada, mas mesmo assim o abraço dele era confortável. Entrelacei meus braços em suas costas e encostei minha cabeça em seu pescoço. Julia estava olhando pra gente e deu sorriso pra mim bastante malicioso do tipo "hmmmmmmm". Eu sorri envergonhado e sai do abraço. Caio ainda estava desajeitado:

-É, é, então, é.... acho que é isso né!?

-Rsrs a gente se vê amanhã, Caio.

-Jaé! Tchau!

-tchau rs.

-Tchau Joao!

-Tchau Julia!

Ele saiu ao lado de Julia, e eu fiquei encostado no portão com um sorriso mais bobo do mundo esperando eles virarem a esquina. Vi que julia sorria muito alegre e brincava com o caio, inclusive deu um soco no ombro dele enquanto falava com ele. Provavelmente estava brincando com ele do tipo "aaaaah moleque!" Devido ao nosso abraço. E eu percebi a vergonha dele no meio disso tudo.

Quando eles sumiram de vista, fechei o portão e subi pra casa.

Naquele dia, cheguei em casa com um sorriso mais bobo do mundo. Minha mãe estava na cozinha preparando o almoço. Meu irmão e meu pai estavam trabalhando. E minha irmã deitada no sofá da sala assistindo desenho animado. Entrei, coloquei minha mochila no sofá e sem que minha irmã percebesse minha presença, fui devargarzinho até ela, dei um pulo no sofá, e comecei a fazer cócegas nela, brincando com ela. Ela gargalhava e só gritava "Para! Para!"

Minha mãe assustada gritou da cozinha:

-Joao Lucas? É você? Eduarda o que está acontecendo?

Às pressas minha mãe chegou na sala com uma toalha de prato numa mão e uma colher na outra.

-Que susto, crianças. Você é maluco Joao Lucas? Entra e não fala nada que chegou.

Levantei com um sorriso bobo, peguei minha mochila, passei pela minha mãe dei um sorriso no rosto dela e fui pro meu quarto.

Minha mãe veio atras de mim com mil e uma perguntas:

-O que aconteceu meu filho? Nunca te vi assim? Foi algo na escola?

-Nada Mãe, nada! Só estou feliz.

Ela me olhou com uma expressão de que estava desconfiada de que estava acontecendo algo mas eu não queria contar:

-O que foi? Porque tá me olhando assim?

-Nada! Mas quando quiser conversar, eu to aqui, você sabe né meu filho!?

-Simmmm mãe!

Minha mãe me deixou jogado na minha cama e foi pra cozinha. Retirei a jaqueta, a camiseta, joguei os tênis no canto do quarto e fiquei olhando pro teto pensando na imagem do Caio.

-Joao Luuuuuucas!

Levantei depressa e fui até a cozinha:

-Oi mãe.

-Agora que tô percebendo a hora, porque chegou tão cedo?

Sentei no balcão da cozinha e fiquei conversando com ela:

-A gente foi liberado da última aula porque hoje foi o primeiro dia.

-E você veio como?

-Vim andando com a Julia e o Caio que estudam comigo. Eles moram aqui perto aí vieram de companhia porque eu não sabia vir sozinho.

-Mas seu pai não ia te buscar? Você avisou ele?

-Hmmmmmm... Não!

-Então você pega o telefone e liga pra ele agora.

Fui até o quarto e peguei meu celular na mochila, liguei pro meu pai. E quando desliguei a ligação, liguei o Wi-Fi. Nisso começou a chegar mensagens no WhatsApp, grupo da família, "segundão" (grupo da escola nova) e "só os tops" (grupo que fui descobrir que era comigo e com o Caio, Gabriel, Laura, Julia e Thais).

Peguei o celular e só li as mensagens mas não respondi nada e nem ninguém. Adicionei o contato de cada um, e quando chegou no contato do Caio fiquei horas olhando pra foto de perfil dele. Ele estava uma gracinha. A foto original provavelmente era o time todo de voleibol da escola mas ele cortou só ele na imagem e colocou no perfil. Ele tava lindo com o uniforme do time da escola, com aquele sorriso encantador, aquele cabelo claro todo bagunçado e uma meia que ia até a canela.

Pensei em puxar assunto mas eu não sou bom nisso. Simplesmente porque não tenho experiência. Eu nunca cheguei em alguém antes, nunca puxei assunto com alguém, e muito menos no WhatsApp. Eu quase nunca abria aquele aplicativo. Mas pelo visto isso iria mudar de agora em diante, com certeza. No entanto eu preferi ficar na minha, só em olhar pra foto dele eu já estava feliz.

Meu pai e meu irmão haviam chegado da empresa, mamãe convocou todos para almoçar.

Na mesa, assuntos normais do dia a dia e eu como sempre sem me pronunciar e expor meu ponto de vista sobre determinados assuntos. De repente meu celular alerta:

"Mensagem de Caio @"só os tops" "

Meu sorriso foi de um canto a outro das orelhas. Eu sei que a mensagem não era exclusiva pra mim no privado mas só em falar com ele no grupo eu já estava feliz. Meu irmão olhou pra mim na hora:

-O que aconteceu?

-Ah? O que?

-Desde quando tá viciado em celular? Você não é assim, principalmente na hora de comer.

-Tá assim desde que chegou do colégio- mamãe.

-Ih gente me deixa!

-Iiiiiiiiiiih qual foi Joao Lucas? Namorado novo? - meu irmão.

-Ih não se mete Matheus. Não é nada disso.

Meu pai olhou pra cara da minha mãe num olhar de cumplicidade, ambos manjaram que tava rolando algo e eles iam futucar pra descobrir.

Bloqueei o celular e voltei a comer. E matheus me encarando o tempo inteiro na mesa num olhar de tipo "aaaah mas você vai me contar o que está acontecendo!". Eu olhava pra ele e fazia uma careta ou então dava língua.

Quando terminei, coloquei a louça na pia e voltei pro meu quarto como de costume. Organizei todo meu material e uniforme pro dia seguinte de aula. Ajeitei algumas coisas que estavam fora do lugar e sentei na minha escrivaninha pra desenhar enquanto ouvia a minha playlist do Spotify. Depois de muito tempo resolvi checar as mensagens que haviam chegado no grupo. E ver o caio digitando, despertou vontade de procurar o perfil dele no Facebook. De cara já achei. Dei uma leve stalkeada, tinha varias fotos dele, mil e uma selfies, várias fotos na casa dele, no espelho do quarto, algumas fotos com a família e outras com uns amigos, time de voleibol e o povo do colégio. Não achei nenhuma foto com o tal Bruno. Não sabia se isso era bom ou ruim. Mas enfim, resolvi mandar solicitação e não demorou 10 segundos pra ele me aceitar. Curti a foto de perfil dele e logo em seguida as notificações,2,3,4 notificações seguidas.

"Caio.... curtiu sua foto de perfil"

"Caio... curtiu uma foto em que você foi marcado"

Ele quer jogar né!? Resolvi entrar no jogo dele e sai curtindo 6 fotos dele seguidas e ele como resposta, curtiu mais 4 fotos minhas. E logo me mandou uma mensagem no WhatsApp:

"Ok. Não precisa curtir mais nada meu não, eu já entendi que você está me querendo kkkkkkk"

Pensei comigo, que cara de pau, iludido, mas respondi:

-Coitado. Quem te enganou?

-Você mesmo. Seus olhos te condenaram! Kkkk

-kkkkkkkkkkkkkkk palhaço

-tô brincando com você irmão kkkkkk

"Irmão? De novo irmão? Ah não cara, me chama de tudo, menos irmão"

Eu não sabia mais o que responder, ele também não puxou mais assunto. Eu sabia que no fundo daquela brincadeira tinha uma verdade e um jogo de interessa. Mas enfim, isso iria (foi) desenrolando ao longo de tempo. Então o assunto naquele dia terminou por ali mesmo. Quando dei conta já ia dar 19:00, então resolvi ir pro banheiro tomar um banho. Tenho o costume de levar meu celular e ficar ouvindo música enquanto me lavo. Dessa vez não foi diferente. Enquanto ensaboava meu corpo do nada comecei a pensar no caio, com uma mão comecei a me masturbar enquanto a água do chuveiro caia sobre minhas costas, sequei a outra mão e comecei a mexer no celular, fui até o Facebook e no perfil do Caio cliquei numa foto que ele estava correndo sem camisa na orla da praia com um cachorro. Eu senti muito tesao naquela foto. Além dele estar lindo, maravilhoso e gostoso dava pra ver cada músculo. Aquela barriga, aquele peito. Não resisti e bati uma punheta pensando e vendo uma foto do Caio.

Sujei o blindex do banheiro todo. Limpei toda a sujeira que fiz, terminei meu banho, me sequei, me vesti e fui jantar.

Dessa vez não levei o celular pra mesa. Tudo como de rotina. Quando terminamos o jantar, meus pais e meus irmãos foram pra sala ver TV mas eu estava um pouco exausto pelo fato de não ter dormido na noite passada e fui direto pra minha cama dormir.

Comentários

Há 11 comentários.

Por Andvinc's em 2018-04-07 03:24:13
Muito bom
Por Mathbarros em 2017-02-09 00:40:41
Adorei o conto! Parabéns
Por Jeffs em 2017-01-12 23:00:45
To amando esse conto. Me sinto preso a leitura pk é os fatos levam a fantasiar cm se estivesse vendo( estivesse presente) acontecer cada cena. Parabéns e nao para pf pk ta mara.
Por Elizalva.c.s em 2017-01-10 15:40:05
Muito boa a história,estou doida pra ver os próximos capítulos.😍😍😍😘😘😘
Por JoaoLucas em 2017-01-08 05:06:39
Obrigado a todos pelos comentários. Saibam que é muito gratificante pra mim esse feedback e notar que vocês estão curtindo o enredo e a história. É muito bom que vocês mandem qualquer comentário, críticas, dicas.... enfim, são essas palavras que incentivam a gente a continuar escrevendo e melhorar o que não está bom para que os próximos contos fiquem melhores. Eu faço questão de ler todos e responder. Fiquei feliz mesmo com a repercussão desse primeiro episódio. Hoje mais tarde sai o segundo episódio da série. Espero que vocês curtem!! Escrevi com muito carinho. E respondendo os comentário, essa série é verídica, está sendo realmente escrita baseada em fatos reais portanto não posso fugir da real história, vocês precisam ter paciência se algo não transcorrer da maneira que vocês esperavam Rsrs. Beijos a todos.
Por Eu Mesmo em 2017-01-07 10:39:36
gostei
Por JeffXp em 2017-01-06 16:40:39
conto perfeito esperando continuação e tambem ser nao for verídico fais o joao conta tudo por irmao dele. ja amei
Por Diva em 2017-01-05 10:45:11
Adorei o conto💝💝💝 gostei dos personagens e do contexto em que a historia esta inserida😍😍😍 euvou acompanha o seu conto
Por ♥ estrelinha ♡ em 2017-01-05 02:15:43
Eu concordo com o primeiro comentário do tyler longdon faço dele minhas palavras pq ele resumiu oq eu ia falar kkkkk mas está ótimo, PARABÉNS!!!♥
Por Tyler Langdon em 2017-01-04 22:52:48
Tenho um amigo que mora vizinho a nova friburgo, e ele estudará lá, acho. Você mora lá mesmo ou só no conto? haishuahs
Por Tyler Langdon em 2017-01-04 22:51:26
Eu simplesmente achei incrível, de verdade. Amo contos de colegiais, e você fez essa pegada clichê se tornar interessante. Aua escrita é leve e bem elaborada. Prendeu a mim, como leitor. Está de parabéns. Amei os personagens, muito dentro da realidade. Já tem um seguidor fiel, continua. 😍