Uma ligação é realizada

Conto de J.N.S. como (Seguir)

Parte da série Ligados ao Passado

Já haviam se passado cerca de cinco dias do acidente, e Ender ainda não havia acordado, mesmo que todas as funções orgânicas do seu corpo estivessem em pleno funcionamento. Isso era uma situação preocupante, não somente para Nuno, mas para todos as profissionais de saúde que acompanhavam de perto o caso, de modo que a suspeita de coma começava a ficar cada vez mais próxima de confirmar-se.

Por meio da influência que Nuno desempenhava no hospital, ele conseguiu que a equipe realizasse mais alguns exames de imagens do cérebro de Ender, para investigar se alguma coisa havia passado despercebido. Apesar de sua especialidade ser Urgência e Emergência, ele dominava outras especialidades, e devido a isso, solicitou que ele mesmo verificasse os resultados assim que ficassem prontos.

Na manhã do sexto dia, finalmente os resultados dos exames ficaram prontos. Várias pessoas já haviam procurado por Nuno no hospital e não obtiveram sucesso em encontrá-lo. Dessa forma, optaram em procurar pela única pessoa que poderia encontrá-lo com facilidade. Nívea conhecia bem os hábitos de Nuno e sabia que todas as vezes que ele sumia inexplicavelmente, era porque ele estaria no seu “cantinho particular”.

Sempre que ele se via sobrecarregado ou preocupado com algo ele caminhava pelo jardim terapêutico do Hospital, e descansava em um banco ligeiramente escondido sob um Ipê Branco, enquanto olhava as pessoas que buscavam relaxar ou forças para continuar lutando pela sua recuperação.

Nívea com o passar dos anos havia adquirido uma incrível capacidade de andar fazendo o mínimo de ruídos, que somado a sua amigável personalidade, sempre era motivo de sustos e situações incomodas, sobretudo, quando ela chegava no exato momento em que alguém estava depreciando sua imagem.

- Sabia que encontraria você aqui! Interessado em alguns resultados? – Nívea falou

Com essa pergunta, os músculos de Nuno ficaram rígidos e sentiu seu coração dar leves palpitadas, que o levou a olhar rapidamente para trás.

- Puta que pariu! Nunca vou me acostumar com você chegando assim do nada. Me diga? Te ensinaram técnicas ninjas também nos anos 80 ou fez algum curso extra depois?

Nuno estava claramente com um péssimo humor. Não que isso importasse para Nívea, ela somente se limitou a ignorá-lo, enquanto segurava a extremidade do envelope com os resultados com as pontas dos dedos indicador e polegar e o balançava.

- Estou disposta a trocar esses resultados por algumas informações suas... Só para ficar claro, você não tem direito a negar e nem como fugir.

Sem muito o que fazer, Nuno suspirou e buscou relaxar um pouco enquanto abaixava sua visão para o tapete de flores brancas que se estendiam pelo chão. Após uma pausa de uns dois segundos sem dizer nada, ele ergueu seus olhos fixando-os nos de Nívea, que eram incrivelmente vívidos e expressivos.

- Tudo bem... O que quer saber?

- Tudo o que não disse desde o dia da cirurgia, além disso... Se você está realmente preparado para lidar com essa situação – Nívea respondeu sem titubear.

- Céus! Como você pode ser tão insistente?... – Nuno esfregou suas têmporas com os dedos – Já te disse, nós éramos amigos... Espera... Não, exatamente amigos... Hum... Deixe-me ver como posso descrever – assim que falou isso, mordeu seu lábio inferior, ao ver isso, Nívea inspirou e sentou-se ao seu lado no banco, ela sabia que isso demoraria décadas.

- Apesar de nossos pais terem sido amigos, nós não éramos muito próximos quando criança. Quando mencionei que sempre estávamos na casa um do outro, não mencionei que havia um motivo para que isso pudesse acontecer. Melhor dizendo, havia alguém. Essa pessoa era nossa amiga em comum e ela que nos manteve juntos. Eu e ele somos como retas paralelas, ou seja, mesmo que seguíssemos a mesma direção, nossos caminhos não se cruzavam.

- Isso não faz o mínimo sentido... Se vocês nunca tiveram uma relação tão próxima, como você o conhece tão bem ao ponto de preencher quase todo o prontuário dele? – O olhar de descrença no rosto de Nívea era evidente.

- Você ignorou um detalhe simples que acebei de mencionar... A nossa amizade em comum fazia com que nossos caminhos convergissem em alguns pontos. Essa pessoa se chama Lyan... – Nuno parou abruptamente – Óbvio, como deixei passar isso desse jeito? – ele exclamou, enquanto batia o punho fechado levemente na sua testa.

Nívea franziu suas sobrancelhas expressando sua confusão enquanto ainda tentava entender o raciocínio de Nuno e entender a sua reação repentina quanto ao nome que ia pronunciar.

- Nívea, desculpe, mas tenho uma ligação para realizar. Já sei quem pode me dar o endereço atual dele... E obrigado por me trazer os resultados – dito isso, Nuno habilmente surrupiou os papeis na mão de Nívea e sumiu de sua visão em questão de segundos.

“Quem que está usando táticas ninjas agora, hein?” Nívea pensou, enquanto aproveitava seus últimos minutos de descanso.

Nuno se encaminhou para a UTI enquanto checava os resultados dos exames. Ele seguiu de cabeça baixa, com sua visão fixa nos papéis, já havia passado tanto tempo caminhando pelos corredores que nem precisava olhar o caminho que estava percorrendo.

“Isso é estranho... Não encontro nenhuma anomalia no funcionamento do seu cérebro. Quando perguntei a Selma ela disse que durante o exame físico dessa manhã, suas pupilas estavam reagentes e normais. Tirando alguns parâmetros do componente sanguíneo, já esperado pela perda de sangue, ele não tem nenhuma outra alteração metabólica. As taxas hormonais também estão satisfatórias. Se ele estivesse em coma mesmo, pelo menos alguma coisa teria que estar indicando isso”.

Enquanto caminhava pelos corredores, perdido em seus pensamentos, Nuno não percebeu os pequenos passos que rapidamente tentava alcançá-lo. De repente, ele sentiu que alguém o puxou pela manga do jaleco. Ao olhar para trás, viu uma pequena figura, que mesmo com saltos incrivelmente altos, não chegava a ultrapassar seus ombros. Tratava-se de uma das intérpretes do Hospital, responsável por acompanhar alguns pacientes que eram surdos e uma das pessoas mais confiáveis que Nuno conhecia no ambiente de trabalho.

- Olha... Não quero ser dedo duro nem nada do tipo... – Beatriz falava rapidamente e um pouco ofegante por ter apressado seu passo para acompanhar Nuno. Enquanto olhava de um lado para o outro, ela puxou a manga do jaleco mais uma vez, só que com mais força para que ele se abaixasse um pouco até seu ouvido ficar mais próximo a ela – Ouvi o Coordenador do Hospital falando com o Diretor a respeito do seu importantíssimo paciente.

Nuno não se admirou que Beatriz soubesse sobre a importância acima da média que ele havia dado a Ender, qualquer ação fora do comum dentro do hospital se espalhava tão rápido quanto uma gota de água caindo no oceano.

- O que falaram sobre ele? – Nuno perguntou, embora, meio que já suspeitasse sobre do que se trataria o assunto.

- Eles estavam falando sobre questões orçamentárias, se é que você me entende. Eles falaram sobre não poder manter o leito ocupado por um longo período, caso ele não acorde nos próximos dois ou três dias. Eles falavam que não tinham informações suficientes sobre ele. Não conseguem achar nenhum parente, nem indício de endereço. Ele não portava celular no momento do acidente, nem nenhum documento de identificação. Eles querem transferi-lo para um hospital público ou então, dirigir a conta para a única pessoa que aparentemente o conhece. Que nesse caso, é você.

Nuno suspirou em desagrado com a última parte. Ele já esperava que essas questões surgissem mais cedo ou mais tarde, porém, não esperava que fosse surgir tão cedo assim.

- Obrigado Beatriz! Não quero saber como conseguiu todas essas informações, ainda tenho pesadelos com a última maneira que me contou, mas... Vou tomar alguma providência com relação a isso – Nuno sorriu e deu um beijo na bochecha de Beatriz.

- Que absurdo! Saiba que dessa vez foi por apenas uma coincidência do destino, eu estava comprando um pedaço de bolo e eles estavam sentados próximos a mim, acho que pensaram que sou surda..., mas deixando isso de lado. Me agradeça me levando ao restaurante do seu namorado algum dia e tudo se resolve – Ela falou enquanto piscava seu olho de uma cor azul celeste de forma sensual.

Nuno deu um sorriso de canto de boca e lançou para ela um olhar irônico.

- Acho que não sou exatamente a “fruta” que você gosta de comer, certo? – Nuno perguntou enquanto erguia sua sobrancelha esquerda de forma provocativa.

- Pare de ser convencido! Lógico que você não é nem um pouco a “fruta” que eu gosto. Você tem uma “banana” onde eu prefiro um “morango”. Só quero alguém pra sair e beber um pouco, sem ter que passar horas me arrumando, horas flertando e no final ser dispensada – Ela falou enquanto lançava um olhar de menina perdida pra Nuno e fazia um bico com a boca, parecido com quando um bebê vai começar a chorar.

- Está bem! Mas agora eu estou com pressa. Depois acertamos quando iremos. Tenho que ver com o Hyang quando ele pode oferecer exclusividade para nós. E só para constar seu bico e olhos doces não me convencem em nada – Nuno falou enquanto imitava a mesma expressão que Beatriz havia feito – Até depois.

- Então vai se... – Dito isto, Beatriz deu as costas irritada e seguiu balançando seu imenso cabelo loiro enquanto dava seus pequenos passos apressados de volta à pediatria, onde estava uma das crianças que estava acompanhando como intérprete.

Nuno somente riu e voltou a caminhar, expressando uma calma que era somente fachada, pois em seu interior estava terrivelmente angustiado com a notícia que recebera.

Ao chegar na UTI, ele se deparou com uma das estagiárias que estava prestes a realizar o banho no leito de Ender. Ela estava terminando de retirar os lençóis e começara a retirar as vestes típicas que todo paciente utiliza. Era uma situação de rotina, porém, Nuno sentiu-se ligeiramente incomodado com a situação, de modo que preferiu desviar seus olhos, em busca de alguém com quem pudesse conversar. Porém, um som alto e estridente soou bem atrás dele de modo que ele teve que virar-se rapidamente. Ao olhar para o chão ele viu a estagiária havia derrubado a bacia de água que havia colocado no colchão em que Ender estava.

- O que está fazendo exatamente? – Nuno perguntou de forma ríspida e incisiva.

- Eu... Desculpe, não foi minha intenção... Eu – A estagiária estava prestes a começar a chorar.

Ao ver que os olhos da menina começavam a se encher de lágrimas, Nuno suavizou sua expressão.

- Não se deve colocar a bacia no colchão da maca do paciente, é para isso que existe o carrinho de materiais. Isso compromete o espaço que você precisa para fazer a rolagem do corpo de um lago para o outro, para limpar o dorso. Além disso, você não devia estar fazendo isso sozinha. Vê? – Nuno apontou ao os outros leitos em que se encontravam profissionais em duplas realizando o banho no leito de outros pacientes – Você precisa dar o banho no leito com outra pessoa te auxiliando. Você não consegue lateralizar o corpo de uma pessoa com o porte físico como o dele, e limpar ao mesmo tempo. Compreende?

- Sim... – Apesar de estar claramente recebendo uma bronca, a forma com que Nuno falara, serviu para que a estagiária se acalmasse e prestasse atenção no que ele a ensinava.

- Vamos, eu ajudo você dessa vez – Com isso, Nuno se dirigiu até a dispensa da UTI, para pegar um capote, para evitar que molhasse seu jaleco.

Ao retornar, ele iniciou o banho no leito de Ender, um tanto quanto a contragosto, inevitavelmente ele tinha que olhar aonde colocava suas mãos e isso o forçava a olhar para certos locais. Fora isso, ele seguiu explicado cada etapa do que estava fazendo para a estagiária. Em um dado momento, ela percebeu que algumas pessoas que trabalhavam no setor olhavam para Nuno de forma estranha, uns com admiração e outros com estranheza, o que acabou motivando-a a perguntar:

- Por que estão olhando para nós dessa forma?

- Ah! – Nuno riu sob a máscara – Basicamente, criou-se a cultura de que médico não faz esse tipo de trabalho, então alguns estranham que eu esteja te ajudando dessa forma.

- Você não se sente desconfortável?

- Não! – Nuno respondeu prontamente – Se você tivesse estagiado na minha época, e tivesse ficado no setor de uma enfermeira chamada Nívea, você entenderia que título não é tão importante quanto exercer um bom trabalho.

A estagiária sorriu ao ouvir isso, enquanto ajudava Nuno a vestir a bata no corpo de Ender.

- Bem, agora só resta a troca de curativo. Você pode realizá-lo sem problemas, não é?

- Posso sim, obrigada!

Dito isso, Nuno se afastou e andou em direção ao posto de enfermagem no centro da UTI, onde colocou havia deixado os documentos dos exames. Logo após isso, ele os anexou ao prontuário de Ender, e seguiu em direção a um lugar calmo, para acalmar um pouco seu coração.

Por mais que quisesse negar, não conseguia esquecer a visão que acabara de ver, ele não conseguia. Todos os movimentos de sua mão passando o pano úmido pelo corpo de Ender se repetiam como se em câmera lenta, despertado o sentimento de luxúria dentro dele.

Para escapar disso, Nuno voltou para o local de descanso da equipe de Urgência e Emergência, que milagrosamente estava calma ultimamente, e pegou o seu celular que se encontrava em sua bolsa. Ele buscou em sua agenda por um certo tempo até encontrar o número que buscava. Ele demorou um tempo apenas olhando para a tela do celular, reunindo um pouco de coragem.

“Tomara que você não tenha alterado o seu número, mesmo após seis anos...”.

Ele inspirou e finalmente tocou na tela para realizar a chamada. Após cinco toques, ele estava quase desistindo, mas quando afastou o celular de sua orelha e ia desligar, uma voz soou.

- Hello!

Ele não falou nada por um longo tempo, então a voz continuou.

- Oi? Tem alguém me ouvindo?

- Seu inglês continua péssimo como sempre, não é? – Nuno soltou um riso fraco após dizer isso, revendo em toda sua mente um filme repleto de amarguras e situações não resolvidas.

- Nuno? Oi, nossa, quanto tempo nós não nos falamos. Fazem o que? Cinco? Seis anos? Como você está? E Amaya? Não consigo entrar em contato com ela a um longo tempo também e...

- Lyan... – Nuno a interrompeu – Deixemos isso para mais tarde, okay? Estou com uma situação de urgência para resolver.

- Ohh, sim, está bem. O que aconteceu? Parece aflito.

- Preciso que me informe o atual endereço de Ender ou o número de algum familiar.

- Ender? Por que quer saber sobre ele? – Ao ouvir Nuno usar o nome de Ender, ela ficou extremamente nervosa. Não era comum Nuno mencionar o nome de Ender, o que dirá procurar saber de alguma coisa sobre ele.

- Ele sofreu um acidente automobilístico, não portava celular, nem documentos. Ele está inconsciente já faz seis dias, e o hospital que trabalho é particular, o que significa que sem um plano de saúde, ele será encaminhado para um hospital público assim que conseguirem uma vaga na UTI para ele.

- Nossa, co... Como isso aconteceu? Mas ele está bem? Está em coma?

Era típico esse comportamento de Lyandriam, ela sempre foi assim, essa característica de sempre fazer inúmeras perguntas ao invés de responder uma, isso irritava profundamente Nuno.

- Não se sabe como aconteceu ainda. Tudo com relação a essa história está mal resolvido ou não faz sentido, é como tentar pegar fumaça com as mãos. A outra pessoa envolvida no acidente não resistiu e veio a óbito dois dias depois do acidente, mas pelo que soube, as informações que ele portava eram falsas. Os legistas estão trabalhando nisso. E, sim. Ele está bem! Ele não está em coma, só não acordou ainda, mas esse não é ponto. Podemos ser objetivos? Por favor! Só responda minhas perguntas.

- Certo, certo, me desculpe! Vou responder o que souber.

- Ótimo, primeiro, sabe o endereço atual dele?

- Não.

- Como não? Até onde me contaram certa vez, vocês estavam morando juntos no Canadá para ingressarem na Universidade de Toronto.

- Okay, vamos com calma, isso foi a três anos atrás. De fato, estávamos morando juntos aqui, mas tem um pouco mais de oito meses que ele voltou ao Brasil para resolver algumas coisas com a empresa que os pais dele deixaram para ele como herança e bem... Não tive mais contato com ele nesse período de tempo. Tentei ligar várias vezes, mas a chamada nunca completava. Com relação ao seu endereço atual, estou tão no escuro quanto você. Ei, espere, onde você está?

- Vila Velha, Espírito Santo.

- Ohhh! Isso me surpreende bastante. Se me recordo bem, você queria uma carreira internacional. Não imaginaria que se esconderia aí. Como é, morar na parte sudeste do país, muito frio?

- Foco Lyan, foco! – Nuno já estava com sua cabeça a pulsar e um suor frio começou a brotar de seu corpo – Espere... Você disse empresa?

- Sim, os pais dele faleceram em um acidente a cerca de 1 ano e meio. No testamento eles deixaram dos 50% que os pais deles possuíam, 35% das ações para Ender e o restante para ongs.

- E o irmão dele, se não me engano ele tinha um irmão, certo?

- Sim, mas se eu fosse você não contaria com a boa vontade do irmão dele. Ele levou a justiça essa questão da herança e Ender foi ao Brasil, justamente para resolver essa situação, ver se estabelecia um acordo ou algo assim. Achei que você soubesse disso. Afinal você também é dono da empresa.

- Sim, eu sou, mas deixei meu tio na Presidência. Só recebo os lucros.

- Isso não é típico de você. Como você mudou, hein?

Nuno se sentou no sofá e recostou-se.

- Então o que me sugere que eu faça com ele? Que o deixe apodrecer aqui sem ninguém? Que o jogue em uma calçada qualquer? Ou que o mande em uma embalagem pelos correios até você? – Nuno já estava terrivelmente impaciente com toda a situação.

- Bem... Poderia se acalmar um pouco primeiro? Retiro o que disse, você não mudou nem um pouco seu temperamento. Sempre estressado – Lyandriam sabia o terreno perigoso em que estava andando. Sem dar espaço para que ele retrucasse, ela continuou – Irei ao Brasil daqui a uma semana dias. Ao chegar, entro em contato com você e me responsabilizo pelos custos.

- Até lá eu faço o que? O deixo aqui no hospital? Em dois ou três dias, é bem capaz que o transfiram para Deus sabe-se lá onde.

- Tenho uma sugestão quanto a isso também. A casa que Amaya está cuidando possui um quarto de cuidados semi-intensivo pelo que me lembro. Do tempo em que sua mãe ficou após o acidente. Então leve-o para lá e cuide dele.

Nuno somente piscou algumas vezes, sem ainda acreditar no que estava ouvindo.

– É o quê? Acho que não te ouvi direito.

- Leve-o para sua casa. Fique com ele durante esses dias, somente enquanto eu chego. Não será o fim do mundo. Creio que você possa se ausentar alguns dias do hospital. Certamente, ninguém o questionará. Se ainda tiver todo o profissionalismo que demonstrava ter, isso não será problema algum.

Nuno suspirou e finalmente após um tempo em silencio ele concordou.

– Está bem! mais tarde informo a você o que consegui resolver quanto a isso.

Após dizer isso ele desligou a chamada e afundou seu corpo no sofá suspirando.

“Parece que os três se reuniram novamente depois de tanto tempo... Só quero ver quais cicatrizes serão abertas dessa vez”.

Após pensar isso, Nuno se espreguiçou para aliviar a tensão acumulada em seu corpo. Após olhar para o nada, por alguns segundos, ele alinhou seus ombros, levantou-se e caminhou para o setor financeiro a fim de resolver logo essa situação e chegar em casa o quanto antes para poder tomar um longo banho quente.

Alguns minutos antes. Em outro lugar, uma mulher com cabelos longos e incrivelmente pretos e um corpo esbelto, tomava uma taça de vinho em uma banheira que exalava um cheiro de rosas. Sua pele era branca, mas estava com uma coloração vermelha, não devido ao frio que fazia, nem devido ao calor da banheira, mas devido à excitação que sentia.

Após tomar um gole de seu vinho, um dos seus celulares começou a tocar. Uma música de fundo trouxe a ela lembranças de uma infância há muito tempo deixada para trás, e aos poucos ela foi retornando a si. De repente arregalou seus olhos e se movimentou bruscamente para se levantar da banheira, batendo seu joelho em algo pontudo.

- Auuuu! – Ela exclamou quando se levantou e começou a passar a mão no local que bateu, e viu que um leve corte estava presente na sua pele.

- Você bate com o joelho na minha boca e ainda diz “Auuu” – Um homem falou enquanto passava a mão nos cabelos e no rosto para retirar um pouco da água e enxergar melhor, ele sentia que seu lábio estava sangrando, mas não ligou para isso, apenas lambeu o local e levantou-se indo em direção a mulher – Eu sei que estava gostando, que tal continuarmos um pouco mais?

Enquanto ele falava foi se aproximando lentamente e colocou suas mãos ao redor de Lyandriam, que buscava alcançar um roupão.

- Me celular está tocando, quando eu voltar, nós continuamos – Ela falou e deu umas tapas nas mãos daquele homem.

- E daí que está tocando? Você tem quatro celulares. O que importa se um deles começa a tocar? – Ele falou sem esconder sua frustração.

- Esse é especial, esse tem os meus contatos familiares e amigos extremamente próximos. Devo atender – Ela vestiu o roupão, se voltou para ele e segurou a cabeça dele com as duas mãos e deu um leve beijo nos lábios dele – Já volto, cuide para que “ele” não perca sua potência enquanto estou longe...

Quando viu o número, ela não o reconheceu, somente após ouvir a voz do outro lado que ela soube de quem se tratava. Durante toda a conversa seu coração dava saltos e mais saltos, um misto de alegrias, tristezas, saudades e culpas brigavam para assumir a liderança de seus sentimentos.

Após finalizar sua conversa com Nuno, ela ficou parada, sentada na poltrona do seu quarto, ainda com o celular no ouvido, tentando de alguma maneira, ordenar seus sentimentos. Finalmente ela afastou o celular do ouvido, verificou se realmente Nuno havia desligado.

- Lyan? – Uma voz soou de dentro do banheiro a trazendo de volta para a realidade. Quando olhou para a porta do banheiro um homem surgiu na porta com somente uma toalha em sua cintura, ele se escorou com seu ombro na porta e cruzou os braços e ficou olhando para ela, depois de um tempo, ele falou – Você demorou tanto que ele não resistiu ao frio e diminuiu.

Ao ouvir isso ela olhou para trás e sorriu. Ela se levantou e caminhou em direção a ele, enquanto soltava seus longos cabelos e retirava o roupão, enquanto olhava profundamente para os olhos do homem que a chamara. Quando chegou onde o homem estava, passou suas longas unhas pelo peito dele, descendo lentamente até onde a toalha dava o nó.

– Só me resta animá-lo novamente então, tenho certeza de que meu calor vai dar vida a ele novamente – Enquanto ela falava isso, aproximou-se da orelha dele e mordeu com força, o fazendo estremecer de desejo. Porém, antes que desse continuidade, ela começou a ouvir uma segunda música bem familiar tocando ao fundo. Mais uma vez ela se afastou do homem e foi em direção ao roupão que havia deixado cair no meio do seu quatro – Tenho que atender, esse é do trabalho.

Sem mais explicações ela deu as costas ao homem e correu até sua cômoda para pegar seu outro celular. Após cerca de 30 minutos falando no celular, explicando a uma colega como realizar certo procedimento, ela percebeu o silêncio que habitava seu apartamento. Após olhar o banheiro e se dirigir até a sala a procura do homem que estava com ela, não encontrou nada, exceto um bilhete na mesa de centro.

“Faça seu celular de vibrador, ele pode te satisfazer mais que qualquer outro”.

Após ler o bilhete ela só deu uma leve risada forçada com a situação pela qual estava passando. Com esse, já era o quarto cara que a deixava pelo mesmo motivo. Enquanto ela limpava uma lágrima que escorria ligeiramente de seu olho direito, ela pensou:

“Voltei, mais uma vez à estaca zero...”

Informações:

Para quem ficar curioso com as músicas que tocaram nos dois momentos que a história menciona esses são os links:

• Música para familiares: https://youtu.be/gUpGTRR4Tt4

• Música para pessoas do trabalho: https://youtu.be/l7QlDefY5vs

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