Capt.13 - Final

Parte da série "Aquele garoto com os fones de ouvido"

Os dois não paravam de rir, aquela criatura magra não poupava carinho, não entendia qual era a necessidade dele em conversar alisando o braço do Felipe, era ridículo, comprei meu lanche, sentei em uma mesa e fiquei observando a cena de longe, quando o Felipe me viu olhando parou de rir e me encarou com uma cara apreensiva, o garoto percebeu que ele tava olhando pra mim e começou a me encarar com a cara feia, eu sorri e acenei com cara de paisagem, na hora o Felipe abriu um sorriso, acenou e se levantou vindo na minha direção, o desnutrido se revoltou com aquilo e começou a resmungar alguma coisa enquanto seguia o Felipe na minha direção

- Posso sentar aqui? - Felipe perguntou

- Claro, a escola é publica... os bancos também... - respondi sorrindo

- Ainda quero conversar com você... - Felipe disse se sentando do meu lado

- Você conhece ele Felipe? - O menino perguntou

- Qual é teu nome criatura? - perguntei olhando sério pro infeliz

- Samuel – ele respondeu - e na boa... eu mal cheguei e você me recepciona desse jeito, o que eu te fiz pra você me tratar tão mal hein?

Juro que não achei que aquela coisa magra seria capaz de encenar tão bem... Se eu fosse alguém de fora da conversa que não soubesse o que tinha acontecido, teria visto ele como a vítima mal tratada

- Ohh Samuel, perdão.. Juro que não foi minha intenção te magoar, na verdade eu queria que você entendesse que não quero você próximo a mim, e que muito menos quero conversar com você – eu disse sorrindo

- Daniel, você não cansa de ser assim? Tratar as pessoas dessa forma? Ele – Felipe apontou pro Samuel – tá se mostrando alguém que se importa com os outros sem pedir nada em troca, ao contrário de você!

- Nossa, que profundo Felipe! - bati palmas – parece que você conhece ele a anos, aproveita! Porque acho que você achou seu amigão do peito agora... que horas que vocês se conheceram mesmo hein? Agora no início do intervalo? - eu perguntei olhando pro relógio – hummm 10 minutos de conversa que, com certeza, devem ter parecido 10 anos! Não te culpo de ser tão bobinho, porque cometi o mesmo erro com você... - eu disse me levantando e saindo em direção a sala de aula.

Logo em seguida o sinal tocou, eu ainda estava subindo as escadas quando o Felipe segurou meu braço

- Hei! - ele disse me puxando

- Me larga! - eu disse soltando a mão dele do meu braço, e subindo as escadas em direção a um corredor, ele continuava falando coisas enquanto me seguia, nós estávamos caminhando em um corredor vazio, então coloquei meus fones e passei a ignorar, até ele me segurar por de trás da minha nuca e me jogar na parede

- Não me ignora droga! - ele disse com a voz falha chorando e tirando meus fones enquanto segurava um dos meus ombros contra a parede, eu fiquei com os braços imoveis encostado na parede, ele se apoiou com as duas mãos ficando de frente comigo e encostou a testa na minha enquanto chorava – que droga Daniel... eu gosto de você cara... gosto demais – fechei os olhos naquele momento e foi um erro... Senti os lábios dele me tocarem devagar, o rosto dele estava colado no meu e eu sentia as lágrimas dele molharem minha bochecha, naquele momento todas as barreiras que eu havia criado e todas as razões que ele havia me dado para odiar ele, pareciam coisas pequenas comparadas ao que eu tava sentindo, mas me contive e fiz com que ele parasse o beijo.

- espera – eu disse tocando a boca dele com um dedo

- me desculpa... me perdoa Daniel – ele começou a chorar forte – fui um idiota, tomei atitudes de gente imbecil – ele disse abaixando a cabeça enquanto soluçava

- que bom que sabe que fez, e por mais que eu tente Felipe... não tenho como ignorar o que senti com o que você fez agora... não quero jogar fora a chance de ver algo bom em você... porque ainda gosto de você, e ao mesmo tempo em que te odeio sinto sua falta- eu disse levantando o queixo dele

- não vou te decepcionar de novo, te prometo – ele disse me abraçando forte

Enquanto ele me abraçava eu refletia se aquela era a decisão certa, se ele realmente merecia meu perdão, e decidi apostar que dali pra frente as coisas melhorariam, que ele iria se mostrar alguém digno do meu carinho...

------------------------ 2 meses depois -------------------------------

Eu e Felipe estávamos firmes, ele vinha se mostrando alguém necessário na minha vida, não conseguíamos nos desgrudar pra nada, era um grude que ninguém entendia (inclusive a Bia que morria de ciumes por nunca mais ter conseguido um tempo pra uma conversa só nossa), acabei descobrindo que o caminhão de mudanças que apareceu la na rua, trazia a mudança da família do Samuel e que infelizmente ele passaria a morar na mesma rua que eu, mas estranhei o fato dele não ter me incomodado nesses dois últimos meses nos quais eu passei a maior parte do tempo ensaiando uma apresentação para a festa das nações daquele ano, como minha professora de matemática me prometeu, eu sempre tinha uma parcela de tempo das aulas dela para juntar o pessoal que ia se apresentar comigo e ensaiar, e a cada ensaio minha ansiedade aumentava.

Essa festa sempre foi uma razão de competitividade entre os alunos, eram apresentações de dança e canto, e eram avaliadas e valiam uma premiação, um dia antes da festa a diretora assistia a prévias das apresentações para se garantir que nada fugia das regras da escola e chegou o dia de eu apresentar uma previa do que queria fazer, expliquei mostrei todo o sentido por trás do que iria fazer e eu e meu grupo nos sentamos pra ouvir a opinião dela

- bom... eu gostei muito, nunca vi nenhuma apresentação que fosse capaz de gerar interpretações diferentes de acordo com os sentimentos de quem assiste, é quase uma obra de arte dessas malucas que a gente vê nas galerias – ela disse sorrindo – mas o que me preocupa é você Daniel!

- Eu? - perguntei desfazendo meu sorriso

- sim, não quero ver outra algazarra como da última vez... você tem certeza de que posso incluir você na festa esse ano? Tá seguro do que tem que fazer e das suas responsabilidades? - ela perguntou abaixando o oculos e olhando pra mim

- tenho certeza! - disse tentando entonar a segurança que eu não tinha

- tudo bem... espero vocês no palco amanhã – ela disse sorrindo

Com certeza todos do grupo foram dormir tranquilos naquela noite... Menos eu...

Era madrugada, eu me sentia orgulhoso de ter dado duro durante dois meses, ensaiando sem descanso, lutei pra tentar alcançar algo próximo a perfeição, conseguir a permissão da diretora me deu uma segurança maior, mas não me tirou o medo de fracassar novamente, me esforcei em relaxar e consegui dormir um pouco.

Acordei 5:40 da manhã e fui me arrumar, estava tudo perfeitamente organizado e certo, fiquei pronto e fui direto pra escola, que estava uma loucura, alguns ainda terminavam a decoração da festa, alguns grupos corriam de um lado pro outro com aquelas caras de “ah meu Deus vai dar tudo errado”, encontrei com meu grupo que estava se preparando, fiz questão de organizar tudo antecipadamente, então quando cheguei estavam todos só repassando passos, e ensaiando a performance, ficamos nisso até sermos chamados ao palco, sequer assistimos aos outros grupos, e quando finalmente nos chamaram, paramos um pouco nos reunimos e oramos pra finalmente ir em direção ao patio.

Todos subiram na minha frente e se prepararam atrás das cortinas, eu estava pronto, eu estava com a blusa azul que preparei, uma bermuda jeans, um all star e um casaco amarrado na cintura, e quando pisei no primeiro degrau do palco senti tudo o que tinha sentido dois anos atrás...

-------------- 2 anos atrás -------------------

Eu subi as escadas e me posicionei, todos já estavam prontos e quando a apresentação começou dei o meu melhor, “Born this way” tocava enquanto todos os passos do grupo estavam perfeitamente sincronizados, a cada passo, minha ansiedade pela mensagem que eu queria passar aumentava, e finalmente o momento da música que eu esperava chegou, em certo momento da letra, pedi para que a tradução fosse colacada de fundo em um telão:

Seja você rica ou pobre

Seja você preta, branca, parda ou albina

Seja você libanesa, seja você oriental

Mesmo que as dificuldades da vida

Te deixem acuada, assediada ou importunada

Exalte e ame a si mesma hoje

pois querida, você nasceu assim

Não importa se é gay, hétero ou bi

Lésbica, transexual

E quando a música tocou no ponto da opção sexual, a música parou e todos nos perdermos na sequência de passos, eu que estava sendo sustentado pela minha colega que fazia um passo em conjunto comigo, acabei caindo, e em meio ao silêncio que ficou no patio, alguém começou com as piadas... “A viada caiu” “ Ops o salto quebrou” “Melhor se amar muito agora hein”

As risadas não paravam, ninguém tomava nenhuma atitude, eu já tinha começado a chorar sentado no mesmo lugar onde cai, e ficar ali me sentindo tão inútil, me deu ódio de mim mesmo e de todos que estavam fazendo aquilo comigo, me levantei e fui em direção a um computador que estava em meio as pessoas que tentavam recuperar o som, naquele momento a raiva me cegava, até aquele dia eu era confidente de varias meninas da escola, todos estavam preocupados em rir de mim, ainda tremendo, conectei meu celular no computador e comecei a jogar prints de conversas no telão, conversas onde as meninas me contavam detalhes de suas relações, segredos e intimidades...

Logo um inspetor me tirou de la e desconectaram o celular, mas eu já via todos rindo do que tinham lido sobre as meninas, eu ainda chorava forte enquanto o inspetor me arrastava pelo patio...

No outro dia, choviam montagens de videos gravados na hora da queda, comentários, brincadeiras humilhantes, mensagens e mais mensagens de raiva, e então eu preferi ficar no meu quarto nas 3 semanas seguintes, Bia veio me visitar e me disse que tentaram esclarecer o porque do som ter parado, segundo a diretoria foi um “defeito nos cabos”....

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Mas 2 anos haviam se passado desde aquela vergonha... enquanto eu subia as escadas, começava a me sentir seguro do que estava fazendo, me posicionei... dei o sinal positivo... e as cortinas abriram

O ritmo de “flawless – beyonce” fazia com que todos batessem palmas no ritmo da música enquanto fazíamos a performance inicial, arrancamos gritos quando a música em si começou e nós tiramos a roupa que estava por cima de um traje social que estávamos vestindo por baixo, os passos estavam saindo perfeitos até o som parar de vez, foi engraçado ver todos parados já esperando uma razão pra repetirem a cena, eu me virei assustado pro sistema de som, o rapaz que estava operando me olhou com uma cara de pânico e eu já fui correndo em direção a Bia que segurava meu celular em minha direção, fui rápido entregar meu celular ao operador do som, lhe disse o que fazer e pedi um microfone, logo a música voltou e quem cantava agora era eu, não me contive em abrir um sorriso de superação quando vi todos surpresos, eu havia me preparado pro pior, e nunca estive tão feliz em ter feito isso.

Terminei a apresentação e fiquei surpreso em receber aplausos, vi que a escola tinha gostado, desci do palco correndo pra sala de aula, onde eu sabia que ia encontrar quem queria encontrar naquele momento: Felipe

Já cheguei o abraçando e o beijando, ficamos ali comemorando só nós dois na sala de aula vazia, até ele me puxar pra fora da escola, decidimos ir para minha casa, ficamos o resto do dia na cama, sem fazer nada além de trocar carícias e tirar cochilos nos intervalos rsrs, pra mim eu ainda estava em um estado de comemoração, já eram 23:30 da noite, nós estavamos assistindo TV deitados e rindo de uns videos que assistimos, como estava calor decidi tomar um banho antes de dormir

- psiu – chamei atenção do felipe me virando pra ele

- oi – ele abriu um sorriso, ele estava com os meus fones de ouvido enquanto mexia no meu celular

- vou tomar um banho, você vem? - perguntei levantando

- claro, vou terminar de ver esse video e já vou – ele disse piscando pra mim

- então te espero – eu disse sorrindo

- prefiro que você prepare o banho pra gente, hoje é comemoração!

- hann.. tabom então – dei um beijo nele e fui em direção ao banheiro

---------------------- Narrado por Felipe ---------------------------------

Finalmente ele me deixou sozinho por um tempo, conectei meu celular no wi-fi e comecei a enviar as fotos pro Samuel, consegui enviar todas bem rápido e logo ele me ligou

- NOOOOOOOSSA kkkkkkkkkkkkkkkkkk – ele ria do outro lado – Não é que a bixa dá o rabo com vontade? To morta com as poses que ele faz na cama!

- edita todas e remove meu rosto, depois é só mandar pra algum grupo e esperar – eu respondi rindo também

- tudo bem kkkkkkkk, vou te falar hein Felipe... o Daniel tá mais pra prostituta do que estudante exemplar – ele disse rindo – quero ver o que vão achar dessa bunda dele de fora com seu pau dentro kkkkkkkkk

- já editou? - perguntei rindo

- já estão todas no grupo e editadas kkkkkk, tão dizendo até de colocar em site porno kkkkkkkk... mas agora beijos.. a gente se fala depois porque tenho que esclarecer detalhes dessas sextapes do Daniel kkkkk – ele disse e logo em seguida e eu desliguei

-------------------------- Continua na 2ª Temporada --------------------------------