Episódio - 3: Pegadas na Areia
Parte da série Luzes da Cidade
Luzes da Cidade, episódio três: Pegadas na Areia.
Era parecido com um conto de fadas. Um rapaz de classe média namorando um rapaz da periferia. Diego conheceu Marcelo em uma festa há três anos e meio, foi amor à primeira vista. O jeito desengonçado de Marcelo dançar, o sorriso torto, a risada engraçada. Tudo isso fazia parte de um pequeno grande complexo dentro do coração de Diego, complexo que pertencia ao seu Baixinho chamado Marcelo.
Ele poderia ter escolhido outros, ele poderia ter escolhido vários outros. Mas escolheu Diego. O seu grandão, aquele moreno dos olhos esverdeados, cabelos castanhos, encaracolados, quando ele deixa crescer parece um anjo. Foram três anos. Mil e noventa cinco dias. Foi um amor arrebatador, mas algo deu errado, o mundo parece ter mudado, não aceitam o amor, na verdade repudiam, agridem, matam. Mais um número subiu, era o número das estatísticas crescendo, apenas mais um? Ainda não sabemos.
1 – Hospital Geral, madrugada.
A enfermeira Kelly ainda estava terminando o seu plantão, faltava pouco mais de duas horas para ele terminar. Numa noite que parecia calma, ela contava formulários, separava todos por ordem alfabética e quando dava o horário ia fazer a inspeção de rotina em todos os quartos da ala norte do hospital. Por volta de 03h30 da madrugada uma emergência chega dois garotos, um com ferimentos considerados leves e outro já dado como óbito no local do crime. Kelly faz todos os procedimentos necessários juntos com a equipe médica do Hospital Geral. Assim que o paciente esta sob a observação do médico Edgar, ela procura a policial Érika.
Kelly: Com licença. A senhora conseguiu o contato da família?
Érika, ainda confusa: O que? Ah, desculpa, conseguimos contato com o pai do garoto que está vivo, ele é policial do nosso DP já esta vindo para cá.
Kelly: Certo e o outro?
Érika: Bom, isso eu não sei, fizemos uma busca e o celular dele estava destruído.
Kelly: Foi assalto?
Érika: O que?
Kelly: Foi assalto o que ocorreu com esses rapazes?
Érika: Não, ainda não sabemos.
Kelly: A senhora é policial? Porque não está usando uniforme?
Érika: Olha eu sou promotora da delegacia, estava recebendo uma carona, fazendo um pequeno plantão pelas ruas do centro, tá legal? Agora quer parar de fazer tanta pergunta estou um pouco tonta.
Kelly: Quer algum medicamento?
As duas se olham.
Policial: Érika, o Alberto chegou.
Érika: Graças a Deus.
Os dois correm em direção a saguão do Hospital e encontram Alberto e Amélia. Os dois estão desesperados, mas logo são acalmados por Érika e o Policial. Amélia pede permissão para ver onde Marcelo está e ela é levada até ele por Kelly.
Kelly: Aqui está.
Amélia vê Marcelo e se sente aliviada, ela repara em seu rosto e vê as marcas do ataque, ela reza e chora ao mesmo tempo.
Kelly: Precisamos falar sobre o outro.
Amélia, levantando a cabeça e encarando Kelly: Outro?
Kelly: Sim, outro rapaz entrou aqui junto com o seu filho. Mas não houve tempo, ele está morto.
Amélia: De que rapaz você está falando?
Érika e Alberto chegam até Amélia, ele coloca as mãos sob a esposa e a abraça chorando.
Érika: Nós encontramos Marcelo e um rapaz desacordados numa Rua no Centro. Recebemos uma ligação anônima dizendo que estava acontecendo um assalto, como eu e o policial Oliveira estávamos por perto decidimos ir até lá.
Amélia: Eu não estou entendendo. Quem estava com meu filho?
Alberto abraça Amélia mais forte e chora: Era... O Diego, Mélia.
Amélia sente suas pernas ficarem pesadas, ela já não consegue mais respirar direito e assim desmaia. Pouco mais de uma hora Amélia acorda deitada numa pequena sala do Hospital. Ela respira devagar, Alberto está na sua frente segurando um copo de água.
Alberto, entregando o copo a Amélia: Tome.
Amélia, pegando o copo, ainda trêmula: Foi um sonho?
Alberto: Infelizmente não. Já fui ao necrotério do Hospital reconhecer o corpo e a policial Érika já se encarregou de avisar Carmem e Mário.
Amélia: E Carmem?
Alberto: Teve que ser sedada. Deve acordar mais tarde.
Amélia: E Mário?
Alberto: Está junto dela, nós vamos vê-los daqui a pouco.
Kelly bate na porta.
Kelly: Marcelo acordou.
Os dois se olham, Amélia com dificuldades para se levantar é amparada por Alberto. Os dois caminham devagar até chegar ao quarto de Marcelo, que está com os olhos abertos olhando para o nada.
2 – Hospital Geral, quarto 147, início da manhã.
Amélia, se aproximando da cama: Filho?
Marcelo abrindo um sorriso: Mãe.
Amélia sorrindo: Que bom que você acordou filho.
Alberto, se aproximando da cama pelo outro lado: Oi filhão.
Marcelo olhando para Alberto: Oi pai.
Amélia: Está sentindo dores?
Marcelo: Um pouco, principalmente na região da barriga.
Amélia: É normal, eles sedaram você um pouco para não sentir tanta dor ao acordar. Agora deve doer um pouco.
Marcelo: O que houve?
Alberto: O que?
Marcelo: Comigo. O que aconteceu?
Amélia e Alberto se olham.
Amélia: Ainda não sabemos meu querido, mas acreditamos que foi um assalto.
Marcelo com cara de desconfiado: Assalto?
Alberto: Sim filho, encontram você desacordado numa rua pelo Centro.
Marcelo vai aos poucos se lembrando do acontecido, ele se lembra de gritos, alguém gritando socorro.
Marcelo: Não me lembro se foi assalto. Eu acho que sei lá... Cadê o Diego?
Amélia fica apreensiva e Alberto desvia o olhar.
Marcelo, desconfiando da atitude dos pais: Onde está o Diego? Ele estava junto comigo, não estava?
Amélia com a voz quase inaudível: Estava...
Marcelo: Então cadê ele mãe?
Amélia morde os lábios e evita chorar.
Marcelo: Pai? O que está acontecendo?
Alberto contendo as lágrimas: Encontraram vocês dois meu filho.
Marcelo: Gente, se vocês estão me escondendo alguma coisa é melhor me contar agora.
Amélia: Fica calma filho.
Ela tenta por as mãos nele e ele evita.
Marcelo: Não põe as mãos em mim. O que está acontecendo aqui?
Alberto: Vocês vieram para cá com a ajuda de dois policiais. O caso do Diego era mais grave, foi constatado uma lesão no crânio muito forte.
Marcelo encara o pai e as lágrimas começam a cair.
Alberto: E então... Quando vocês...
Marcelo já chorando.
Alberto: Quando vocês chegaram aqui...
Amélia: Quando vocês chegaram aqui, fizeram tudo que foi possível.
Marcelo, limpando as lágrimas: O que?
Alberto: Mas ele se foi filho.
Marcelo gritando: NÃO!
Amélia: Fica calmo filho.
Marcelo gritando: NÃO ME PEÇA PARA FICAR CALMO. EU QUERO VER O DIEGO, DIEGO!
Alberto: Filho, eles fizeram de tudo para reanima-lo, ainda no local, mas ele não respondeu.
Marcelo: Eu ainda o toquei, ele ainda estava respirando, é mentira.
Alberto: Não filho. Ele se foi, por favor, se acalme.
Marcelo gritando: NÃO. PARA DE FALAR ISSO – ele coloca as mãos nos ouvidos – SAIAM DAQUI.
Alberto: Filho...
Amélia: Nós queremos ficar.
Marcelo gritando: EU QUERO FICAR SOZINHO PORRA. SAIAM DAQUI, SAIAM DAQUI, ME DEIXEM SOZINHO.
Os dois saem e Marcelo começa a se desesperar em pensar que nunca mais verá Diego.
Kelly: Como foi?
Amélia: Pior do que a gente esperava.
Kelly: Vou dar mais um tempo e vou precisar retira-lo para levar até a sala de raio-x.
Amélia: Tudo bem.
Amélia e Alberto se abraçam e vão até a ala do necrotério reservada para família. Lá eles encontram Carmem já acordada. As duas se abraçam. Carmem chora nos ombros de Amélia. Alberto bate na perna de Mário e o abraça também. As duas famílias se unem através do luto, depois de tantas alegrias juntos, parece que uma avalanche passou por eles. Uma grande e dolorosa avalanche.
3 – Cemitério Luzes, tarde.
Era uma tarde nublada. Pouco mais de cento e cinquenta pessoas estavam lá. Um pedido especial de Carmem era que não usassem preto e sim uma roupa colorida. Era uma forma da mãe de Diego protestar, pouco depois da morte do filho, Érika e sua equipe pela investigação inicial afirmaram que Diego e Marcelo poderiam ter sofrido um ataque homofóbico. Mas era preciso tempo, uma investigação iria ser novamente aberta, tudo isso era especulação. Uma missa foi celebrada, o Padre Venâncio pediu a todos que orassem pela paz no mundo, que violência como essa sofrida por Diego e Marcelo fossem banidas desta Terra. O grupo de amigos dos rapazes puxou um coro de música, João de Barro de Maria Gadú. Aos poucos o caixão ia abaixando, Marcelo estava ao lado de Mário, Amélia e Alberto, ele ouvia a música e se lembrada de uns momentos com Diego.
4 - Flashback, viagem ao Rio de Janeiro, Cristo Redentor.
Diego: Aqui é tudo lindo, não é?
Marcelo: Demais.
Eles olhavam a praia.
Traz nas asas um novo dia
Me ensina a caminhar
Mesmo eu sendo menino, aprendiz.
Diego: Imensidão esse mar.
Marcelo: Como nosso amor.
Diego fica sem graça e sorri.
Marcelo: Saiba, eu te amo demais.
Diego: Um dia posso não estar aqui.
O meu desafio é andar sozinho
Esperar no tempo os nossos destinos
Não olhar pra trás, esperar a paz
O que me traz
A ausência do seu olhar.
Diego: Aí você vai encontrar outro.
Marcelo, dando um riso abafado: Para de graça.
Diego: Mas tenho certeza que eu serei o cara que mais te amei na vida. E que tudo que passamos é prova disso.
Marcelo: Esse assunto está chato.
Traz nas asas um novo dia
Me ensina a caminhar
Mesmo eu sendo menino, aprendi.
Diego: Estou falando sério amor. Se um dia eu partir antes de você, quero que saiba que vou te proteger. Te guiar. Te amar.
Marcelo: Diego... Credo! Parece que sabe quando vai morrer.
Diego dando risada: Tô brincando seu besta. É a forma de dizer que nosso amor é infinito, imenso.
Marcelo: Que bom. Nós teremos vida longa, estaremos morando aqui em um ano. Juntos. Sem ninguém para nos perturbar.
Diego: Falando nisso.
Um caixinha caí no chão entre Diego e Marcelo.
Oh, meu Deus, me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de Barro, eu te entendo agora
Por favor, me ensine como guardar meu amor.
Diego se agacha e a pega: Aqui está, uma aliança.
Marcelo sem reação: Amor...
Oh, meu Deus, me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de Barro, eu te entendo agora
Por favor, me ensine como guardar meu amor.
Diego a coloca no dedo esquerdo da mão esquerda de Marcelo: Prometa que nunca vai tirar.
Marcelo: Prometo.
Diego: Que vai me amar para sempre, sempre.
Marcelo segurando as lágrimas: Prometo.
Diego se levanta e beija Marcelo. As pessoas o encaram, mas não dizem nada. É uma forma de amor. Uma das mais lindas formas de amor. Marcelo segura na estrutura e olha novamente o Mar, Diego o abraça por trás e sussurra: Eu te amo.
5 – Cemitério Luzes, tarde.
As pessoas jogam flores no caixão. As lágrimas de Marcelo escorrem pelo seu rosto. Quando a música para, todos aplaudem. Uns gritam justiça, outros gritam o nome de Diego. Marcelo joga a última flor junto com Carmem, os dois se olham, Carmem se aproxima de Marcelo e os dois se abraçam chorando. As pessoas aplaudem e finalmente, Diego descansa em paz.
6 – Quinze dias depois, Casa dos Medeiros, manhã, quarto de Marcelo.
Era uma rotina. Marcelo ficava no seu quarto quase que o tempo todo. Descia às vezes para jantar, Amélia servia café da manhã e almoço para ele na cama. Apesar de o médico receitar repouso por conta dos ferimentos, ele já estava bem melhor, mas não queria voltar a sua rotina. Reginaldo já havia perdido a conta de quantas ligações fez para Marcelo e ele o ignorou. Amélia estava subindo as escadas, já passava das 09h, ela decidiu por si só fazer Marcelo reagir.
Amélia abrindo a porta do quarto de Marcelo e dizendo: Vamos!
Ele acorda no susto.
Amélia: Vamos Marcelo, vamos.
Marcelo: Vamos onde mãe? Está louca?
Amélia: Você precisa reagir meu filho.
Marcelo: E você precisa me respeitar.
Amélia: Eu estou fazendo isso, pacientemente, dando seu espaço. Dando chance de você se recuperar.
Marcelo: Ótimo. Ainda não estou bem. Agora saia.
Amélia: Filho...
Marcelo: Mãe será que eu vou precisar desenhar?
Amélia se aproxima da cama e se senta ela acaricia seu filho.
Amélia: Eu entendo toda a sua dor meu amor. Eu entendo todo mal que esta se passando aí dentro. Mas está na hora de você começar a reagir, começar a acreditar que você precisa continuar.
Marcelo: Ainda não estou preparado para esse tipo de coisa mãe. Assim que eu estiver a senhora será a primeira, a saber. Agora saia.
Amélia: Tudo bem.
Ela se levanta da cama de Marcelo e chega até as cortinas, rapidamente ela as empurra fazendo a luz do sol encontrar a cama de Marcelo e fazendo-o gritar.
Amélia: Vamos!
Marcelo: Eu não vou a lugar nenhum e vou dizer à doutora que você está me torturando.
Amélia: Marcelo, a doutora me autorizou a fazer isso, tudo bem? Ela disse que você precisa de um esforço para sair dessa cama. Precisa de um estimulo, bem o estimulo está dado. O lindo dia que está lá fora, vamos andar. Quem sabe ir à delegacia, a Érika quer falar com você ou podemos passar na Carmem.
Marcelo finalmente se levanta e encara Amélia.
Marcelo: Posso tomar um banho?
Amélia: Pode. Vai querer ir falar com a Érika ou na Carmem?
Marcelo: Não quero ir à Érika hoje, estou cansado, vamos à Universidade preciso dar um parecer para o Reginaldo e depois vamos na Carmem.
Amélia: Ótimo.
Era um sacrifício necessário o que Amélia estava fazendo com seu filho. Ela já não suportava mais essa situação, ele estava entrando numa depressão sem volta e ela sabia que dependia dela o fazer sair. Assim que termina de se trocar Marcelo desce as escadas e encontra Amélia.
Marcelo: Vamos?
Ela o encara por um tempo.
Marcelo: Mãe?
Amélia: Vamos.
7 – Universidade Regional Paulista, manhã, Secretária.
Os dois pegam o carro e vão em direção a Universidade Regional Paulista. São recebidos com olhares para Marcelo, olharem que julgam, olhares que querem saber como estão, como não estão como está o seu luto. Eles rapidamente passam pela secretaria e chegam a sala de Reginaldo.
Reginaldo sorrindo: É uma honra te ver.
Marcelo sorri.
Reginaldo: Sentem-se.
Os dois se sentam.
Reginaldo: Então, a que devo a honra?
Marcelo: Desculpe pela ausência.
Reginaldo: Totalmente compreensivo. Você é um sobrevivente meu caro, merece meu respeito. A propósito, já prenderam os meliantes?
Amélia percebe que Marcelo fica inquieto.
Reginaldo: Eu não acredito que isso possa ter acontecido com você, um rapaz como você e claro tem seu... O seu amigo, não é?
Marcelo: Namorado.
Reginaldo: Meus pêsames.
Amélia sem graça intervém: Esse assunto, não está num momento apropriado.
Marcelo: Tudo bem mãe.
Reginaldo: E então?
Marcelo: Ainda não estou me sentindo preparado para voltar, entende?
Reginaldo: Sim.
Marcelo: Gostaria que o senhor me desse mais uns dias.
Reginaldo: Marcelo vou ser franco com você. Nós tomamos a decisão de contratar mais atendentes sendo assim sua vaga aqui em nossa Universidade estaria mais que ameaçada. Mas como sabemos de tudo o que você passou e decidimos te dar uma chance de ficar, assim que a sua recuperação acabar é claro. E sobre a sua futura rescisão, creio que está na hora de você pensar melhor, ficar conosco é uma opção e eu gostaria de contar com você por muito mais tempo.
Marcelo: Eu teria que pensar...
Reginaldo: Por favor, não leve isso como uma pressão. Entendemos e compreendemos a sua situação. Posso te dar mais uma semana, você acha que está bom?
Amélia: Está ótimo.
Marcelo: Mãe sou eu que precisa decidir.
Amélia: Filho...
Reginaldo: Deixe com ele Dona Amélia.
Marcelo: Preciso falar com a minha psicóloga. Assim te dou uma resposta até o fim de semana.
Reginaldo: Tudo bem. Penso em te mudar de setor, te colocar como auxiliar da Renata.
Marcelo: Tudo bem.
Os dois ainda tem mais uma breve conversa. Marcelo e Amélia saem rapidamente da sala de Reginaldo e se dirigem ao carro.
Amélia: Eu disse que seria bom.
Os dois seguem. Ao se aproximarem da rua de Diego, Marcelo sente um calafrio, suas mãos começam a suar. Ele sabe que precisa enfrentar isso, precisa superar-se. Esse era um ótimo dia para isso.
8 – Casa dos Buarque, tarde, entrada da casa.
Marcelo para na entrada do Sobrado. Ele olha para todos os lados. Respira fundo.
Marcelo: Não posso.
Amélia: Pode sim filho. Estamos aqui venha.
Ela abre o portão. E ele sente mais um calafrio.
Marcelo: Mãe...
Amélia: Vamos.
Ela segura na mão dele e o guia até a entrada, Fernando abre a porta e eles veem Carmem sentada numa poltrona na sala, olhando para o nada. Ela aparece bem mais abatida, mais magra, sem maquiagem, ao perceber que eles entraram, ela se levanta. Os dois trocam um abraço caloroso e ambos choram. Era a primeira que se viam, fazia quinze dias. Ela o solta e cumprimenta Amélia, as duas se sentam e Marcelo permanece de pé.
Carmem o observa e diz: Pode ir.
Ele retribui o olhar.
Marcelo: Posso pegar algumas coisas para mim?
Carmem: É claro. Tudo que quiser.
Ele sobe, devagar, uma escada que tem poucos degraus parece que tem milhões agora. Respirando fundo ele sobe. A porta do seu quarto é a terceira no corredor. Ele chega. Toca a maçaneta e abre. Uma inundação de lembranças toma todo o seu ser. Ele entra e fecha a porta. Esta um pouco bagunçado Carmem deve ter entrado pouco ali logo após a morte de Diego. Ele olha para o Mural e vê inúmeras fotos deles. Rio de Janeiros, Praias, Natais, Réveillons, tudo. Ele seca as lágrimas que caem. Abre o guarda-roupa. Pega uma camiseta azul que ele havia dado para Diego um mês antes, ele amava aquela camiseta. Ele a cheirou e ainda tinha o seu cheiro. Caminhou até o banheiro e de repente ouviu: Oi amor. Era a voz dele.
Marcelo estático: DIEGO?
Assim que se virou uma decepção, era o notebook dele, aberto na mesa de ele ficava. Um vídeo começou a tocar.
Diego: Oi amor. Hoje é quinta-feira e ontem brigamos feio. Não sei por que aquilo aconteceu, mas estou gravando esse vídeo como forma de te pedir desculpas, usei um aplicativo bacana para fazer uma montagem com nossas fotos e com nossa música de fundo.
A música era Footprints In The Sand interpretada pela Leona Lewis. A montagem apresenta um monte de fotos e vídeos deles.
Diego: Olha como você dorme bem lindo amor. Olha.
A câmera passa pela face de Marcelo com ele dormindo.
Diego: Eu te amo.
Marcelo: Quer desligar essa merda?
Diego: Opa...
De tanta emoção Marcelo se sentou na cama. Ele não sabia o que fazer apenas sentir. As lágrimas caiam em enormes quantidades, ele se deitou na cama de Diego e chorou. Ele apertava a fronha da cama, seu único desejo era senti-lo mais uma vez. Olhar nos seus olhos, rir das suas brincadeiras, ele queria apenas que ele estivesse ali. Uma hora depois Marcelo saiu do quarto de Diego, desceu as escadas carregando a mochila que o rapaz havia ganhado, dentro dela havia fotos, pequenos presentes e a camiseta azul. O que ele deu falta foi um pequeno colar de ouro escrito PEACE, ele não encontrou e não quis perguntar para Carmem, achava que já tinha pegado coisas demais. Ele se juntou a Amélia e Carmem na cozinha.
Carmem tentando sorrir: Tudo bem?
Marcelo: Sim.
Carmem: E agora?
Marcelo: E agora nós seguimos Dona Carmem.