Episódio - 2: Sob Ataque.
Parte da série Luzes da Cidade
Luzes da Cidade, episódio dois: Sob Ataque.
1 – Casa dos Buarque, noite.
Richard está parado na frente de todos, apenas Carmem está em pé segurando a garrafa de uísque, com um sorriso de vitória.
Richard, totalmente sem graça: Acho que não cheguei em uma boa hora.
Carmem, indo em direção a ele: Chegou em uma hora excelente! Venha, vamos jantar conosco.
Diego: Não mãe! Ele não vai jantar conosco.
Carmem: Diego, por favor.
Mário: Carmem...
Diego: Mãe...
Carmem: Ele fica.
Marcelo se levanta.
Diego: Fica.
Ele tenta tocar sua mão.
Marcelo: Acho que vocês têm pessoas demais nessa mesa.
Amélia: Marcelo...
Marcelo: Com licença Dona Carmem, mas não ficarei para esse jantar.
Carmem: Que é isso Marcelo? Com ciúmes do Richard? Você não precisa disso.
Marcelo: Realmente, não preciso disso. Essa situação toda, não era necessária, não precisa expor algo que a senhora já sente há muito tempo.
Diego, se levantando: Marcelo fica.
Carmem: Não sei do que você está falando meu querido.
Marcelo, indo em direção à porta de saída: Nós sabemos sim.
Carmem: Pare de graça Marcelo, tome um uísque, fique conosco.
Marcelo: Não.
Ele abre a porta e a fecha com força. Todos ficam sem graça diante da cena, Diego se levanta e vai ao encontro de Richard.
Diego: Saia da minha casa agora!
Richard: Sua mãe que...
Diego, interrompendo: Não me importa. Saia daqui.
Carmem: Uísque?
Amélia: Nos perdoe Carmem, mas vamos nos retirar também.
Alberto: Nos desculpe.
Os dois se levantam e vão embora. Segundos depois Richard também saí. Na mesa de jantar Carmem toma um gole de seu uísque e Mário a encara.
Mário: Como pode?
Carmem: Fiz o que era necessário. O Richard é o namorado ideal para Diego, não Marcelo. Ele tem condições, pode ir e voltar para onde ele quiser, não precisa juntar dinheiro, porque ele tem dinheiro.
Mário: Está na hora do Diego decidir o que ele quer da vida dele, não uma mãe completamente descontrolada, capaz de enxergar apenas o seu próprio nariz, você está ultrapassando todos os limites possíveis Carmem.
Carmem: Me deixa em paz.
Mário se levanta e vai em direção ao seu quarto, seus passos parecem rochas caindo na cabeça de Carmem, ela abaixa a cabeça na mesa, mas rapidamente se levanta.
Carmem: Não ia desperdiçar um uísque desse com esse bando de gentalha.
E se serve e logo vira mais um copo.
2 – Rua dos Carvalhos, noite.
Diego, correndo em direção a Marcelo: Espera amor. Espera.
Diego o alcança e puxa seu braço.
Marcelo: Esperar o que Diego? Sua mãe escancarar mais uma vez que eu não sou um bom partido para você? O que precisamos saber mais Diego? Me diz.
Diego: Eu não sei o que deu na cabeça dela de chamar o Richard para ir em casa.
Marcelo: O que ela queria? Por favor, Diego, ela queria ele no meu lugar. A família dele no meu lugar.
Diego: Mas eu quero você.
Marcelo, chorando: Essa viagem veio em boa hora.
Ele começa a retirar a aliança de seu dedo esquerdo, da sua mão direita.
Diego, com as lágrimas escorrendo em seus olhos: Não...
Marcelo: Prefiro não tomar uma atitude drástica agora. Segure isto.
Ele entrega a aliança.
Diego: Não... Marcelo, não é para tanto.
Marcelo, limpando suas lágrimas: Não?! Sua mãe sempre me menosprezando, sempre colocando barreiras para nós. Essa sua aprovação para mudar de cidade em menos de quatro dias, eu sofrendo pressão no trabalho por causa da ausência da Renata, sabe quantos papeis tem no Painel do Desespero? Cinquenta! E ainda tenho mais para colocar. Mas não, você não entende. Você nesses últimos meses apenas conseguiu fazer uma coisa, olhar pro seu próprio umbigo. Olhar e planejar essa maldita viagem. E viu, conseguiu? Embarca na sexta e está feliz. É CLARO, está pulando. Quer saber? Eu não me importo. Aqui podemos terminar e não vou estar nem aí.
Diego abraça Marcelo.
Diego: Eu estou aqui e vou ficar aqui, com você, para sempre. Eu te amo.
Marcelo, se soltando dos braços de Diego: Me larga. Não conte mentiras a si mesmo.
O celular de Diego toca é a foto de Richard aparece.
Marcelo solta uma risada sarcástica: Viu? Não precisa dizer nada.
Os dois se separam a cada passo de Marcelo. Diego volta para casa e Marcelo encontra os pais que o levam de volta. Tudo parecia estar fora do lugar naquele momento. O relógio apontava, era quinta-feira. O dia parecia não passar. Diego tentava algum tipo de contato com Marcelo, mas era em vão, ele não respondia suas mensagens, não respondia sua caixa postal. Numa medida, Diego foi até o atendimento da Universidade Regional Paulista, mas Aline disse que Marcelo estava em horário de almoço. O dia foi embora. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Apenas Alexia, essa era a única que poderia salvar Marcelo.
2 – Casa dos Medeiros, noite, quarto do Marcelo.
Alexia, pegando o celular de Marcelo que toca: Ele novamente.
Marcelo: Atende essa merda.
Chamada por telefone.
Alexia apertando o botão de atender: Diego?
Diego por telefone: Onde ele está?
Alexia: Não é uma boa hora.
Diego: Preciso falar com ele.
Alexia: Não me interessa. Não é uma boa hora. Tchau.
Alexia desliga o telefone.
Marcelo: O que era?
Alexia: Depois você vai ter que comprar um caminhão de desculpas só para eu dar a ele, ok?
Marcelo: Que se foda.
Alexia: Você não está sendo rude demais?
Marcelo: Vai defender ele?
Alexia: Claro que não, você sabe disso, mas...
Marcelo: Não tem mais, nem menos mais Alexia. Como você reagiria a tudo isso?
Alexia: Me afogaria no sorvete e iria por todas as minhas séries em dia, Grey’s Anatomy, Scandal...
Marcelo: O que?
Alexia: How To Get Away With Murder, The Walking Dead...
Marcelo: Chega. Isso é o que?
Alexia: Estou brincando.
Marcelo: Idiota.
Alexia: Tudo bem baby boy, tenho que ir para minha casa, porque amanhã vou trabalhar.
Marcelo: Tudo bem...
Alexia, se levantando: Promete que vai ficar tudo bem?
Marcelo: Prometo.
A sexta-feira começava. Para um dia de verão, começou nublada. Marcelo já estava na URP, seu celular não parava de apitar com tantas mensagens. A última que Diego havia mandado era aquela quando Alexia estava em sua casa ainda e dizia:
“Vou sair com o nosso pessoal, vamos para uma balada na Augusta. Se puder ir se despedir de mim, vai ser às 23h. Te espero lá. Te amo!”.
Marcelo ainda não tinha decidido se ele iria ou não, a verdade para ele era que Diego estava querendo usar como pretexto para eles se encontrarem. Assim que saiu do seu trabalho ele foi para sua casa. Chegando lá achou melhor ir encontrar o seu pessoal, afinal como era o segundo sábado do mês, ele não precisava ir para faculdade fazer horário extra.
3 – Casa dos Medeiros, noite, sala.
Marcelo: Mãe estou indo para uma festa de despedida do Diego. Acredito que só volto pela manhã.
Amélia: Onde filho?
Marcelo: Na Augusta.
Assim que termina sua frase Amélia fica branca e suas mãos começam a suar frio. Ela fica tremula.
Amélia: Tem certeza que você quer ir filho?
Marcelo: Sim mãe, vai me fazer bem.
Amélia, com os olhos marejados: Tudo bem.
Marcelo: Se cuida!
Assim que Marcelo saiu da sua casa, Amélia foi até seu pequeno altar. Lá a imagem de Iemanjá estava totalmente limpa, emanando paz, ela pega uma vela azul e acende.
Amélia, sussurrando: Que a minha mãe te proteja meu filho, axé.
A noite iria começar na balada Club, na Augusta. Todos os amigos de Diego e Marcelo estavam lá, Théo, Anna, Alexia, Rafaela, Roger, Bruna, Pablo, Henrique e Marisa. Eles pegaram uma mesa no meio do bar para conversarem, darem muitas risadas e se lembrarem do ensino médio. Tudo estava bem, até começar a tocar Beyoncé. Todos foram para pista de dança, com seus copos na mão, luzes acendendo e apagando. Tudo estava bem. Marcelo foi o último a chegar, assim que pisou na balada encontrou com Alexia saindo para fumar um cigarro, dois se cumprimentaram e ele seguiu, em busca de Diego, no caminho veio refletindo, acho que tudo que tinha dito na noite de quarta-feira foi uma grande besteira e queria pedir perdão. Ele merecia, ele estava fazendo por onde, ele era lindo. Assim que chegou a pista de dança, Marcelo viu Diego abraçado com Richard, que havia acabado de chegar também.
Marcelo, gritando: FILHO DA PUTA.
Diego vê Marcelo, os dois se encaram. Marcelo sai correndo em direção à saída. Ele olha para o relógio, já passa da 01h, ele demorou demais para chegar. Para onde ele vai? Após sair do Club, Marcelo vai em direção ao desconhecido. Diego felizmente o alcança.
Diego: Não é o que você esta pensando, ele estava me dando parabéns.
Marcelo: Porque você esta se justificando antes mesmo de eu te questionar?
Diego: Porque sei que você vai falar as mesmas coisas.
Marcelo: Mesmas coisas?
Os dois caminham para o desconhecido.
4 – Rua Antônio de Moraes, madrugada.
Diego: Você quer parar de ser infantil?
Marcelo: Nós não temos nada.
Diego: Não vou jogar três anos no lixo por besteiras suas. Eu te amo Marcelo.
Marcelo: Ama nada, se amasse, não faria isso.
Diego: Eu não posso me explicar mais?
Marcelo: Suas explicações não são convincentes Diego.
Os dois param. Uma rua escura, macabra, cheia de prédios antigos.
Diego: Tudo bem. Vou para Rio de Janeiro amanha e vamos ficar assim?
Marcelo: Sim.
Diego: Tudo bem...
Diego da passagem para Marcelo.
Diego: Então vai...
Marcelo passa por Diego e sente seu perfume. Ele ganhou de presente quando completaram três anos, há pouco mais de dois meses. Ele foi caminhando, a rua ia ficando cada vez mais escura, as luzes dos postes não funcionavam direito. Cinco pessoas vem em sua direção, ele rapidamente coloca a touca da blusa na cabeça e continua a caminhar. Eles passam Marcelo não os encara, apenas repara numa suástica numa blusa de uma das pessoas, uma suástica manchada de sangue, ele treme, quando olha para trás, vê que um deles está com um soco inglês na mão. Ele para. Respira e os segue. Rapidamente os perde de vista e novamente para. Ele volta para o mesmo lugar que estava indo até ouvir gritos de socorro. Marcelo corre, corre em direção à voz. Era ele... Era Diego.
Marcelo: LARGUEM ELE.
E ele corre em direção aos agressores, logo é surpreendido por um golpe na pernas e caí. Os dois gritam, Marcelo consegue lutar com um deles. Diego não responde mais. Um dos agressores grita:
- Viadinhos, merecem morrer.
A sirene da polícia ecoa, os agressores saem correndo, Marcelo e Diego agonizam no chão. A sirene da polícia se aproxima.
Marcelo: Di-e-go.
Ele respira muito machucado.
Marcelo tenta tocar a mão de Diego, mas desmaia.
A polícia chega ao local, dentro do carro esta Érika fazendo um inexplicável plantão naquela noite. Ela se aproxima dos corpos dos rapazes estirados no chão, calmamente se agacha e põe a mão sobre um deles.
Érica, com a mão esquerda sobre o pescoço de um dos rapazes ela afirma: Está morto.