Capítulo dois

Parte da série Apartamento

ANDERSON:

Fazia uma quinta-feira quente, abafadiça e enfadonha. Contudo, para Anderson, o termo enfadonho se aplicava pelo fato de que, com esse calor pegajoso, não seria muito agradável passear pela cidade, frisando que ele estava ansiosíssimo para sair com o anjinho e levá-lo para conhecer os lugares mais cools de BH, ainda que Anderson quisesse mesmo era viajar para Guarapari e mostrar para Pedro as praias do lugar.

Aquela noite fora absolutamente maravilhosa. O filme foi uma droga, deve-se admitir. Todavia o mundo havia se fragmentado, transmutado a pó, pois o que realmente importava era ele e Pedro, sentados naquele sofá, trocando olhares que denotavam “algo a mais”.

O dia exprimia proeminente aborrecimento, entretanto Anderson preparava o café da manhã com um sorriso cordial transparecendo em seu semblante. Ele exalava um sentimento levado a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão que fazia suas pernas oscilarem, sua visão ficar turva e um arrepio correr pela sua espinha toda vez que se lembrava do nome do Pedro, o seu anjinho.

No entanto, Anderson estava sob o peso de um poderoso impasse: negar o sentimento e compactuar com a ideia de que ser gay é nojento, ou render-se a esse sentimento assustador e consagrar a aprazível concepção de que estava apaixonado. E esse mesmo impasse era como uma mina desativada prestes a desabar, pois tamanha era a pressão que sentia.

O rádio ligado dispersava o som de Time After to Time, da Cyndi Lauper, e a assadeira quase que torrava os mistos quentes que ele preparava. Qual suco? Laranja? Ou seria melhor de caju? Anderson, sem insistir, optou por caju.

– Fazendo o café?

Anderson institivamente volveu o rosto ao ouvir aquela voz. Pedro estava sob o marco da porta da cozinha, bocejando, uma expressão sonolenta perpassando pelo rosto. Ele estava descalço, vestia um short e uma camiseta branca.

– Ah, sim, cara. Senta aê.

Pedro sentou com vagar à mesa. Ele se espreguiçou, provocando estalidos nos dedos de suas mãos.

– Dormiu bem? – perguntou Pedro.

– Sim, sim – respondeu Anderson com sinceridade. – Ainda mais que... Ah, quer dizer, você gosta de suco de caju?

– Odeio – disse em resposta Pedro, bocejando.

– Bom, então pode ser leite?

– Tudo bem.

Anderson retirou os mistos quentes e os colocou sobre um prato. Guardou o suco na geladeira e encheu dois copos com leite.

– Gostou do filme? – perguntou Pedro abocanhando um pedaço do sanduiche e subsequentemente limpando o canto da boca com as costas da mão.

– Não, odiei! Odiei os diálogos e a atuação dos atores.

– Sério? – abismou-se Pedro. – Eu amei! E os diálogos estavam daquela forma obsoleta por ser inspirado na peça de teatro escrita por Shakespeare, A Tempestade. Mas e o Dênis? Ele ainda está dormindo?

Anderson ficou despeitoso. Decerto Pedro tinha um elevado e súbito interesse por Dênis. Mas por quê? Dênis mal havia conversado com ele. Mal olhou para ele. Talvez nem ao menos soubesse o nome dele, como demonstrou não saber o seu. Mas o seu anjinho insistia em querer saber sobre esse Dênis. Foi assim ontem à noite, quando os dois estavam assistindo o filme e ele insistiu em perguntar se não era melhor chamar o lindo e maravilhoso Dênis para assistir também.

– Não – disse Anderson com frieza, deliberadamente fleumático. – Ele saiu há pouco.

– Que pena. Eu ia chama-lo pra dar uma volta comigo.

– Se quiser nos podemos sair – ofereceu Anderson de bom grado.

– Hã... – Pedro pensou por um momento. – Tudo bem. Aonde vamos?

– Bom. Eu tenho que ir trabalhar. Mas na volta podemos ir a uma boate que fica aqui perto.

– Certo. Então enquanto você trabalha eu dou uma geral na casa, pois pelo visto você não é muito adepto à limpeza.

DÊNIS:

De pernas cruzadas e sentado em uma mesinha de um café no Shopping Diamond Mall, Dênis observava os transeuntes subindo e descendo as escadas rolantes, adentrando e saindo das lojas caras. Enquanto observava, ele bebericava um café quente em uma delicada xícara de porcelana. Também, sob o tampo da mesa, havia um pratinho com cookies de baunilha com gotas de chocolate.

Dênis estava lindo como sempre! Trajava uma blusa polo azul apertada – no que evidenciava os seus músculos proeminentes –, uma calça jeans preta com arabescos brancos e calçava sapatênis. Mas o que mais encantava era o seu rosto de traços distintos, a todo o momento sorrindo, o que criava perfeita harmonia com os seus olhos verde-folha-seca. Os transeuntes o mirava a todo o tempo, engolindo-o com os olhos transmitindo desejo e excitação.

– Mais café, senhor?

Dênis olhou para a garçonete, e com um gesto de mão sinalizou que não. Ele não queria mais café. Seu intento era apenas descobrir o nome do rapaz a alguns metros, sentado em uma mesa na praça de alimentação, que o fitava. Pelas suas roupas e as sacolas de papelão no chão expondo marcas caras, Dênis deduziu que o rapaz era um filhinho de papai que morava ali perto, na região centro-sul.

– Tem certeza, senhor?

– Sim, eu tenho certeza.

Dizendo isso, Dênis colocou sobre o tampo da mesa uma nota de dez, o suficiente para pagar as xícaras de café e os biscoitos que havia pedido. Ele seguiu solenemente em direção ao rapaz. Audaciosamente puxou uma cadeira, sentou-se e iniciou conversa sem se importar com o seu atrevimento:

– Oi, tudo bem?

– Tudo – disse o rapaz timidamente. Ele era magrinho, altura mediana, cabelos loiros e de olhos castanhos. – E com você? – perguntou, acanhado.

– Melhor agora – respondeu Dênis com teatral convicção. – Mas qual é o seu nome?

– Arthur.

– Hum, Arthur, como na história.

Artur riu de imediato.

– Não acha clichê essa do meu nome ser o mesmo que o do protagonista de A Lenda do Rei Arthur?

– Bom, não sei se é clichê – disse Dênis confiante. – E a história que eu me referia era A Mulher de Preto, de Susan Hill, conhece?

Arthur fez que sim com a cabeça, incomensuravelmente envergonhado.

– E qual o seu nome? – perguntou Arthur com comedido interesse.

– Dênis. Mas Arthur, você está acompanhado?

– Não, não. Só estou esperando o tempo passar. Quantos anos você tem Dênis?

– Uou, direto no ponto. Tenho dezenove. E você?

– Dezessete. E você, está acompanhado?

– Sim. Agora estou com você, Arthur. Não sei porque, mas não me canso de falar o seu nome. É um nome lindo, decerto.

Arthur não disse nada. A vergonha o impossibilitou de dizer qualquer coisa.

– Você mora aqui por perto, Arthur?

– Não, não. Moro no Mangabeiras.

Dênis refletiu. O Mangabeiras não era um bairro apinhado de mansões, localizado no sopé da serra?

– E por que você está aqui tão cedo? – inquiriu Dênis, ganhando terreno.

– Gosto de levantar cedo – disse Arthur olhando para baixo, mirando os sapatos que calçava.

– Então somos parecidos.

Dênis colocou suas mãos sobre as de Arthur. Os dois ficaram em absoluto silêncio, apenas se olhando, o que era um tanto difícil para Arthur, o qual estava tão vergonhado que seu rosto recentemente pigmentado de vermelho lembrava muitíssimo uma papoula.

– Gostaria de ir a um lugar comigo, Arthur?

Arthur olhou inquisitivo para Dênis, mas, por fim, aceitou.

PEDRO:

Ao som de Brown Eyed Girl, de Van Morrison, Pedro arrumava o apartamento. Era um dia perfeito para os afazeres domésticos. O céu estava claro e o Sol brilhava como nunca, derramando sua graça por toda a cidade. Era definitivamente um dia lindo para um passeio!

Pedro voltava sua atenção, vez por outra, para o relógio à parede. Devia estar alguns minutos atrasados, no entanto não o suficiente para que ele tivesse noção de qual era a hora. O seu intento era almoçar fora. Ele não queria desperdiçar um dia lindo como aquele mofando em um apartamento, sem ter companhia para conversar. Se pelo menos Dênis estivesse ali... Bem, Dênis não estava, então o que o restava era apenas limitar-se a arrumar o apartamento, tomar um banho gelado e procurar um restaurante ou uma cantina, ali mesmo no bairro.

Tão logo o CD havia tocado a última faixa e Pedro já estava sob o chuveiro. E tão logo havia trocado de roupa, ele já se viu caminhando despreocupadamente pela Olegário Maciel, subindo a larga avenida, imponente naquele ponto, sempre olhando fascinado para os lados. Pedro deparou-se com um dos prédios do Clube Atlético Mineiro e, bem à sua frente, se erguia um Shopping. Correndo os olhos por uma oblonga placa verde, ele leu: Shopping Diamond Mall.

Pedro adentrou a portaria e estacou em um imponente hall. Subindo alguns degraus, ele já caminhava por amplos corredores ladeados por lojas e mais lojas que ofereciam diversos produtos, todavia não divergiam nos preços: caros como diamante.

Pedro estava com fome. Seu estômago revirava e esbravejava com sonora intensidade. Mas, pensando bem, talvez não fosse uma boa escolha ter entrado no shopping. Tudo ali era muitíssimo caro. Desde um simples cafezinho até as fabulosas vestimentas. E ele não tinha tanto dinheiro. Precisava arrumar um emprego o quão antes. No entanto, mirando mais além, ele encontrou a praça de alimentação, rodeada por lanchonetes e restaurantes de fast-food.

Sentado em uma mesa redonda de tampo polido, Pedro saboreava o seu quite: sanduiche, batata frita e refrigerante. Não havia custado muito. Todavia ele não era adepto a esse tipo de comida. Não poderia ser. Ele tinha livros e roupas novas para comprar e investir pesado nos estudos. O que o levava, mais uma vez, a ter o pensamento de que precisava, urgentemente, de um emprego. Aliás, ele não poderia esquecer que estava morando em um apartamento e tinha contas para pagar, juntamente com o galã do Dênis e com o proprietário, Anderson.

Mas Pedro não se preocuparia. Pelo menos não naquele momento. Assim que chegasse em casa, pegaria emprestado o notebook do Anderson e enviaria um currículo via e-mail. Ou, quiçá, desceria até o centro da cidade e andaria por todas aquelas ruas e avenidas planejadas até encontrar o seu futuro local de trabalho.

DÊNIS:

Uma musiquinha enjoada tocava ao fundo. Fora custoso para Dênis convencer Arthur a entrar no banheiro para ter o que ele mesmo gostava de dizer como uma “seção erótica”.

Arthur era um adolescente tímido. Provavelmente era vítima de bullyng por seus trejeitos afeminados e sua delicadeza ao conversar. Era de classe média-alta e vivia em uma mansão no sopé da Serra do Curral. E Dênis tiraria, por certo, proveito disso.

Os dois estavam no banheiro do último andar, completamente vazio. Dênis teve que, pela enésima vez, implorar de modo gracioso para que Arthur entrasse em uma cabine. E dentro da cabine, os dois começaram a se beijarem. No início Arthur relutou, entretanto Dênis sabia interpretar muito bem o seu papel e foi dominando aquele garotinho aos poucos, fazendo-o ceder e sentir o gosto do quero-mais.

E dos beijos passaram para os amassos. Os corpos se exploravam. Dênis mordia a orelha, o pescoço e os lábios de Arthur com delicadeza. Logo já estavam sem as camisas. Dênis olhou aquele corpo magricela a sua frente e sorriu. Era um sorriso de escárnio, de cabal deboche.

– Está preparado? – indagou Dênis com falsa ternura.

Arthur respondeu:

– Não sei. Nunca fiz isso antes. Vai doer muito?

– Um pouco, mas prometo fazer devagar.

E Dênis puxou Arthur para mais um beijo. Com a maior urgência abaixou a sua calça e cueca e expôs um pau de dezoito centímetros preparado para a selvageria. Contudo Dênis não poderia ser selvagem. Ele tinha que ser delicado, conquistar o coração do idiota com a cordialidade de um príncipe encantado dos tempos modernos.

Arthur abocanhou aquele pedaço cilíndrico de carne com vagar, com certo nojo e, principalmente, com relutância. Ele nunca havia feito isso antes. Mas queria fazer. Dênis era lindo e ele não se preocupava nem um pouco que, tão logo conheceu o deus nórdico à sua frente, já estava fazendo sexo com ele.

Depois daquele boquete sem graça, Dênis viu que o magricela estava pronto para receber o seu pau. Ele pôs Arthur de costas, com as pernas afastadas e as mãos apoiadas na parede, e, vagarosamente, introduziu seu pau naquele cuzinho rosa e apertadinho. Primeiro entrou a glande, após transcorridos fastidiosos minutos que Dênis não sabia como não havia brochado, o corpo entrou por inteiro. Arthur quase chorava, tamanha era a dor, porém Dênis não se importava com som algum, a exceção daquela música insuportável que tocava no shopping.

– Dênis, está doendo.

– Calma, meu amor, é assim mesmo. No início sempre dói, mas vou fazer com carinho, não se preocupe.

Ao ouvir aquele complexo de palavras ternas e faustosas, Arthur esboçou um sorriso em seu rosto e entregou-se por completo. Ele não se importava com a dor, ele queria ser penetrado por aquele que, repentinamente, despertou algo em seu coração que ele poderia exclamar com todas as letras que era amor!

Já Dênis queria que aquilo acabasse rápido. Por que ele não gozava logo? Aquele lugar apertado e aquele garotinho idiota e infante... Ah, ele não imaginava que teria que se rebaixar a tanto para conseguir alçar os seus objetivos. Um ultraje!

Por fim Dênis gozou. Seu corpo involuntariamente se contraiu em espasmos, todavia, menos de um segundo depois, ele voltou a sua habitual pose, como se não houvesse sentido prazer algum.

– Foi perfeito, Dênis! – Disse Arthur se virando com cuidado e envolvendo os seus lábios nos de Dênis.

– Eu que digo, meu amor.

Arthur quase desmaiou ao ouvir aquelas palavras.

– Você que deve ter mais experiência, me responde uma coisa: as pessoas se amam assim, tão rápido?

– Sim – respondeu Dênis, negando a verdade. Como Arthur poderia ser tão estúpido? Ninguém se apaixona de modo tão repentino. – Mas somente quando foram feitas uma para a outra.

Dênis quase vomitou ao exprimir aquelas palavras. Não era verdade. Não existia amor. E se por ventura existisse, não seria dessa forma grotesca, assustadora, em um ato medíocre interpretado por ele mesmo e uma criatura que lhe causava ânsia.

PEDRO:

Pedro havia acabado de dar a última mordidinha no sanduiche. Limpou suas mãos com o guardanapo e dirigiu-se ao banheiro. Tamanha foi sua surpresa ao se deparar com Dênis, o cara que lhe causava devaneios, bem à sua frente e... acompanhado.

– Dênis, senti sua falta hoje.

– E por quê? – respondeu Dênis tão seco quanto um deserto eternamente infértil.

– Ora, por nada. O Anderson me falou que você saiu cedo e...

– Pedro, esse é seu nome, não é? Não importa. Bem, esse aqui é o meu namorado, Arthur.

Houve silêncio. Era um silêncio denso e carregado de tensão.

– Prazer, Pedro.

Arthur estendeu a mão, mas Pedro, de tão abismado com a notícia, demorou alguns segundos para completar a ação e apertar a mão do rapaz que, bem, era o namorado de Dênis.

– Então agora temos que ir. Provavelmente vou chegar tarde. Não precisa me esperar. Não desejo que me espere.

E dizendo isso, Dênis se foi de mãos dadas com Arthur.

Pedro ficou em inércia por mais alguns segundos. Dênis estava namorando. Mas tão rápido? Ele não havia chegado à cidade no dia anterior? Talvez ele já conhecesse esse tal Arthur, concluiu Pedro. Talvez já estavam namorando e apenas oficializaram o namoro agora.

Pedro não chegou a ir ao banheiro. Ele se retirou do shopping e voltou para o apartamento. Estava triste. Queria chorar. Mas como chorar? Ele não deveria chorar! Havia conhecido Dênis no dia anterior, não trocaram mais que meia dúzia de palavras e... E, mesmo assim, ele deduziu que estava apaixonado.

No apartamento, Pedro tentava, inutilmente, não pensar em Dênis. Mas ele era uma derrota, um fracasso quando se tratava em desviar de pensamentos conflitantes, ainda mais quando se tratavam de alguém que ele gostava muito. E ele queria estar com Dênis no lugar daquele garoto que se chamava Arthur. O que Dênis havia visto em Arthur que não viu nele?

Pedro não sabia. Talvez nunca viesse a saber, já que Dênis não era seu. E entremeio àquele turbilhão de pensamentos, a única coisa que talvez o aquietasse seria fazer um currículo, navegar pela internet e encontrar um bom emprego. E assim ele fez.

ANDERSON:

Enquanto trabalhava, Anderson via-se, a todo instante, pensando no anjinho. Nada mais importava a não ser Pedro. E ele se agarrava com brutalidade ao pensamento concernente ao fato de que estava apaixonado por Pedro, a pessoa mais linda de todo o cosmo. Mas assim tão rápido? O seu anjinho de uma pele branquinha como cal, de cabelos vermelhos como a papoula e de olhos azuis como um céu sem nuvens...

Anderson queria logo chegar em casa para poder ver o seu tesouro. Queria poder contemplar aquele sorriso que lhe arrancava suspiros. Queria tocar naquela pele macia que lhe causava arrepios. Ah, como ele gostaria de tatear todo o corpo do anjinho e concretizar aquele amor que aflorava dentro de si, criando ramificações que o instigava a ter o doce desejo de beijar aquela boquinha feita de lábios de um tom de rosa claro.

Mas primeiro ele teria que concluir o seu dia de trabalho e resistir ao constante pensamento referente à que ser gay é errado. Porque a cada minuto que pensava em Pedro, ele se encontrava durante toda uma hora relutando a ideia de que iria para o inferno por render-se àquela abominação.

Após o término do seu expediente, Anderson seguiu para o seu apartamento com um sorriso exultante em sua face. O trânsito estava horrível, como era de se esperar àquela hora. Uma hora depois ele já se via subindo o elevador e caminhando a passos largos pelo corredor do andar do seu apartamento. E adentrando o apartamento, ele encarou o seu anjinho de costas, guardando alguns livros na estante da sala.

– Ei, cara!

Pedro virou-se ao ouvir a voz de Anderson o cumprimentando.

– Oi.

– O que foi? Por que você está com essa cara? Você andou chorando?

Pedro negou com a cabeça.

– Não, é que... eu bati a canela na mesa e doeu muito.

O semblante de alegria de Anderson transmutou-se para o que indicava preocupação e desvelo.

– Mas está tudo bem? Quer que eu pegue gelo...

– Não precisa, obrigado. E, Anderson, eu encontrei um emprego. Começo amanhã de manhã, então não sei se seria o melhor sair hoje. Ainda mais em uma boate.

– Ah cara, por favor. Vamos. Vai ser legal. É bom que você comemora ter encontrado um emprego!

– Não sei...

– Vamos. Eu insisto, meu.

– Tudo bem. Vou ir trocar de roupa.

Anderson, mais rápido do que um relâmpago, dirigiu-se ao seu quarto. Ele abriu abruptamente as portas do guarda-roupa e revirou uma torrente de camisas, calças, cuecas... Depois de ter tomado banho e por fim encontrado a roupa certa, Anderson mirou-se no espelho e sorriu. Ele trajava uma blusa de rock preta com o nome da banda Metallica, um colete xadrez azul de mangas longas, uma calça jeans e calçava tênis. Havia um relógio em seu braço direito e uma correntinha ornamentada com uma cruz cingindo o seu pescoço.

– Anderson, vai demorar muito? – perguntou Pedro batendo na porta.

– Não, cara, já estou indo.

Anderson retirou-se do quarto e estacou absorto no corredor encarando Pedro. O seu anjinho estava tão lindo com uma blusa polo rosa e branca, calça jeans azul apertada e com aquele par de tênis Adidas.

– Você está bonito.

– Obrigado – agradeceu Pedro timidamente. – Então... vamos? Já que insiste tanto.

– Ah, claro!

E os dois se retiraram do apartamento. Subindo algumas quadras, adentraram em um edifício moderno, as paredes externas ornamentadas com luzes neons que revezavam cores resplandecentes. A música que tocava era Diamonds da Rihanna, completamente mixada, insuportavelmente alta.

– Anderson, eu acho que vou embora. Não gosto muito de lugares cheios...

– Não vai não! Espere aqui que vou lá pegar umas cervejas.

Anderson foi até o bar quase pulando de tanta felicidade. Aquela noite ele iria se declarar para o anjinho e lhe propor em namoro, ainda que fosse um tanto cedo para isso. Ao pegar as bebidas e volver o rosto na direção de Pedro, tamanha foi sua... decepção ao ver este beijando euforicamente uma garota de cabelos que se alternavam em diferentes cores por virtude das lâmpadas da boate.

– Hei, gatinho, quer dançar?

Anderson olhou estupefato, os olhos arregalados, para uma garota voluptuosa ao seu lado e não pensou duas vezes em lhe assaltar um beijo.

– Uau! Você é uma delícia – disse a garota.

– Quer ir prum lugar melhor?

A garota nem ao menos teve tempo de responder e Anderson a puxou por aquele lugar apinhado de pessoas que dançavam descompassadamente. Ele a levou, apertando forte em seu braço, para o banheiro. Dentro de uma das cabines começou a tirar a roupa.

– Calma. Está muito cedo...

Anderson virou a garota de costas com violência e rasgou o seu vestido com esmera facilidade. Não demorou a estar com a cueca abaixada e o seu pau rijo como uma pedra apontando para o alto.

– Não, eu não quero assim...

Sem pensar ou ter compaixão, Anderson introduziu seu pau na boceta da garota com brutalidade, sem se importar com o que estava fazendo. Ele estava com raiva. Muita raiva. Ele metia com força na garota, indo e voltando com velocidade, puxando aqueles longos cabelos que ele pode constatar que eram ondulados e alambreados. Não poderia pensar em mais nada, pois, minutos depois, gozou em meio aos gritos de uma garota que nem ao menos sabia o nome. Era o começo de seu infortúnio.

Comentários

Há 1 comentários.

Por RIque03 em 2013-12-23 23:35:03
Aguardando a próxima parte. Muito bom.