Capítulo 9 - Thanksgiving

Parte da série Black Velvet

-E sem me chamar de “Jimmy”, ok? – pediu Derek, arrumando alguns pratos sobre a toalha de mesa. – Não quero ter que contar essa estória pra ele.

-Tá bom. – respondeu o pai, sem nem mesmo dirigir o olhar ao filho. O garoto tinha ficado tão ansioso por ter convidado Riley pra sua casa que nas ultimas 24 horas vinha passando instruções complexas e detalhadas pros familiares. A sua esperança era de que o loiro saísse dali com a ideia que os Tyer eram pessoas de extrema educação. – CODY, ANDA LOGO! – berrou

-E sem gritos. – instruiu, zangado.

-JIMMY, CALA A BOCA E VAI VER PORQUE SEU IRMAO TÁ DEMORANDO. – Carter tentou manter uma cara séria, mas era impossível não rir assistindo Derek se enfurecer.

-O QUE EU DISSE SOBRE ME CHAMAR DISSO? – Derek gritou também, mas nem notou. –Cody, já tá pronto? – o menor bateu com impaciência na porta.

-Não, entra ai!

Derek abriu a porta, dando de cara com o irmão usando só cueca.

-Cara, que nojo! – protestou, cobrindo o rosto com as mãos. – Tem gays na casa, respeito, por favor.

Cody pegou a calça e se vestiu rapidamente.

-Pronto, pode olhar.

-Meu deus, que visão do inferno! Por que você tá pelado?

-Porque eu não sei o que vestir! – o maior segurou duas blusas contra o peito musculoso. – Qual a melhor?

-Pelo amor de deus, você tá indo jantar com sua família, não com o Papa! – xingou. Cody continuou brandindo as blusas. – Usa a cinza, a branca é apertada demais e você fica parecendo um gorila depilado.

O garoto se virou, praticamente no corredor quando ouviu a voz do irmão.

-E você vai ficar com essa roupa?

-O que tem de errado com minha roupa? – Derek olhou pra baixo, esperando ver alguma sujeira ou rasgo na sua blusa de “Thriller”.

-Nada, só acho que não é apropriado pra Ação de Graças.

-Eu sou grato por Thriller!

Cody vestiu a blusa com pressa, enfiando os pés nos tênis e puxando Derek até seu quarto. O garoto sentou na cama enquanto o irmão mais velho fuçava suas roupas.

-Põe esse! – Derek pegou o moleton vinho que o irmão tinha escolhido. – Tá ótimo. O Riley te disse que horas ele ia chegar? – perguntou em um tom de falsa casualidade.

-Por volta das 7, mas ele sempre atrasa. E posso saber por que você está tão intrigado com meu amigo?

-Eu não tô! – respondeu, o rosto corando de leve.

Os dois saíram do quarto. Derek se sentou entediado na mesa, esperando os convidados. Cody se sentou do seu lado, se levantando a cada quinze segundos. Derek riu, notando a incrível semelhança. A campanhia tocou e o mais velho quase voou da cadeira.

-Ele não tá bem! – comentou Carter, colocando uma travessa pesada de comida no centro da mesa.

-Não mesmo. – retrucou o pequeno, tentando não rir.

Cody voltou acompanhado de Jason e de seu pai, o renomado Dr. Marcus Litton. Derek se levantou para cumprimenta-los, ele teve a impressão de sentir um arrepio descendo pela coluna quando tocou a mão de Jason. Os dois se acomodaram à mesa, já rindo de alguma piada do pai de Derek.

A campanhia tocou novamente. Cody se levantou apressado, mas congelou ao ver o olhar severo que o irmão lançou.

-Eu atendo – informou, com brutalidade sutil.

Derek abriu a porta.

-Ei, tô atrasado? – perguntou Riley, segurando uma travessa de comida, que parecia estar extremamente quente. – Eu não sabia se devia trazer alguma coisa, talvez relacionada ao feriado. Mas eu não sei o que se come no feriado! – ele ria, seu sorriso de capeta parecia nervoso. – Ai eu fiz uma torta de frango, receita da família Brewer. Por receita da família Brewer eu quero dizer internet. E por que você tá me olhando assim? Seu irmão não come frango? Eu devia ter perguntado!

-Riley, tá ótimo! E por que você tá preocupado com o meu irmão?

Seus olhos azuis se arregalaram, sua cara ficou vermelha.

-Eu liguei pro meu pai, ele disse que seria educado trazer uma garrafa de vinho pro seu pai, então ele me deixou pegar uma da adega dele. – falou, mostrando uma garrafa de vidro presa embaixo do braço. Derek pegou a travessa pelas alças com cuidado, convidando Riley pra entrar.

Derek apresentou o loiro para o pai e os convidados, Carter fingiu ser muito educado e o Dr. Litton cumprimentou o garoto com sua educação formal e o sorriso simpático de sempre. A única pessoa que parecia infeliz era Jason.

-Você é aquele garoto, não é? Riley Blue? – perguntou, maldoso.

-Brewer – corrigiu, rindo. – Derek, esse não é aquele psicopata do corredor?

-Ele mesmo! – respondeu Derek, extremamente feliz por ter convidado Riley. A cara azeda de Jason era insuperável. O Sr. Tyer pediu que se levantassem, cumprindo a tradição do feriado.

-A gente tem que fazer algum discurso? – sibilou Riley, no ouvido de Derek.

-Não, é só agradecer alguma coisa e depois comer até morrer. Mas você não é americano, acho que é proibido pra você. – os dois riram

Carter pigarreou antes de falar.

-Bom, nós não somos exatamente uma família de seguir tradições, porém acho que todos temos coisas a agradecer nesse ano. Eu, por exemplo, sou grato por ter todos vocês aqui hoje. E principalmente pelos meus filhos, Cody e Derek, que são meus maiores orgulhos! – Carter terminou seu discurso, levantando a sua taça. Cody e Riley não se manifestaram. O Dr. Litton também falou pouco, agradecendo pela amizade que tinha com a família Tyer e pelo bom filho com quem fora agraciado.

-Ji…Derek?

-Eu? Ok. Eu gostaria de agradecer por ter passado mais um ano com meus lunáticos preferidos. – o moreno lançou uma piscada na direção do pai e do irmão. – Eu tive um começo de ano um pouco difícil – Jason encarou a toalha de mesa com súbito interesse – mas eu estou aqui, inteiro, meu estomago não tem mais nenhum hematoma então isso é ótimo. Eu agradeço por estar aqui com os meus amigos, – deu um cutucão de leve no braço de Riley. – inclusive com o melhor deles.

O loiro sorriu emocionado. Derek não só tinha dito que os dois eram amigos, como também que ele era o melhor amigo dele. O jantar transcorreu de forma calma e acolhedora. Riley não demorou pra ter assunto com Carter, já que os dois tinham o mesmo tipo de humor besta. Cody e Marcus puxavam dele todas as historias de suas travessuras. Já era quase meia-noite quando o Dr. Litton recebeu uma ligação, que o fez se desculpar varias vezes por ter que ir embora atender uma emergência.

Derek ajudou o pai a levar os pratos até a cozinha, enquanto Riley e Cody se despediam. Jason insistiu em ajudar Carter a lavar os pratos. Sem ter o que fazer, Derek saiu da casa, sentando na calçada, ao ar frio.

-Será que vai nevar esse ano? – perguntou uma voz conhecida, se sentando do seu lado. Jason abraçou o corpo, se aquecendo.

-Eu espero! Natal não é Natal sem neve. – Derek respondeu em um tom leve, tentando pela primeira vez não ser agressivo com o vizinho.

-Será que a gente pode conversar?

-Não estamos conversando?

O maior riu. Com delicadeza, colocou o capuz do moleton de Derek.

-Pronto, agora suas orelhas não vão ficar congeladas.

-E eu agradeço por você se preocupar com minhas orelhas. – retrucou. Derek nunca imaginaria que estaria na calçada conversando com Jason Litton depois de um jantar de Ação de Graças.

-Gostei do que você falou. De como agradeceu. E por ter me incluído na categoria “amigo”.

Derek franziu a testa.

-Eu exagerei um pouquinho!

Jason se aproximou, chegando tão perto de Derek que podia sentir o seu cheiro. Camomila, como um bebê! O garoto se perguntou se o cheiro era do sabonete ou do shampoo de Derek, ou talvez ele fosse perfumado naturalmente. Puro e lindo, como um campo de flores!

-Eu nem tive chance de dizer o que me deixava grato. O que foi bom, ia ser um pouco constrangedor falar na frente de todo mundo. – Jason riu, nervoso. – Eu sou grato por ter você, Derek.

O garoto retesou o corpo, surpreso.

-Eu sou grato por conviver com uma pessoa tão legal como você. – continuou. – Sou grato por você não ter contado o que fiz. Sou grato por ter parado de ser um estúpido com você. Eu sou grato por ter você, Derek Tyer!

O menor ficou calado por alguns segundos, assustado com o que o outro tinha acabado de falar.

-Sabia que eu não chorei? Em momento algum, desde o dia em que você me empurrou no corredor ate aquela vez na… - sua voz ficou fraca por um momento. – De certa forma, com o bullying e tudo mais, você me fez mais forte. Você me fez amigo do Riley. Eu sou grato por isso!

-Falando nisso, você e ele estão juntos por acaso?

-O que? – exaltou Derek – Claro que não!

Jason riu, seus olhos refletiram a luz dos postes com mais intensidade.

-Ótimo!

-Por que isso é ótimo?

-Você lembra que eu te fiz uma promessa?

-A de não me bater mais? Sim, por acaso você tá querendo quebrar ela na frente da minha casa? Seria idiota, até para os seus padrões. – Derek riu, sem medo. Jason então percebeu que se não fosse um completo retardado poderia receber mais sorrisos assim.

-Não vou quebrar, porém eu tô falando da outra. De fazer você mudar o que pensa de mim. Que tal se a gente saísse um dia? Só eu e você, sem Cody, sem bullying, sem problemas.

Derek se levantou imediatamente.

-Sei, – respondeu, totalmente descrente do que Jason tinha proposto. - ai você vai jogar um balde de tinta na minha cabeça, e fotografar pros seus amigos? Essa estratégia do cara querer sair com o garoto gay e depois criar uma decepção foda não funciona comigo, eu assisto muitos filmes e eu sei todos os clichês!

-Não, não, não. – explicou apressadamente, se levantando junto com Derek. –Eu quero mudar sua cabeça! Te mostrar que eu sou um cara legal. Uma chance, Derek. É só isso que to pedindo!

O garoto refletiu profundamente.

- Depois das aulas acabarem, e antes do Natal. Você e eu vamos tomar um café. Eu escolho o lugar, aberto e em público. E se por um momento eu pensar que isso é uma sacanagem todo mundo fica sabendo quem me machucou ok?

Como uma criança que ganhou um excelente presente de aniversário, Jason abriu um sorriso, que exibia todos os seus 118 maravilhosos dentes reluzentes.

-Eu prometo que não vou te decepcionar. – o maior deu um beijo rápido na bochecha de Derek. O garoto ficou vermelho instantaneamente. – E a propósito, é um encontro.