Capítulo 7 - Deron

Parte da série Black Velvet

Derek quis voltar para seu quarto naquele mesmo instante. A ideia de dormir no mesmo cômodo que Jason fazia sua cabeça girar.

-A menos que você se incomode comigo aqui – continuou Jason. Derek se viu prestando muita atenção no corpo de Jason, marcado embaixo da camiseta preta que ele estava usando.

-Claro que não, por que o Derek teria problema com você? – soltou o irmão mais velho, passando por Derek e ligando a tv.

-Eu também não tenho problema com ele. – Jason se aproximou e abraçou Derek, esfregando a cabeça dele, enquanto o garoto ficou petrificado. – Adoro esse moleque.

No momento que Jason o soltou Derek pulou na cama, ficando do lado oposto ao colchão. Derek não demorou muito pra cair no sono, mesmo com os sons da tv e da conversa de Jason e Cody.

Era tarde da madrugada, os dois mais velhos continuavam acordados, distraídos com um filme qualquer. Cody deu uma olhada para Derek, certificando que o irmão estava em sono profundo.

-O que você vai fazer? – perguntou Jason, se apoiando no cotovelo pra ficar mais alto.

-Eu não sei, mas se eu encontrar o desgraçado que fez isso… - Cody acariciou de leve o ombro do irmão. – Ele é um garotinho! Como alguém pode fazer isso com ele?

Jason se amedrontou.

-Você não pode fazer nada precipitado, seu pai e o Derek não vão gostar!

-Ele é meu irmão, porra! Eu vou cuidar desse garotinho até meu último suspiro. – os dois se calaram por um segundo. – Você vai cuidar dele pra mim?

-Hm, claro. Fico de olho nele na escola.

-Não é isso. – Cody se sentou, encostado na cabeceira da cama. – Jason, eu sei!

O outro garoto se sentou também, sem entender.

-Você sabe?… - Jason sentiu seu coração bater mais forte: se Cody sabia o que Jason tinha feito o garoto podia ir dizendo adeus aos dentes.

Com um sorriso, Cody continuou.

-É, eu sei. Eu sei que você sente “coisas” pelo Derek.

Jason arregalou os olhos, sua boca ficou seca na hora.

-Claro, eu gosto do Derek, é meu irmãozinho praticamente.

-Não como irmão. – Cody olhou pro lado, onde Derek dormia profundamente. – Você ama ele. Não adianta negar!

-Cody, você tá meio pirado, cara. – sua boca ficou seca, sua mão tremia ligeiramente.

-Não, você é o pirado. Você ama ele e nem tenta disfarçar! Para de fingir!

Jason abaixou os olhos.

-Não é o que você tá pensando. – sussurrou. Agora era a hora em que Cody iria dizer o quanto desprezava seus sentimentos pelo menor.

-Ei, relaxa. Não to julgando você por isso.

-Como não? Cody, ele tem 14 anos! É praticamente uma criança, e eu sou um adulto, eu sou o melhor amigo do irmão dele.

Cody se levantou, indo se sentar no colchão. Jason continuava olhando pra baixo, mal percebendo a presença do seu lado.

-Ele não é uma criança. Ele nunca foi! O Jimmy é um adulto desde o dia que ele nasceu. Não importa o quanto eu tenha protegido ele, meu irmão não foi uma criança. – refletiu Cody – Você é só quatro anos mais velho, isso não é nada. Ele é mais maduro que você, te garanto. – os dois riram, Jason ainda nervoso. – Não deixa essa cara amarrada dele te manter longe. Você sabe que no fundo ele é um cara bom, doce, engraçado, que ama séries, música e Alison Porter.

-Alisan – corrigiu Jason.

-Como é?

-O nome dela, é Alisan. Com um “a”.

-Ta vendo? Você ate sabe essas coisas sobre ele. – Cody deu um cutucão em Jason.

Jason respirou profundamente, encarando o corpo coberto de Derek.

-Ele gosta de música, mas ele canta também. Eu entrei sem bater um dia no quarto dele, ele tava de fone, nem me viu entrar. Eu nunca tinha visto alguém com uma voz tão bonita. O jeito dele, a personalidade dele é tão forte, eu não pude evitar. Eu sempre tive noção que eu era gay, mas nunca tinha sentido aquilo. Seu irmão me pegou de jeito! – o garoto olhou pro lado. – Quando você descobriu?

-Você tendo um ataque de ciúmes na mesa foi bem explícito. Eu vi que você não tava curioso pelo amigo dele, você tava com inveja dele poder ser alguma coisa do Derek. E depois foi só juntar as peças né? Jay, eu não sou tão burro quanto o Derek fala que eu sou. Você sempre vindo aqui, eu adivinhei que você queria era ficar perto dele. Sem contar suas crises, seu pai me disse que você estava chorando um dia!

-Patético!

-Não é não – protestou Cody.

-Não, ele me chamou de patético! Ele me viu chorando na sala de estar uma madrugada. Não sei quando, não foi só uma vez. Ele me acha patético! – Cody percebeu que Jason estava chorando, uma lagrima cortava a sua face. – Ele não me vê como um “cara”. Eu sou o melhor amigo do irmão dele, o cara nojento que apaixonou pelo garotinho. Até eu sinto nojo disso!

-E quem liga? – guinchou Cody, com a voz aguda. – Ele é o grande amor da sua vida e isso é maravilhoso. Nem todo mundo tem essa chance e você vai desperdiçar? Você não pode fazer isso! O mundo precisa de Deron. Dê ao povo o Deron que ele merece!

O corpo de Jason se sacudiu numa risada.

-Deron. Você que é patético!

Nos dias que se seguiram Derek ia para o colégio levado pelo pai e pelo irmão.

-Você tá bem? – perguntou Carter. Derek levou a mão na porta do carro, que não se abriu.

-É, se você quiser pode ficar em casa hoje, a gente diz que você tá doente. – completou Cody.

-Eu não vou faltar, agora será que dá pra abrir esse cacete ou eu vou ter que pular pela janela. – Derek ameaçou, com um olhar selvagem. Por fim o pai cedeu e destrancou a porta. – Até mais, otários.

Derek avançou para escola em sua animação mórbida de sempre. Riley continuava agindo como um louco, mas conseguiu evitar ganhar mais alguma suspensão. Os dois foram direto pra biblioteca depois do almoço, aproveitando um horário vago.

-Já reparou como os corredores aqui são úmidos? E escuros. – comentou o loiro – E isso cheira a morfina. É quase como se fosse um hospital abandonado.

Derek riu. Ao contrário dos corredores, a biblioteca era ampla e bem iluminada. Riley apontou uma mesa e os dois a ocuparam. Riley abriu um caderno, provavelmente fazendo alguma lição atrasada. Já Derek pegou um livro de romance nas prateleiras. Olhando em volta ele viu o motivo de gostar tanto daquele lugar: era completamente vazio, retardados que espancam garotinhos não perdem tempo indo na biblioteca.

-Onde você tá indo? – perguntou Riley quando Derek se levantou, sua voz até rouca depois de raros momentos de silencio.

-Traficar drogas. Sabe aqueles garotinhos pequenos? Adoram comprar heroína comigo! – respondeu, sarcástico. – Eu vou no banheiro, seu tapado! Já tô voltando.

O banheiro do prédio da biblioteca logicamente era tão vazio quanto a biblioteca, motivo pelo qual Derek adorava usa-lo. Banheiros escolares não são nem um pouco agradáveis!

O garoto se encarou no espelho, procurando alguma cicatriz ou marca permanente no lábio, como ele estava fazendo desde que tinha sido espancado. A porta do banheiro abriu, Derek se virou lentamente. Seu estômago se revirou ao ver Jason entrar, trancando a porta em seguida.

Os dois se encararam em silêncio: Derek apoiado na pia, Jason encostado na porta.

-Você sabe por que não colocam trancas em portas de banheiro escolar? Pra não acontecer isso!

-Não aconteceu nada ainda. Você tá bem? – uma ruga de preocupação se formou na testa de Jason.

-Sim, eu tô! Será que dá pra todo mundo parar de me perguntar isso? – Derek se irritou, dando um tapa na pia. Ainda nervoso Derek puxou a camisa, mostrando as marcas ainda existentes na sua barriga. – Eu estaria bem melhor se você não tivesse me deixado roxo!

Jason não respondeu de imediato, por um momento ele se distraiu olhando o corpo do menor.

-E por que você não contou pro seu irmão? – perguntou em voz baixa.

-Porque ele nunca mais ia falar com você, talvez até mesmo te espancar. Você ia merecer, mas meu irmão tem que ter algum amigo da idade dele e eu não sou um monstro!

-E eu sou? Você me vê como um monstro? – o menor ficou calado. – Derek!

-Olha o que você fez! Olha o jeito que você me trata! Como você consegue olhar na cara do Cody e do meu pai e agir assim?

-Você não me entende…

-CLARO QUE NÃO TE ENTENDO! – explodiu.

Jason baixou a cabeça.

-Me desculpe. Te prometo que não vai acontecer de novo. – Jason destrancou a porta, lançando um olhar a Derek antes de sair. – Eu vou fazer você mudar essa ideia que tem de mim. Também prometo isso!