Capítulo 6 – The Big Brother

Parte da série Black Velvet

Derek acordou afogado em dor na manhã seguinte. Seu estômago latejava e ele não sabia se era fome ou alguma hemorragia abdominal maciça. Considerando os hematomas imensos que se formaram durante a noite ele apostava muito na segunda opção.

Com a porta firmemente trancada o garoto tomou banho e se vestiu, treinando na frente do espelho como andar sem mostrar sinal de desconforto.

-Bom dia, Jimmy! – cumprimentou o irmão com um enorme sorriso quando o garoto apareceu. Derek o ignorou, bem como o outro rapaz sentado ao lado do irmão mais velho. O menor caminhou até o fogão, tentando fritar uma omelete sem se sujar de gordura.

Jason não parava de encara-lo, mesmo sorrindo ele amedrontava Derek. O garoto não falou muito com Riley o dia todo, o loiro insistia em tentar descobrir quem tinha espaçado Derek. E pela primeira vez em semanas ele não encontrou com Jason, nem nos corredores, ou no refeitório. Derek ficou um pouco triste por não encontra-lo, aliviado, e então confuso e zangado consigo mesmo. Tudo aquilo que existia antes… continuava existindo. Dividido entre o medo e a “outra coisa”, Derek voltou para casa, cauteloso, olhando sempre por cima do ombro a procura do carro de Jason.

Sua casa ainda estava vazia, como costumava ficar. Derek aspirou, sentindo o conforto na solidão. Entrou no quarto e jogou a mochila no canto, como sempre fazia. Só então lembrou que era seu dia de lavar roupas. Tirou sua camisa, jogou no cesto cheio e foi carregando com dificuldade até a lavanderia, onde os cestos do pai e do irmão já estavam a esperar.

-Folgados preguiçosos. – reclamou, sem ligar para o acordo de dividir tarefas dos três Tyer. Separou as roupas por tecido e cor, ligou a máquina e voltou pro quarto. Sua solidão acabou em segundos porque quando voltou acabou topando com o irmão na entrada. Cody sorriu por meio segundo, até ter processado o que tava vendo. O irmão mais velho avançou até o menor, segurando o seu braço com leveza.

-Jimmy, o que é isso? – perguntou com a voz já se alterando. Derek demorou um tempo pra perceber que o irmão estava encarando seus hematomas descobertos.

-Nada, eu levei um tombo!

-Derek, isso não é marca de tombo! O que é isso? – insistiu Cody.

O menor tentou se desvencilhar do toque do irmão, que apertou o toque sem perder a delicadeza com que o tratava.

-Isso é marca de surra? Alguém te bateu? – Derek tentava com toda força fugir, como se o irmão que o machucasse. – DEREK, QUEM BATEU EM VOCÊ? – gritou em desespero.

-NINGUEM! – Derek segurou a vontade de chorar, seu corpo começou a tremer. Cody o puxou, apertando o menor em um abraço e acariciando seus cabelos.

-Tá tudo bem, vai ficar tudo bem. Eu vou cuidar de você, irmãozinho. – Cody também segurava a vontade de chorar, nada pior que ver o irmão ali, machucado e indefeso. – Vai se vestir. E quando o papai chegar você vai contar pra ele ok?

-Não, Cody. Eu não vou contar nada pra ele, ele já tem bastante coisa pra se preocupar sem ter que lidar com meus problemas.

Cody colocou o rosto do irmão entre as mãos.

-Você é o orgulho do papai! Você não dá problema nenhum. E se foi alguém que te bateu de verdade você pode me contar, que eu quebro a cara do cretino. Ninguém machuca o meu Jimmy!

-Não me chama disso! -reclamou.

Os dois riram, Derek correu para o quarto para procurar uma blusa. Por mais que se sentisse envergonhado era como se um peso imenso tivesse sido removido de seus ombros. Derek releu alguns livros, sem prestar muita atenção, simplesmente para se ocupar. Aproveitou que o pai estava sozinho na cozinha para contar sobre suas marcas. Ele reagiu de forma preocupada, mas menos nervoso que Cody. Quando percebeu que Derek não ia entregar que tinha apanhando de alguém fingiu engolir a estória que um garoto havia caído com o braço apoiado na barriga do filho.

-Tá bom, se você diz que não foi uma surra eu acredito em você. – disse, mexendo o que parecia ser um cozido de carne.

-Finalmente alguém que acredita. – suspirou Derek, encostando-se na bancada, seu cabelo moreno ainda estava molhado, recém-lavado.

-Seu irmão só tava preocupado com você. Você é tudo pra ele. E pra mim também. – Carter riu, Derek revirou os olhos e fez uma falsa cara de vomito. –Palhaço, para de graça e vai lá chamar seu irmão pra jantar.

Derek andou até a porta do quarto do irmão, que parecia estar vendo tv pelos sons que ouvia. Bateu na porta com o nó dos dedos.

-Pode entrar!

Derek enfiou a cara por uma fresta na porta.

-Cody, o papai ta te chamando pra jant… - a frase ficou suspensa no ar, o garoto congelou em choque ao ver Jason ali, conversando com o irmão. Derek pensou como irmão reagiria se soubesse que ele tinha sido espancado por Jason. Cody parecia não reparar que os dois se encaravam: Derek com medo e ódio borbulhando nos olhos, Jason com uma expressão quase divertida. O menor saiu do quarto, voltando direto pra cozinha.

Os quatro jantaram entre algumas conversas leves, Derek falava pouco, ficando calado caso Jason entrasse na conversa. Depois de terminar o seu prato o moreno chegou à conclusão que era impossível aguentar toda a hipocrisia e falsidade do vizinho. Levantou-se de forma educada e foi para o quarto.

Depois de se afundar na cadeira da escrivaninha, Derek colocou os fones e começou a ouvir suas musicas. Essa era a verdadeira paixão de Derek: música. O garoto até cantava, mas isso era o seu Segredo Mais Bem Guardado Nº3. Os segredos 1 e 2 envolviam Jason Litton. Derek batucou os dedos na escrivaninha, em frustração. Até mesmo quando estava ouvindo música, o que mais gostava de fazer, Jason invadia seus pensamentos.

O garoto despertou do seu devaneio quando pareceu ter ouvido uma batida na porta. Tirou o fone e pausou a musica, ouvindo a batida novamente.

-Entra. – chamou.

Seu irmão apareceu sem camisa e com um short, seu pijama usual.

-Tá ocupado? – Derek balançou a cabeça e girou a cadeira em direção do irmão. –Como que você tá?

-Bem, foi um jantar ótimo.

-Não foi isso que eu quis dizer.

-Eu sei.

Cody sentou na beirada da cama de Derek.

-Tem certeza que não quer falar disso?

-Eu já disse que tá tudo bem – Derek não queria mentir pro irmão, mas naquele momento ele teve certeza de que ele não saberia lidar com a verdade.

-Então só mais uma pergunta.

-Cody, chega. – reclamou Derek.

-Isso tudo que aconteceu, esse seu “tombo” – Cody fez aspas imaginarias com os dedos – foi por você ser gay?

Derek não respondeu. Enquanto se sentava corretamente na cadeira foi passando mentalmente todas as vezes que tinha encontrado Jason Litton de forma tão simpática. Ele sempre presumiu que a brutalidade de Jason era derivada de homofobia, mas em nenhuma vez o garoto mais velho tinha usado alguma palavra que denegria Derek por ser gay.

-Não, eu não levei um tombo por ser gay.

Cody sorriu, um pouco aliviado.

-Ótimo, agora vai por seu pijama.

-Pra que? Eu não tô com sono ainda.

-Vai logo!

Derek bufou de indignação e se levantou, indo se trocar no banheiro. Quando voltou Cody esticou a mão em sua direção.

-Vem comigo – chamou.

-Para onde? – perguntou Derek, desconfiado. Pelo que sabia o irmão podia estar levando-o para um matagal escuro para roubar seu fígado.

-Pega seu travesseiro, você vai dormir comigo hoje!

Os dois costumavam dormir juntos, ás vezes, o que foi ficando cada vez mais raro de acontecer. Derek estranhou o colchão arrumado no chão do quarto de Cody.

-Que isso? Você sempre me deixou dormir na sua cama, vai dizer que agora tá com medo de levar umas enrabadas?

Cody riu.

-Não é isso, babaca, esse colchão é… - o mais velho foi interrompido pela porta do seu banheiro se abrindo.

-Pra mim. – completou Jason – Parece que vamos ter uma noite do pijama!