Capítulo 5 – Stars
Parte da série Black Velvet
Jason sorriu ao ver Derek, mas o garoto não sentiu calor nenhum ali. Os dentes do maior eram tão claros que era possível fazer a barba olhando para eles, mesmo que Derek não tivesse pelo algum no rosto pálido.
-O que diabos você ta fazendo aqui? – perguntou, tentando manter a voz firme.
-Eu vim ver você, Derek! Fico muito triste que você não ande mais com a galera mais velha. Sem contar que é muito rude você ficar falando “diabos” sempre. – Jason puxou a persiana que cobria o vidro na porta, logo em seguida girou o trinco, que estalou em um ruído espectral. –Então eu vi você entrando aqui sem o seu namoradinho e resolvi te fazer uma visita. Falo sério: senti sua falta! – Jason andou lentamente, até ficar de frente à Derek.
Derek poderia ter dado uma resposta inteligente, ou simplesmente tentando correr, contudo a única coisa que seu cérebro processou foi:
-Ele não é meu “namoradinho”! – qualquer outra resposta foi calada pelo forte tapa que Jason acertou em seu rosto.
-Ele é o que eu disser que ele é. – Jason se enfureceu. Estapeou o rosto do pequeno Derek mais uma vez e em seguida o socou no estômago. O garoto se curvou com a dor, estrelas brancas espocavam na sua visão. Jason deu outro soco no estômago e logo em seguida um golpe extremamente forte na coxa de Derek. O garoto caiu. – Fica ai no chão, onde é seu lugar.
O maior se virou, estava quase na porta quando Derek novamente não se refreou.
-Não é tão corajoso assim quando está chorando na sala de estar de madrugada, não é mesmo, Jason? Na verdade, você é bem patético!
Jason ficou pálido de imediato. Sua pele clara conseguiu ficar mais clara ainda, de modo que Derek quase conseguia ver os vasos sanguíneos. Ou talvez fosse só a sua visão embaçada.
-O que foi que você disse? – sua voz deixava claro que ele tentava ao máximo controlar sua fúria.
-Eu disse que você não é corajoso assim quando tá chorando na sala de estar! Que foi? Além de covarde é surdo?
Derek escutou os passos apressados de Jason e logo em seguida sentiu uma dor excruciante. O maior havia chutado a sua barriga. Derek segurou um grito.
-Pra alguém que só serve pra saco de pancadas você tem uma linguazinha grande hein, Derek?
Só quando o maior finalmente saiu Derek teve coragem de se levantar. Passou o período todo trancado no banheiro. Seu reflexo o encarava assustado. Derek lavou o rosto com água gelada tentando diminuir a marca vermelha na face, quanto às marcas na coxa e barriga com certeza deixariam marcas mais duradouras: ele nem conseguia andar sem mancar.
Derek saiu do banheiro antes do sinal tocar, só assim passaria por corredores e escadas vazios. Entrou na sala quando os outros alunos a esvaziaram e sentou pacientemente na ultima cadeira.
Riley só apareceu quando a professora já ameaçava fechar a porta. Os dois não conversaram muito.
-Você tá bem? – perguntou o loiro, enquanto os alunos se empurravam para sair da sala ao final da aula.
-Sim. – Derek esboçou um sorriso falso que foi logo desmascarado quando ambos chegaram à porta. Riley havia dado um leve tapa na perna machucada – DESGRAÇADO! POR QUE VOCÊ FEZ ISSO, SEU IDIOTA?
Alguns alunos que passavam no corredor olharam curiosos, só então perceberam que deveria ser mais uma travessura do tão infame Riley Brewer. O loiro o puxou até um canto do corredor.
-Por que você está mancando? – perguntou, um pouco dividido entre susto e raiva.
-Eu tô com a perna machucada, só isso. – Derek esfregou a perna, que agora voltava a doer.
-E por que você não me disse antes?
-Foi só uma torção…
-Não isso, e eu sei que você tá mentindo. – Riley baixou o tom de voz. – Quem tá fazendo isso com você? E não ofenda minha inteligência, eu sei que você tá apanhando de alguém.
Derek franziu as sobrancelhas.
-Não é nada disso que você tá pensando.
-Você desaparece do nada! Seus cadernos se rasgaram “sozinhos” na sua mochila semana retrasada. Você ficou sem lanchar vários dias e agora você tá apanhando. Me fala logo quem ta fazendo isso com você.
-Já disse que não é isso. Por que tá insistindo nesse assunto?
Riley engoliu a saliva que estava na boca.
-Você é meu amigo, cacete. –Derek se sentiu muito culpado por tudo que tinha dito antes. – Você sabe que bullying é crime? Agora me fala quem é esse maldito pra eu poder por uma bomba na cadeira dele.
-Isso também é um crime!
Derek chegou em casa com dificuldade. A perna machucada não ajudava em nada. O garoto se trancou no quarto assim que chegou e não saiu em momento algum. Já devia passar de 8 da noite quando ele saiu da cama e foi tomar banho. Quando saiu, para sua surpresa, encontrou o pai sentado em sua cama. Vestido com uma camisa estampada e um short de nylon, tão diferentes da roupa social que ele usava no seu trabalho.
-A que devo a honra de ter você aqui? – com exceção dos sábados de filme, Carter evitava aborrecer o filho por quebrar sua privacidade.
-Você não saiu para jantar. – explicou Carter.
-Eu não tava com fome. – não era verdade, Derek simplesmente estava com dores demais para ir comer. O garoto se sentou do lado do pai.
-Que mentira! Você nunca para de comer, não sei como você consegue ser tão magrinho assim.
-Por pura maldade. – disse Cody, entrando no quarto. – Pai, o Jason pode vir dormir aqui em casa hoje? Ele tá meio mal.
-Claro que pode, ele pode vir quando quiser. – respondeu o pai, sem nem mesmo ligar se estavam no início da semana.
Cody digitou algumas palavras no celular antes de voltar a atenção para os familiares.
-Já descobriu porque o Jimmy não foi jantar? Lembra que se for namoradinho eu ganho 30 dólares.
-Vocês apostaram? Claro que apostaram, são completos debiloides. – falou Derek, para si mesmo. – O que o jovem Norman Bates tem de errado?
-Derek! – xingou Carter.
-É uma pergunta válida, quero saber o que o psicopata tem de errado já que ele vai dormir no quarto do meu irmãozinho magro e vulnerável.
Cody torceu o rosto, indignado.
-Eu sou tão musculoso quanto ele ok? E eu não vou responder nada até saber o que vai acontecer com os 30 dólares.
Derek fingiu uma risada, enquanto se deitava sem fazer caretas. Carter pareceu ter reparado, já que olhava para o rosto do mais novo, intrigado.
-O que vocês querem pra me deixar em paz? Um relatório completo de porque um garoto de 14 anos um dia não está com fome?
-Sim, se não for pedir muito.
-Nada! – Derek se jogou no travesseiro e encarou o teto. Pensou que teria um pouco de paz, ate sentir o seu colchão afundando lentamente, indicando que o pai e o irmão estavam deitando na sua cama. – Eu não quero falar, ok? – disse irritado.
Carter tirou uma mecha de cabelo da testa do filho.
-Derek, nós somos sua família! Podemos ser perturbados, e caóticos, e loucos. Mas nós somos sua família, nós te amamos!
-E você é um debiloide lesado que passa os dias odiando a humanidade. – completou o irmão mais velho. – Mas sempre terá o nosso profundo amor.
-Meu deus, que coisa nojenta. Vocês são nojentos! Agora saiam da minha cama, eu tô com sono.
-Tem certeza que não quer falar nada? – insistiu o pai.
-E meus 30 dólares?
-SAAAAAAAAAI!