Capitulo 4 – Masked

Conto de Hunter Welch como (Seguir)

Parte da série Black Velvet

Derek acabara de se cobrir quando ouviu uma batida na porta. Com um grito mandou a pessoa entrar.

-Tá dormindo? – perguntou o irmão.

-Tava. – mentiu – Agora estou tendo um pesadelo. O que aconteceu?

-Nada, não posso querer ver meu irmão? – Cody subiu na cama e se deitou ao lado de Derek. – Sua cama é bem mais legal que a minha. Por que sua cama é mais legal que a minha?

-Recompensa divina por te aturar. Fala logo o que você quer, Cody! – Derek resmungava de olhos fechados, com o rosto colado no travesseiro.

-Você já se decidiu o que vai fazer no feriado?

-Jantar de Ação de Graças com os retardados que moram comigo, como eu tenho feito desde que nasci.

Cody girou o corpo do irmão, obrigando-o a encara-lo.

-Não esse feriado. Ação de Graças é mês que vem.

O menor franziu o rosto em confusão.

-Então a menos que você esteja falando do Natal eu não faço ideia. AI! Por que fez isso, seu imbecil? – com os olhos lacrimejando, Derek esfregou a testa onde Cody havia lhe dado um peteleco doloroso.

-Porque você ta sendo mais idiota que o normal! Eu to falando do melhor feriado do ano: Halloween! O dia em que é socialmente aceito sair fantasiado e implorando doces nas casas alheias. – Cody sorria como uma criança. – E o papai disse que esse ano a gente devia usar fantasias combinadas.

Gargalhando, Derek se apoiou no cotovelo e encarou o irmão.

-Não tem a menor chance de eu sair pra recolher doces no Halloween. E existe uma chance menor ainda de fazer isso com vocês. – anunciou. – Você e o papai são pirados, retardados e até o túmulo eu negarei meu parentesco com vocês.

-Você não nega o parentesco quando o papai compra esses pôsteres que você cola aqui – Cody fez um gesto abrangendo o quarto de Derek, que tinha as paredes (e partes do teto) quase completamente cheias de pôsteres de bandas, músicos e álbuns.

-O papai não comprou nenhum desses! – respondeu enraivecido.

-Você comprou eles com o dinheiro do papai? – Derek ficou calado e sem expressão. – Foi o que eu pensei. Então, você vai com a gente ou não?

-NÃO! Por que você não chama a Karyn, Korin, seja lá o nome dela? Ela deve ser bem entusiasta dessas coisas retardadas já que ela namora você.

-Você ta falando da Katherine? A gente não namora faz tempo. Se atualiza, Jimmy.

-Jimmy é o seu cu! – respondeu ainda calmo. – Chama qualquer garota que você esteja pegando então.

-Eu não to pegando ninguém há tempos. Tipo, eu estou na seca. Uma seca bem seca. – Cody divagava encarando o teto enquanto o irmão fingia vomitar. – De qualquer forma é meu ultimo ano de escola e eu quero fazer isso com meu irmãozinho. Ano que vem eu vou estar na faculdade e vou me sentir esquisito.

Derek segurou o queixo do irmão.

-Você tem 18 anos. Já é esquisito agora.

Cody se deu por vencido.

-Tá bom, tá bom. Mas nem vem me pedir bala quando eu voltar com uma sacola cheia. – Derek sorriu e se deitou novamente, o rosto quase se fundindo com o travesseiro. –Boa noite, Jimmy.

-Boa noite.

O pequeno e magro Derek Tyer deixou sua mente entrar em sonhos difusos envolvendo lanternas de abóboras até o seu alarme tocar.

-Eu prometo que no dia da minha formatura eu vou quebrar aquele despertador. – anunciou ao sentar-se à mesa.

-Você não usa o despertador do celular? Por que você quebraria seu celular no dia da sua formatura?

-Porque eu tenho um pai que me ama e vai me dar um celular novo na minha formatura. – respondeu com um sorriso presunçoso.

-Vai sonhando, pirralho. – Carter se manteve sério, no entanto piscou um dos olhos em cumplicidade.

Derek reparou que a mesa estava 1/3 mais vazia hoje.

-O Cody não vai pra aula hoje?

-Vou sim. – respondeu o irmão entrando na sala, com os olhos inchados e a cara amarrada. – Dormi tarde ontem.

-Ninguém mandou você ficar acordado por causa de fantasia de Halloween, você devia ter ido dormir quando saiu do meu quarto.

-Pra sua informação eu não tava acordado por causa das NOSSAS fantasias. – o irmão fez questão de enfatizar. – mas sim porque o Jason me ligou e a gente ficou conversando.

-E por que ele não veio dormir aqui como tem feito praticamente todo dia? Finalmente lembrou onde fica a casa dele?

-Derek! – repreendeu Carter.

-Que foi? É uma pergunta válida!

Os dois se encararam, fazendo caretas. Derek terminou seu café e logo voltou ao quarto para procurar um novo par de fones de ouvido: o antigo tinha parado de funcionar na noite anterior. Escutou a campanhia tocar, mas não se importou muito, se ocupando em enfiar o braço até o ombro em uma gaveta para pegar os fones sobressalentes.

Derek estava quase na porta quando ouviu a voz do pai gritando da entrada da casa.

- CODY, O JASON TÁ TE ESPERANDO, SEU INÚTIL! – Derek sentiu seu corpo gelar e o braço que tocava a maçaneta adormeceu. Ele devia ter saído antes, ser mais esperto! Jason agora passava todas as manhãs em que não dormia nos Tyer para levar Cody de carro até seu colégio.

Respirando com dificuldade, Derek tentou sair disfarçadamente de casa, o que obviamente não deu certo.

-Oh cabeçudo, cadê a boa educação que eu te dei? – questionou o pai quando ele tentou passar calado pelos dois.

-Você não me deu uma boa educação! – Derek fez uma nova tentativa de sair, quando Carter o chamou novamente – Que foi?!

-Diz oi pro Jason. – respondeu, já se irritando.

-Oi pro Jason. – falou Derek, sem emoção ou contato visual.

O garoto respondeu com um sorriso simpático.

-Oi pra você também, Derek! Eu to indo levar o seu irmão, mas se quiser você pode ir com a gente.

Derek estranhou a oferta, em anos que estudava no mesmo colégio de Jason nunca tinha ouvido o garoto oferecer-lhe carona.

-Não, obrigado – respondeu de forma seca e então se virou pro pai. – Posso ir agora?

E sem esperar resposta o garoto saiu apressado. Esperou ate estar na esquina para poder colocar os fones de ouvido, que na opinião do pai eram “um pedido de atropelamento”. Somente quando a voz da sua cantora favorita encheu seus ouvidos que ele se acalmou.

Derek estacou ao chegar aos portões da escola. Ficou encarando o prédio principal por um bom tempo, com um sentimento ruim. Com muita dificuldade conseguiu a travessar a multidão de adolescentes mal humorados e chegar com antecedência à sala de aula.

O garoto se sentou numa cadeira próxima a janela, contemplando o doce nada, quando sentiu alguém puxar os seus fones. Enraivecido, Derek se virou imediatamente.

-Mas que… – porém logo se interrompeu ao ver quem tinha feito a travessura, sua fúria virando cansaço ao encarar um garoto loiro com rosto de capeta. – Riley, o que você tá fazendo?

O menor o ignorou, tomando pra si a mesa ao lado.

-E ai, sentiu minha falta?

-Acho que eu posso sobreviver um final de semana sem você, né.

-Perai, você não percebeu que eu faltei praticamente a semana passada inteira?

Derek revirou os olhos, como se quisesse lembrar-se de algo, no entanto acabou desistindo.

-Você faltou a semana passada? - perguntou constrangido, embora Derek estivesse mais preocupado com o que acontecera com ele na semana anterior: mais dois desagradáveis encontros com Jason Litton em corredores vazios e salas de aula. Sempre que o jovem Tyer estava sozinho ele encontrava o musculoso algoz, era quase como se o garoto estivesse seguindo-o.

-Sim, eu tava de suspensão e você nem percebeu. – exasperou-se Riley.

-O que você fez dessa vez?

-Eu posso ou não ter incitado os meus colegas da aula de italiano a cantar uma musica cheia de palavrões. Sério, eu esperava que meu amigo fosse notar minha falta.

-Riley, eu não sou seu amigo! – soltou Derek, incapaz de se refrear. – Não me olha assim, eu realmente não sou seu amigo. Só sou um cara com quem você resolveu conversar ano passado!

O loiro não voltou a falar com Derek até o que todos os alunos chegassem. O professor de física parecia um pouco menos mal humorado hoje.

-Não era pra gente ter aula de física agora, era?

-O horário mudou de novo. Se você não sabia que aula era agora como você veio pra cá?

-A gente tinha a primeira aula hoje juntos, então eu vi você entrar aqui e… - o silencio entre os dois fora aterrador. O único motivo para Riley ter entrado naquela sala foi porque ele estava crente que teria aula com o amigo. Por sorte o professor logo quebrou o constrangimento implícito.

-Bem, alunos, não sei se vocês lembram, porque afinal de contas são um bando de guaxinins abobados, eu tenho a prova de vocês para devolver. – começou o Sr. Sadowski. – O motivo para eu demorar esse tempo todo para devolvê-las foi porque elas estavam praticamente ilegíveis e com respostas tão absurdas que por um momento eu pensei que ensinasse para um bando de criancinhas. A única salvação do desastre que foi essa prova foi uma nota muito peculiar.

Riley prendeu a respiração, Derek tinha certeza que o garoto achava que tinha tirado um F seguido por quatro menos.

O professor se calou e foi em direção à lousa, escrevendo complexos diagramas e fórmulas.

-Professor? – chamou um aluno na primeira fileira. – O senhor não entregou as provas.

-Eu sei bem o que eu fiz ou não fiz, Sr. Martinez, sem precisar que o senhor me diga. Agora, se vocês todos puderem prestar atenção na aula, eu gostaria que alguns de vocês aprendessem algo. As provas serão entregues no final desse horário.

A aula demorou uma eternidade pra passar. Os alunos se remexiam inquietos nas carteiras, enquanto Riley tinha desistido de se sentar, se apoiara em um joelho e balançava o corpo todo.

Quando o relógio marcou os últimos cinco minutos para o fim da aula o professor se levantou, ordenando que Riley Brewer se sentasse antes. Sadowski tirou um maço de folhas da velha pasta de couro e ficou na frente da classe.

-Em todos esses meus quase 30 anos ensinando nessa escola eu aplico essa prova para os alunos do oitavo ano. E nesses quase 30 anos somente um aluno havia conseguido tal nota. E quando isso acontece nós, professores, ficamos muito felizes. – o homem deu um sorriso de mal grado, cinza como os seus cabelos.

-O velhote tá alegre porque alguém tirou uma nota péssima? – sussurrou Riley. – Isso é doentio.

-Não pode ter sido tão ruim assim, pode?

-Derek Tyer! – falou o professor.

-Desculpas, senhor, mas eu só estava perguntando uma coisa pro Riley.

-Eu estou lhe chamando para pegar sua prova.

A sala ecoou com o barulho de metal arrastando no chão conforme os alunos se viraram freneticamente. Derek se levantou devagar, temeroso de que ia cair no meio do caminho.

-Parabéns – disse o professor com o que pareceu um sorriso sincero. Derek encarou sua prova, incrédulo. No topo da primeira folha, escrito em caneta vermelha estava rabiscado um grande A+.

Derek se sentiu nauseado até a hora do almoço, quando encontrou Riley novamente.

-Os alunos não param de me dar parabéns pela minha nota. Eles estão convencidos que eu sou um tipo de gênio. – os dois saíram do refeitório e pararam pra conversar no mesmo lugar de sempre, os armários.

-Você agora é uma celebridade. Você tirou um A+ na prova do Sadowski. Sadowski! Ele mesmo falou que você é o segundo aluno em 500 anos a tirar uma pontuação perfeita. – o garoto loiro dava pequenos pulos no mesmo lugar. – Ah, e dois caras me pediram o seu celular.

-E você passou? – perguntou de imediato, o rosto já ficando avermelhado.

-Não! Um deles era um cara da nossa idade, muito sem graça. – explicou – O outro parecia ser legal, mas era mais velho e do time de futebol americano e você não ia querer ele.

-Eu não ia? – questionou Derek, confuso.

-Acho que não, que eu saiba você ainda tá apaixonado.

-Eu não estou! Quem disse isso? De onde você tirou essa ideia absurda? – Derek falava em alta velocidade, enrolando a língua.

Riley riu.

-Relaxa, você que me disse. No primeiro dia de aula lembra? – aquele era um dia que não saia da memória de Derek. – Você ainda é apaixonado por ele?

Derek se encostou no armário e escorregou até o chão.

-Eu não sei! – respondeu de pensar por um tempo. –É possível você gostar de alguém que não é nada legal com você? Que praticamente te odeia?

-Possível, sim! Mas não é nem um pouco saudável! – Riley sentou-se ao lado de Derek. – Seria bom se você se apaixonasse por outro cara, um que goste de você. E que aceite você nessa amargura infindável que você carrega no seu pequeno coraçãozinho sombrio.

Os dois riram.

-Eu sou amargo, não sou?

-Um pouquinho. Ei, escuta, eu tenho que ir lá na diretoria assinar uns papeis da minha suspensão. Acho que eu vou ganhar um cachorrinho de brinde! Te vejo na ultima aula?

Derek murmurou um “sim” e logo o loirinho saiu correndo pelo corredor. O garoto se levantou, ouvindo o estardalhaço que os alunos faziam nos refeitórios. Derek olhou o relógio, ele ainda tinha 15 minutos antes da próxima aula. Cansado e entediado ele resolveu ir logo para a sala, que obviamente estava vazia.

O garoto caminhava entre as cadeiras vazias, quando sentiu os pelos dos braços arrepiarem, sua boca foi invadida por um terrível gosto amargo e seu rosto ficou frio. A porta se abriu, contudo o garoto nem precisou se virar para descobrir quem era, o cheiro de gel capilar denunciou na hora.

-Olha só, o que encontrei! – debochou Jason.

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