Capítulo 3 – Deep Thoughts on a Twisted Mind

Conto de Hunter Welch como (Seguir)

Parte da série Black Velvet

A convivência de Derek e Jason se tornou ainda mais frequente. O pai de Jason era médico, fazia plantões malucos e Cody arrumava um jeito de sempre chamar o amigo para passar a noite. Carter não se importava nem um pouco, adorava ter mais uma pessoa para rir de suas piadas.

Naquele dia Derek acordou mais cedo. Havia ficado tão preocupado com a prova de física que iria fazer naquele dia que não conseguiu pregar os olhos. Não conseguindo mais ficar no quarto o garoto se deu por vencido, convencendo a si mesmo que iria adiantar o café, mesmo odiando cozinhar.

Derek abriu a porta do quarto devagar. Ia andando lentamente até a cozinha quando um barulho na sala de estar o sobressaltou. Na ponta dos pés, Derek caminhou até lá, espiando pela porta entreaberta. A visão quase partiu seu coração. Jason estava sentando no chão, recostado na parede. Seus olhos fechados deixavam escorrer varias lagrimas que caiam ao chão, sempre que seu corpo tremia. A cena se completava com o sol, ainda despontando, tentando brilhar pela janela.

Sua vontade era entrar ali e perguntar o que tava acontecendo, porém ele se lembrou das ameaças e agressões que havia sofrido. Rumando a cozinha, Derek se pôs a fazer o maior barulho possível. Pensou ter ouvido passos e a porta do quarto do irmão se fechando.

-Eu morri e cheguei no paraíso? – perguntou Carter, entrando na cozinha. Derek se virou, com sua cara zangada de sempre. –Claramente não ne? Por que você ta fazendo o café? Você odeia cozinhar.

-Não, eu odeio lavar as louças depois que eu cozinho. Ou como. Por isso você que vai lavar. E vai colocar a mesa também se não for pedir muito.

-É pedir muito! – respondeu. Carter se deu ao trabalho de levar os pratos e copos ate a mesa de jantar, voltando em seguida para o filho. – Por que você acordou cedo hoje?

-Prova! – respondeu Derek, desligando o fogão e tentando segurar dois pratos cheios de panquecas. – Não dormi bem.

Ele e o pai se sentaram e logo em seguida Jason e Cody apareceram, com os cabelos molhados. O rosto de Jason não indicava que ele estava chorando há poucos minutos.

-Vocês tomaram banho juntos? – por algum motivo a ideia de que os dois estivessem juntos no chuveiro não agradava Derek em nada. – Pai, acho que você tem mais um filho gay!

-Cala a boca, palhaço. – xingou Cody, que ria assim como o pai e Jason. – Por que você já ta acordado?

-Sonhei que você era gay e tava chorando porque perdeu seu namoradinho. Tava bem patético!

-E por que eu perdi meu namoradinho, Jimmy? – perguntou, entrando na brincadeira.

-Ele descobriu que você toma banho com seu “amigo”. Devo dizer, vocês passam bastante tempo juntos – sugeriu de forma maldosa. Derek queria ver pelo menos uma ruga de raiva se formar na cara de Jason vendo ele dizer aquilo, no entanto o garoto continuava rindo.

-Eu nunca ia perder um namoradinho. Eu sou gostoso demais pra levar um pé-na bunda! Você me daria um fora por acaso, Jimmy?

-Eu nunca namoraria com você! Simplesmente não faz o meu tipo.

-E qual é o seu tipo? –perguntou Jason.

Derek fez cara de desentendido.

-Como assim?

-Qual o seu tipo? Seu tipo de namorado, suponho que você já teve muitos.

-Nenhum – intrometeu-se Carter. – pelo menos ele nunca trouxe nenhum pra conhecer a gente.

-Porque vocês me envergonham!

-Mas então, qual o seu tipo? – insistiu o outro, seu sorriso parecia duro e forçado. –Baixinho? Olhos azuis? Loiro?

Derek fez força para não deixar o queixo cair enquanto o pai e o irmão davam pulinhos de excitação nas cadeiras.

-Que historia é essa? Quem é esse baixinho que o Jimmy ta pegando?

-Bom, eu não sei se ele “ta pegando”, mas ele sempre anda com um carinha assim.

A descrição que Jason narrou era de Riley, o quase amigo de Derek. Tentado a chutar a canela de Jason com força, o garoto se recompôs.

-Não, eu não to pegando ele, mas até poderia se quisesse. - Derek ficou surpreso com a facilidade em que a mentira deslavada surgiu na sua boca - Você parece bem interessado na minha vida amorosa, Jason. Tem certeza de que não é você que ta precisando pegar alguém? Quem sabe assim você para de se preocupar tanto comigo.

-Você é muito especial pra mim, Derek. – anunciou, como se fosse muito obvio. –Eu não vou parar de me preocupar com você.

Um arrepio desceu pela coluna de Derek ao ouvir a intensidade com que Jason disse essas palavras.

-Você deixou a 12 sem resposta? – perguntou Riley, ansioso.

-Não. Você deixou?

-Eu deixei metade daquela porcaria em branco. Nunca vi uma prova tão safada na historia do universo.

Os dois procuravam um espaço sombreado no gramado que cercava a frente do colégio. Tinham acabado de sair da aula de física e a situação de Riley não parecia ser nada boa.

-Bom, de qualquer forma acho melhor não me preocupar agora.

-Você alguma vez se preocupou com alguma coisa nesse mundo?

-Sim, com a dificuldade que é arrombar uma porta.

Derek não conseguiu evitar a risada.

-Você é patético, sabia?

-É, eu sei. – mas ele ria mesmo assim. Os amigos de Riley os localizaram ali no gramado e logo se aproximaram. Eram todos bem educados com Derek, porém o garoto ainda não se sentia confortável ali. Dando uma desculpa até bem educada o garoto se levantou. Ele teria um horário livre então pensou em ir ate a biblioteca gastar seu tempo estudando.

O prédio da biblioteca era bem afastado da entrada da escola e do gramado onde ele estava. O prédio de dois andares era vazio e um pouco escuro, a Derek ele lembrava um hospital abandonado. Derek andou pelo corredor, passando por algumas salas de arquivo quando sentiu uma mão forte agarrar seu ombro e o empurrar até a parede.

-O que você e o Smurf têm? – perguntou Jason bruscamente.

-Nada que seja da sua conta.

Jason o arrastou até uma sala próxima.

-Anda, me diz. Você ta saindo com ele ne?

-Por que você quer saber, seu psicopata?

-RESPONDE! – berrou. A veia em seu pescoço ameaçou pular.

-Isso, grita bastante, retardado. Você ta no prédio da biblioteca, então metade da escola deve ter ouvido seu chilique!

Jason o ignorou. Ainda segurando Derek pelos ombros o garoto o pressionou com força contra a parede.

-Anda, me responde! Eu já te disse, você não vai querer me ver com raiva! Você e ele estão namorando?

Derek não respondeu. Seu corpo tremia de medo. Antes que pudesse responder viu o braço musculoso de Jason levantar e descer contra o seu rosto. O som do tapa ecoou pela sala vazia e o rosto de Derek ardeu. De alguma forma Derek sentiu que aquele tapa não foi dado com a toda a força que Jason podia ter colocado nele.

-NÃO, A GENTE NÃO NAMORA. – agora era ele que gritava. – ERA ISSO QUE VOCÊ QUERIA OUVIR?

Com um ultimo olhar agressivo, Jason soltou Derek e saiu. O garoto segurou as lagrimas, não ia se dar ao trabalho de chorar, não por causa de Jason Litton. Esperou tempo suficiente pra ter certeza de que o agressor tinha ido embora. Correu até o banheiro mais próximo para se encarar no espelho. Seu rosto estava um pouco vermelho, mas nada muito exagerado. Derek jogou um pouco de água no rosto e tentou se animar o melhor que pode.

-Você ta com uma cara péssima. – comentou Riley, quando os dois se encontraram.

-Você também.

Os dois abriram os armários, Derek ficou chocado ao perceber a bagunça dentro do armário de Riley.

-Não tem nem um mês de aulas. Como seu armário tá tão bagunçado assim?

-Eu não pedi ele pra se auto-bagunçar. Essa é uma daquelas coisas que acontece sem ninguém pedir.

Derek riu, no momento em que Jason e alguns amigos passaram no corredor, olhando firmemente para os dois.

-Quem é o psicopata?

-O que? – Derek tinha se perdido da conversa, distraído em seu medo.

-O psicopata cheio de esteroides que passou encarando a gente.

-Exatamente isso, - respondeu de forma enigmática- algum psicopata.

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