Capítulo 2 – Hurt

Conto de Hunter Welch como (Seguir)

Parte da série Black Velvet

Nos dias seguintes Derek conseguiu evitar a presença de Jason Litton e seus amigos na escola. Já na sua casa, o garoto fazia o máximo para esconder sua presença se o amigo do irmão tivesse por perto, de forma que o garoto só o encontrou na quarta-feira seguinte.

-Bom-dia, Jimmy! –cumprimentou Cody, com um sorriso de Coringa. – Não é um belo dia?

-Não, não é. E quantas vezes eu já mandei você não me chamar de Jimmy?

-Várias, mas eu só gosto de fingir que ligo pro que você pensa, Jimmy.

-Cody, se seu irmão não gosta de ser chamado assim você não vai chama-lo assim. – seu tom de repreensão era falso, seu rosto também sorria. A campanhia tocou. – E vai atender a porta.

Cody se ausentou por alguns segundos, retornando com a figura alta e musculosa de Jason. Derek jogou a mochila embaixo da mesa antes de ser visto e se abaixou para catar.

-Bom-dia, Sr. Tyer. – falou em tom cordial.

-Bom-dia, Jason. Sente-se, tome café com a gente.

-Claro. – Jason puxou uma cadeira e sentou, seu pé raspou a milímetros de onde a cabeça de Derek estava. –O seu irmão já foi pra aula? – perguntou em tom despreocupado.

-Não – respondeu Carter. – ele ta embaixo da mesa.

Derek gelou. Jason se curvou, encarando o menor com naturalidade.

-Eae, Derek, tudo bem ai?

Por mais que sua vontade fosse socar o nariz de Jason, o garoto logo se controlou.

-Sim, eu só vim pegar minha mochila, ela caiu aqui embaixo e eu…

-Jimmy, cala a boca e termina seu café logo.

Derek se levantou, o rosto branco de raiva.

-Eu já disse pra não me chamar disso, – sibilou pro irmão. – principalmente quando tem gente perto.

Cody simplesmente deu de ombros. Derek se pôs a engolir o mais rápido que podia, o que era um desafio considerando que torradas eram bem secas.

-Tá gostando das suas aulas, Derek? Seu irmão me disse que você tá indo muito bem nas matérias de ensino médio.

O menor não respondeu de imediato, incrédulo. Algo no fundo da sua mente queria acreditar que Jason Litton não estava puxando papo com ele. O silêncio se prolongou por um tempo desconfortável.

-Filho, o Jason te fez uma pergunta – cutucou o pai, ligeiramente constrangido. Ele gostava de passar a ideia de um pai muito sério quando recebiam visitas, mesmo que fosse um lunático transtornado.

-Ah, sim. Eu to gostando sim.

-E que aulas você ta fazendo? – insistiu o outro.

-Química orgânica, biologia, literatura europeia e física. – respondeu em um fôlego só.

-Então você tem aulas com o Sr. Sadowski?

Cody e Carter observavam o diálogo, sem interromper. Nunca antes Derek e Jason haviam conversado sobre esses assuntos e achavam que seria saudável se Derek pudesse conversar com outras pessoas.

-Hm, sim. – seu estomago queimava, incomodado. – Ele é um pouco difícil.

-Nem me fale. Todo ano ele dá uma superprova para os alunos do oitavo ano. Você devia se preparar!

-É, ele já contou dessa prova. Não se preocupe, eu to bem preparado pro que puder acontecer – soltou com aspereza. Derek se levantou e levou prato até a cozinha.

Derek voltou e pegou sua mochila em silêncio.

-Tenha um bom-dia. Papai te ama viu? – disse Carter, sorrindo.

-Não faz mais que sua obrigação. Tchau pai, tchau Cody.

-Tchau, Jim… Derek. – Derek estava a meio caminho da saída quando seu irmão o chamou. – Ei, você não vai dar tchau pro Jason.

O irmão mais novo se virou, a sobrancelha levantada em leve tom de surpresa.

-Não pretendo. – e saiu calmamente pela porta.

-Ai é só você girar o grampo. Se não der certo, mete o pezão na danada. – explicou Riley.

Ele e Derek estavam sentados lado a lado nas ultimas carteiras enquanto a turma tentava resolver espinhosos exercícios de física. Derek escreveu respostas longas e completas, com complexos cálculos enquanto Riley não se deu ao trabalho de abrir ao seu caderno. Aparentemente era mais produtivo ensinar a Derek como abrir fechaduras.

-Mas se for pra “meter o pezão na danada” não é mais fácil já começar nessa parte?

-Aí você vai perder toda a diversão de tentar abrir sem forçar.

-Você que disse pra forçar!

-Eu disse que era só se nada desse certo!

-E eu diria que esse não é o lugar ou o momento de ensinar seus modos de vândalo. – disse uma voz fria. Os garotos olharam para frente, o professor os encarava de sua mesa do outro lado da sala, mas completamente ciente da conversa que os dois estavam tendo. – Brewer, você decidiu que a vida de crimes estava solitária ou precisa de um parceiro pra te ensinar a abrir um vidro de tinta?

Riley passou a mão no cabelo, descontraído, antes de responder.

-Sabe como é, professor. Temos que deixar um legado na vida – os alunos começavam a encarar Derek, que se remexeu desconfortável no banco.

-Então será que você poderia nos dizer a resposta dos exercícios? – perguntou Sr. Sadowski. –Acho que esse seria um legado muito importante para todos os seus companheiros de estudos. – o que naquele momento os “companheiros de estudos” estavam achando importante era a oportunidade de ver o professor, em sua interminável fama de carrasco, acabar com um aluno.

-Eu não faço a mínima ideia! –Riley era absurdamente franco quando se tratava de irritar um professor. – Sinceramente espero que a pessoa que inventou essas coisas esteja queimando no inferno.

Os alunos seguraram a respiração. Ninguém ousava discutir com Sadowski. O professor ajeitou os óculos antes de continuar.

-No inferno. Interessante ponto de vista. E quanto a você, Tyer? Espero que a única coisa que tenha aprendido hoje não tenha sido como abrir…

-12 amperes. 35,7 metros por segundo. 1,8x105 joules. E a ultima pergunta não tem resposta. – Derek pigarreou antes de continuar, claramente incomodado – Você omitiu informações, sendo assim a equação não pode ser resolvida.

Derek sentiu seu rosto formigar. Ele tinha interrompido um professor como também estava questionando seus ensinamentos. Até mesmo Riley estava boquiaberto. Derek se encolheu na cadeira, esperando o professor manda-lo para a diretoria ou coisa assim.

-Excelente – foi a vez de Derek se espantar, o professor exibia um sorriso de contentamento que ele não tinha visto jamais. – Finalmente um aluno que não é um completo retardado.

-Aquilo foi incrível! – comentou Riley, no corredor. Os dois haviam saído da sala com pressa, fugindo dos olhares incrédulos dos colegas. – Você desafiou o professor mais temível dessa escola. Tipo, esfregou na fuça dele. Cara, eu sou muito seu fã!

-Não foi nada, – murmurou Derek. – eu só respondi o que ele pediu.

-Você tem que me ensinar a fazer aquilo. – Riley não prestava a mínima atenção no que Derek dizia. – Colocar um professor pirado no lugar: esse é o sonho de muitos.

Riley continuou andando, falando sem parar, sem estar ciente que Derek tinha virado no primeiro corredor que encontrou. Derek começou a subir as escadas para o segundo andar, dando de cara com Jason, desacompanhado dessa vez.

O maior olhou para os lados, tendo certeza de que os dois estavam sozinhos.

-Da próxima vez que você me desrespeitar daquele jeito eu vou te dar uma lição. – seu braço musculoso arrastou Derek até a parede, o pé do garoto pisou em falso no degrau.

-Do que você ta falando? – sussurrou, amedrontado.

-Como assim? Vai dizer que não lembra a falta de educação que você fez essa manha? Eu não sou aquele seu amiguinho loiro pra você me tratar como lixo qualquer. Você não quer me ver com raiva.

-E o que você faz quando ta com raiva? – Derek se sentiu inspirado depois de confrontar seu professor. – Você encurrala garotinhos em corredores vazios e escadas? Alias, cadê os seus comparsas? Cansaram de seguir um retardado?

Jason segurou o queixo de Derek, com mais força que o necessário.

-Você vai me respeitar – repetiu. – ou eu posso fazer você ter outro tombo. Bem pior. – o garoto soltou Derek. O menor correu o mais rápido possível, sentindo o seu coração pular do peito pelo exercício e pelo medo.

Durante todo o caminho para casa Derek olhava sobre os ombros pra ter certeza de que não estava sendo seguido. O que era uma grande idiotice já que a pessoa que ele temia que o seguisse era seu vizinho de porta.

Trancado em seu quarto, Derek tentou procurar na cabeça alguma resposta satisfatória, que lhe dissesse o motivo de Jason o tratar daquele jeito repentinamente. Suas divagações foram interrompidas quando o pai o chamou para jantar.

Derek comia calado, encarando seu prato e sem prestar atenção nas gracinhas dos familiares.

-Você ta bem, filho?

O garoto demorou a perceber que a pergunta tinha sido dirigida a ele.

-Sim, to ótimo.

Carter continuou o assunto, sem rodeios.

-Não foi nada legal aquilo que você fez hoje de manhã. O Jason tava sendo muito simpático com você. Na verdade eu acho que nunca vi ele tão atencioso com você.

-Dá pra preencher um livro com as coisas que você não vê. – rebateu.

-Derek, chega. – suspirou o pai, exausto. – Eu não sei o que acontece pra você ser assim: você se fecha, é zangado. Eu sou seu próprio pai e eu não sei o que se passa na sua cabeça. Uma coisa é você ser bruto e respondão comigo e com seu irmão, outra coisa completamente diferente é você ser rude com um garoto bom como o Jason.

Um riso de escárnio soltou da boca de Derek.

-Quer saber de uma coisa? Eu vou para o meu quarto!

-Derek, você não terminou de jantar. – mas o garoto já tinha se levantado e se trancado no quarto. Os fones de ouvido no volume máximo o impediram de ouvir qualquer tentativa de conversa. Naquela noite Derek foi dormir com o peito borbulhando de raiva, a garganta apertada com as palavras que ele não ousou dizer.

Na semana que se passou Derek recusou a conversar com o pai ou o irmão.

-Por que você ta bravo comigo? Eu fiquei calado naquele dia! – protestou Cody.

-Justamente, você se recusou a defender seu irmão mais novo. Na Roma Antiga você seria punido à morte.

Somente no sábado Derek aceitou de bom grado o convívio. O garoto revirava na cama, tentando dormir mais um pouco quando ouviu os passos pesados e as risadas no seu quarto.

-É muito bom que sejam dois assaltantes ou sequestradores – resmungou entre os travesseiros.

-Nada disso. Hoje é sábado.

-Eu sei que hoje é sábado, Cody, eu sei ler um calendário.

-Então bora pra sala assistir filme – Derek reconheceu que havia uma risada na voz do pai. – ou eu vou te fazer cócegas.

-Já levantei – respondeu, sentando imediatamente.

Os 3 Tyer passaram a tarde comendo pipoca e vendo filmes na sala de estar, como faziam todo sábado. Derek se remexia a perna sem parar no colchão em que se deitou, motivo pelo qual os outros dois sempre mantinham uma distancia.

-Dá pra parar? Isso é perturbador pra caralho, Jimmy!

O menor riu, desconsiderando o uso do apelido que tanto odiava.

-Opa, ele ta rindo. – apontou o pai. – Acho que ele perdoou a gente.

-Jimmy, você perdoou a gente?

-Só se vocês calarem a boca.

Derek só voltou para o seu quarto tarde da noite, com os olhos pesados. Ouviu a porta do quarto abrir e bater na manhã seguinte, mas o silencio continuou.

-Cody, se você tiver fuçando minhas gavetas eu juro por Michael Jackson que vou te bater.

-Magro desse jeito? – zombou uma voz conhecida. – Duvido ter força pra abrir um pote de conservas.

Derek se sentou em um pulo só.

-Seu pai mandou te chamar para um agradável café da manha. – anunciou Jason, friamente. – É bom que você se lembre do nosso trato ok?

-O que você ta fazendo aqui? Sentiu saudade do seu saco de pancadas? – Derek tentava ser corajoso, contudo no fundo ele estava aterrorizado.

-Se eu disser que não senti estaria mentindo. Se veste e vem logo. Belo peitoral por sinal. – disse ao sair. Derek puxou a colcha até o queixo ao perceber que estava com o torso nu todo aquele tempo. Agradecendo por não ter resolvido dormir de cueca Derek se levantou, pensando em quanto tempo teria que fingir que era agradável com o outro garoto.

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